Pesquisar neste blogue

A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.
Mostrar mensagens com a etiqueta papas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta papas. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Entrevista a um padre gay

"A Igreja é hipócrita porque não aceita uma realidade que é sua"

Polaco, filho de uma família muito crente, cujo apoio o surpreendeu quando revelou ser homossexual, o padre Krzystof Charamsa testemunha a sua vivência no seio do clero, onde assegura que metade são gays. Revolta-se e acusa a Igreja de falsidade por nem sequer querer iniciar o debate do tema

Como o devo tratar, por padre?
Na realidade, porque não? Não sou um ex-padre, sou um padre suspenso. O sacramento do sacerdócio não se pode cancelar. Hoje sinto-me mais padre do que antes. Estou a realizar a minha vocação, em defesa dos direitos humanos, dos homossexuais, das mulheres ...

O Vaticano alegou que tinha violado o voto do celibato. Contrapõe que essa obrigatoriedade visa a relação do padre com uma mulher. Com um homem não é o mesmo?
É a mesma coisa para mim, mas não para a minha igreja, esse é o problema. O direito canónico diz-se contra o concubinato com uma mulher e não contempla o direito de uma relação com um homem.

Não admitem essa possibilidade.
Porque a Igreja é homofóbica e cancela a existência da homossexualidade, só a aceita como uma patologia, uma doença. Para me suspenderem nunca usaram a frase "relação afetiva com um homem ou homossexualidade", usaram o número do cânone que fala do concubinato e outros delitos sexuais. Na minha vida não são delitos sexuais, sinto muito, e também não me podem suspender por ter uma relação com uma mulher.

Concorda com o celibato?
Na maior parte da minha vida fui defensor do celibato, hoje não. Na congregação da Santa Sé, de que fazia parte, fui encarregue de um estudo sobre esse tema. Queriam que o celibato fosse obrigatório para todos os padres - não é na igreja oriental, não é para os padres romenos e ucranianos, para os que vêm de outras confissões -, é só para os padres latinos. Percebi que não havia razão bíblica, teológica, para que isso.

O que espera com este livro?
É uma novela com apontamentos biográficos. Mas na realidade, é um testemunho da evolução de uma pessoa e a sua relação com a instituição onde trabalha, a quem quer e com a qual se identifica e, ao mesmo tempo, descobre que é a instituição que não lhe permite aceitar-se. Neste caso, é um testemunho de um padre, um gay, e a Igreja, a quem considera a sua casa, a sua família, porque é um crente, mas tem um significado mais universal. É o testemunho de uma luta interior e de uma libertação, de uma libertação completa e que não é fácil de explicar a uma sociedade católica, que domina tudo com os seu juízos de valor, que julga em vez de escutar e, assim, oculta a realidade.

Conhecia a doutrina quando decidiu ser padre. Não concordou?
Sim, concordei. Essa foi a razão pela qual escondi a mim próprio que era gay, não queria aceitar, porque ia contra a doutrina que confessava, com a qual me identificava. Depois descobri que a congregação professava uma teoria que não praticava.

Acusa a Igreja de hipócrita.
É hipócrita porque não aceita uma realidade que é sua, que está no seu interior. Quando a Igreja fala dos gays, jamais diz nós, são os outros.

Constatou que há homossexuais que se refugiam no clero?
Sim. As famílias quando percebem que um filho não vai casar com uma mulher, pensam num local para onde ir sem revelar quem é e, assim, realizava-se socialmente.

Afirma que 50% do clero é gay.
O viver da homossexualidade na Igreja é muito mais forte do que na sociedade em geral. Avanço um número, é uma hipótese de trabalho, a igreja não pode ignorar mais este tema. Porque é que reconhece os direitos dos homossexuais.

Porque?
Quer manter o domínio sobre a sociedade, que é patriarcal e machista. E abrir-se à compreensão da homossexualidade exige uma grande reforma do pensamento católico.

O papa Francisco não vai conseguir mudar isso?
Convocou dois Sínodos sobre um tema que é urgente: a família, o matrimónio, as sexualidade, mas no final, foi silenciado pelos bispos, por um Vaticano que não tem capacidade para estudar as questões que a realidade exige. E até agora, não conseguiu nada. Disse muitas coisa boas, na realidade abre a cabeça das pessoas, mas o Vaticano tem minado praticamente qualquer possibilidade de discussão.

Ficou desiludido por não ter respondido à sua carta?
Esperava a resposta do papa Francisco aos homossexuais católicos, não a mim. Esperava uma resposta institucional, de líder espiritual da Igreja Católica e parecia que o Sínodo era um espaço para isso. E ele voltou a repetir as condenações do passado, não disse uma palavra positiva sobre os homossexuais.

O que esperava quando revelou ser homossexual?
Sabia que ia pagar um preço, mas esperava que falassem comigo, que o meu superior me recebesse. O Papa Francisco diz que a Igreja é como um hospital de campo, que procura os feridos, que deve acolher quem está perdido. E o que fizeram foi: "Não trabalhas mais aqui!"

O que faz atualmente?
Sou escritor. Tenho muitos projetos. Vivo na Catalunha, com o Eduardo, é a minha casa e a minha pátria. Da Polónia, na maior parte do tempo recebi ódio e ressentimento. A minha família é muito crente e apoia-me de uma maneira extraordinária. Eles é que sofrem, a minha mãe está a sofrer o que eu devia ter sofrido.

Há muitos padres gays a contactá-lo?
Muitíssimos, por email, facebook, mensagens, mas tudo de foram confidencial, todos com medo, este medo que paralisa. E, finalmente, trata-se só de pensar, estudar um pouco mais o que dizem sobre as relações humanas, A Igreja deveria ajudar a sociedade a respeitar os direitos das minorias, mas se nem aceita os direitos das mulheres?

Uma vez que é tão crente em Deus, há alguma outra confissão religiosa onde se pudesse enquadrar?
Não. Tive propostas de outras confissões, que me queriam receber, mas sou católico, um padre em exílio.

Manter-se numa Igreja que acusa de falsidade e hipocrisia?
Porque nem tudo está mal. Estamos num momento histórico, de compreensão da sexualidade e dos direitos ligados à sexualidade. A Igreja está a perder esse momento, mas não pode continuar fechada.

A pedofilia é uma consequência da falta de debate sobre a sexualidade?
Sim, é uma consequência da incapacidade de falar abertamente sobre a sexualidade humana. Somos católicos, estamos obcecados com a masturbação dos adolescentes, parece que é o maior pecado, quando encobrimos a pedofilia, não lhe demos importância. Formámos sociedades católicas onde as pessoas não querem saber da pedofilia, preferem estigmatizar a vítima. É uma cultura formada por este tabu da sexualidade que a Igreja tem debaixo do seu domínio.

Percebeu que era gay na adolescência e foi para padre, porquê?
Sim, mas não aceitava esse facto, lutava contra os meus desejos, vivia num engano de que não podia ser verdade, porque ia contra a doutrina que eu professava. Hoje a minha consciência de homossexual é a consciência de um padre. A Igreja precisa de padres homossexuais e heterossexuais, pessoas falam da nossa identidade. Os homossexuais têm a experiência humana de uma minoria que precisa de ser vivida e aceite.
por Diana Quintela, para DN, 25 de Outubro de 2016

segunda-feira, 26 de março de 2018

Balanço de 5 anos de pontificado do papa Francisco

“A grande revolução foi a resignação de Bento XVI; foi como um choque elétrico”

O académico do Vaticano Sergio Tapia-Velasco afirma que a Igreja precisava de um Papa como Francisco "para reagir" à verdadeira revolução que foi a resignação de Bento XVI. Foi há 5 anos.

Um mês foi quanto durou uma das maiores reviravoltas da história recente da Igreja Católica. A 11 de fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI anunciava a inédita decisão de abdicar do pontificado (o último Papa a resignar havia sido Gregório XII, em 1415); a 13 de março, o mundo via assomar à varanda na praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco, um aparente oposto do seu antecessor. Completam-se esta terça-feira cinco anos desde que foi eleito o primeiro Papa jesuíta, que surpreendeu o mundo desde o primeiro dia com gestos de simplicidade: o seu primeiro ato foi deslocar-se pessoalmente à residência onde tinha dormido durante o Conclave que o elegeu, para pagar a conta.

Para o padre e professor mexicano Sergio Tapia-Velasco, professor de comunicação da Pontifícia Universidade de Santa Cruz, em Roma, aquele mês foi o início de uma revolução na Igreja Católica. Numa entrevista ao Observador em Lisboa, em que fez um balanço dos cinco anos do papa Francisco, o académico do Vaticano e comentador de assuntos relacionados com a Igreja em meios de comunicação social internacionais como a CNN ou a RAI explica que a resignação de Bento XVI foi “a grande revolução”, comparando o momento a um “choque elétrico” que transformou radicalmente uma Igreja a precisar de ser agitada e de mudar. Francisco, explica o sacerdote, foi o “fisioterapeuta” que veio colocar a Igreja em movimento novamente depois desse choque.

O que mudou na Igreja nestes cinco anos?A primeira revolução nos últimos cinco anos foi a resignação do Papa Bento XVI. De facto, ninguém esperava que um Papa resignasse. Não houve uma resignação de um Papa durante mais de 400 anos, e quando o Papa Bento XVI resignou foi um choque para todos nós, especialmente para nós, que vivíamos em Roma. Não estávamos mesmo à espera.

A Igreja não estava preparada para a resignação de um Papa?Penso que a Igreja estava preparada. Agora, passados cinco anos, quando olhamos para trás e analisamos o último ano do Papa Bento XVI, podemos encontrar diferentes gestos, ou diferentes sinais, que nos fazem pensar que, de facto, o Papa estava a preparar tudo. Mesmo que não estivéssemos a reparar.

Por exemplo?Tanto quanto sabemos, o Papa Bento XVI tomou a decisão de resignar no dia em que caiu, na viagem ao México, em 2012, e percebeu que no ano seguinte teria de enfrentar uma nova viagem à América, para as Jornadas Mundiais da Juventude, no Rio de Janeiro. Ele pensou: “Se caí aqui e magoei a cabeça, o que irá acontecer no próximo ano?” Ele já sentia as pernas muito fracas, e hoje vemos que é verdade, ele está muito fraco.

