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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.
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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Relendo a história Javista da Criação

Este artigo é de autoria de Carlos Osma, teólogo protestante catalão. Foi gentilmente traduzido e enviado por um leitor do blogue moradasdedeus, elemento do grupo CADIV:

Relendo a história Javista da Criação

No livro do Génesis encontramos duas histórias diferentes que explicam a criação do ser humano. A primeira encontramo-la no capítulo um[1], e faz parte do que se denomina tradição sacerdotal[2] (fonte P); enquanto que a segunda aparece nos capítulos dois e três, e provem da tradição javista[3] (fonte J). Muitas pessoas fazem uma leitura literal destas histórias, ou pelo menos isso é o que dizem, porque relendo esta tarde a segunda, que relata o ocorrido no jardim do Éden, assaltava-me um mar de dúvidas e perguntas.

Para começar, pareceu-me irónico que, se para muitas pessoas o Éden é um lugar paradisíaco onde o ser humano vivia sem responsabilidade alguma, o texto o que diz é que o homem foi criado com a intenção de o trabalhar e dele cuidar. Depois senti-me um pouco incomodado ao ler que a mulher foi criada por Deus com a única intenção de que a sua primeira criação, o homem, não estivesse só. Mas em seguida disse a mim próprio… Vejamos, vejamos… É evidente que os autores desta história têm uma ideia clara do que e quem eram Adão e Eva… Mas: Como se compreendiam a si próprios Eva e Adão segundo o texto javista?

“Então Deus formou o homem do pó da terra[4]”… Que significava para Adão ser um homem se era o primeiro e nunca tinha visto um? Ser ligeiramente diferente da terra? Não ser Deus? Ser o jardineiro do Éden? Estar aborrecido? Como se deve comportar um ser humano para ser um homem se ninguém o ensinou a sê-lo? Adão imitava Deus? É Deus um homem? E se o que tornava um homem a Adão era algo físico… Como sabia que o pedaço de carne que tinha entre as pernas era mais determinante do que a sua orelha para o classificar dentro da categoria humana como um homem? E se fosse a sua orientação sexual… Se não tinha mais seres humanos, quando foi criado: Adão via-se como heterossexual? … Porquê? Talvez porque não tinha nenhum tipo de atração pelos animais aos quais depois deu nome? Tinha algum tipo de atração sexual?

“Da costela que Deus tinha tirado do homem formou uma mulher…[5]”. Ser criada a partir de um osso e não do barro, converteu-a em mulher? Ou foi o não saber-se única no mundo? Ser mulher para Eva era não receber o nome diretamente de Deus mas de outro ser humano? Somos portanto todos mulheres depois de Adão? E se a categoria mulher tinha que ver com o seu corpo… Ser mulher significava não ser homem? Poder-se-ia ser as duas coisas ao mesmo tempo? A única diferença entre o seu corpo e o de Adão eram os genitais? Porque ser mais alta ou mais baixa, mais gorda ou mais magra, importava menos que ter mais peitos que Adão para ser nomeada “mulher”? E sim, ser mulher é sentir-se exclusivamente atraída sexualmente por um homem… Eva estava atraída por Adão? Como podia saber que não lhe atraíam também (ou exclusivamente) outras mulheresse não tinha visto nenhuma? Ou é que ser heterossexual é o que ocorre a milhões de mulheres no mundo que não podem escolher elas próprias quem as atrai? Pensando um pouco, se eu tivesse sido o segundo ser humano e me tivessem chamado “mulher”, creio que pensaria que ser mulher significava ser companheira de outro ser humano, formar comunidade (unicamente a partir de Eva existe a comunidade humana), ser capaz de ver, conviver, ajudar e ser ajudada por outro ser humano…

Depois de nos detalhar a criação do homem e da mulher, o javista diz-nos aquelas palavras tão conhecidas: “Por esse motivo o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne[6]”. Surpreende, lido milhares de anos depois, que a história contada anteriormente se utilize como a justificação do matrimónio heteronormativo. De facto, nem Adão nem Eva abandonaram pais ou mães, mais ainda, no povo Israelita os homens não abandonavam a casa familiar para se casar (não seriam homens?), mas as mulheres. Mas a história não acaba aqui… se não que continua a explicar-nos como Adão e Eva desobedeceram a Deus e comeram do fruto proibido. E de repente, após este facto: “abriram-se os olhos a ambos e aperceberam-se que estavam nus[7]”. E eu interrogo-me, se Adão e Eva não se tinham apercebido de como era o seu corpo ou o do seu par: Como podem ser a justificação do matrimónio heteronormativo? Segundo o libro dos Génesis, a Adão não lhe interessavam os genitais de Eva para se unir em “uma só carne”e nem a esta os de Adão. É evidente que a quem interessa os seus genitais são aos leitores homófobos de esta lenda, mas a Adão e Eva, não.

