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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Até que a morte nos separe

Um filme a não perder, que certamente não deixará ninguém indiferente. Passo a publicar a crítica de Margarida Ataíde.

"Amor": incómodo e imensamente belo


Três anos após conquistar uma vasta gama de prémios pelo seu “O Laço Branco”, profunda e perturbante meditação sobre a condição humana, Michael Haneke voltou a arrebatar a mente e o coração de júris, crítica e público com o seu mais recente filme: "Amor".

Georges e Anne Laurent, casal octogenário, vivem confortavelmente a sua reforma na cidade de Paris, na sequência de uma vida dedicada à música. O carinho que nutrem um pelo outro é notório. Um dia, são surpreendidos pela doença de Anne. Um grave problema de natureza vascular, evidenciado por um súbito estado de ausência, limitará, num brevíssimo espaço de tempo, a sua mobilidade. Primeiro confinada a uma cadeira de rodas e mais tarde a uma cama, o estado de Anne agrava-se de dia para dia.

Ao longo deste processo Georges não hesita em assumir, com recurso mínimo à ajuda de terceiros, os cuidados necessários a Anne, sejam de ordem física ou afetiva. Indiferente à sua própria debilidade física e relegando para segundo plano a dor provocada pela degradação humana da mulher da sua vida, é o amor que prevalece, a cada dia, ante a perspetiva de uma morte anunciada...

Com a questão da doença e da morte em solidão a afligir uma envelhecida Europa em tempos de crise e de dúvida, entre tantos outros problemas que apelam à reflexão e à ‘inflexão’ urgente de modelo social e afetivo, “Amor” é uma muito pertinente meditação sobre nós. Todos nós.

Magnificamente interpretado por Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, os dois atores que em tempos atraíram uma geração às salas de cinema pela sua sedutora vitalidade física e emocional, emprestam os mesmíssimos dons artísticos à encarnação de duas personagens no final das suas vidas.

Incómodo e imensamente belo, eis um filme que trata, de modo igualmente notável e delicado, a questão do amor e da morte, em intimíssima relação e definindo claramente o que na nossa natureza prevalece.

Mais uma meditação que Haneke séria e generosamente nos entrega, em que as soluções dificilmente podem ser consideradas ou debatidas sem se olhar aos caminhos que a umas ou outras conduzam...

Margarida Ataíde

Grupo de Cinema do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
In Agência Ecclesia / SNPC
06.12.12

O Natal de cada dia

Cada dia pode e deve ser Natal


Diante da manjedoura de Belém — como depois diante da cruz no Gólgota — a humanidade faz já uma sua opção de fundo em relação a Jesus; uma opção que, em última análise, é a que o homem deve fazer sem o adiar, dia após dia, em relação a Deus, Criador e Pai. E isto realiza-se, antes de tudo e sobretudo, no âmbito do íntimo da consciência pessoal. É aqui que se verifica o encontro entre Deus e o homem. (…)

Para nós cristãos cada dia pode e deve ser Advento; pode e deve ser Natal! Porque, quanto mais purificarmos as nossas almas, quanto mais dermos espaço ao amor de Deus no nosso coração, tanto mais Cristo poderá vir e nascer em nós. (…)

Não podemos portanto transformar e degradar o Natal numa festa de inútil desperdício, numa manifestação assinalada pelo fácil consumismo: o Natal é a festa da humildade, da pobreza, do despojamento (...) do Filho de Deus, que vem para nos dar o seu infinito Amor; deve portanto ser celebrada com autêntico espírito de partilha, de comparticipação com os irmãos, que têm necessidade da nossa ajuda afetuosa.
Deve ser uma etapa fundamental para a meditação sobre o nosso comportamento para com o "Deus que vem"; e este Deus que vem podemos encontrá-lo numa criança indefesa que chora; num doente que sente faltarem-lhe inexoravelmente as forças do próprio corpo; num ancião, que depois de ter trabalhado durante toda a vida, se encontra de facto marginalizado e tolerado na nossa sociedade moderna, baseada sobre a produtividade e sobre o êxito. (…)
A Igreja eleva a Cristo esta esplêndida oração: (…) Ó Cristo, Rei das nações, esperado e desejado durante séculos pela humanidade ferida e dividida pelo pecado; tu que és a pedra angular sobre a qual a humanidade pode reconstruir-se e receber uma definitiva e iluminadora guia para o seu caminho na história; tu que uniste, mediante a tua doação sacrificial ao Pai, os povos divididos; vem e salva o homem, miserável e grande, feito por ti "com o pó da terra" e que traz em si a tua imagem e semelhança!
João Paulo II

Uma oração e um desenho para o 2º Domingo do Advento


Rui Aleixo
 José

Estás em mim, ó Deus
Brilhas nas obscuras margens do meu nome
Ouves a canção dos meus anos,
que por vezes é pedra, por vezes acorde iluminado.

Que nunca o mundo me pareça um lugar indiferente.
Que a chama da Tua presença ilumine tudo por dentro
e eu não queira, não possa dizer outra coisa
senão a maravilhosa transparência onde Te contemplo

Ao irmos e virmos, somos o Teu mapa
desfalecendo, mas retomando a marcha,
pois sabemos que no fundo desta massa informe
colocastes, Senhor, o irresistível desejo
que a todos faz gritar: “Vem!”


José Tolentino Mendonça

Capela do Rato, 2012, publicado in SNPC

sábado, 8 de dezembro de 2012

Imagens da Anunciação na Arte

Não pretendendo ser uma mostra exaustiva do tema, e não querendo repetir imagens já utilizadas no blogue, publico um pequeno mosaico de imagens do mundo da arte dedicadas ao tema da Anunciação.
 

um poema de Hildegarda

Philippe de Champaigne
Ave, generosa, gloriosa e intacta virgem.
Tu pupila de castidade,
tu matéria santa,
que agradou a Deus.

Pois celeste graça
em ti foi infusa,
o Verbo celeste
fez-se carne em ti.

Tu cândido lírio,
que Deus mais que qualquer criatura
contemplou.

Ó belíssima e cheia de doçura,
quanto em ti Deus se deleitava,
quando te possuía
na amplidão do seu calor,
seu filho seria amamentado por ti.

Teu ventre provou grande alegria,

quando toda a sinfonia celeste
de ti ressoou,
pois, ó Virgem, transportaste o Filho de Deus,
enquanto em Deus tua castidade resplandecia.

Tuas vísceras provaram a alegria,
erva sobre a qual cai o orvalho,
e se lhe reaviva o vigor.
Assim também em ti se operou,
ó Mãe de toda a alegria.

Agora toda a Igreja esplenda de alegria
e cante em sinfonia
pela dulcíssima e louvável Virgem
Maria, Mãe de Deus. Amen.
Santa Hildegarda de Bingen

publicado in SNPC

Uma oração e um desenho para Maria

Rui Aleixo
Oração à Senhora do Advento

Avé Maria, Senhora do Advento
A misericórdia de Deus esplende em ti
Bendita és tu entre as mulheres
Em teu seio amadurece a manhã

Ó Mãe propícia
leve, magnífica e atenta
aos amplos pátios da nossa solidão
És aquela que melhor apascenta
a turbulenta forma da nossa sede:

Roga por nós que atravessamos o mundo agora
roga por nós que atravessamos esta hora

José Tolentino Mendonça

Capela do Rato
publicado in SNPC

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Somos únicos?

Vittorio Carvelli
Cada um de nós é uma parcela de infinito

Não é possível propôr para todos uma palavra única sobre o amor, sobre a felicidade, sobre a procura do sentido da vida ou sobre a espiritualidade. É evidente que certas palavras podem pôr em comunicação as experiências ou os itinerários de todos. Poder-se-ia mesmo supôr que, para os crentes, a palavra Deus bastaria, tão grande ela é, para os reunir numa visão unificante de todas as suas aspirações e percursos espirituais. E contudo, esta palavra imensa tanto é fonte de contradições e conflitos como também pode anunciar em cada ser aquilo que o constitui e o habita para a consumação nele de um destino que o transfigura e funda a sua liberdade.

Quando, entre os homens, o mistério de Deus está em causa – e seria possível que o não esteja na confrontação das religiões – eu quereria entregar-me ao olhar sem limite da relação contemplativa. Sejamos único uns para os outros, não banalmente porque somos diferentes, mas porque cada um de nós é habitado por uma parcela de infinito e o seu ser próprio é a parte singular do divino que não pertence senão a ele e de que ninguém pode apropriar-se nem julgar. Ninguém é herético no seu mistério.

Àquele que fixa em mim um olhar contemplativo, eu diria: «Quereria revelar-me a ti para te deixar vislumbrar o segredo que me habita sem destruir aquele que dá à tua vida essa luz que mais ninguém possui. E se me tiver acontecido querer ensinar-te aquilo que não se ensina, esquece esses discursos indevidos que não são senão expressão da fragilidade. Também eu, na minha noite, avanço para a luz, e se procuro a tua presença não é para te convencer, mas porque desejo que te mantenhas ao meu lado. Em ti reconheço um companheiro cuja fé e oração são a oferenda do teu ser a esse Deus não revelado para o qual o nosso comum desejo inventou as religiões como um caminho inacabado

Como seria belo que entre os homens o mistério de Deus não os opusesse. Que a palavra pronunciada por cada um sobre a sua própria fé seja investida pela escuta da fé do outro. Que toda a humanidade esteja à escuta do silêncio de Deus, acompanhada por esse murmúrio que a atravessa, esse murmúrio da fé e da oração que revelaria a comum expectativa. Que todo o rito e toda a palavra possam nascer dessa vibração de infinito. Que ninguém impeça a passagem a fim de que os céus permaneçam abertos à consciência de todos.

Apreender o instante desta vibração, um instante próximo da surpresa. Nada dizer, nada explicar, conservando a memória, e sorrir diante do não-saber.