Outro sinal foi que na viagem de regresso a Roma, depois da visita ao México, ele decidiu dar imediatamente início ao restauro do mosteiro onde vive hoje. Ainda demorou seis meses a fazer os preparativos da casa, mas já estava a pensar em mudar-se para lá. Depois, quando começamos a ler os últimos discursos, a partir de julho de 2012, começamos a ver que ele fazia várias referências que indicavam que estava de saída, que a Igreja está nas mãos de Deus. Como que a preparar as pessoas para a decisão que ele estava a tomar.
E é por isso que no dia em que se marcam os cinco anos do papado de Francisco, a primeira parte desta entrevista é exactamente sobre o homem que o antecedeu.

Mas posso dizer que, de facto, ninguém estava à espera. Até podemos lembrar quando ele visitou Áquila, quando houve lá um grande terramoto. Um dos edifícios que ruiu foi a catedral da cidade, onde estava sepultado São Celestino. O papa Bento XVI, nesse dia, deixou a sua estola no túmulo de São Celestino. Hoje, associamos o gesto, porque Celestino foi um dos papas que resignaram. Ou seja, há pequenos sinais, para os quais não temos uma leitura formal, mas que nos podem indicar isso.

Há quem diga que ele já estava a pensar nisso desde a eleição. Se lermos a entrevista que ele deu a Peter Seewald, The Light of the World, o Papa Bento XVI responde explicitamente que ele tinha estado a pensar em resignar.

Como avalia o papado de Bento XVI, a uma distância de cinco anos?Bom, obviamente eu sou um crente. Sou um padre, sou verdadeiramente convicto de que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo. Acredito que Deus inspirou o Papa Bento XVI a resignar e inspirou os cardeais a eleger o Papa Francisco. Nunca duvidei disso. A resignação foi um ato providencial. Deus previu-o e usou-o para agitar a Igreja e para nos fazer mudar, para nos fazer refletir na necessidade de mudarmos.

A verdade é que o Papa Bento XVI foi muito criticado pelos seus pontos de vista mais tradicionais. Mas, ao mesmo tempo, muitos teólogos consideram o seu trabalho um dos contributos mais importantes para a evolução da teologia nas últimas décadas.Penso que, na maioria das vezes, as críticas são preconceitos com origem na má informação sobre alguém. Quando entramos em contacto com a pessoa, a maioria dos nossos preconceitos desfazem-se. O que aconteceu com o Papa Bento XVI? Ele é provavelmente o melhor teólogo do século XX. A Igreja teve grandes teólogos no último século, certamente, mas quando pensamos, por exemplo, no diálogo entre Joseph Ratzinger e Jürgen Habermas e vemos duas grandes mentes a debaterem sobre todos os assuntos, é como assistir a dois grandes fogos de artifício. É surpreendente. O que aconteceu foi que, devido ao trabalho que tinha enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, foi rotulado com o cliché de “grande inquisidor”.

Estereótipos, na maioria das vezes?Sim, penso que foram sobretudo estereótipos. Na verdade, qualquer pessoa — e posso garantir isto — que tenha conhecido diretamente o papa Bento XVI derretia imediatamente. Ele é uma pessoa muito gentil. Não apenas gentil, mas também com uma forma de falar que é verdadeiramente convincente. Eu sou professor de retórica e fazemos muita investigação sobre a retórica do papa Bento XVI. Certamente, também o faremos no caso do papa Francisco, mas no caso do papa Bento XVI conseguimos ver uma forma de pensar muito profunda.

Nós hoje temos acesso à Internet com facilidade, por isso, sugiro a qualquer pessoa que ainda tenha preconceitos sobre o papa Bento XVI que vá ouvir a gravação original da última audiência geral, na última quarta-feira antes do dia 28 de fevereiro de 2013, quando ele deixou o governo da Igreja. É um discurso adorável e mostra bem como ele se sentia e como ele pensava.

Nas ‘Conversas Finais’, quando o jornalista Peter Seewald pergunta ao Papa Bento XVI como é que ele olhava para as críticas que lhe dirigiam sobre a abertura da Igreja a outras religiões e culturas, dá alguns exemplos interessantes: tinha sido o próprio Bento XVI a nomear um protestante para o Conselho Pontifício para a Ciência, a colocar um professor muçulmano na Pontifícia Universidade Gregoriana, a abrir a tradição católica aos anglicanos, e por aí fora. Na sua opinião, as críticas eram injustas?Hoje, ao fim de cinco anos, acho que muita gente foi injusta para Bento XVI. Vivo em Roma há 24 anos. Estive lá com João Paulo II, com Bento XVI e com Francisco, e acredito genuinamente que os três foram dons do Espírito Santo. Mas quando penso em Bento XVI, sinto uma simpatia particular por causa disso. Ele foi maltratado por muita gente, sem perceberem o peso que tinha aos ombros e a luz que ele espalhou pela Igreja, naquela dia e no futuro.

Muitas pessoas criticaram-no, por exemplo, apenas por ser simpático, por não gritar. Diziam que ele não governava a Igreja. Mas se olharmos para os números e tentarmos perceber, por exemplo, quantos bispos ele obrigou a resignar durante os oito anos do seu pontificado, foram cerca de 80 bispos. Isso significa pedir a um bispo que resigne, por razões graves, quase todos os meses. Se isso não é governar, então o que é governar?

Um dos principais problemas que emergiram durante o pontificado de Bento XVI foi o escândalo dos abusos sexuais. Ele lidou bem com esse escândalo?Novamente, acho que ele foi providencial. Se hoje temos este programa de tolerância zero para com os abusos sexuais, é devido ao Papa Bento XVI.

Porquê?É um processo longo. Ainda no tempo do papa João Paulo II, quando o cardeal Ratzinger estava à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, era ele quem estava encarregado dos julgamentos deste tipo de crimes. Só para dar um exemplo, foi Bento XVI quem exigiu que se fosse até ao fim no caso do padre Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, [que em 2006 foi obrigado por Bento XVI a renunciar ao ministério por ter cometido abusos sexuais contra jovens seminaristas durante as décadas de 50 e 60].

Mas não foi apenas esse caso. Como estava a dizer há pouco, durante a sua governação, o papa Bento XVI não apenas seguiu os casos de abusos como também expulsou da liderança da Igreja 80 bispos, que ele pensou que não estavam a governar de forma justa ou que estavam a obstruir.

Muitas críticas vieram precisamente de bispos e cardeais. Recordo, por exemplo, quando ele escreveu a carta aos católicos da Irlanda, no início do escândalo da pedofilia, a defender que estes casos deviam ser entregues às autoridades civis. Na altura houve bispos a defender que os casos não deviam ser expostos dessa forma.Houve muitas críticas dentro da Igreja. Enquanto crente, defendo sempre que a Igreja é uma instituição sobrenatural, na medida em que é de Deus e existe para nos guiar para a salvação, mas ao mesmo tempo a Igreja é uma sociedade humana, e sempre houve conflito entre as duas dimensões. Lembro-me de um antigo professor de Filosofia que eu adorava, o Leonardo Polo. Na sua introdução à filosofia, ele começava por referir que o livro se chama “Quem é Homem?” para responder: “O Homem é o animal que problematiza”. Essa é a sua categoria de entender o Homem. Quando um leão tem um problema com outro leão, mata-o. Não está pronto para argumentar. Pelo contrário, nós argumentamos, e num certo sentido é bom que muita dessa discussão venha do interior da Igreja, porque isso faz a Igreja crescer.

Como estava a dizer antes, acho que muita gente foi injusta para Bento XVI. Mesmo alguns bispos foram injustos. Por exemplo, quando o papa Bento XVI levantou a excomunhão de quatro bispos que foram ordenados à revelia da Santa Sé pela Fraternidade São Pio X, do arcebispo Marcel Lefebvre, houve um enorme escândalo, porque um dos bispos, Richard Williamson, era negacionista do Holocausto. [Os bispos ordenados naquela fraternidade tradicionalista entram automaticamente em excomunhão com a Igreja Católica, porque a fraternidade não é reconhecida canonicamente pelo Vaticano. A fraternidade defende que a Igreja devia tornar a ser como era antes do Concílio Vaticano II, sendo a favor, por exemplo, das missas em latim de costas para o povo.]

Houve vários grandes escândalos que se criaram à volta dele. Como é que é possível que ninguém o tenha avisado de aquilo podia acontecer? Vemos que, em alguns casos, as pessoas não estavam a remar na mesma direção, e isso causou sofrimento na Igreja.

As críticas contra o Papa Bento XVI contribuíram para a decisão de resignar?Certamente, tiveram um peso, porque todos somos humanos e quando sentimos o peso das tarefas difíceis que nos pedem, podemos pensar que não somos a pessoa indicada ou que aquilo é demasiado difícil. Estou certo de que estes pensamentos passaram pela cabeça dele. Mas, ao mesmo tempo, acredito que ele disse a verdade quando disse que tomou a decisão porque sentiu que não tinha a força física para continuar e que provavelmente um homem mais novo podia fazê-lo melhor. É um grande exemplo de humildade e um grande exemplo de fé dizer: “Eu não sou indispensável”. De facto, depois da resignação, pelo menos na Itália, muita gente disse que aquele era um bom exemplo para alguns políticos (risos).

Há um conjunto de decisões do papa Bento XVI que deram origem a polémicas. Já nos últimos dias do pontificado, em resposta ao escândalo do primeiro Vatileaks, sobre os problemas na gestão financeira da Santa Sé, Bento XVI nomeou o alemão Ernst von Freyberg para presidente do banco do Vaticano. Mais tarde veio a descobrir-se que era alguém ligado à indústria militar. Terá sido mau timing?Penso que muitos dos problemas que apareceram no Vaticano, nomeadamente nesta área, estão muito relacionados com a maneira italiana de fazer as coisas. Eu adoro a Itália, mas ao mesmo tempo vejo que em alguns casos as coisas não são completamente claras. Talvez não tenha sido o melhor timing, nessa e noutras decisões. Mas aquilo de que tenho completamente a certeza é que o primeiro Vatileaks — tal como o segundo, que já afetou o papa Francisco –, quando aconteceu, mesmo tendo produzido dor, também produziu uma reação. Fez-nos pensar sobre como podemos fazer as coisas melhor. Sempre que somos feridos, sempre que um cão nos morde, todos aprendemos, crescemos em experiência, e pensamos no que podemos fazer para não tornar a falhar.