Se lemos literalmente a história javista da criação, é difícil ver nela homens e mulheres, ou machos e fêmeas. Pelo menos se estes conceitos são os que utilizamos atualmente. Por outra parte, muito debateram, os literalistas, sobre se houve ou não houve sexo no paraíso, mas o que é claro é que sexo heterossexual só houve nas suas mentes, porque seria difícil catalogar dessa maneira uma relação sexual entre dois seres humanos que são incapazes de se verem como homens ou mulheres e que não podem ver o corpo nu do outro. Se Adão e Eva fossem uma só carne no Éden do literalismo, tê-lo-iam feito sem que essa carne tivesse necessariamente uma forma determinada. De facto, a primeira confirmação clara de sexo na Bíblia, encontramo-la fora do Éden: “Adão conheceu Eva, sua mulher, Ela concebeu e deu à luz Caim[8]”… Forçando um pouco alguns conceitos poderíamos catalogar esta prática sexual como heterossexual… Mas é impossível fazê-lo dentro do Éden. Só depois do pecado, da caída, há heterossexualidade. Antes, em todo o caso, houve dois seres humanos que se relacionavam livremente sem nenhum tipo de tabu nem condicionante. Não havia categorias, nem identidades. Só dois seres humanos que se encontravam e se complementavam mutuamente. Todo o mais virá depois, depois da queda, depois do pecado, depois da expulsão do Éden.

A heteronormatividade e o binarismo de género, tentam voltar a entrar todos os dias naquele paraíso longínquo para se apoderar do conhecimento do bem e do mal… Eles dizem que aquele lugar lhes pertence. Que aquele é o seu lugar e de ninguém mais. Mas não há que dar-lhes demasiada importância, aquele jardim não é de ninguém, e aqueles que tentem apropriar-se dele encontrarão à entrada querubins e a chama de uma espada zigzagueante que os impedirão de entrar. Melhor seria para eles e elas, mas também para nós, dirigirmo-nos para a cruz em vez de para o Éden. Ali está realmente a medida de qualquer identidade que pretenda ser verdadeiramente humana e essencialmente cristã.

Carlos Osma
(Tradução de Aníbal Liberal Neves)

NOTAS:
[1] Concretamente até ao capítulo 2 e versículo 3.
[2] Os autores seriam os sacerdotes. Composta no exílio da Babilónia por volta de 450 a.C.
[3] Provem do Reino de Judá. É a mais antiga e foi composta cerca de 950 a.C.
[4] Gn 2,7
[5] 2,22
[6] 2,24
[7] 3,7
[8] 4,1

Ler em: https://homoprotestantes.blogspot.com/2018/06/releyendo-la-historia-yahvista-de-la.html#more


domingo, 10 de dezembro de 2017

O que a Bíblia NÃO diz sobre a homossexualidade



Bibliografia:
- ALISON, James. Fé Além do Ressentimento: fragmentos católicos em voz gay. São Paulo: É Realizações, 2010.
- ALTHAUS-REID, Marcella. The Queer God. London: Routledge, 2001.
- BESSON, Claude. Homossexuais Católicos: Como sair do Impasse. São Paulo: Edições Loyola, 2015.
- BUSIN, Valéria Melki. Homossexualidade, religião e gênero: a influência do catolicismo na construção da autoimagem de gays e lésbicas. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008.
- CANDIOTTO, Cesar; SOUZA, Pedro de (orgs.). Foucault e o cristianismo. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
- CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
- CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre o Atendimento Pastoral das Pessoas Homossexuais. 1986.
- ENDSJØ, Dag Øistein. Sexo e Religião: do baile das virgens ao sexo sagrado homossexual. São Paulo: Geração Editorial, 2014.
- FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988 [1976].
- GOMES, Ademildo; TRASFERETTI, José. Homossexualidade: orientações formativas e pastorais. São Paulo: Paulus, 2011.
- GREENBERG, Steven (Rabino). Judaísmo e Homossexualidade. Palestra (em inglês) oferecida em 26 de maio de 2014, no Midrash Centro Cultural, Rio de Janeiro:
- MACHADO, Maria das Dores Campos; PICCOLO, Fernanda Delvalhas (orgs.). Religiões e Homossexualidades. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
- MUSSKOPF, André. A Teologia que sai do armário - um depoimento teológico. Impulso, Piracicaba, 14(34): 129-146, 2003.
- MUSSKOPF, André. Talar Rosa: Homossexuais e o Ministério na Igreja. São Leopoldo: Oikos, 2005
- NATIVIDADE, Marcelo. Deus me aceita como eu sou? A disputa sobre o significado da homossexualidade entre evangélicos no Brasil. Tese (Doutorado em Sociologia e Antropologia). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, 2008.
- REDELL, Petra Carlsson. Mysticism as Revolt: Foucault, Deleuze and Theology Beyond Representation. Aurora, Colorado: The Davies Group, 2014.
- RUBIO, Alfonso García. Elementos de Antropologia Teológica: salvação cristã: salvos de quê e para quê? 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
- SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório Catequético Geral. DCG. 1971.
- SEVERO, Julio. O Movimento Homossexual. Venda Nova: Betânia, 1998.
- WINK, Walter et. al. Homossexualidade: Perspectivas Cristãs. São Paulo: Fonte Editorial, 2008