Que todo o homem seja uma sugestão do infinito.

Bernard Feillet in "L’arbre dans la mer" tradução de José Mendonça

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Abraçados podemos voar

Partilho este belíssimo texto sobre o amor e o casamento

Abraçados podemos voar


(...) Tenho tido nestes anos, como padre, a gratíssima alegria de casar dezenas de amigos. Sei por eles, e da forma mais pura, a verdade daquele verso de Dante que diz: «o amor move o sol e as outras estrelas». Ao olhar para o interior das suas vidas, para dentro dos seus sonhos e até dos seus temores é esse incomparável mistério que se deteta: o modo como o amor, como a frágil força do amor é capaz de mover, de transfigurar e de unir, até ao fim, cada fragmento do corpo e cada filamento da alma.

Um outro autor italiano escreveu: «Somos anjos de uma asa apenas. Só permanecendo abraçados podemos voar». O casamento é a serena e criativa conjugação destes dois sentimentos que, fora dele, pareciam destinados a existir unicamente em contraste: a solidão e a comunhão. O amor agudiza a consciência de sermos um; descobre, aos nossos próprios olhos, a irresolúvel incompletude que individualmente nos caracteriza, a nossa insuperável carência; e ensina-nos o sabor de uma, até aí desconhecida, solidão: aquela que se sente por estar privados do ser amado. No bíblico livro de Rute isso vem assim explicitado: «a vida tratar-me-á com duros rigores se outra coisa, a não ser a morte, me impedir de olhar diariamente o teu rosto» (Rt 1,17). A solidão incandescente com que o amor fere os que se amam é, porém, o que faz dele uma prática de desejo e de caminho, um exercício de mendicância (na verdade, o amor é sempre uma conversa entre mendigos) e de busca, uma forma de entrega e de súplica. Por alguma razão a experiência religiosa da mística recorre a uma linguagem próxima desta amorosa. Os enamorados percebem o estado dos grandes orantes e vice-versa, creio.

Mas o amor é sobretudo milagre da comunhão. Uma comunhão construída também com esforço, é claro, conquistada continuamente ao território muito defendido do egoísmo, traduzida em decisões quotidianas e vigilantes. Porém, não é propiamente de uma conquista que se trata, mas do arrebatamento comum pelo dom, do espanto inesgotável, de uma hospitalidade radical. «Se me tapares os olhos: ainda poderei ver-te. Se me tapares os ouvidos: ainda poderei ouvir-te. E mesmo sem pés poderei ir para ti. E mesmo sem boca poderei invocar-te». O fundamental é vislumbrado e servido em completa dádiva, acontece sem porquês, no âmbito de uma gratuidade infatigável, numa geografia sem condições nem reservas. O amor não se explica: implica-se. É uma voluntária hipoteca, um sigilo de sangue, entrelaçamento vital. Os enamorados conspiram com o milagre e, por isso, tornam-se, de forma tão íntima, cúmplices de Deus.

Compreendo o aviso meio irónico que Auden faz contra as festas de casamento. Ele diz que os noivos deviam ser humildes e não fazer logo no primeiro do seu casamento uma festa colossal, quando, no fundo, está ainda tudo por construir. Mas também acho impossível não celebrar a alegria do casamento, e fazê-lo com uma simbólica desmesura. Poucos momentos dão a ver assim a vida na sua transparência.
José Tolentino Mendonça
In Diário de Notícias da Madeira, 14.09.11
Publicado em SNPC

Hora de almoço com Deus

"Abre um parêntesis no teu dia": 20 minutos de oração para encontrar Deus à hora de almoço

A Comunidade de Vida Cristã (CVX) propõe às quartas-feiras vinte minutos de oração em Lisboa, onde não havia a oferta «de um ponto de encontro com Deus à hora do almoço, no meio da rotina e do trabalho».
«Sentimos falta de um momento de paragem, silêncio e espiritualidade», contou à Agência Ecclesia a presidente da Comunidade Regional Sul da CVX, Ana Melo, ao referir-se à origem do projeto "Oração na Cidade – Abre um parêntesis no teu dia".

O encontro começa com música ambiente, antecedendo a leitura de um dos textos bíblicos proclamados nas missas do dia, seguindo-se a apresentação de três propostas de oração baseadas no trecho escutado, intercaladas com espaços de silêncio.
A oração começa às 13h10 na Capela de Santo António das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, ao Campo Pequeno, e termina às 13h30, depois da recitação do Pai-nosso.
Os organizadores desejam alargar a iniciativa a todas «as pessoas que queiram aproximar-se de Deus», e ao mesmo tempo envolver outros organismos católicos, para que a oração seja «uma experiência de Igreja e comunhão».
A CVX é uma comunidade mundial de leigos baseada na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola (1491-1556), fundador dos Jesuítas.
Rui Jorge Martins
In Agência Ecclesia
publicado no SNPC

Onde é?
capela de Santo António das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria
R. Chaby Pinheiro 12A

Uma oração e um desenho para o 1º Domingo do Advento

Rui Aleixo
O Anjo do Advento


Venha o teu anjo abrir de novo estas portas
ao anúncio da vida pura e repentina
que eleva os nossos dias mesmo baços
à altura da promessa

Venha o teu anjo restabelecer o alfabeto censurado
ensaiar a dança que os gestos ignoram
Venha apontar o dia límpido, só pelo azul esclarecido
desprender-nos da cinza do desânimo e do sono
guiar-nos para lá das fronteiras

Venha o teu anjo nomear o que trazemos
e passa de um dia para outro sempre adiado
Venha redizer o corpo inacabado
Este reticente modo de habitação
ainda à espera do seu nascer verdadeiro

José Tolentino Mendonça
Capela do Rato, publicado por SNPC

A Visita

Advento: tempo para acolher a presença


O significado da expressão "advento" inclui também o de visitatio que, simples e propriamente, quer dizer "visita"; neste caso, trata-se de uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer dirigir-se a mim.

Na existência quotidiana, todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e pouco tempo também para nós. Terminamos por ser absorvidos pelo "fazer". Não é porventura verdade que com frequência é precisamente a atividade que nos possui, a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa atenção? Não é talvez verdade que dedicamos muito tempo à diversão e a distrações de vários tipos? Às vezes, a realidade "arrebata-nos".

O Advento, este tempo litúrgico forte que estamos a começar, convida-nos a refletir silenciosamente para compreender uma presença. Trata-se de um convite a compreender que cada um dos acontecimentos do dia é um sinal que Deus nos faz, um vestígio da atenção que Ele tem por cada um de nós.

Quantas vezes Deus nos faz sentir algo do seu amor! Manter, por assim dizer, um "diário interior" deste amor seria uma tarefa bonita e saudável para a nossa vida! O Advento convida-nos e estimula-nos a contemplar o Senhor que está presente. Não deveria porventura a certeza da sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria acaso ajudar-nos a considerar toda a nossa existência como uma "visita", um modo como Ele pode vir ter connosco e estar ao nosso lado em cada situação?

Outro elemento fundamental do Advento é a espera, expectativa que é ao mesmo tempo esperança. O Advento leva-nos a compreender o sentido do tempo e da história como "kairós",como ocasião favorável para a nossa salvação. Jesus explicou esta realidade misteriosa mediante muitas parábolas: na narração dos servos convidados a esperar o retorno do dono; na parábola das virgens que esperam o esposo; ou naquelas da sementeira e da colheita.

Na sua vida, o homem está constantemente à espera: quando é menino, deseja crescer; quando é adulto, tende para a realização e o sucesso; na idade avançada, aspira ao merecido descanso. Mas chega a hora em que ele descobre que esperou demasiado pouco se, para além da profissão ou da posição social, nada mais lhe resta para esperar. A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos ela é animada por uma certeza: o Senhor está presente no fluxo da nossa vida, acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz.

No entanto, existem modos muito diferentes de esperar. Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso.

Queridos irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, em que já nos são concedidos os dons do Senhor, vivamo-lo projetados para o futuro, um porvir repleto de esperança. Deste modo, o Advento cristão torna-se ocasião para despertar em nós o autêntico sentido da espera, voltando ao coração da nossa fé que é o mistério de Cristo, o Messias esperado durante longos séculos e nascido na pobreza de Belém.

Quando veio ao meio de nós, trouxe-nos e continua a oferecer-nos o dom do seu amor e da sua salvação. Presente entre nós, fala-nos de muitas maneiras: na Sagrada Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana e em toda a criação, que muda de aspeto se Ele se encontra por detrás dela, ou se a mesma está ofuscada pela neblina de uma origem incerta ou de um futuro inseguro.

Por nossa vez, podemos dirigir-lhe a palavra, apresentar-lhe os sofrimentos que nos afligem, a impaciência e as interrogações que brotam do nosso coração. Estamos persuadidos de que nos ouve sempre! E se Jesus está presente, já não existe tempo algum sem sentido e vazio. Se Ele está presente, podemos continuar a esperar mesmo quando os outros já não conseguem garantir-nos qualquer apoio, até quando o presente se torna cansativo.

Queridos amigos, o Advento é o tempo da presença e da espera eterna. Precisamente por esta razão é, de modo particular, o tempo da alegria, de um júbilo interiorizado, que nenhum sofrimento pode anular. A alegria pelo facto de que Deus se fez Menino. Esta alegria, invisivelmente presente em nós, encoraja-nos a caminhar com confiança. Modelo e ajuda deste íntimo júbilo é a Virgem Maria, por meio da qual nos foi oferecido o Menino Jesus. Que Ela, discípula fiel do seu Filho, nos conceda a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e diligentes na esperança.

Bento XVI
publicado in SNPC

domingo, 2 de dezembro de 2012

Uma jornalista no convento de clausura

As coisas do mundo dizem-nos tão pouco...