Penso que o processo de reforma económica que foi iniciado pelo papa Bento XVI — foi ele que começou tudo, depois o papa Francisco continuou, com a secretaria para a Economia — é um dom para a Igreja. Não é perfeito, porque somos humanos e temos falhas, mas penso que é um bom processo. Hoje, vemos que o Banco do Vaticano já não está na lista negra, mas já passou para a lista branca dos bancos europeus, e está a seguir todas as normas para evitar o branqueamento de capitais e a lavagem de dinheiro. Aliás, é esse o nome oficial: Instituto para as Obras Religiosas. Quando se diz que é um banco, atenção, não é um banco. É um instituto para ajuda económica. Imagine a Igreja na China. Não se pode mandar dinheiro para lá de forma normal através de um banco, porque provavelmente não o iriam receber. Precisamos de encontrar canais para ajudar os cristãos que precisam. Seguindo a lei, claro, mas encontrar uma forma de ajudar as pessoas.
Para o papa Francisco, “a Igreja não é uma alfândega, não coloca barreiras à entrada”

Isto leva-nos a março de 2013, à eleição do papa Francisco. Nos primeiros tempos, falava-se muito dos pequenos gestos: a recusa do apartamento papal, os telefonemas de surpresa… O Papa estava a mandar uma mensagem sobre o que viria a ser o seu pontificado?Sim e não. Muito do encantamento das pessoas pelo papa Francisco foi por ele ser transparente, autêntico. Todos nos lembramos das primeiras fotografias que vimos dele, quando ele era bispo na Argentina e viajava de metro. Depois vimo-lo, já após ser eleito Papa, a ir pagar a residência onde tinha ficado quando foi a Roma para o conclave, ou quando disse que não podia mudar de sapatos porque tem uma perna maior do que a outra e precisa dos seus sapatos ortopédicos…

Quebrava o protocolo…Acho que ele não mudou a sua forma de ser, a sua humanidade. Isso é fascinante. Ele é um homem que é completamente coerente com a sua forma de ser e de estar. Talvez não estivesse intencionalmente a querer mandar uma mensagem, mas certamente que o Espírito Santo ajudou a elegê-lo para nos mandar essa mensagem. Precisamos de pastores que não sejam príncipes, que estejam ao lado das pessoas, que preguem com palavras simples e normais que todos possamos entender, mas que ao mesmo tempo sejam profundos, que nos façam pensar e rezar, e até que nos façam sofrer. Porque muitas vezes o papa Francisco dá uns murros. Atinge-nos para nos provocar reações, para nos fazer crescer na nossa vida espiritual. Precisávamos de um Papa assim, para reagirmos.

Esta forma simples do papa Francisco criou uma onda de apoio generalizada, até vinda de fora da Igreja, que Bento XVI não tinha. Fala-se de uma abertura da Igreja, até em temas historicamente sensíveis como o divórcio ou a homossexualidade. Mas alguma coisa mudou concretamente na doutrina católica?Penso que para tentarmos entender o papa Francisco temos de entender Jorge Bergoglio. São o mesmo homem. Temos de perceber o que ele defendia antes de se tornar Papa. Da mesma forma que vemos que ele é coerente na vida quotidiana — antes andava de metro, hoje recusa um Mercedes –, vemos a mesma forma de pensar nas diferentes doutrinas que ele tem pregado.

Para mim, no início, há duas fontes principais que me ajudaram a entender o papa Francisco. Em primeiro lugar, há o documento de Aparecida, de 2007. Ele foi o redator principal, escolhido pela conferência dos bispos da América Latina, para escrever as conclusões da conferência, e vemos que o documento é como uma espécie de rascunho do que viria a ser a Evangelii Gaudium [primeira exortação apostólica do papa Francisco]. Se analisarmos os dois documentos, encontramos muitas coisas na Evangelii Gaudium que já apareciam no documento de Aparecida. Depois, há um outro livro muito interessante, que são os diálogos que ele teve, quando ainda era arcebispo de Buenos Aires, com o rabino Abraham Skorka. Chama-se “Sobre o Céu e a Terra” e era baseado num programa regular que ele tinha na rádio a conversar com este rabino. Aí, vemos que ele já dizia muita das coisas que diz hoje.

O que é que o papa Francisco propõe? De novo temos de entender o homem. Ele é um jesuíta, e os jesuítas têm sido, ao longo dos anos, diretores espirituais preocupados com a salvação pessoal de cada um, e não com toda a gente no geral. O dom do papa Francisco é que ele diz: “Não façam programas pastorais em massa. Vão alma a alma, e cada alma é importante”. E nesse sentido, o que ele nos diz é que, quando falamos com alguém que se divorciou ou alguém que é homossexual, não devemos ter nenhum preconceito. Cristo morreu por toda a gente.

Ou seja, ele está a tentar acabar com a ideia de que a Igreja exclui algumas pessoas?Sim, esse é um dos objetivos dele. Ele repete constantemente que a Igreja não é uma alfândega, não coloca barreiras à entrada. Para ele, a Igreja é um barco que traz a salvação a quem se está a afogar no mar. É essa a imagem da Igreja, um barco salvador que atira bóias para salvar as pessoas. Eu pelo menos, na minha experiência pastoral enquanto padre e não apenas como professor em Roma, recebi muito dele e agradeço a Deus porque ele mudou a minha forma de pensar. Ele diz: “Não podem estar só preocupados com doutrinas gerais ou grandes filosofias. Não. Tomem conta da pessoa que têm em frente a vocês”.

Mas ele não mudou a doutrina base da Igreja sobre esses assuntos.Não, não a mudou.

E não o vai fazer?Não. Penso que devemos analisar e interpretar o que o papa Francisco diz pelas suas palavras originais. Quando lemos a Evangelii Gaudium, quando lemos a Amoris Laetitia, ou quando lemos qualquer discurso do papa Francisco, o que descobrimos é um pastor muito exigente, que diz que não quer mudar a doutrina. Ele diz isso de forma explícita na Amoris Laetitia, por exemplo. O que ele quer é uma conversão pastoral da Igreja. O que ele quer é que nós, sacerdotes, não façamos juízos de valor, porque somos ministros de Cristo e temos de ajudar as pessoas a entrarem em contacto com as feridas de Cristo e a encontrarem a salvação. Penso que esse é um grande dom e toda a gente se devia sentir tocada por ele.

Começou por dizer, no início da entrevista que a mudança do papa Bento XVI para o papa Francisco foi uma grande revolução. Em que sentido, então?Penso que a grande revolução foi a resignação do papa Bento XVI. Isso foi como um choque elétrico.

Mas esse foi um sinal de que a Igreja precisava de uma mudança?Penso que o Concílio Vaticano II já tinha notado que precisávamos de entrar mais em diálogo com o mundo moderno. Eu sempre sugeri às pessoas que lessem a convocatória do Concílio, escrita por João XXIII, a dizer porque é que ele queria um concílio, e depois que lessem a Lumen Gentium ou a Gaudium et spes, e vissem que de facto a Igreja mudou. Aquele foi um grande momento.

Agora, cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II e vejo que os quatro papas — tivemos cinco, se contarmos com João Paulo I –, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco, são diferentes encarnações do espírito do Concílio Vaticano II. Cada um deles, com a sua própria humanidade, ajudou-nos a crescer. Paulo VI era um ótimo sociólogo, muito preocupado com a dimensão económica e social da sociedade, e escreveu tantos documentos sobre o caminho do pensamento da Igreja moderna. Depois, João Paulo II era um grande filósofo, e todos crescemos no sentido antropológico durante o seu pontificado. Já Bento XVI foi um grande teólogo, e todos nós crescemos na dimensão da liturgia e da teologia dogmática por causa do seu dom. Hoje, temos o papa Francisco e vejo novamente que ele é um dom do Concílio Vaticano II. Pensamos: “É muito bom ser um sociólogo, é muito bom ser um filósofo, é muito bom ser um teólogo. Mas temos de voltar os nossos olhos para aqueles que temos junto a nós”.

Para mim, a revolução começou com a resignação. O que o papa Francisco está a fazer é, depois de a resignação ter agitado a Igreja como um choque elétrico, é preciso ajudar toda a gente a recomeçar a mexer novamente. O papa Francisco é como um fisioterapeuta que está a ajudar alguém que tem estado muito quieto a mexer-se novamente.

Devido àquilo a que se está a referir, a essa diferença entre Francisco e os seus antecessores, o Vaticano enfrenta uma onda de críticas internas, que se opõe ao apoio que vem de fora. Uma divisão que talvez possamos simplificar em tradicionalistas contra o Papa versus progressistas a favor do Papa. Que impacto é que esta divisão tem na Igreja de hoje?Faz-me sofrer. Todos os dias, quando celebramos a missa, há diferentes momentos em que rezamos pela unidade da Igreja. Quando pensamos no último discurso de Jesus na última ceia, uma das principais ideias foi a oração de Jesus, virado para Deus, pedindo-lhe: “Pai, faz com que eles sejam um”. Provavelmente, Jesus já estava a prever este perigo de desagregação constante. Volto ao que estava a dizer: nós problematizamos tudo, somos humanos, discutimos, temos pontos de vista diferentes. É o típico caso do copo de água que pode estar meio cheio ou meio vazio. Há formas diferentes de entender um problema, mas a ideia central é que estas divisões me fazem sofrer.

Por outro lado, não classificaria todos os que criticam Francisco como tradicionalistas, porque quando pensamos em pessoas como os Lefebvrianos, a maioria deles têm a esperança de finalmente encontrar a união com a Igreja novamente. Lembro-me sempre de que tem sido o papa Francisco a fazer pressão para concretizar esse sonho do papa Bento XVI, de chegar à comunhão com eles. Ele está a destruir barreiras e dizer que se quer aproximar deles.