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Carta de Rosa Luxemburgo

Uma alegria interior e um olhar de compaixão

"Um dos textos mais comoventes que conheço é uma carta de Rosa Luxemburgo escrita a uma amiga a partir da prisão feminina de Breslavia, na Polónia, por ocasião do Natal, poucos meses antes da sua execução.

Era o último vislumbre daquele paradoxal ano de 1917, e poucos se arriscavam a dizer com certeza para que destino o mundo estava a ser arrastado. O texto de Rosa Luxemburgo confirma um compromisso explícito naquele contexto histórico e toma a defesa da revolução então em curso na Rússia, em oposição à perspetiva dos «correspondentes dos jornais burgueses» que descreviam a nova situação como um desencadeamento insano. Esta é, seguramente, a parte mais datada, parcial e envelhecida da carta. Rosa sabe ser profética quanto à Alemanha, entrevendo a possibilidade de um “pogrom”, mas não o é da mesma maneira em relação à Rússia.

Na verdade, o que faz da sua carta um «documento de humanidade e poesia», para citar Karl Kraus, que deveria ser ensinado «às gerações futuras», são as duas partes seguintes. Era o terceiro Natal que a filósofa e sindicalista passava na prisão. Procura uma árvore de Natal para si, mas não consegue encontrar melhor do que um arbusto mísero e despido, que ainda assim transporta para a própria cela. E isto leva-a a interrogar-se sobre a «alegre embriaguez» que conseguia conservar naquele inferno, naquela irredutível espécie de confiança que nela persistia, a despeito do desconforto e da desolação.

Escreve naquela noite: «Aqui estou eu, deitada, só, em silêncio, envolvida nestes múltiplos e negros lençóis das trevas, do tédio, da prisão invernal – e entretanto o meu coração bate de uma alegria interior incompreensível e desconhecida, como se estivesse a caminhar ao sol radioso sobre um prado florido. (…) Nestes momentos penso em vós e gostaria muito de vos transmitir esta chave mágica e alegre da vida». E quando se pergunta mais profundamente sobre o porquê de tanta «felicidade», declara: «Não encontro nada e não posso impedir-me de sorrir novamente de mim. Creio que este segredo não é outro senão o da própria vida».

A última parte da carta não é menos inesquecível. Rosa Luxemburgo assiste à chegada de vagões cheios de pesados sacos de roupa militar, que os prisioneiros deverão remendar. São puxados por búfalos capturados na Roménia e exibidos como troféus. Pela primeira vez, atenta na indizível dor dos animais. É um choque e uma revelação. Quando se arrisca a pedir «um pouco de compaixão por aquelas criaturas extenuadas, o carreteiro responde-lhe violentamente: «E de nós, quem tem piedade?» E diante dela recomeça a bater com força nos búfalos.

O olhar de Rosa Luxemburgo fixa-se então sobre um deles. O animal deitava sangue mas permanecia imóvel, com os olhos mais dóceis que ela alguma vez tinha visto. Naqueles olhos entrevê uma impotência semelhante à de uma criança que tivesse chorado durante muito tempo sem ter sido escutada. «Era exatamente a expressão de uma criança que acaba de ser duramente castigada e não sabe por que motivo nem para quê, que não sabe como escapar do sofrimento e da força bruta… Eu estava diante dele, o animal olhava-me, as lágrimas caiam dos meus olhos, eram as suas lágrimas. Diante da dor de um irmão querido é impossível não ser sacudido pela mais dolorosa amargura como eu estava na minha impotência diante deste mudo sofrimento».