A vida de 27 Clarissas do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real, cruzou-se “por vontade de Deus”. A mais nova tem 22 anos; a mais velha 86. Em comum têm um mesmo desejo: seguir Jesus da forma mais radical que a Igreja prevê – a clausura.

Lurdes

Tem 28 anos, mas parece que o rosto parou de envelhecer aos 17, quando decidiu sair de casa para se tornar Clarissa.
Deixou a família na Guarda a braços com as perguntas dos amigos e conhecidos. “Que se passou com a Lurdes? Sofreu algum desgosto?” Dez anos depois abre as mãos, conservadas brancas pela quietude da clausura, e garante-nos que seguram o mundo. “Redondo, a girar.” Lurdes vigia-o, reza por ele.

“É feliz?” Responde, quase sem pensar, com outra pergunta: “Não se nota?” Quebrámos a hora do silêncio maior entre as 14 e as 15 horas, para conversar, a sós, na horta. “Claro que tenho saudades lá de fora. De quando ia passear. Gostava de ir à serra da Estrela. Sentia Deus naquela imensidão de terra. Mas cá dentro o mundo é maior.”

Ao jantar, Lurdes é a mais atenta de todas. Observa-nos, sorri quando cruzamos o olhar com o dela. Parece divertida com o ar deslocado e de aflição permanente típico de quem acabou de chegar.
No refeitório só há um objecto de decoração – um quadro da Última Ceia de proporções consideráveis. As mesas e as cadeiras, dispostas em rectângulo, ocupam quase toda a sala.

A encabeçar o desenho está Maria Clara, a abadessa, que, minutos depois do início da refeição, abre uma gaveta pequenina por debaixo da mesa e, surpreendentemente, retira o comando da televisão. Ao jantar assiste-se aos primeiros 15 minutos do telejornal. “As únicas notícias que interessam”, justifica. Mas afinal vêem televisão? Todas se riem da pergunta. “Claro. Para podermos rezar pelo mundo precisamos de saber o que se passa.”

Donzília

Dizem que se afastaram do mundo por tanto o amarem. Rezam, trabalham e vivem numa comunidade silenciosa, longe dos olhares e dos vícios da sociedade. Vinte e quatro horas por dia, prestam adoração ao Santíssimo Sacramento na igreja do mosteiro. Acordam a meio da noite para se revezarem em turnos que duram uma hora. Levantam-se, vestem o hábito, lutam contra o sono e percorrem os enormes corredores sem luz natural que ligam as celas à igreja.
Conhecem a geometria da casa e por isso não precisam de acender as luzes. Enquanto o resto do mundo dorme, as Clarissas caminham, silenciosas, no meio da escuridão. Na igreja, em frente ao baldaquino, ajoelham e ficam em contemplação.

Donzília é, aos 73 anos, a irmã sacristã. Toma conta da igreja quando, às seis da tarde, os fiéis começam a chegar para assistir à missa. É a única que dá a cara. O resto da comunidade habita no coro, na parte de cima da igreja, escondida dos olhares curiosos. Donzília é uma das mais antigas da casa e interpela os fiéis pedindo-lhes que façam as leituras. Rodopia à volta do padre André Batista, que é capelão da base aérea de Monte Real, prepara as hóstias, acende os candelabros.

No final da celebração apaga as velas e recolhe ao coro. As Clarissas esperam que a igreja fique vazia e, até às oito da noite, a hora do jantar, concentram-se nos breviários e desdobram-se em orações e cânticos.

Ana

É pequenina e não parece ter mais de 20 anos. Mas Ana Maria já conta 38 e chegou a Monte Real há nove. Não sabe explicar porquê. “É Ele quem nos escolhe”, diz. Nem sequer era baptizada quando, aos 23 anos, se aproximou da Igreja.

Terminou o curso de Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Aveiro e quis ser baptizada. Ainda deu aulas de Português e Latim. Passou por Cascais, Serpa, Beja e Santiago do Cacém. No espaço de um mês tomou a decisão que lhe mudou a vida. E começou a procura pelas várias ordens religiosas em Portugal.

Quando encontrou o nome do Mosteiro de Santa Clara na lista, estremeceu. “Anos antes, tinha ligado para as informações à procura de um número de um amigo e, por engano, deram-me o do mosteiro.” Ligou, atendeu a irmã Maria Clara, pediu desculpa pelo engano e o episódio caiu no esquecimento. Nessa altura a vida religiosa era coisa que não lhe passava pela cabeça.

Entretanto, um colega de Latim apaixonou-se por ela. Nunca conseguiu corresponder-lhe. Um dia conheceu um advogado que lhe disse: “Ana, gosto de ti, mas não consigo tocar-te e não sei porquê.” Nunca mais se viram. Agora não tem dúvidas de que “foram sinais de Deus” a indicar-lhe o caminho.

No início queria ser missionária. “Mas quantas pessoas iria ajudar? Na clausura, pela oração, consigo interceder pela humanidade inteira”, acredita. Pouco antes de chegar a Monte Real ganhou uma bolsa para uma pós-graduação na Grécia. Mas nem isso a convenceu.

“As vocações não são nenhum bicho-de-sete-cabeças nem são histórias místicas”, explica a abadessa, Maria Clara. “São escolhas racionais e dolorosas, porque as famílias não aceitam, especialmente no primeiro momento.”

Quando Maria Fernanda decidiu abandonar a carreira do ensino, aos 22 anos, a mãe telefonou para todos os mosteiros para saber onde estava. Quando conseguiu a morada do de Monte Real, “apareceu cá, arreliada”, mas acabou por aceitar a escolha da filha. “E fui eu que lhe vali quando ela morreu”, recorda Maria Clara.

Maria Clara

A abadessa, eleita por voto secreto pela comunidade, faz parte do grupo inicial de quatro mulheres que acompanharam Maria Teresa, a fundadora, quando se mudou do Mosteiro do Louriçal para abrir uma nova casa em Monte Real. Tinha 19 anos e um namorado. Décadas mais tarde reencontraram-se. Ele casado, ela de hábito. “Disse-me que não me tinha esquecido, mas eu disse-lhe que não pensava voltar atrás.” Perguntou-lhe se era feliz. Ela disse que sim. “Eu sei. Percebi assim que te vi passar.” Foi a última vez que se encontraram.

Arriscamos a pergunta: e viver sem sexo, como é? “Tentamos elevar o lado espiritual. Nenhum caminho na vida é perfeito e completo. Mas aqui há uma relação espiritual com Deus que suplanta todas as dificuldades. Aliás, toda a relação de amor entre um casal suplanta a ligação física, e é isso que há com o meu marido, que é Deus”, responde. “Dizem que vivemos em clausura, mas lá fora é que se vive enclausurado. É-se escravo do trabalho, do dinheiro, de preocupações que aos nossos olhos não significam nada.”

E o próprio recolhimento tem limites. As Clarissas podem sair em caso de doença grave de um familiar e estão autorizadas a receber visitas no locutório, uma sala à entrada do mosteiro, dividida a meio por um pequeno muro. É aí que recebem também pedidos particulares de orações. Ultimamente, a maioria chega pela internet. E nenhum é recusado.

Nos 37 anos de história do mosteiro, as Clarissas deram abrigo a mulheres vítimas de violência doméstica, atenderam pedidos de ajuda desesperados a meio da noite. “Como uma mulher que se preparava para se suicidar na praia da Vieira”, recorda Maria Fernanda. Não negam esmola a quem lhes bate à porta e chegaram a dar guarida, durante nove anos, a um homem que aparentemente não tinha nada, logo a seguir ao 25 de Abril.

Quando morreu descobriu-se que era dono de vários prédios em Lisboa. Deixou-lhos em testamento, mas repudiaram o documento. Apesar disso, a comunidade não recebe qualquer subsídio da Igreja, por isso têm de trabalhar. Venderam os trabalhos de costura, até há bem pouco tempo, a uma loja em Lisboa. “Mas a crise chega a todo o lado e o acordo caiu por terra”, explica a abadessa.

A principal fonte de rendimento é a pequena hospedaria, contígua ao mosteiro. Mas o negócio é sazonal – os turistas só chegam a Monte Real no Verão, para a praia ou para as termas. Todos os meses há despesas. “Só para a Segurança Social vão mais de mil euros.”

Para poderem tratar destes assuntos, e apesar de viverem em clausura, quatro Clarissas têm autorização do Vaticano para sair quando for necessário. E gostam? A resposta é categórica: não. “Quando saio só quero voltar para casa o mais depressa possível. As coisas do mundo dizem-nos tão pouco...”

Rosa Ramos (i) / SNPC
Para saber mais sobre as clarissas:
http://www.clarissasmontereal.com/
http://clarissasmontereal.blogspot.pt/

Palavras de uma monja de clausura

Uma atracção irresistível


Muitas pessoas têm dificuldade em compreender a nossa opção pela vida contemplativa – pela vida de clausura, portanto –, que é sem dúvida a mais radical. Mas uma das causas dessa incompreensão é o desconhecimento, que dá origem a ideias erradas.

Pensa-se que levamos uma vida melancólica e apagada, metidas numa casa sombria, entre grades, a rezar o dia todo... Quase que nos imaginam seres anormais.
É claro que dedicamos a nossa vida à oração, mas o dia tem muitos momentos: os da oração, os do trabalho, e até os de convívio e lazer...
(...)
A ideia de que a nossa vida é inútil é das mais comuns. O meu padrinho, por exemplo, precisamente por estar convencido disso, ainda hoje se recusa a visitar-me no mosteiro e só consente em falar comigo por telefone. Diz o mesmo que o meu pai dizia: “Ainda se ajudasses crianças, velhinhos ou doentes, via-se bem o que fazias!”