Há casos extremos de bispos a acusar o Papa de ser herege.Bom, não penso que haja um bispo que diga “o Papa é um herege”. Mas, de facto, há bispos, muitos bispos, que estão preocupados sobretudo com a confusão. Não porque estejam preocupados com a possibilidade de a doutrina mudar ou algo do género. Estão preocupados com ideias como quando o papa Francisco diz, na Amoris Laetitia, que precisamos de um caminho de discernimento. Há quem diga que isso abre as portas do Inferno (risos), que abre uma grande confusão. Afinal, o que é o discernimento? Qual é o protocolo? O que temos de fazer? A minha posição é que o que devemos fazer, se não queremos essa confusão, é investir na boa formação dos padres. Precisamos de diretores espirituais que ajudem as pessoas.

E a resposta do papa Francisco a estas críticas internas tem sido adequada?Para dar um exemplo: há uns meses, o papa Francisco visitou o novo dicastério para a família, os leigos e a vida e esteve com os trabalhadores desse novo departamento do Vaticano. Tenho vários amigos que trabalham lá e pelo menos dois deles disseram-me o mesmo. O Papa estava cansado de ouvir estas críticas e a única coisa que lhes disse foi: “Por favor, onde quer que vão, digam às pessoas que o capítulo importante é o capítulo IV, e não o capítulo VIII”.

Ele estava a referir-se à Amoris Laetitia, a dizer que o propósito daquele documento é ajudar as pessoas a viver melhor o seu matrimónio. O capítulo IV é, de facto, extremamente belo, é um comentário muito profundo sobre o casamento e é uma joia que ninguém teve em consideração. Temos estado constantemente a discutir em torno das situações irregulares ou o que quer que lhes queiramos chamar, em torno dos problemas, e provavelmente estamos a falhar a parte principal do documento, que é a alegria do amor.

Eu, pelo menos, tento apoiar o papa Francisco nessa ideia. Por favor, estou cansado de discutir sobre esse assunto. Aquilo de que preciso é ajudar os meus irmãos padres a terem uma boa formação que lhes permita serem bons diretores espirituais e ajudar as pessoas a discernir, a tomar as decisões corretas. O que quero é ajudar tantos jovens que não estão a casar a pensar novamente que o casamento é uma boa opção. É uma grande vocação. Infelizmente, em alguns círculos de discussão só estão a argumentar sobre situações hipotéticas que na verdade não acontecem.

Ou seja, o problema é a discussão estar a ser colocada num nível geral, abstrato, de proibição ou autorização.Exatamente. Para mim, o grande dom do papa Francisco é dizer para cuidarmos de cada pessoa que temos à nossa frente. Se me encontro com alguém que esteve casado e cujo casamento falhou, como é que eu posso ajudar essa pessoa a descobrir novamente a alegria de estar perto de Deus.

Uma das frases mais famosas dele é mesmo a tal “quem sou eu para julgar?”, referindo-se aos homossexuais.Sim, na primeira viagem, no regresso do Rio de Janeiro para Roma.

Porque é que a frase não foi muito bem recebida dentro da Igreja?Bom, em alguns círculos da Igreja não foi bem recebida. Novamente, eu digo às pessoas que leiam a resposta completa, que não se fiquem pela frase. Algumas pessoas, infelizmente até alguns lóbis, estão a criar esse estereótipo em torno do papa Francisco, como se ele não estivesse a governar porque aceita tudo sem discutir, e usam essa frase: “Então mas ele diz ‘quem sou eu para julgar’!”. Não é verdade. Novamente, se há alguém que está a governar a Igreja é o Papa. Ele tomou muitas decisões fortes. Ele julga! Dizer que é um relativista, que não julga, não é verdade.

Leiam a resposta completa. Ele nessa entrevista diz algo como: “Eu nunca recebi no Vaticano alguém com um cartão a dizer ‘eu pertenço ao lóbi gay’, mas se eu receber alguém que me diz que é homossexual, quem sou eu para julgar? Devo lembrar-me apenas do que o Catecismo da Igreja Católica diz e ajudá-lo a viver de acordo com essa proposta”. Ele não está a mudar a doutrina. Isso acontece com muitos padres. Se eu receber alguém em confissão que me diz algo, eu devo ouvir e tentar fazer o melhor para ajudar a pessoa.

Falou aí do lóbi gay. Existe no Vaticano?Bom (risos), tal como o papa Francisco disse, eu nunca estive com ninguém com um cartão a dizer que pertence ao lóbi gay. Acredito verdadeiramente que existe um lóbi gay internacional, mas isso seria uma outra grande entrevista só a discutir todas as dimensões em que se manifesta. O papa Francisco, em várias ocasiões, tem falado sobre a colonização ideológica que alguns grupos praticam no mundo moderno. Explicitamente, em alguns casos, ele faz denúncias fortes à ideologia do género, dizendo que não a pode aceitar. O problema, em muitos casos, é que as pessoas não estão a ler o que ele diz efetivamente. Temos acesso à Internet e é uma pena não lermos em primeira mão o que ele diz.

Para levar a cabo esta revolução, o papa Francisco tem chamado para cargos importantes várias pessoas, com o objetivo de, de alguma forma, purificar a instituição. Mas para o C9, o seu conselho consultivo mais próximo, chamou pelo menos três cardeais (George Pell, Óscar Maradiaga e Francisco Errázuris) que estão ligados à ocultação de casos de pedofilia, como notava o jornalista italiano Emiliano Fittipaldi. O cardeal Pell até teve de voltar à Austrália para ser julgado. Não acha que o Papa se pode estar a rodear das pessoas erradas?Antes de me tornar padre, trabalhei como advogado durante vários anos e trabalhei em casos relacionados com acusações a piratas mexicanos — lá, infelizmente, muitos negócios dependem da pirataria (risos). Mesmo assim, dentro dessa atmosfera complicada, sempre acreditei que toda a gente é inocente até ser provado o contrário. Acredito que esse princípio da lei é válido para toda a sociedade, incluindo para a Igreja. Há muitos casos. Por exemplo, mencionou o cardeal Pell. Admito que não conheço as outras duas acusações diretamente, mas quando olhamos para a vida do cardeal Pell e para a forma como ele tem enfrentado estes julgamentos, podemos ver que em muitos casos têm sido muito injustos. Não há provas, e infelizmente mesmo que os tribunais ainda não tenham chegado a uma decisão final, a imprensa já fez o julgamento. Assim que um padre ou um bispo tem alguma acusação, toda a gente lhe salta em cima. Talvez estejamos a esquecer-nos que, em teoria, toda a gente é inocente até ser provado o contrário.

Se me pergunta se esses são os melhores conselheiros para o papa Francisco, eu acho que o C9 é um excelente grupo. Cada um deles vem de diferentes perspetivas. Tento sempre lembrar quem se lembrou de criar aquele conselho de cardeais. Não foi o papa Francisco, foi o papa Bento XVI. É parte do seu legado, foi uma das coisas que ele sugeriu, e um dos assuntos que foram tratados nas congregações gerais antes da eleição foi que o Papa não deve governar sozinho, deve ter um conselho de cardeais que não trabalhem na Cúria e que o ajudem a ter uma visão mais alargada. Cada um deles vem de um país diferente, todos têm as suas experiências humanas próprias. Penso que são bons conselheiros. Se podíamos encontrar alguém melhor? Podemos sempre encontrar alguém melhor, claro. Não somos super-heróis, mas todos somos chamamos à perfeição. Por outro lado, quando uma pessoa chama alguém para seu conselheiro, chama os seus amigos, os que estão mais próximos, como é o caso do cardeal Maradiaga, ou então pessoas que foram sugeridos por outros, como o cardeal Pell. Até o cardeal Pell, nos anos que ele passou em Roma a tentar pôr em ordem a secretaria para a Economia, fez muito bem à economia da Igreja.

Já vimos que a doutrina não mudou, mudou a abordagem. O senhor é especialista em comunicação na Igreja. Podemos dizer que a mudança de Papa mudou a forma como a Igreja comunica com o mundo exterior?Há uma coisa interessante que eu digo muitas vezes às pessoas: vão ao site do Vaticano e façam download das homilias diárias do Papa na capela de Santa Marta. Podem ajudar muito na oração pessoal de cada um e podem ajudar os padres a preparar as suas próprias reflexões junto das comunidades. O papa Francisco trouxe esta proximidade com as pessoas. Diz-nos que não devemos fazer homilias abstratas e distantes, mas sim concretas e fáceis de perceber. Homilias para toda a gente. Fáceis de entender não significa não serem profundas, sublinho sempre isso. Significa apenas fáceis de entender. De novo, alguns preconceitos dizem que se comunicamos de forma simples somos maus comunicadores, mas é o oposto. Os melhores comunicadores são os que usam a linguagem mais simples e transmitem as melhores ideias.

Os padres e bispos estão a seguir esse exemplo?Devíamos seguir o exemplo (risos). Teria muito a dizer sobre isso. Esse é o meu trabalho, eu tento treinar pessoas para melhorarem a sua forma de falar em público, de pregar. Há muito espaço ainda para melhorar. Há contextos diferentes, mas se entendermos a comunicação enquanto oração, há muito espaço para melhorar. Já no que toca à comunicação da Igreja enquanto instituição, acho que o que temos hoje é um grande esforço para simplificar a comunicação. O novo portal, o Vatican News, por exemplo, que apenas numa página mostra toda a comunicação do Vaticano. Eles estão a fazer um ótimo trabalho. É um projeto muito ambicioso, há muitos bons amigos meus que trabalham lá, e estão a dar o seu melhor.

O Papa Francisco mudou definitivamente a ideia que a sociedade tem de um Papa?Cada Papa é um dom para a sua era. Mas se pesquisarmos no Youtube os primeiros filmes de Leão XIII, a primeira vez que chegaram ao Vaticano com câmaras de filmar, para fazer umas imagens do Papa. Foi em 1890 ou por volta dessa altura. É engraçado porque já nessa altura, no final do século XIX, víamos o Papa a tentar usar os novos media para comunicar. Tem havido um esforço, há mais de um século, de estar próximo das pessoas. Há vários exemplos. Até Pio IX, ainda no século XIX, a cumprimentar os jardineiros do Vaticano. São realidades que talvez desconheçamos, por sermos muito novos, por não estudarmos a fundo a biografia de cada Papa, mas a proximidade é algo da modernidade. E hoje o Papa Francisco pede-nos precisamente isso: que não estejamos longe das pessoas, tal como Jesus não esteve longe das pessoas.