Da empatia que ligava naquele momento uma mulher a um anónimo animal ferido nascia uma nova forma de resistência à brutalidade e à barbárie. «Diante dos meus olhos vi passar a guerra ao estado puro»: Rosa Luxemburgo compreende que uma comunhão entre os seres humanos e as outras criaturas não é só possível. É urgente e necessária."

José Tolentino Mendonça In "Avvenire"
Tradução de Rui Jorge Martins para SNPC, publicado a 10 de dezembro de 2015

sábado, 21 de outubro de 2017

Como seres inacabados

«Nas mãos do oleiro/ o universo descobre-se/ inacabado»

Uma das formas fundamentais da sabedoria é a descoberta que cada um de nós vai fazendo, a ciclo e a contraciclo, a tempo e fora de tempo, na nossa vida. E numa vida adulta avançada, muitas vezes é isto que experimentamos: descobrimo-nos inacabados porque nos descobrimos nas mãos do oleiro.

É importante associar a experiência da vida em aberto e a experiência de estarmos a viver continuamente um processo de criação.

Este dia da nossa vida, em que parece que já não há nada para acontecer, em que parece que já vivemos tudo o que havia a viver, é um dia da criação.

«O que se instala na perfeição/ desconhece aquilo/ que só a indigência revela»

Um dos maiores obstáculos na vida espiritual é a ideia ou desejo de perfeição, porque eles se configuram como o anseio de sair para fora da nossa vida, imaginar uma vida outra, viver com a culpa ou a miragem de uma vida que não é nossa.

O objetivo do trabalho espiritual não é colocar-nos fora de órbita, mas reenviar-nos para o coração da existência, para o que somos, abrindo-nos para uma arte inesperada que é a da indigência - percebermos que na nossa imperfeição há uma sabedoria que está a ser revelada.

A verdadeira sabedoria, que nos faz tocar o coração da vida, é a da indigência, da pobreza, do tosco. Tudo o resto são fórmulas, que podem até ser úteis, mas não são a experiência; podem ser um belo sentimento, uma bela paixão, mas não são aquilo que nós podemos viver.

«Diariamente repito/ escolhas e imperfeições:/ a natureza dos seres em solidão»

É importante percebermos que a nossa escolha é sempre imperfeita, e que diariamente habitamos o imperfeito de forma estável.

É importante levarmos a sério a nossa própria vida, aquilo que somos, abraçarmos a nossa solidão. Porque esse abraço àquilo que somos de forma desprevenida, despojada, é a única possibilidade de um abraço de Deus, a única possibilidade de um abraço que nos salva.

«O meu desejo na primavera:/ que mesmo as flores selvagens/ venham florir à minha porta»

Gostamos da arte da jardinagem, e por vezes a nossa vida é uma arte permanente. Olhamos para o jardim, gostamos, não gostamos, intervimos, cortamos, cerceamos; é muitas vezes um jardim à maneira francesa, com aquele gosto pelas figuras geométricas, pelas formas, pelo jogo da simetria, pelo pandã.

Por vezes, a nossa forma de arrumação torna-se uma obsessiva ilusão, porque a vida é viva, isto é, é informe, em bruto, não trabalhada. Temos de desejar os nossos canteiros muito bem ordenados e floridos, mas também desejar que as flores selvagens, de que não conhecemos o nome nem a forma, venham florir à nossa porta.

Elas dão-nos o espelho do nosso inacabamento, dão-nos a impressão não de uma vida doméstica, que é sempre uma vida domesticada, mas a impressão de uma vida outra, de uma vida na sua torrente, na sua originalidade, na sua verdade.

«A vida monástica/ é uma forma de nudez/ que não se envergonha de si»

É essencial olharmos para uma das imagens iniciais do livro do Génesis, quando Adão e Eva se descobriram nus e se esconderam de Deus. Esta metáfora é também muito da nossa existência.

A nossa vida espiritual é muitas vezes uma arte de esconder, uma arte de não revelar. E a vida que mostramos a Deus é subtraída, é uma vida que nós queremos ser digna de ser vista por Deus, mas que deixa de ser a nossa própria vida.

Os mestres da vida espiritual mostram-nos precisamente o contrário: a Deus, temos de levar a nossa nudez, isto é, a nossa radical verdade, a vida destapada, desoculta e informe."

José Tolentino Mendonça 

Monjas Dominicanas do Mosteiro de Santa Maria, Lumiar, Lisboa a 9 de novembro de 2013
In SNPC

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O que a Morte tem para nos dizer

William Adolphe Bouguereau
Dante and Virgil in Hell (1850)
Todos sabemos que morremos... nem todos o aceitamos.
Ouvir falar da morte não é comum, muito menos popular. Divulgo uma série de conferências que me parecem interessantes, em que a história, as crenças e os mitos se cruzam e em que se traça o percurso de como se viveu e entendeu a morte... até aos dias de hoje.