De facto, humanamente falando, ser consagrado a Deus não faz sentido. Se se tem a Deus como um simples conceito, é um absurdo; se se tem a Deus como inexistente, é uma ingénua ilusão. Mas não é absurdo nem ilusão, é a resposta a um chamamento concreto de Deus. Responde-se com a entrega pessoal, por amor, e aceita-se a investidura de uma missão. Mas mesmo para quem acredita Deus é difícil entender a vida em clausura, o sentido da nossa entrega a Deus. Entende-se uma vida com atividades concretas de assistência prática a pessoas nas mais diferentes situações de necessidade. Mas uma vida dedicada à oração... (...)

A clausura

Só a palavra “clausura” já faz arrepiar muita gente. É uma palavra que assusta, talvez por evocar a ideia de uma prisão.
Mas a clausura monástica nada tem de prisão, de reclusão forçada, de contrário não seríamos tão felizes aqui dentro.

O silêncio dentro de um espaço delimitado, longe de ser acabrunhador, é uma dádiva que nos permite viver a nossa vida de oração e recolhimento. Não sair livremente, como qualquer pessoa sai de sua casa, impressiona muita gente. Mas para mim o contrário é que seria um suplício. E digo o mesmo a respeito do silêncio: se pudesse conversar á vontade durante o dia tirar-me-iam o que tenho de mais precioso, pois é no silêncio que Deus fala. O silêncio é que nos torna próximos de Deus.
Ir. Raquel Silva
In Uma Atracção Irresistível, ed. Tenacitas, 2009
Preço 12,00 €
ISBN 978-972-8758-64-6

publicado em SNPC

Rezemos o presépio

Para rezar enquanto se constrói o presépio

Primeiro Andamento
Visite-nos, Senhor, a Tua alegria.
Seja ela o dom que sustém esta hora da nossa vida.
Tenha o poder de reedificar, em nós, o caído,
de aclarar a tenda que a noite atribulou,
de unir aquilo que a pressa ou o cansaço interromperam.

Seja ela o sinal da leveza com que nos vês,
a carícia que nos estendes no tempo,
o assobio do Pastor que inaugura as tréguas.

Dá-nos Senhor, neste tempo,
a alegria como alento revitalizador:
inscreva ela em nós o sabor da vida abundante e multiplicada;
perfume cada um dos nossos gestos;
traga às nossas palavras a luz daquela estrela
que o Teu Nascimento para sempre acendeu.

Que o Teu Nascimento inspire cada um dos nossos renascimentos
Que a Tua presença, nos ensine o que significa tornar-se presente
E o dom que fazes de Ti, nos ajude a tecer a vida
como quem entretece uma história de amor.


Segundo Andamento

Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos.
Nascemos dentro de nós e no coração de Deus.

José Tolentino Mendonça
In Diário de Notícias (Madeira)
publicado em SNPC

Hierarquia da Igreja Anglicana: a homossexualidade não põe em causa o celibato

in DN, 20 de Junho 2011
Igreja anglicana autoriza ordenação de bispos homossexuais


O documento intitulado "ordenar bispos, a lei sobre a igualdade de 2010" defende que a orientação sexual não deverá ser tida em consideração na promoção de um padre a bispo e recomenda que a hierarquia da Igreja possa bloquear uma nomeação se ela "causar divisão e desunião na diocese" em causa.
A Igreja Anglicana foi pressionada a esclarecer a sua posição sobre a ordenação de bispos homossexuais depois de Jeffrey John, padre celibatário e homossexual que vive com outro religioso, ter sido forçado a renunciar ao cargo de arcebispo de Reading em 2003. A Igreja Anglicana de Inglaterra voltou a rejeitar em Julho de 2010 a candidatura de Jeffrey John a bispo da diocese londrina de Southwark. Em setembro, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, líder da Igreja Anglicana, disse "não ter problemas" com o facto de os bispos serem homossexuais desde que sejam celibatários.
  A Igreja Anglicana de Inglaterra autoriza a ordenação de bispos homossexuais desde o Sínodo da igreja em Julho do ano passado (2011).   Quando chegará o momento em que a Igreja Católica vai compreender que uma coisa é orientação sexual, e outra é vocação para o celibato?

A ONU e a violação dos direitos humanos baseada na orientação sexual e na identidade de género

Foi no ano passado que pela primeira vez a ONU incluiu a orientação sexual e a identidade de género na lista dos direitos humanos a respeitar, mostrando a preocupação com os actos de violência e de discriminação praticados baseados nestes dois factores. Aqui poderás ler em inglês o comunicado de imprensa que resultou da reunião.

UN Human Rights Council Passes First-Ever Resolution on Sexual Orientation and Gender Identity


17/06/2011

Today’s resolution is the first UN resolution ever to bring specific focus to human rights violations based on sexual orientation and gender identity, and follows a joint statement on these issues delivered at the March session of the council. It affirms the universality of human rights, and notes concern about acts of violence and discrimination based on sexual orientation and gender identity. This commitment of the Human Rights Council sends an important signal of support to human rights defenders working on these issues...
Geneva, June 17, 2011 - In a groundbreaking achievement for upholding the principles of the Universal Declaration of Human Rights (UDHR), the United Nations Human Rights Council has passed a resolution on human rights violations based on sexual orientation and gender identity (L9/rev1).
The resolution, presented by South Africa along with Brasil and 39 additional co-sponsors from all regions of the world, was passed by a vote of 23 in favour, 19 against, and 3 abstentions. A list of how States voted is attached. In its presentation to Council, South Africa recalled the UDHR noting that “everyone is entitled to all rights and freedoms without distinction of any kind” and Brasil called on the Council to “open the long closed doors of dialogue”.
Today’s resolution is the first UN resolution ever to bring specific focus to human rights violations based on sexual orientation and gender identity, and follows a joint statement on these issues delivered at the March session of the council. It affirms the universality of human rights, and notes concern about acts of violence and discrimination based on sexual orientation and gender identity. This commitment of the Human Rights Council sends an important signal of support to human rights defenders working on these issues, and recognizes the legitimacy of their work.
“The South African government has now offered progressive leadership, after years of troubling and inconsistent positions on the issue of sexual orientation and gender identity. Simultaneously, the government has set a standard for themselves in international spaces. We look forward to contributing to and supporting sustained progressive leadership by this government and seeing the end of the violations we face daily”, said Dawn Cavanagh, of the Coalition of African Lesbians
The resolution requests the High Commissioner for Human Rights to prepare a study on violence and discrimination on the basis of sexual orientation and gender identity, and calls for a panel discussion to be held at the Human Rights Council to discuss the findings of the study in a constructive and transparent manner, and to consider appropriate follow-up.
“That we are celebrating the passage of a UN resolution about human rights violations on the basis of sexual orientation is remarkable, however the fact that gender identity is explicitly named truly makes this pivotal moment one to rejoice in,” added Justus Eisfeld, Co-Director of GATE. “The Human Rights Council has taken a step forward in history by acknowledging that both sexual and gender non-conformity make lesbian, gay, trans* and bi people among those most vulnerable and indicated decisively that states have an obligation to protect us from violence.”
"As treaty bodies, UN special procedures, and national courts have repeatedly recognized, international human rights law prohibits discrimination on the grounds of sexual orientation and gender identity.”, declared Alli Jernow, of the International Commission of Jurists.
The resolution is consistent with other regional and national jurisprudence, and just this week, the 2011 United Nations Political Declaration on HIV and AIDS recognised the need to address the human rights of men who have sex with men, and the Organization of American States adopted by consensus a resolution condemning violence and discrimination on the basis of sexual orientation and gender identity.
Earlier in this 17th session of the Human Rights Council, the UN Special Rapporteur on violence against women, its causes and consequences, Rashida Manjoo, reported to the Council that:
“Contributory factors for risk of violence include individual aspects of women’s bodily attributes such as race, skin colour, intellectual and physical abilities, age, language skills and fluency, ethnic identity and sexual orientation.”
The report also detailed a number of violations committed against lesbian, bisexual and trans women, including cases of rape, attacks and murders. It is therefore regrettable that a reference to "women who face sexuality-related violence" was removed from the final version of another resolution focused on the elimination of violence against women during the same session.
"Despite this inconsistency, we trust the UN resolution on sexual orientation and gender identity will facilitate the integration of the full range of sexual rights throughout the work of the UN.", said Meghan Doherty, of the Sexual Rights Initiative.
A powerful civil society statement was delivered at the end of the session, welcoming the resolution and affirming civil society’s commitment to continuing to engage with the United Nations with a view to ensuring that all persons are treated as free and equal in dignity and rights, including on the grounds of sexual orientation and gender identity.
“Now, our work is just beginning”, said Kim Vance of ARC International. “We look forward to the High Commissioner’s report and the plenary panel next March, as well as to further dialogue with, and support from, those States which did not yet feel able to support the resolution, but which share the concern of the international community at these systemic human rights abuses.”

[Quem votou o quê]

Records of Vote and Co-Sponsorship

Council member States supporting the resolution: Argentina, Belgium, Brazil, Chile, Cuba, Ecuador, France, Guatemala, Hungary, Japan, Mauritius, Mexico, Norway, Poland, Republic of Korea, Slovakia, Spain, Switzerland, Ukraine, Thailand, UK, USA, Uruguay
Council member States against the resolution: Angola, Bahrain, Bangladesh, Cameroon, Djibouti, Gabon, Ghana, Jordan, Malaysia, Maldives, Mauritania, Nigeria, Pakistan, Qatar, Moldova, Russian Federation, Saudi Arabia, Senegal, Uganda.
Abstentions: Burkina Faso, China, Zambia

Absent: Kyrgyzstan, Libya (suspended)
Co-Sponsors of the resolution: Albania, Argentina, Australia, Austria, Belgium, Bolivia, Brazil, Canada, Chile, Colombia, Croatia, Cyprus, Czech Republic, Denmark, Estonia, Finland, France, Germany, Greece, Honduras, Iceland, Ireland, Israel, Italy, Luxembourg, Netherlands, New Zealand, Norway, Poland, Portugal, Romania, Serbia, Slovenia, South Africa, Spain, Sweden, Switzerland, Timor-Leste, United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland, United States of America, and Uruguay.