João Francisco Gomes, 13 de Março de 2018 in Observador

sexta-feira, 23 de março de 2018

Bento XVI, o papa que se despojou

Escultura: Busto de Bento XVI causa sensação e motiva críticas e aplausos

Falando aos artistas no Vaticano, no final de novembro de 2009, o papa emérito Bento XVI sublinhou que a beleza não deveria ser algo ilusório ou enganoso, mas algo que dá «asas», e por vezes até «perturba» e conduz ao sofrimento.

Citando o filósofo grego Platão, ele afirmou que o principal efeito da beleza, visto pela arte, devia ser o de dar ao ser humano um « sobressalto saudável que o faz sair de si mesmo, o arranca à resignação, ao conformar-se com o quotidiano».

Jacopo Cardillo, escultor italiano de fama internacional, cujo nome artístico é Jago, levou definitivamente essa definição para um nível totalmente novo quando recentemente decidiu "despir" Bento XVI e retratá-lo com o torso sem roupa, em vez de se vestir com os habituais paramentos papais.

Desde então, a escultura tecnicamente notável tem sido objeto tanto de crítica quanto de louvor, com algumas pessoas a considerar que profana a imagem do anterior pontífice, enquanto outras a julgam como um retrato sincero. Para Jago, a obra de arte nunca quis ser derisória, mas sim uma celebração de Bento XVI, que considera modelo do que todo o papa deveria ser.

«Considero este homem como o maior teólogo vivo», afirmou ele à página Crux, numa entrevista por telefone.

A escultura controversa de Jago e algumas das suas obras de arte são exibidas numa exposição, em Roma, chamada “Habemus hominem”, título que evoca a proclamação “Habemus papam”, proferida na eleição de um papa.

O busto nu de Bento XVI está sentado numa sala sem adornos, uma luz branca brilha sobre ele marcando fortemente as rugas profundas do seu rosto e peito, enquanto segura firmemente as mãos com um olhar de serena resignação.

«Talvez seja a primeira vez que o vemos como ele realmente é, representado na sua humanidade e sem as roupas que usa sempre», disse um estudante do ensino secundário que visitou a exposição, juntamente com a sua turma, como parte de uma lição sobre história da arte.

A história deste busto começa em 2009, quando Jago foi comissionado para criar uma imagem semelhante ao papa. A peça acabada, que estava coberta com os paramentos pontifícios, obteve um sucesso discreto, obtendo vários prémios e críticas positivas.

«O próprio papa escreveu a comunicar que queria conceder-me a medalha pontifícia pela escultura», explicou Jago. O cardeal italiano Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, concedeu-lhe a medalha em 2012.

«Esse trabalho tornou-se, de certa forma, uma relíquia, algo que é querido, mas para mim esse apego tornou-se insuportável, no sentido de que o trabalho não me representava tanto quanto a sua realização», acrescentou.

«Quando se está realmente ligado emocionalmente a esse objeto, intervir novamente e destruí-lo significa destruir esse anexo. E assim foi», prosseguiu.

A 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI anunciou que renunciaria, surpreendendo a comunidade católica e o mundo. Naquele dia, Jago estava a encerrar a sua primeira exposição individual promovida pelo famoso, embora algo controverso, historiador de arte italiano Vittorio Sgarbi, quando o seu pai lhe contou a notícia.

O pai usou o termo «desnudado» ou «despojado» para descrever o que tinha acontecido, dando a Jago o último empurrão para revisitar a sua obra-prima. Ele pegou nas suas ferramentas e esculpiu a partir das pesadas roupas, a pele nua e frágil do papa emérito.

«Nesse dia decidi intervir e modificá-la, mas não de forma derisória», explicou Jago, que optou por manter todos os fragmentos do original. «Ainda mantenho hoje o peso dessas roupas, desse hábito. Tenho todos os detritos e poeiras que foram produzidas, não foram para o desperdício», referiu.

O artista escolheu deixar apenas dois elementos, a “papalina”, o solidéu branco usado pelos papas, e o anel do pescador, ou anel de São Pedro, único para cada pontificado.

«Fiz isso porque um papa não retrocede, não pode dizer “não posso mais ser papa, voltarei a ser cardeal". Não, o papa é o papa porque a jornada que começou não pode ser cancelada», declarou Jago.

O trabalho foi concluído em 2016, mas o interesse do artista em Bento XVI remonta a muito antes desta peça. Jago é um católico, nascido na cidade de Frosinone, traz sempre consigo uma cruz ao pescoço, e o pai partilha o dia de aniversário com o de Joseph Ratzinger.

«Lembro-me de que quando ele foi entrevistado, mesmo enquanto cardeal, não falou de religião, mas de espiritualidade, foi abrangente de maneira tão simples e falou para todos.» «Isso é o que um papa deve fazer, comunicar com todos», frisou o escultor.

Aos olhos do artista, a renúncia de Bento XVI «tornou-o ainda mais humano» e empático, algo que ele desejava refletir no seu trabalho, que espera vir a servir como testamento desse momento histórico.

Ele descreve a escultura como «uma celebração do corpo», algo que todos os seres humanos têm.

Um aspeto surpreendente da escultura em mármore são os olhos do papa, que parecem seguir o espetador de todos os pontos de vista. Inicialmente a estátua não tinha olhos, uma evocação do escultor italiano Adolfo Wildt, que, como nas estátuas de bronze clássicas, optou por não colocar os olhos nas suas obras.

Só depois de Bento XVI ter renunciado, Jago decidiu dar vista à estátua. Pintou no interior de semi-esferas invertidas, resultando na ilusão inesperada de que o olhar de Bento XVI segue os espectadores ao redor da sala.

Jago referenciou um jovem seu conhecido que sofre esclerose múltipla, doença degenerativa que afeta progressivamente o movimento, observando que as últimas partes do corpo que ainda se podem mover são os olhos.

«Esse é o elemento final e mais importante que permite reconhecer que uma pessoa está viva. Que ela está lá», salientou.

Do mesmo modo, acentua o escultor, os olhos mostram que Bento XVI «está lá naquele momento. Está lá, está presente. É uma estátua viva».

Com 240 mil seguidores no Facebook, Jago é considerado um “artista social", que frequentemente publica fotos e vídeos na sua página. Um desses filmes é a história da criação e "descascamento" do busto de Bento, que foi visto mais de 15 milhões de vezes.

Para o artista, o pontífice tem um papel importante na promoção da beleza, e atualmente «é o momento certo para trazer de volta algo do que estamos a perder».

«Olhando para Roma, vivemos num momento de conservação total [da arte]. Mas o que é que estamos a acrescentar?», questiona. «Antes os papas, apesar das críticas ao seu nepotismo etc., eram pessoas preocupadas com a criação de beleza. Essas coisas de que hoje estamos orgulhosos.»

Jago anseia que os papas voltem a esse papel crucial, embora reconheça a importância de manterem uma imagem de humildade. Quando lhe perguntamos se faria um retrato do papa Francisco, responde: «Por que não? Claro».

Mas o artista também disse que iria impor três condições fundamentais: que seja encomendado pelo Vaticano, que seja sinceramente desejado e, acima de tudo, que possa ser autorizado a fazer o que quiser.

Os papas têm a experiência de longa data de lidar com artistas caprichosos, de Miguel Ângelo a Caravaggio, mas a história também sugere que, muitas vezes, a recompensa pelas dores de cabeça que colocam vale bem a pena.

Claire Giangravè In Crux
Tradução de SNPC
Imagem: D.R.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Papa do diálogo e bispo mártir a caminho dos altares

Paulo VI e Oscar Romero vão ser santos

O papa Francisco autorizou esta terça-feira a promulgação do decreto no qual sanciona os milagres atribuídos à intercessão dos beatos Paulo VI (1897-1978) e Oscar Romero (1917-1980), decisão que foi hoje publicamente revelada pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

Foi a 26 de outubro de 2017 que os peritos médicos da Congregação para a Causa dos Santos votaram por unanimidade o caso miraculoso de uma gravidez de alto risco que teve desfecho favorável com o nascimento de uma criança sã, atribuído ao papa italiano Montini, primeiro pontífice a visitar Portugal, mais precisamente Fátima.

E foi precisamente nesse dia que os mesmos especialistas decidiram, igualmente em absoluta concordância, a cura milagrosa de uma mulher em perigo de morte após um parto, atribuída à intercessão do bispo mártir salvadorenho.

Oscar Romero foi nomeado patrono da SIGNIS, Associação Católica Mundial para a Comunicação, representada em Portugal pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, pela sua «dedicação e coragem exemplares na defesa dos pobres e dos oprimidos», sendo «um exemplo para todos os comunicadores» e para qualquer pessoa que assuma «os valores que ele ensinou e prefira perder a vida mais do que permanecer em silêncio face à injustiça».

A 14 de dezembro o congresso de teólogos exprimiu o voto positivo para ambos os casos e a mesma resposta foi dada a 6 de fevereiro por parte da sessão de cardeais e bispos.

Reconhecidos os milagres, Paulo VI e o prelado morto por ódio à fé estarão novamente juntos no consistório previsto para a primeira quinzena de maio, no qual o papa, previsivelmente, anunciará a data da canonização.

Convergência e testemunho

A convergência entre os dois futuros santos não é recente. Em 1978, um jornalista perguntava a Oscar Romero se o seu pensamento teológico se apoiava na teologia da libertação.

O arcebispo de San Salvador respondeu que a sua conceção era «igual à de Paulo VI, definida na exortação apostólica “Evangelii nuntiandi” (1975), «sobre a evangelização no mundo contemporâneo».

Dez anos antes, o papa tinha participado na conferência geral dos bispos da América Latina, em Medellin, Colômbia, que reforçou a opção preferencial pelos pobres por parte da Igreja». Na sua encíclica "Populorum progressio" (1967), Paulo VI constatava que «os povos ricos gozam de um crescimento rápido, enquanto os pobres se desenvolvem lentamente».

A memória detalhada da última audiência de Romero com Montini, testemunha da fidelidade ao ensinamento da Igreja, pode ler-se no diário do prelado: «Paulo VI apertou-me a mão direita e teve-a entre as suas duas mãos durante bastante tempo, e eu também apertei com as minhas duas mãos a mão do papa».