Da lei da morte libertando...


A Culturgest, em Lisboa, realiza em janeiro o ciclo “Da lei da morte libertando”, conjunto de conferências proferidas por Paulo Mendes Pinto, diretor da Licenciatura e do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona.

«Possivelmente, há já alguns milhares de anos que somos o que hoje temos à nossa frente. Fisicamente, esta forma com que nos gostamos de designar enquanto duplamente sábios, sapiens sapiens, terá uns 200.000 anos. Há uns 40.000 anos que enterramos os mortos com flores. Nos últimos 5.000 anos fomo-nos “da lei da morte libertando”, desenvolvendo um conjunto de mitologias e de raciocínios que nos levou à imortalidade e a todo um grupo de crenças que hoje nos estruturam o pensamento.

Com a passagem ao Neolítico, ganhámos a nostalgia dos tempos anteriores que apelidámos de paradisíacos. O trabalho do cereal possibilitou um crescimento populacional, mas implicou uma “domesticação” que não foi apenas dos animais à nossa volta, também foi de nós próprios.

A partir desse momento, sempre buscámos o inalcançável. Seja nas mitologias da Suméria onde a Condição Humana nos surge quase ao nível do desumano, seja na Babilónia onde se começa a esquiçar uma ecologia em que tudo está interligado e dependente de uma imensamente marcante Criação.

Os mitos multiplicaram-se. As narrativas complexificam-se e os cleros consolidam-se. Inanna, Marduk, Baal, Melkart, Adonai e Javé são alguns dos momentos marcantes na construção das ideias centrais no mundo das religiões do Mediterrâneo. Mais que cultos, nestas realidades temos a construção dos próprios conceitos de divino, de deus, de salvação.

Neste percurso, que nos levará da Pré-História aos séculos em que emerge a nossa Era, os grandes deuses são depurações de ideias que resultam de milhares de anos a contemplar as estrelas à noite. Ao chegar próximo do nascimento dos monoteísmos, um deus já é um legado cultural muito além do que nos permite a leitura imediata das suas narrativas.

Nesse momento, uma divindade já não é ela mesma, é afinação de necessidades, de receios e de medos, mas também de desejos e de sonhos.» (Paulo Mendes Pinto).

Dia 5
A nostalgia do paraíso: o imaginário de um tempo sem trabalho e sem sofrimento

Dia 12
Cleros, hierarquias e reis: o caminho para a sociedade do Bronze

Dia 19
Nacionalismos, ecologia e salvação: o nascimento do indivíduo na Idade do Ferro

Dia 26:
Baal e El, ou Adonai, Eloim e Adonis: a junção eficaz das definições do divino

As sessões realizam-se às 18h30, no Pequeno Auditório. A entrada é gratuita, sujeita ao levantamento de senha de acesso 30 minutos antes do início da sessão, no limite dos lugares disponíveis, num máximo de duas senhas.

in SNPC
http://www.snpcultura.org/breves_da_lei_da_morte_libertando.html

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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São benvindos os comentários, as perguntas, a partilha de reflexões e conhecimento, as ideias.

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Os textos e as imagens

Os textos das mensagens deste blogue têm várias fontes. Alguns são resultados de pesquisas em sites, blogues ou páginas de informação na Internet. Outros são artigos de opinião do autor do blogue ou de algum dos seus colaboradores. Há ainda textos que são publicados por terem sido indicados por amigos ou por leitores do blogue. Muitos dos textos que servem de base às mensagens foram traduzidos, tendo por vezes sofrido cortes. Outros textos são adaptados, e a indicação dessa adaptação fará parte do corpo da mensagem. A maioria dos textos não está escrita segundo o novo acordo ortográfico da língua portuguesa, pelo facto do autor do blogue não o conhecer de forma aprofundada.

As imagens que ilustram as mensagens são retiradas da Internet. Quando se conhece a sua autoria, esta é referida. Quando não se conhece não aparece nenhuma referência. Caso detectem alguma fotografia não identificada e conheçam a sua autoria, pedimos que nos informem da mesma.

As imagens são ilustrativas e não são sempre directamente associáveis ao conteúdo da mensagem. É uma escolha pessoal do autor do blogue. Há um critério de estética e de temática ligado ao teor do blogue. Espero, por isso, que nenhum leitor se sinta ofendido com as associações livres entre imagem e conteúdo.

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