In ILGA Europa

sábado, 1 de dezembro de 2012

Rezar com Arte em Lisboa

Anunciação, John Collier
Paróquia reza com arte


A paróquia das Mercês, em Lisboa, propõe pelo segundo ano consecutivo uma noite de oração mensal a partir de obras de arte cristãs.

«O projeto consiste em escolher um tema por mês, a partir da pintura, escultura, arquitetura ou outras expressões de arte, propondo um percurso de oração», explicou ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura o pároco, padre António Pedro Boto de Oliveira.
A ideia surgiu da leitura do documento final da assembleia plenária de 2006 do Pontifício Conselho da Cultura, intitulado "Via pulchritudinis [via da beleza] - Caminho privilegiado de evangelização e diálogo".
Em cada sessão o responsável pelo Serviço de Património do Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa começa por exibir as peças escolhidas, deixa um minuto de silêncio para os participantes as contemplarem e depois apresenta-as, referindo os seus elementos principais, como o autor, a data, o motivo e o local onde se encontram, chamando ainda a atenção para detalhes que proporcionem «um olhar mais atento» sobre o conjunto.

«A partir desse momento sugiro uma reflexão, geralmente a partir da Sagrada Escritura, mas também incluo textos apócrifos, que por vezes estão na base da criação das obras», referiu, acrescentando que os participantes costumam fazer perguntas sobre elementos da peça que habitualmente passam desapercebidos.

O responsável sublinhou que «as reações têm sido muito positivas»: «Não se trata só de constatar o sucesso da iniciativa mas também de verificar que as pessoas começam a olhar para as obras de arte de forma mais atenta, percebendo como isso as pode ajudar a rezar - essa é, aliás, uma das principais funções da arte cristã, que além de catequética é celebrativa, litúrgica e orante».

As sessões não pretendem ser um espaço para apreciações sobre o estilo ou capacidade técnica do autor mas visam «proporcionar um encontro com a beleza»: «A propósito do Ano da Fé o papa fala da "Porta da Fé", que está sempre aberta para o encontro com a beleza de Deus».
«Pretende-se também proporcionar um contacto com a realidade da beleza, que é essencial à vivência da fé», salientou.

Em outubro foi escolhido o tema "Maria, mulher de fé", devido à abertura do Ano da Fé, que vai dominar os encontros de 2012-13. Foram apresentadas várias peças, desde pintura paleocristã à bizantina, passando pela criação contemporânea.

A sessão percorreu a vida de Maria ao longo de vários momentos evangélicos, como a Anunciação, o Calvário e a Assunção, explorando esses passos com peças nacionais e internacionais.

Para o encontro de novembro, que ocorreu na última semana, o padre António Pedro contava escolher um tema que o cativa, «embora possa não acontecer o mesmo aos participantes»: a santidade.
«Não pretendo explorar a iconografia dos santos, que é muito vasta, mas interessa-me especialmente a questão dos relicários, que por vezes é desvalorizada», explicou.
Os relicários aliam a vertente artística ao «contacto com a realidade humana que fez uma experiência de fé explícita», com qualidades que levaram a que a Igreja declarasse a sua santidade, mas também com fragilidades», realçou.
«O culto dos santos, através do culto das relíquias, repugna frequentemente as pessoas, porque acham que se trata de uma valorização excessiva do humano, mas ajuda a perceber que a fé se vive na humanidade concreta», assinalou.

Rui Jorge Martins

publicado em SNPC a 27.11.12 

O que nos diz a Incarnação

John Collier
Como falar de Deus ao nosso tempo?


A questão central que hoje nos colocamos é a seguinte: como falar de Deus no nosso tempo? Como comunicar o Evangelho, para abrir caminhos à sua verdade salvífica no coração frequentemente fechado dos nossos contemporâneos e nos seus espíritos às vezes atordoados pelos numerosos clarões ofuscantes da sociedade?

O próprio Jesus, dizem-nos os evangelistas, ao anunciar o Reino de Deus interrogou-se sobre esta questão: «A que coisa podemos comparar o reino de Deus ou com que parábola poderemos descrevê-lo?» (Marcos 4, 30). Como falar de Deus hoje?

A primeira resposta é que podemos falar de Deus porque Ele falou connosco. A primeira condição do falar de Deus é por isso a escuta que quando o próprio Deus disse. Deus falou connosco! Deus não é portanto uma hipótese longínqua sobre a origem do mundo; não é uma inteligência matemática muito afastada de nós. Deus interessa-se por nós, ama-nos, entrou pessoalmente na realidade da nossa história, autocomunicou-se até se incarnar. Assim Deus é uma realidade da nossa vida, é de tal forma grande que também tem tempo para nós, ocupa-se de nós.

Em Jesus de Nazaré encontramos o rosto de Deus, que desceu do seu céu para penetrar no mundo dos homens, no nosso mundo, e ensinar a «arte de viver», a estrada da felicidade; para nos libertar do pecado e tornar-nos filhos de Deus (cf. Efésios 1, 5; Romanos 8, 14). Jesus veio para salvar-nos e mostrar-nos a vida boa do Evangelho.
Falar de Deus quer dizer antes de tudo ter bem claro o que devemos levar aos homens e às mulheres do nosso tempo: não um Deus abstrato, uma hipótese, mas um Deus concreto, um Deus que existe, que entrou na história e está presente na história; o Deus de Jesus Cristo como resposta à pergunta fundamental do porquê e do como viver.
Por isso, falar de Deus requer uma familiaridade com Jesus e o seu Evangelho, supõe um nosso pessoal e real conhecimento de Deus e uma forte paixão pelo seu projeto de salvação, sem ceder à tentação do sucesso, mas seguindo o método do próprio Deus.

O método de Deus é o da humildade - Deus faz-se um de nós - é o método realizado na Incarnação na casa simples de Nazaré e na gruta de Belém, o da parábola do grão de mostarda. É preciso não temer a humildade dos pequenos passos e confiar no fermento que penetra na massa e lentamente a faz crescer (cf. Mateus 13, 33).
No falar de Deus, na obra de evangelização, sob a orientação do Espírito Santo, é necessário reencontrar a simplicidade, regressar ao essencial do anúncio: a boa notícia de um Deus que é real e concreto, um Deus que se interessa por nós, um Deus-amor que se faz próximo de nós em Jesus Cristo até à cruz e que na ressurreição nos dá a esperança e nos abre para uma vida que não tem fim, a vida eterna, a vida verdadeira.
(...) falar de Deus quer dizer dar espaço Àquele que o dá a conhecer, que nos revela o seu rosto de amor; quer dizer afastar o próprio eu oferecendo-o a Cristo, na consciência de que não somos nós a poder ganhar os outros para Deus, mas devemos esperá-lo do próprio Deus, pedir-Lho. O falar de Deus nasce, assim, de uma escuta, da nossa consciência de Deus que se realiza na familiaridade com Ele, na vida de oração e segundo os Mandamentos.
Comunicar a fé, para São Paulo, não significa levar-se a si mesmo, mas dizer aberta e publicamente o que se viu e sentiu no encontro com Cristo, o quanto se experimentou na existência desde então transformada por esse encontro: é levar aquele Jesus que sente presente em si e que se tornou a verdadeira orientação da sua vida, para fazer compreender a todos que Ele é necessário para o mundo e é decisivo para a liberdade de cada pessoa.
O apóstolo não se contenta em proclamar palavras mas convoca toda a sua própria existência na grande obra da fé. Para falar de Deus é preciso dar-lhe espaço, na confiança de que é Ele que age na nossa fraqueza; dar-lhe espaço sem medo, com simplicidade e alegria, na convicção profunda que quanto mais colocarmos Deus ao centro, e não nós, mais a nossa comunicação será frutuosa.
E isto vale também para as comunidades cristãs: são chamadas a mostrar a ação transformadora da graça de Deus, superando individualismos, fechamentos, egoísmos, indiferenças, e vivendo o amor de Deus nas relações do dia a dia. Perguntemo-nos se são verdadeiramente assim as nossas comunidades. Devemos pôr-nos a caminho para nos tornarmos sempre e realmente assim, anunciadores de Cristo e não de nós próprios.
Aqui chegados devemos perguntar-nos como é que o próprio Jesus comunicava. Jesus na sua unicidade fala do seu Pai - Abbà - e do Reino de Deus com o olhar pleno de compaixão pelos problemas e dificuldades da existência humana. Fala com grande realismo e, diria, o essencial do anúncio de Jesus é que Ele torna o mundo transparente o mundo e a nossa vida tem valor para Deus.
Jesus mostra que no mundo e na criação transparece o rosto de Deus e mostra-nos como na história quotidiana da nossa vida Deus é presente. Seja na parábolas da natureza, o grão de mostarda, o campo com várias sementes, ou na nossa vida - pensemos na parábola do filho pródigo, em Lázaro e outras parábolas de Jesus.