«Compreendo o seu difícil trabalho, é um trabalho que pode ser incompreendido e precisa de muita paciência e fortaleza, (…) mas prossiga com coragem, com paciência, com força, com esperança», disse Paulo VI.

Que a proclamação litúrgica da santidade de ambos ocorra no contexto de uma concentração da Igreja sobre as novas gerações, quer aconteça em Roma, no decurso do sínodo dos bispos sobre a fé e a vocação dos jovens, marcado para outubro – como poderá suceder para Paulo VI –, quer se dê por ocasião da Jornada Mundial da Juventude no Panamá, próximo de El Salvador, em janeiro de 2019, como poderia ser para o caso de Romero, em alternativa ao Vaticano, ganha ressonâncias repletas de significados e perspetivas.

Um nexo e uma ligação marcados pelos sinais dos tempos, nos quais o indelével testemunho cristão conjunto do «papa do diálogo», que iniciou o cumprimento do concílio Vaticano II, e do bispo mártir, primeira grande testemunha da Igreja conciliar, ratifica uma trajetória da qual não se pode voltar a trás e que é, mais do que nunca, de premente atualidade.

Stefania Falasca
In Avvenire
Tradução e edição do SNPC , 7 de março de 2018

O dia em que a Igreja recebeu um transexual

Papa recebe transsexual no Vaticano: “Deus aceita-te como és”

Depois de dois telefonemas, o encontro. O Papa Francisco recebeu esta semana um cidadão espanhol transsexual e a namorada no Vaticano. "Claro que és filho da Igreja", disse.


Diego Neria Lejárraga era Cuca até há oito anos, quando decidiu fazer a operação de mudança de sexo. Católico praticante, sofreu durante anos com o facto de não ser aceite pela Igreja. Pelo menos pela parte mais conservadora da Igreja na pequena cidade espanhola de Plasencia, em Cáceres, onde sempre viveu. Há uns meses resolveu escrever uma carta ao Papa Francisco onde expunha o que sentia e onde questionava se era mesmo filho de Deus. Mensagem recebida. O Papa telefonou-lhe e o encontro com Diego e a namorada, Macarena, concretizou-se este fim de semana no Vaticano.

“Deus quer bem a todos os seus filhos, sejam como forem, e tu és filho de Deus por isso a Igreja aceita-te como és”, terá dito o Papa Francisco quando telefonou ao espanhol de 48 anos, que chegou a ser apelidado por um padre de ‘filha do diabo’, para marcar os pormenores da sua ida ao Vaticano. O encontro realizou-se no sábado passado, mas foi marcado propositadamente fora da agenda oficial do chefe da Igreja Católica, longe dos holofotes.

A realidade transgénero e transsexual tem ganho cada vez mais expressão. Jazz Jennings tem 14 anos e é uma menina transgénero. Já criou uma fundação, tem ganho visibilidade na comunicação social e é a protagonista de um documentário de Oprah Winfrey.

Conhecido por telefonar às pessoas sem se fazer anunciar, o Papa Francisco ligou pela primeira vez a Diego a 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, e voltou a apanhá-lo no telemóvel no dia 20 para acertar os pormenores da viagem. Segundo o El Mundo, que já falou com Diego Lejárraga depois do encontro papal, a primeira vez foi apenas para dizer que estava a par da sua situação e que queria recebê-lo no Vaticano. Prometia ligar novamente.

Prometido, cumprido. A 20 de dezembro, Diego estava de visita a Sevilha, onde vive a namorada, quando recebeu a segunda chamada. Entrou numa loja para acalmar o ruído e poder ouvir melhor. Era o Papa que estava do outro lado da linha a perguntar-lhe quando lhe dava mais jeito ir a Itália. “Durante o fim de semana é melhor, não é?”, perguntou o chefe da Igreja Católica. “Quando quiser”, limitou-se a responder. Ficou então marcado para um sábado, para não interferir com a semana normal de trabalho do convidado, e depois de Francisco ter pedido uns minutos para olhar para a agenda, lá atirou: “Tenho uma possibilidade no dia 24 de janeiro às 17h, que tal?”.

Feito. Respondendo às dúvidas logísticas de Diego, o Papa ainda terá pedido para não se preocupar com os gastos da viagem. De resto, “basta chegarem à porta da residência de Santa Marta e dizerem que estou à vossa espera”.

Oficialmente, a Igreja não reconhece mudanças de sexo, mas o Papa Francisco instou-a a mostrar mais compaixão para com setores da sociedade que se sentem excluídos, nomeadamente quando recentemente disse, a propósito dos homossexuais, “Quem sou eu para os julgar?”.

Diego Lejárraga não adiantou muito à imprensa sobre o que foi dito na audiência com o Papa, por ser “um segredo só deles [nosso]”, mas descreveu o momento como “uma experiência única”. No limite, sabendo que a transsexualidade ainda não é bem aceite por todos, espera pelo menos que o seu caso sirva para que outras pessoas na sua situação não passem pelo mesmo tipo de discriminação que ele passou.

por Rita Dinis, publicado a 28 de janeiro de 2015 no Observador

domingo, 18 de março de 2018

Papa inspira os não-cristãos

Alexandra Lucas Coelho fala sobre o Papa

A jornalista e escritora Alexandra Lucas Coelho considera que «não é pouco» o que o papa «inspira em não-cristãos, talvez especialmente não-crentes», como também «não é pouco que muitos milhões de cristãos no mundo tenham em Francisco a sua referência de carne-e-osso».

«Nas palavras escolhidas» pelo papa há «uma qualidade rara da própria palavra, do verbo resgatado à usura, ao abuso», assinala a cronista em texto publicado esta sexta-feira no portal Sapo.

Depois de referir que Francisco «é o primeiro papa» que ouve «como um contrapoder», ao tornar-se «uma voz visceralmente avessa ao capitalismo contemporâneo, a voz de um outro futuro», Alexandra Lucas Coelho escreve: «Não acredito num Deus mas acredito em Francisco».

«Quem já tenha estado no meio de uma multidão a escutar Francisco é testemunha de como este papa tem uma extraordinária capacidade empática, que vem da postura, da voz, da entoação, da proximidade, ou humanidade, que consegue pôr no que diz, sem nada soar a falso, ou a esforço», assinala.

Ainda que parecendo distantes de realidades específicas, as mensagens do papa contêm «uma força que só por si é ação» e podem ser aplicadas a acontecimentos particulares, como acontece quando evoca «um modelo de progresso já ultrapassado» que «continua a produzir degradação humana, social e ambiental».

«Mesmo para tudo o que este ano ardeu em Portugal estas palavras cabem, têm sentido, experimentem aplicá-las aos incêndios tal como eles se deram. Muito do mundo hoje, em todas as suas veredas, cabe nas palavras de Francisco, e essa não é a sua virtude menor. Encontrarmo-nos tantos, e tão diferentes, no que ele diz», aponta.

Alexandra Lucas Coelho manifesta a esperança de que Francisco «ainda venha a ser a pessoa que fará da Igreja Católica uma instituição menos injusta, mais à altura do papa que hoje tem. E como nessa nova imaginação sonhada por ele fariam diferença contrapoderes assim à frente de outras crenças».

Edição: SNPC
Fonte: Sapo
30 de Dezembro de 2017

sábado, 17 de março de 2018

Papa agradece a Padre Tolentino

Conclusão dos Exercícios Espirituais do Santo Padre e da Cúria Romana

Palavras do Papa Francisco ao Pregador dos Exercícios Espirituais

Casa Divin Maestro (Ariccia), Sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Padre, gostaria de agradecer, em nome de todos, o acompanhamento destes dias, que hoje se prolongarão com o dia de jejum e oração pelo Sudão do Sul, o Congo e também a Síria.

Padre, obrigado por nos ter falado da Igreja, por nos ter feito sentir a Igreja, este pequeno rebanho. E também por nos ter admoestado a não o “diminuir” com as nossas mundanidades burocráticas! Obrigado por nos ter recordado que a Igreja não é uma gaiola para o Espírito Santo, que o Espírito voa e age também fora. E com as citações e com aquilo que nos disse, o senhor mostrou-nos como Ele trabalha nos não-crentes, nos “pagãos”, nas pessoas de outras confissões religiosas: é universal, é o Espírito de Deus, que é para todos. Também hoje existem “Cornélios”, “centuriões”, “guardas da prisão de Pedro” que vivem uma busca interior, ou que sabem distinguir quando há algo que chama. Obrigado por esta chamada a abrir-nos sem temores, sem rigidez, para sermos dóceis ao Espírito e para não nos mumificarmos nas nossas estruturas, que nos fecham. Obrigado, padre! E continue a rezar por nós. Como dizia a madre superiora às irmãs: “Somos homens!”, todos pecadores. Obrigado, padre! E que o Senhor o abençoe.

Padre Tolentino Mendonça orientou a reflexão quaresmal do Papa

Marc Chagall
Tolentino Mendonça. A vida do padre-poeta que orientou o retiro do Papa

por João Francisco Gomes, a 24 de fevereiro de 2018, in Observador

Padre, poeta, cronista. Tolentino Mendonça foi chamado pelo Papa para orientar o seu retiro espiritual. Quem é o português que o Vaticano considera "das vozes mais autorizadas da cultura do seu país"?

No início da década de 90, pouco depois de ter sido ordenado padre e de ter concluído um mestrado em Roma, José Tolentino Mendonça regressou a Lisboa. Foi nomeado capelão da Universidade Católica, onde começou a dar aulas. Foi lá que Pedro Mexia, na altura estudante de Direito, conheceu o jovem sacerdote. Ele e os colegas descobriram um padre diferente do habitual. “Lembro-me de as pessoas ficarem muito cativadas com o estilo dele. Houve até pessoas que passaram a ir à missa para o ouvir”, recorda o poeta português, 25 anos depois. “Nós dizíamos uns aos outros que achávamos que aquele tipo ia longe. Agora, o Papa também acha.”