No Evangelho vemos como Jesus se interessa por todas as situações humanas que encontra, mergulha na realidade dos homens e das mulheres do seu tempo, com confiança plena no auxílio do Pai. E vemos que realmente nesta história, de maneira oculta, Deus está presente, e se estivermos atentos podemos encontrá-lo. E os discípulos, que vivem com Jesus, as multidões que o encontram, veem as suas reações aos problemas mais diversos, veem como fala, como se comporta; veem nEle a ação do Espírito Santo, a ação de Deus. Nele anúncio e vida entrelaçam-se: Jesus age e ensina, partindo sempre de uma relação íntima com Deus Pai.
Este estilo torna-se um indicador essencial para nós, cristãos: o nosso modo de viver na fé e na caridade torna-se um falar de Deus no hoje, porque mostra com uma existência vivida em Cristo a credibilidade, o realismo do que dizemos com as palavras, que não são só palavras, mas mostram a realidade, a verdadeira realidade.
E nesta atitude devemos estar atentos a colher os sinais dos tempos na nossa época, discernindo as potencialidades, os desejos, os obstáculos que se encontram na cultura atual, em particular o desejo de autenticidade, o anseio à transcendência, a sensibilidade pela salvaguarda da criação, e comunicar sem temor a resposta que oferece a fé em Deus.
O Ano da Fé é ocasião para descobrir, com a fantasia animada pelo Espírito Santo, novos percursos a nível pessoal e comunitário, para que em todos os lugares a força do Evangelho seja sabedoria de vida e orientação da existência.
Também no nosso tempo um espaço privilegiado para falar de Deus é a família, a primeira escola para comunicar a fé às novas gerações. O Concílio Vaticano II fala dos pais como os primeiros mensageiros de Deus (cf. Lumen gentium, 11; Apostolicam actuositatem, 11), chamados a redescobrir esta sua missão, assumindo a responsabilidade no educar, no abrir a consciência dos mais pequenos ao amor de Deus como um serviço fundamental à sua vida, no ser os primeiros catequistas e mestres da fé para os seus filhos.
E neste sentido é importante antes de mais a vigilância, que significa saber discernir as ocasiões favoráveis para introduzir na família o discurso da fé e para fazer amadurecer uma reflexão crítica no que respeita aos numerosos condicionamentos a que são submetidos os filhos. Esta atenção dos pais é igualmente uma sensibilidade para acolher as possíveis questões religiosas presentes na interioridade dos filhos, às vezes evidentes, às vezes escondidas.
Depois, a alegria: a comunicação da fé deve ter sempre uma tonalidade de alegria. É a alegria pascal, que não cala ou esconde a realidade da dor, do sofrimento, do cansaço, da dificuldade, da incompreensão e da própria morte, mas sabe oferecer os critérios para interpretar tudo na perspetiva da fé cristã.
A vida boa do Evangelho é precisamente este olhar novo, esta capacidade de ver com os próprios olhos de Deus cada situação. É importante ajudar todos os membros da família a compreender que a fé não é um peso mas uma fonte de alegria profunda, é perceber a ação de Deus, reconhecer a presença do bem que não faz rumor; e oferece orientações preciosas para viver bem a própria existência.
Por fim, a capacidade de escuta e de diálogo: a família deve ser um meio onde se aprende a estar junto, a reconciliar as oposições no diálogo recíproco, que é feito de escuta e de palavra, a compreender-se e a amar-se, para ser um sinal, um para o outro, do amor misericordioso de Deus.
Falar de Deus, portanto, que dizer fazer compreender com a palavra e com a vida que Deus não o concorrente da nossa existência, mas é o seu verdadeiro garante, o garante da grandeza da pessoa humana.
Assim regressamos ao início: falar de Deus é comunicar, com força e simplicidade, com a palavra e com a vida, o que é essencial: o Deus de Jesus Cristo, aquele Deus que nos mostrou um amor de tal forma grande ao ponto de incarnar, morrer e ressuscitar por nós; esse Deus que pede que o sigamos e nos deixemos transformar pelo seu imenso amor para renovar a nossa vida e as nossas relações; esse Deus que nos deu a Igreja, para caminharmos juntos e, através da Palavra e dos Sacramentos, renovar toda a Cidade dos homens, para que se possa tornar Cidade de Deus.
Bento XVI

Audiência geral no Vaticano, 28.11.2012
Trad.: SNPC/rjm

in SNPC

Homossexualidade na GNR e nas Forças Armadas

Em "nenhum momento" a GNR é homofóbica
Será que o recente casamento entre a capitã Patrícia Almeida, de 27 anos, e a cabo Maria Teresa Carvalho, de 39 anos, ambas da GNR, demonstra abertura da instituição à questão homossexual? O casal não quis até agora falar com a imprensa. O P2 pediu um comentário ao porta-voz da GNR, tenente-coronel Pedro Costa Lima, mas este recusou-se, alegando que a GNR "não comenta publicamente assuntos que sejam do foro privado dos seus militares". À pergunta sobre se as pessoas homossexuais ao serviço da GNR sofrem algum constrangimento profissional em função da orientação sexual, Pedro Costa Lima respondeu que não. "Em nenhum momento", garantiu.
A GNR não é um ramo das Forças Armadas, mas uma força de segurança militar, com dupla tutela do Ministério da Defesa e Ministério da Administração Interna.
A associação ILGA-Portugal promoveu em Novembro do ano passado uma acção de formação sobre Crimes de Ódio Contra as Pessoas LGBT, em que os formandos, por via de protocolos institucionais, foram membros da GNR e de outras forças de segurança. "Houve muita participação e interesse", comenta Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA. "Há sinais de abertura e receptividade, embora o trabalho esteja ainda no seu início."

Cinema e literatura registam o tema
"No Exército, não há maricas", diz a personagem de um tenente-coronel no filme 20,13 Purgatório, de Joaquim Leitão (2006). Com prudência, e a espaços, o cinema e a literatura têm abordado a presença de militares homossexuais nas Forças Armadas. Quase sempre sob o signo da Guerra Colonial. São histórias que comprovam que a homossexualidade existe na instituição e até já teve uma expressão pública mais vincada. A ambiguidade de soldados e marinheiros em Moçambique é contada no romance autobiográfico A Sombra dos Dias (1982), de Guilherme de Melo. Um militar português esmagado pela hipocrisia da instituição aparece no livro de contos Persona (2001), de Eduardo Pitta. O filme Morrer Como um Homem (2009), de João Pedro Rodrigues, mostra uma cena de sexo entre dois soldados. E o livro de memórias Máscaras de Salazar (1997), do jornalista Fernando Dacosta, conta que os anos 60 lisboetas conheceram muita prostituição masculina de "mancebos mobilizados pela tropa".
O poeta e pintor Mário Cesariny, no documentário Autografia (2004), de Miguel Gonçalves Mendes, dá uma noção do que se passava: "Diverti-me à brava com a Marinha portuguesa quase toda. Nada de oficiais, que já têm a cabeça cheia."
Eduardo Pitta, no ensaio literário Fractura (2003), grava a epígrafe: "A figura do magala é com certeza um fantasma português."

por Bruno Horta
in Público, Maio de 2011

Ler também Homofobia e as Forças Armadas portuguesas

Homofobia e as Forças Armadas portuguesas


Ross Watson

Há uma cultura homofóbica nas Forças Armadas?


Por Bruno Horta

Não há homossexuais assumidos nas Forças Armadas. A hierarquia superior e o ministro da Defesa dizem que a Constituição é cumprida, mas o bispo das Forças Armadas descreve um ambiente discriminatório dentro dos quartéis. Sargentos e oficiais homossexuais falam em "cultura homofóbica" e optam por esconder a sua identidade.

Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas e de Segurança, descreve o ambiente militar que envolve gays e lésbicas: "Sinto que se olha a homossexualidade como uma ofensa de lesa-majestade. Há quem entenda que estas pessoas nem sequer deveriam ser autorizadas a ingressar, porque contaminam a raça e a tribo", diz ao P2. "Nas conversas do dia-a-dia, salpicadas de humor e às vezes de grande sanha, é voz corrente que "qualquer dia isto [homossexualidade] é obrigatório". Oiço também dizer que são pessoas que desprestigiam, porque têm um comportamento desviante e o que fazem é de uma incorrecção hedionda", conclui o bispo, sem querer alongar-se em explicações.


Muita coisa mudou desde a declaração televisiva do coronel Galvão de Melo (1921-2008), da Junta de Salvação Nacional, pouco depois do 25 de Abril de 1974: "A Revolução não foi feita para prostitutas e homossexuais." Desde 2004, o artigo 13.º da Constituição determina que a orientação sexual não pode motivar a discriminação dos cidadãos. As uniões de facto (2001) e o casamento civil (2010) alargaram-se aos homossexuais. E a visibilidade social de gays e lésbicas nunca foi tão forte. Portugal aparece em 13.º lugar na lista Rainbow Europe Country Index, elaborada em 2010 pela associação ILGA-Europe, relativa às garantias legais dadas aos cidadãos homossexuais nos 50 países europeus. Apesar de tudo, será que a identidade destas pessoas é respeitada pela instituição militar? As chefias alegam cumprir a lei, mas, perante perguntas concretas, optam por argumentos vagos.
O P2 pediu aos porta-vozes dos três ramos das Forças Armadas que comentassem as palavras de Januário Torgal Ferreira, o que estes recusaram, sem apresentar justificações. Sobre o mesmo ponto, o ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, disse através do assessor de imprensa, Filipe Nunes, que "a organização das Forças Armadas obedece ao preceituado na Constituição e na lei", logo "nenhum militar pode ser discriminado em função da sua orientação sexual."
O que contam um ex-militar e dois militares no activo, que aceitaram falar sob anonimato e desde que não fossem divulgados pormenores sobre a sua situação profissional, por isso alegadamente lhes prejudicar a carreira, sugere a existência de uma segregação tácita contra os homossexuais nas Forças Armadas. Os próprios admitem e adoptam os preconceitos que os rodeiam. "É uma instituição com uma cultura homofóbica, mas acabamos por nos integrar porque é assim que aquilo funciona", diz um oficial gay da Marinha, com menos de 30 anos. "Vivemos num armário que não nos é imposto, mas que é cultural. Quem não o aceita não consegue viver bem nas Forças Armadas", acrescenta um sargento da Força Aérea, com mais de uma década de experiência.
Os porta-vozes do chefe do Estado-Maior de cada ramo das Forças Armadas também foram questionados sobre se há homossexuais assumidos na instituição militar. "A Marinha não tem conhecimento de qualquer dos seus militares que se tenha assumido publicamente, incluindo no interior da instituição", diz o comandante Alexandre Santos Fernandes, porta-voz da Marinha. O tenente-coronel Hélder Perdigão, porta-voz do Exército, e o coronel Mário Gaspar, porta-voz da Força Aérea, também "não têm conhecimento". Quanto aos efeitos de uma possível assunção pública de homossexualidade por parte de militares, responde Alexandre Santos Fernandes que não teria "nenhuns efeitos". O Exército e a Força Aérea dizem que "depende das circunstâncias concretas dessa assunção", mas preferem não detalhar.
Por que motivo não há então homossexuais assumidos entre os 50 mil militares portugueses? "Os aspectos da vida privada dos militares só aos próprios dizem respeito", justifica o Exército. "É uma questão do foro íntimo de cada um", responde a Força Aérea. "A sexualidade de cada indivíduo, seja ele civil ou militar, é um assunto do foro privado", defende a Marinha.
"Não sejam maricas"

O ex-sargento António Reis Marcos, de 32 anos, é homossexual assumido e passou quase nove anos no Exército. Saiu em 2009, quando o contrato terminou. Recorda um ambiente pouco amistoso em relação aos homossexuais: "Fosse por gozo ou coscuvilhice, a questão homossexual aparecia nas conversas. Havia sempre alguém que desconfiava de alguém e comentava. Dizia-se "maricas" ou "grande paneleiro", mas jamais na cara das pessoas, era sempre nas costas. Depois, quando tinham de lidar directamente com essas pessoas, a relação era cordial", relata. "Eu próprio cheguei a participar nesse tipo de conversas. E quando fui instrutor, também dizia "não sejam maricas", que é uma expressão muito usada. Talvez seja um sinal de homofobia, mas faz parte, são termos instaurados." "A utilização de quaisquer termos depreciativos não é permitida no Exército", diz o tenente-coronel Hélder Perdigão.
António Reis Marcos voluntariou-se para o Exército aos 22 anos. Nasceu em Vilarinho da Castanheira, concelho de Carrazeda de Ansiães, estudou Engenharia Informática no Instituto Politécnico de Bragança, mas o curso correu mal e ele queria independência económica em relação aos pais - por isso alistou-se. "O meu irmão fez o serviço militar obrigatório; de resto, nunca tive nenhum familiar nas Forças Armadas." A recruta e a especialidade, fê-las na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, como voluntário. Só depois assinou contrato. De Mafra foi para Viseu e daí para Vila Real, durante cinco anos. "Nunca tinha experimentado qualquer contacto homossexual. Cheguei a ter uma namorada, mas, como é óbvio, as coisas não funcionavam. A minha orientação sexual estava indefinida em termos de vida futura, mas muito bem definida em termos de desejo. Marcava encontros através da Internet e comecei a aproximar-me daquilo que me interessava. Foi um pouco por causa disso que acabei por pedir transferência para Lisboa. Queria conhecer outras coisas e, no fundo, sabia que na capital era mais fácil ter alguma vida gay." Foi colocado no quartel de Paço de Arcos e, nessa altura, na vida civil, iniciou uma relação estável.
Ainda que mencione algumas dificuldades, este antigo sargento também teve experiências positivas. "Uma vez, contei a um primeiro-sargento. Ele era heterossexual, mas, como trabalhávamos juntos, fui ganhando confiança. Mais tarde, conheci a mulher e os filhos dele. Senti sempre uma abertura muito grande. Eu até brincava e dizia: "Qualquer dia, tens de experimentar". E ele respondia: "Nem pensar, tenho medo de gostar"."
A homossexualidade terá sido irrelevante para a saída de António Reis Marcos do Exército. Mas o à-vontade que acabou por sentir deveu-se ao facto de estar de passagem. "Mesmo assim, sabendo o que sei hoje, acho que ser homossexual não me teria impedido de ascender dentro da instituição, se fosse caso disso. Aquilo tem regras muito definidas e sobe-se com alguma tranquilidade. Só alguém claramente efeminado é que pode ter mais dificuldades."
O oficial da Marinha que aceitou falar com o P2 está de acordo: "Raramente há homossexuais efeminados nas Forças Armadas". "Não sei se se auto-excluem ou são excluídos na selecção. O meio militar é muito machista. O estereótipo do bom oficial é aquele que entende bem as pessoas, que sabe liderar, que tem uma estrutura psicológica à prova de bala. Ser viril e heterossexual são elementos secundários, parte-se do princípio de que já lá estão. É como a boa forma física: é um dado adquirido para a instituição." É isso que leva os militares a esconderem a sua homossexualidade? "Em parte, sim", responde.
O mesmo oficial chama a atenção para um aspecto: "Há uma diferença muito importante entre os oficiais do quadro permanente e militares contratados". Em que termos? "Se se souber que um militar contratado é gay, pode não lhe acontecer nada, porque ele acaba por sair daí a poucos anos ou meses, quando o contrato termina. Já o oficial é um militar que fica na instituição para sempre e só sai se cometer um erro do outro mundo. A única maneira de o subjugar, em caso de homossexualidade, é criar-lhe obstáculos."
Há casos concretos? "Há pouco tempo, um oficial que já tinha bebido uns copos meteu-se com dois ou três cadetes do primeiro ano durante um baile na Escola Naval [na Base do Alfeite, em Almada]. Pode ter sido apenas um mal-entendido, mas consta que ele disse qualquer coisa de cariz sexual. Dias depois, levou com um processo disciplinar em cima. Um processo que não deve falar sobre homossexualidade, porque eles não deixam registo escrito destas situações. É um oficial que, à partida, tem a carreira dificultada nos próximos tempos: mandam-no fazer trabalho administrativo. Nada disto está escrito num regulamento, são procedimentos informais."
Alexandre Santos Fernandes confirma a ocorrência do episódio e diz que houve "aplicação de procedimento disciplinar." Afirma, contudo, que "nunca o apuramento de responsabilidades poderia justificar-se pela orientação sexual do indivíduo, pois essa não é uma preocupação da instituição".
Interrogado sobre se há alguma regra não escrita que tenha em vista prevenir a demonstração de comportamentos homossexuais por parte dos militares, o porta-voz da Marinha afirma que "as normas do Regulamento de Disciplina Militar, pelas quais se rege a Marinha, não fazem qualquer referência à orientação sexual dos militares". E remete para os Padrões e Códigos de Conduta, aprovados em 2008 pelo chefe do Estado-Maior da Armada. O documento, de duas páginas, foca, entre outros aspectos, o assédio sexual e estabelece que a Marinha "condena vivamente" tal comportamento. A hipótese de o assédio sexual acontecer entre pessoas do mesmo sexo é ignorada: "Tradicionalmente, o assédio sexual manifesta-se de um indivíduo do sexo masculino sobre um indivíduo do sexo feminino. Contudo, a situação inversa também poderá acontecer", lê-se.
Alexandre Santos Fernandes acrescenta que "a qualidade dos cargos e das funções desempenhadas, o registo disciplinar, as avaliações individuais e a antiguidade no posto" são os principais critérios de progressão na carreira, sustentando que a Marinha "respeita o princípio da igualdade consagrado no artigo 13.º da Constituição". Não fica explicada a existência ou não de procedimentos informais para lidar com militares homossexuais.
No capítulo das regalias e benefícios sociais, como sejam a assistência médica ou a habitação para militares fora da área de residência (guarnição), nenhum dos entrevistados disse saber de qualquer acto discriminatório contra gays e lésbicas - sejam solteiros, casados ou unidos de facto. Quem coordena a acção social das Forças Armadas é o Instituto de Apoio Social das Forças Armadas (IASFA) e a ele podem recorrer, segundo os porta-vozes dos três ramos, os militares dos quadros permanentes (no activo, reserva e reforma) e o pessoal militarizado das Forças Armadas, assim como os cônjuges, descendentes e ascendentes que estejam a cargo dos militares. "As condições específicas proporcionadas aos militares estão conformes à legislação e são válidas para todos", diz Mário Gaspar.
Um relatório de 2008 da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) indica que "gays e lésbicas ainda enfrentam uma resistência significativa dentro das Forças Armadas, ainda que as chefias militares tenham um discurso contra a homofobia". Intitulado Handbook on Human Rights and Fundamental Freedoms of Armed Forces Personnel, o relatório é assinado por Ian Leigh (Universidade de Durham, Reino Unido) e Hans Born (Centre for the Democratic Control of the Armed Forces, Suíça). "Os militares homossexuais são frequentemente obrigados a trabalhar num ambiente hostil e, por vezes, são alvo de perseguição, devido à sua orientação sexual. Tal perseguição inclui palavras ofensivas, piadas, insultos e, até, violência sexual ou agressões violentas", lê-se. "Uma das formas mais comuns de discriminação inclui políticas ou práticas informais, que podem influenciar a progressão na carreira."
Questão legislativa
O Estatuto dos Militares das Forças Armadas (EMFA), lei da Assembleia da República que regula os direitos e os deveres dos militares portugueses, faz tábua rasa da orientação sexual. O número 2 do artigo 18.º estabelece que "o militar não pode ser prejudicado ou beneficiado em virtude da ascendência, sexo, raça, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, situação económica ou condição social". O Estatuto foi aprovado em 1999 (Decreto-Lei 236/99, 25 de Junho). Desde então, sofreu pelo menos oito alterações e rectificações, a última das quais em 2009. A actual redacção do artigo 13.º da Constituição é de 2004. Ainda assim, a orientação sexual nunca passou a constar do número 2 do artigo 18.º. Ao P2, nem os chefes do Estado-Maior de cada ramo das Forças Armadas nem o ministro da Defesa quiseram explicar porquê.
Informa a Marinha, por intermédio de Alexandre Santos Fernandes: "A falta de referência à orientação sexual no artigo 18.º do EMFA não poderá ser interpretada enquanto derrogação ao exercício de direitos pelos militares". A Força Aérea e o Exército remetem resposta para o Ministério da Defesa, sustentando tratar-se de "uma questão legislativa que deverá ser colocada à tutela e não a um ramo das Forças Armadas em particular". Interrogado pelo P2, o ministro da Defesa repetiu, através do assessor de imprensa, a mesma frase com que comentara as palavras do bispo das Forças Armadas.
Para a constitucionalista Isabel Moreira, "é especialmente curioso que não seja referida a orientação sexual numa lei referente às Forças Armadas, conhecidas que são pela sua resistência à homossexualidade assumida". Segundo a especialista, "parece ter havido uma vontade clara de não incluir a questão da orientação sexual" no EMFA, visto que desde 2004 houve várias oportunidades para o fazer. "Tal como está, o artigo 18.º concretiza de forma imperfeita o estabelecido no artigo 13.º da Constituição", afirma.
No dizer desta especialista, a questão técnica é a seguinte: "Em 2004, a orientação sexual passou a ser considerada uma categoria suspeita nos termos da Constituição, ou seja, qualquer lei geral que discrimine em função da orientação sexual é à partida inconstitucional. A legislação laboral, quando reproduz os princípios do artigo 13.º, deve estar conforme à Constituição, por uma questão de exequibilidade". No entanto, mesmo que isso não aconteça, como no caso do EMFA, diz a constitucionalista que "não implica obviamente que um trabalhador possa ser discriminado".
Heterossexualidade social