Foi longe. No final do mês passado, o L’Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano, anunciava que o padre e poeta português tinha sido escolhido para orientar o retiro anual de Quaresma do Papa Francisco e dos restantes membros da Cúria Romana (os órgãos de governo da Igreja Católica). “Teólogo e poeta, é uma das vozes mais autorizadas da cultura do seu país“, lê-se no artigo, que anunciava que Tolentino Mendonça iria passar uma semana na Casa do Divino Mestre, nos arredores de Roma, a orientar o Papa nas dez meditações do retiro, dedicadas ao “elogio da sede”.

Tolentino Mendonça aceitou de imediato, “com muita humildade”, o desafio de se tornar no primeiro português a orientar a reflexão do Papa. “Sou um simples padre, e acolho [o pedido] com um sentido de serviço à Igreja e ao Santo Padre”, disse ao portal Vatican News. Porém, as crónicas que assina semanalmente na revista do Expresso e a sua vasta obra literária levam a uma conclusão diferente. Tolentino Mendonça não é só um simples padre. É um professor, poeta e ensaísta dono de perspetivas muito próprias sobre a fé, que podem surpreender os mais distraídos.

“Quando ele escreve um texto no Expresso sobre o Bruce Springsteencomo se estivesse a falar de São Francisco de Assis, a primeira reação é de perplexidade. De facto, não há razão nenhuma para essa perplexidade. Ele consegue encontrar pontos de contacto com a dimensão religiosa, mesmo naquilo que, numa cultura, podia parecer hostil ou alheado dessas questões. São fórmulas inesperadas“, resume Pedro Mexia ao Observador.

As fórmulas que usa na sua obra literária são as mesmas a que recorre nas salas da Universidade Católica, onde hoje é vice-reitor. O padre Miguel Vasconcelos, jovem sacerdote que não esconde a alegria de hoje ser sucessor de Tolentino Mendonça no cargo de capelão daquela universidade, lembra as aulas com o poeta. “Uma das coisas que marcam a ação dele é a capacidade de olhar para os Evangelhos com a sensibilidade dos artistas. É uma teologia contemplativa, com a lupa da estética. E isso é próprio dele, por ele ser poeta, não é uma fabricação”, conta o sacerdote.

De facto, esta análise da fé pelos olhos da arte marcou a semana de retiro do Papa, que terminou na sexta-feira. Logo no domingo, na primeira meditação, que dedicou ao tema “Aprendizes do espanto”, Tolentino Mendonça colocou a literatura ao lado da Bíblia, para sugerir ao Papa Francisco e aos participantes dos exercícios espirituais uma leitura do episódio da Samaritana, do Evangelho de João, a partir de citações de Fernando Pessoa e de Lev Tolstoi.

“Não há uma distinção clara entre o padre e o poeta“, explica o crítico literário João Pedro Vala, admirador convicto da obra de Tolentino Mendonça. “Quando se ouve um sermão do padre Tolentino, ou se lê um poema ou uma crónica, não existe uma distinção. Os sermões são poéticos, e os poemas, não sendo pregações, vêm da mesma pessoa, têm a mesma doçura. Trata o leitor como um membro da sua paróquia.” Por isso foi escolhido como pregador para o Papa, assume sem dúvidas quem o conhece.

Em todas as dimensões da sua vida — poeta, escritor, professor e padre especialista em estudos bíblicos — as palavras ocupam um lugar de destaque. “A palavra é o grande lugar para o conhecimento que faço de mim próprio“, disse Tolentino Mendonça numa entrevista à RTP. A paixão pelas palavras nasceu durante a infância passada entre a ilha da Madeira, onde nasceu e para onde regressou aos nove anos, e Angola, para onde se mudou com a família ainda bebé e onde viveu os primeiros anos da sua vida.

Madeira, Angola, a avó e o amor a Herberto Hélder

José Tolentino Mendonça nasceu em Machico, na ilha da Madeira, a 15 de dezembro de 1965. Com apenas um ano de idade, deixou a terra natal para se mudar para o Lobito, em Angola, onde o seu pai e os seus tios, uma família de pescadores, já viviam. Numa longa entrevista que deu ao Público em 2012, Tolentino Mendonça recordava esses momentos. “Lembro-me de uma viagem que fiz com o meu pai. Na minha cabeça ia também pescar. Dei comigo, para lá dos enjoos típicos de um iniciante pelo mar fora, na borda do barco, a olhar as paisagens. Praias que ainda não tinham sido exploradas, rochedos, o azul do mar, o fundo do mar”, contou.

“Essa contemplação despertava em mim uma emoção enorme, enorme. Ficava boquiaberto. Como se aquela vida intacta, da paisagem do mundo, tivesse em mim um impacto que não sabia expressa”, continuava o padre, lembrando que foi na infância que as portas da literatura se abriram para si. Particularmente no difícil regresso à Madeira, depois do 25 de Abril, que viveu com nove anos. A melhor palavra talvez nem seja regresso, uma vez que Tolentino Mendonça tinha vivido toda a sua infância, até ali, em Angola.

A mudança de vida, lembrava o sacerdote na mesma entrevista, “teve um dramatismo mais literário do que literal”. “Senti que me estava a despedir daqueles lugares. Fui com o meu cão, sozinho. Digo que foi literário porque quis chorar, abraçado ao cão, sentindo que era a última vez que estava ali“, contou, detalhando como encarou aquele momento como “uma aventura no porão de um barco, numa cidade desconhecida”.

Com apenas nove anos, viveu o regresso à Madeira de forma diferente dos seus pais, que sofreram uma “ansiedade enorme” com a mudança de vida. “A Madeira, como os lugares da infância, não são lugares de desencantamento. Uma pequena ilha, a terra dos meus pais, dos meus avós, em condições muito difíceis. Mas a infância não sofreu uma fractura, nem sobressaltos. Essa capacidade de transformar as dificuldades em possibilidades — no fundo, uma enorme capacidade de sobrevivência que a vida da infância tem — protegeu-me. Quando penso na infância nem por uma vez me lembro de medo, de ansiedade”, disse na entrevista ao Público.

Da vida na Madeira, Tolentino Mendonça recorda sobretudo a relação com a natureza e com o mar. “Vivia no Machico, num mundo ainda rural, muito próximo do mar, com grandes espaços em que dava para me deitar na terra e olhar as estrelas. Tinha um caderno em que apontava os barcos que passavam, observava as árvores. O meu pai, que era pescador, quando ia às Ilhas Selvagens trazia-me de presente uma cagarra. É um mundo próximo da natureza, tutelado pelas profissões artesanais, atravessado pela poesia, pelos elementos”, lembrava, numa entrevista ao Sol, em 2013.

Com 11 anos, entrou no seminário. “A questão vocacional colocou-se muito cedo. Era uma questão relevante para mim desde miúdo”, recordou na mesma entrevista, destacando o papel da família crente na descoberta da fé. Personagem fundamental na definição do seu percurso foi João Henrique Silva, até 2015 diretor regional dos Assuntos Culturais na Madeira, que na altura era professor no seminário. “Era um homem que gostava muito de cinema. Mostrou-me que era possível viver a fé e escolher uma vocação religiosa em relação com o mundo da cultura.”

Entrar no seminário foi também a oportunidade de entrar numa biblioteca pela primeira vez. Antes, o seu contacto com a literatura era exclusivamente através da sua avó materna. “A minha avó foi a minha primeira biblioteca“, dizia na entrevista ao Público, lembrando que a senhora, que não sabia ler nem escrever, conhecia vários romances e histórias orais de cor. “Numa recolha recente que se fez do romanceiro oral da Madeira uma das pessoas que está lá é a minha avó”, contou Tolentino Mendonça, dizendo-se comovido com essa recordação da avó.

Um outro episódio marcou a sua entrada no mundo literário: uma senhora, também ela analfabeta, zeladora da igreja que frequentava, citava muitas vezes de cor o Cântico dos Cânticos. “Uma vez disse-me aquele poema e fiquei aturdido, extasiado, aquelas palavras apoderaram-se de mim”, contou o padre, garantindo que “há um antes e um depois daquele momento“. Viria a estudá-lo e a traduzi-lo para português durante os seus estudos teológicos.

Finalmente, aos 16 anos, escreveu o primeiro poema, A Infância de Herberto Hélder, poeta com quem partilhava a naturalidade madeirense e que admirava profundamente. “Aos 16 anos não sabia nada. Só sabia que amava o Herberto Hélder”, admitia ao Público, lembrando que aquele poema era sobre a sua própria infância, “uma infância que podia ter sido a de Herberto Hélder“, também “no contexto insular”. Logo no primeiro verso do primeiro poema, Tolentino Mendonça definiu com clareza aquilo que viria a ser o seu percurso literário: “No princípio era a ilha“. Um verso que dizia estar “embebido da palavra divina” ao mesmo tempo que representa o seu “princípio biográfico”, antevendo uma obra em que fé e poesia se confundem.

Em 1982 começou a estudar teologia e em 1990 foi ordenado padre — no mesmo ano em que lançou o primeiro livro de poemas, Os Dias Contados. Depois da ordenação, mudou-se para Roma para fazer um mestrado em Ciências Bíblicas, formação que viria a completar com um doutoramento em Teologia Bíblica, em Portugal, na Universidade Católica de Lisboa. Tornou-se capelão da universidade, professor na Faculdade de Teologia e continuou a publicar com frequência livros de poesia — até hoje publicou mais de três dezenas.

Padre ou poeta?

Pintado numa grande fachada de um prédio em Machico, o poema “Caminho do Forte, Machico“, publicado em 2006 na colectânea A noite abre meus olhos, é a homenagem daquele município madeirense ao poeta da terra. O poema não é propriamente um texto religioso — mas também não é esse o ponto fundamental da obra de Tolentino Mendonça. O crítico literário João Pedro Vala destaca que, mesmo havendo cada vez mais padres católicos com preocupações literárias, poéticas, “a grande novidade do padre Tolentino é que ele não parece obcecado ou centrado na necessidade de usar a literatura para passar uma mensagem religiosa“. “Não me parece que ele procure fazer da literatura um palco para os seus sermões, e isso é diferente de muitos outros padres que também são poetas, que usam a literatura para passar a mensagem do Cristianismo”, diz o crítico ao Observador.