Quanto ao facto de os militares estarem sujeitos a restrições ao "exercício de alguns direitos e liberdades", como estabelece o número 1 do mesmo artigo 18.º, nada significa nesta questão, segundo Isabel Moreira. "Seria absurdo invocar a restrição de direitos para justificar a homofobia. Há cargos, como o de Presidente de República, ou médico ou juiz, que também implicam restrições de direitos. Os juízes, por exemplo, estão proibidos de acumular funções. Quando a lei restringe determinados direitos em função da actividade profissional, está a dizer que todas as pessoas estão aptas a desempenhar aquela profissão, mas quem a desempenha prescinde do exercício de certos direitos. O que a lei não está certamente a dizer é que uma pessoa, por ser mulher ou homossexual, não pode exercer uma profissão."

Quer isto dizer que a homofobia está ausente da instituição militar ou que não é uma questão de relevo? O sargento da Força Aérea reconhece que há discriminação, mas desvaloriza-a: "Durante a recruta, por exemplo, os instrutores costumam dizer "mexam-se, seus maricas" ou "são todos umas meninas". A recruta funciona por estímulos, tem de ser agressiva e enérgica, tem de haver berros que formem o estímulo, não pode ser com explicações detalhadas e serenas, senão não resulta. Também se diz "parece que são todos surdos" e não acho que isso signifique que quem dá a ordem está a discriminar as pessoas deficientes." O oficial da Marinha que falou com o P2 assume-se para si mesmo como homossexual. A família mais próxima sabe. E ele já teve namorados. No entanto, não frequenta bares ou discotecas gays, com medo de ser reconhecido e assim comprometer a carreira profissional. Dentro da instituição, expõe uma heterossexualidade social. "Apreciar mulheres nas conversas com os meus camaradas faz parte da tradição. Sei que não pode ser de outra forma, mas o mundo civil também não é muito diferente. Quantos políticos [homossexuais] assumidos há em Portugal?", questiona.
O porta-voz da Marinha assegura que a instituição "não obriga ninguém a fazer-se passar pelo que quer que seja" e explica que "os comportamentos do militar que não digam directamente respeito à sua condição enquanto tal, e que não afectem ou respeitem às suas funções ou ao trabalho desempenhado, não importarão à instituição, salvo nos casos em que a relação funcional seja afectada".
Ao conhecimento de Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA - Portugal, associação de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (LGBT), nunca chegaram queixas de militares homossexuais. "O silenciamento imposto pelo preconceito dificulta denúncias", justifica aquele responsável. "Por vezes, esse silenciamento não é identificado enquanto prática discriminatória por não haver uma política explícita" de discriminação por parte das Forças Armadas.
A única prática discriminatória legal, admitida por sucessivos Governos, foi a da "psiquiatrização" da homossexualidade - em sintonia com o que, durante anos, era opinião vigente na comunidade médica mundial. Na era do serviço militar obrigatório, vigoraram cinco portarias e um decreto-lei contendo "tabelas de inaptidão e incapacidade", usadas nas juntas médicas e centros de selecção (inspecção). Cada ramo das Forças Armadas tinha as suas tabelas, algumas de antes do 25 de Abril. Continham extensas listas de doenças, malformações, deficiências e problemas físicos ou psíquicos. Em relação aos homossexuais, eram usados os termos "personalidades psicopáticas", "anormais sexuais", "invertidos" (Portaria 709/73, assinada por José Pereira do Nascimento, secretário de Estado da Aeronáutica). Na mesma tabela, consideravam-se inaptos os impotentes, os gagos e os inconformistas. Em textos posteriores, a homossexualidade passou a ser chamada "transtorno da personalidade" e "desvio sexual" (Portarias 28/89 e 29/89, assinadas por Eurico de Melo, ministro da Defesa).
O provedor de Justiça Meneres Pimentel declarou, em Maio de 1999, numa entrevista ao Diário de Notícias, que aquelas portarias eram "constitucionalmente intoleráveis", apesar de estarem alinhadas com a Classificação Nacional das Deficiências, elaborada pelo Conselho Superior de Estatística, um órgão do Estado. No Verão daquele ano, o primeiro-ministro António Guterres fez aprovar, e o Presidente da República Jorge Sampaio promulgou, o Decreto-Lei 291/99, que revogava todas as "tabelas de inaptidão" e criava uma nova. A questão homossexual fora central para a revogação: "[As tabelas] não respeitam a última revisão da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde" (OMS), lê-se no preâmbulo, em referência directa à retirada da homossexualidade da lista de patologias mentais, em 1990 (com efeitos a partir de 1994, como informa o site oficial da OMS).
O decreto de Guterres seria regulamentado por portarias de 1999, 2000 e 2001. Não é possível apurar quantos portugueses, à luz daquelas tabelas, foram considerados incapazes ou quantos se declararam homossexuais para não cumprirem o SMO. "Informação de carácter reservado", argumenta o Exército. "Dados sujeitos a sigilo médico", diz a Força Aérea. A Marinha, pelo comandante Alexandre Santos Fernandes, concretiza: "Os arquivos relativos aos processos de recrutamento são mantidos apenas durante seis anos, como legalmente determinado". Ou seja, os últimos processos, relativos a 1999, terão sido destruídos em 2005.
Terminada a era da conscrição, e das "tabelas de inaptidão" com referência aos homossexuais, terá a passagem ao regime de contrato e voluntariado estabelecido uma discriminação não assumida semelhante à da política "Don"t Ask, Don"t Tell" nos EUA? Entre 1994 e 2010, os militares norte-americanos estavam proibidos de revelar, dentro ou fora de serviço, a sua orientação sexual, porque isso alegadamente punha em causa a coesão e a disciplina. Ninguém lhes perguntava nada, eles mantinham-se calados e só por flagrante ou denúncia seriam exonerados. Foi o que aconteceu a mais de 13 mil militares, até 2009, de acordo com uma sentença de um tribunal federal da Califórnia, de Setembro do ano passado. Em Dezembro, o Senado deu o último passo de um longo processo que levou à revogação daquela política, tal como prometera o Presidente Barack Obama na campanha eleitoral de 2008.
Nenhum dos três militares entrevistados foi alguma vez questionado pela instituição sobre a sua orientação sexual. Os dois no activo não se assumem, nem tencionam fazê-lo. "As chefias não interferem na vida pessoal dos militares. Nunca um chefe me perguntou com quem durmo ou vou sair, nem nunca fez comentários", garante o sargento da Força Aérea. "E isto por uma razão simples: há uma grande distância entre as três categorias que compõem as Forças Armadas: oficiais, sargentos e praças. Um oficial não tem afinidade com um sargento ou um praça, e vice-versa, o que é normal e ajuda a manter a autoridade. A única coscuvilhice que existe é entre pares. Na messe, ouve-se comentar que esta é casada e anda a sair com aquele, tal como se ouve que um ou outro pode ser homossexual. É normal, acontece em qualquer local de trabalho."
"Talvez a desvalorização das dificuldades possa corresponder a homofobia interiorizada por parte dos militares", defende o psicólogo Nuno Nodin, mestre em Psicologia da Saúde e professor da licenciatura em Psicologia do Instituto Piaget. "As Forças Armadas parecem ter valores muito conservadores e estes militares, sendo homo ou bissexuais, podem querer estar em sintonia com o contexto, constrangendo a assunção plena das suas dimensões mais íntimas." Que efeitos pode tal atitude ter? "Uma grande autovigilância sobre o que se diz ou faz. Mesmo que a pessoa entre numa rotina e não se esforce tanto, isso tem um peso grande", explica Nuno Nodin. "Implica um desgaste mental, mesmo que a pessoa não tome consciência disso. A angústia ou a depressão podem verificar-se. Ou não. Depende de muitos factores. Um militar gay que tenha um contexto profissional adverso mas, por exemplo, uma relação afectiva satisfatória estará, à partida, mais equilibrado."
Numa frase, o jovem oficial da Marinha assina a conclusão: "Fazemos tudo o que os outros fazem, mas não nos mostramos por inteiro; não se pode dizer que estejamos sob pressão, para isso era preciso que eles soubessem o que somos."

In Público Maio 2011

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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