Também Francisco José Viegas, o diretor da editora Quetzal, que publicou o mais recente livro do poeta, sublinha que o âmbito da obra de Tolentino Mendonça extravasa os limites da mensagem religiosa. “Ele é um omnívoro, como eu costumo dizer. Um homem que lê tudo, que cita vários autores, de origem muito diversa. Isso é uma coisa nova no discurso de alguém da hierarquia da Igreja. Deixa contaminar o discurso religioso com uma marca poética“, afirma o editor.

Para o poeta Pedro Mexia, a dimensão literária e a dimensão religiosa de Tolentino Mendonça não devem ser encaradas “como se fossem facetas diferentes ou opostas”. Mexia destaca a “capacidade de chegar às pessoas” do padre Tolentino Mendonça, que “sempre se interessou pelas coisas mais diversas, até ao ponto de as pessoas poderem ficar um bocadinho perplexas”.

“As pessoas estão à espera de que um padre tenha um certo tipo de referências e ele às vezes tem referências muito diferentes”, continua Pedro Mexia, sublinhando como Tolentino Mendonça, padre e poeta, mas também cronista, tem “vontade de procurar a linguagem do nosso tempo, porque a linguagem religiosa tem uma dimensão que não é do nosso tempo“.

Francisco José Viegas considera que esta “contaminação” positiva entre a linguagem artística e a linguagem religiosa “era algo que fazia falta à Igreja Católica”. “Uma das coisas que mais me fascinam no Tolentino Mendonça é a forma como ele pode trazer alguma beleza ao discurso da Igreja”, explica o editor.

“A Igreja procura um novo discurso, um discurso que diga mais às pessoas do nosso tempo, que possa absorver um pouco mais das sensibilidades contemporâneas, mas, mais do que isso, que fale para as pessoas do nosso tempo. As pessoas estão muito recetivas a um discurso que venha contaminado pela beleza, em vez de ser um discurso mais seco, mais tradicional“, destaca Francisco José Viegas, acrescentando que é essa a novidade que Tolentino Mendonça representa.

“Acho que hoje nós não temos a noção do que é um intelectual católico, porque os católicos perderam muitos dos seus intelectuais. Houve um tempo em que a Igreja produzia intelectuais, como George Bernanos, de que assinalamos agora os 120 anos do nascimento, mas também nomes como Alçada Baptista ou Moreira das Neves. Durante muito tempo faltou à Igreja a capacidade de falar para o mundo dos intelectuais. No caso do Tolentino Mendonça, há esta mistura de perspetivas”, defende Francisco José Viegas.

Exemplo deste discurso “contaminado pela beleza” é a forma como vê a Bíblia Sagrada. Biblista de formação, Tolentino Mendonça olha para os escritos fundamentais da Igreja como uma obra de arte. “A Bíblia é um grande poema. Tem uma dimensão literária. Isso também lhe dá uma grande carga revelatória. Torna-a um livro intemporal. A Bíblia não é um catecismo”, defendia Tolentino Mendonça na entrevista ao Público. “Não acho que se deva entender literalmente a Bíblia. A Bíblia precisa de interpretação.

A esta reconhecida capacidade artística, junta-se um “enorme conhecimento dos estudos bíblicos que faz dele um ótimo professor”, diz o padre Miguel Vasconcelos, que não só foi aluno de Tolentino Mendonça em três cadeiras do seu curso de teologia — Evangelhos Sinópticos, Escritos de São Paulo, e Estética e Teologia — como foi seu colaborador na edição portuguesa de uma coletânea de poemas da poetisa brasileira Adélia Prado.

“Ele tem uma capacidade de traduzir a Tradição da Igreja para a linguagem atual, para que a possamos entender hoje, que poucos têm. Ou seja, o conteúdo da Tradição é a verdade que a Igreja acredita ter sido revelada por Deus. Mas a formulação não pode ser sempre igual, muda consoante o destinatário, e o padre Tolentino é um fator de tradução importante, diz as coisas de sempre numa linguagem que é a nossa. E para isso é preciso ter uma vontade de se dedicar ao diálogo, de conhecer os seus destinatários e de estar diante do resto do mundo“, diz o capelão da Universidade Católica de Lisboa.

Esta abertura ao resto do mundo é outra das característica fundamentais de Tolentino Mendonça, que tem um discurso fundamentalmente dedicado aos não crentes. “Interessa-me a religião expressa de forma não-religiosa. Aprendo muito com os não-religiosos, ateus e indiferentes, pois os que não creem fazem perguntas aos que creem e é importante que estes as escutem e aprendam”, dizia o padre, numa entrevista ao Diário de Notícias em 2017.

“Acredito que a crença é um laboratório de descrença e que dentro de um crente há sempre um não crente. Mesmo quem vê Deus por todo o lado faz a experiência de que Ele não está em sítio algum e o contrário também é verdade”, afirmava na mesma entrevista. Antes, na entrevista ao Público, tinha mesmo assumido: “Não tenho um discurso para crentes“.

O poeta Pedro Mexia destaca esta dimensão do sacerdote, notando que “sempre foi claro que Tolentino Mendonça era uma pessoa particularmente cativante, que congregava pessoas que não eram muito obviamente interessadas em questões religiosas lato sensu, e que com ele as ouviam de outra maneira”. “Já tive oportunidade de apresentar dois livros dele e nas apresentações vi gente de todas as estirpes, do ponto de vista social e político“, recorda Mexia.

Na dicotomia padre-poeta, nenhuma das dimensões tem o protagonismo, apesar de uma não viver sem a outra. Segundo conta quem o conhece, nem o sacerdócio de Tolentino Mendonça pode ser entendido sem a poesia, nem os seus escritos podem ser lidos sem ser à luz da sua vocação de padre. João Pedro Vala destaca a dimensão pessoal da sua poesia e das suas crónicas. “Uma pessoa, quando lê as crónicas do padre Tolentino, sente-se sempre em contacto com ele. Sente que está a conhecer uma pessoa boa, é isso que me fascina”, explica o crítico. A posição é partilhada por Pedro Mexia, que sublinha que o padre “está muito atento à vida das pessoas e nos seus poemas aparece muito a relação com a intimidade, com as pessoas e com o segredo”.

A literatura no retiro do Papa

Precisamente por ser um teólogo diferente, um biblista experiente e um poeta contemporâneo, o Papa Francisco acabou por convidá-lo para orientar as meditações do retiro anual que faz com os membros da Cúria Romana, no início da Quaresma. “Quando o Santo Padre quis falar comigo para que colaborasse nos Exercícios da Quaresma, disse-lhe que eu sou apenas um pobre padre, e é a verdade. Ele encorajou-me a partilhar da minha pobreza. Veio então à minha mente propor um ciclo de meditações muito simples sobre a sede, intitulado ‘Elogio da Sede'”, contou Tolentino Mendonça num artigo publicado no jornal italiano Avvenire, aqui numa tradução para português do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

“Não tenho dúvidas de que as suas qualidades artísticas, além das teológicas, contribuíram para a escolha do Papa”, diz Francisco José Viegas, garantindo que “ele é uma pessoa em ascensão na hierarquia da Igreja, a quem a hierarquia presta cada vez mais atenção”. “Ele arrasta multidões. Durante o processo de lançamento do livro anterior, que já saiu na Quetzal, percebi o interesse com que as pessoas o ouvem. O discurso dele é inovador para muita gente que não é católica, nem sequer cristã”, conta o editor.

A hierarquia da Igreja já tem, na verdade, o padre Tolentino Mendonça debaixo de olho há vários anos. O sacerdote, que hoje é o capelão da Capela do Rato, em Lisboa, foi o primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, um organismo da Conferência Episcopal Portuguesa criado em 2004, destinado a promover o diálogo entre a Igreja e a esfera cultural. Pelo meio, em 2011, foi nomeado consultor do Conselho Pontifício da Cultura, um órgão da Cúria Romana destinado a fazer a ponte entre o Papa e o mundo da cultura — nomeação que viria a ser renovada em 2016.

“Não posso imaginar os critérios que levaram à escolha do padre Tolentino, mas sei que ele é conselheiro do Conselho Pontifício para a Cultura, portanto é levado muito a sério por quem organiza estas coisas. Certamente, o percurso biográfico e teológico, em termos de estudos bíblicos, faz dele capaz do que lhe foi pedido”, diz o padre Miguel Vasconcelos.

Durante esta semana, Tolentino Mendonça presidiu a meditações diárias — uma de manhã e uma à tarde — perante o Papa e os seus colaboradores mais próximos. Nessas meditações, a literatura e a poesia estiveram sempre em cima da mesa. Logo na primeira, citou Fernando Pessoa e Lev Tolstoi para pedir aos participantes que “aprendam a desaprender”. Na segunda meditação, citou Clarice Lispector e Simone Weil para sublinhar a importância de não descurar os escritores e poetas no estudo da teologia.

Na sexta-feira, último dia do retiro, o Papa Francisco agradeceu a Tolentino Mendonça pelas meditações diferentes das tradicionais. “Obrigado, padre, por nos falar da Igreja, este pequeno rebanho. E também por nos ter avisado para não nos encolhermos no nosso mundanismo burocrático”, disse o Papa. “Obrigado por nos lembrar que a Igreja não é uma gaiola para o Espírito Santo, que o Espírito também voa e trabalha fora dela”, acrescentou, terminando: “Com as citações e com as coisas que nos contou, mostrou-nos como ele [o Espírito Santo] trabalha nos não crentes, nos pagãos e em pessoas de outras confissões religiosas: é universal, é o Espírito de Deus, e é para todos.”

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Aceitar o olhar benigno de Deus

William-Adolphe Bouguereau
Nada pode afastar a ternura divina

"«Somos os filhos amados de Deus, sempre. Compreendeis então que não aceitar-se, viver descontentes e pensar de modo negativo significa não reconhecer a nossa identidade mais verdadeira? É como voltar-se para o outro lado enquanto Deus quer pousar o seu olhar sobre mim, é querer apagar o sonho que Ele tem para mim», vincou.

Nada há na história ou na personalidade de cada ser humano que possa afastar o enlaço e a ternura divinas: «Deus ama-nos assim como somos, e nenhum pecado, defeito ou erro Lhe fará mudar de ideia. Para Jesus – assim no-lo mostra o Evangelho –, ninguém é inferior e distante, ninguém é insignificante, mas todos somos prediletos e importantes: tu és importante».

«E Deus conta contigo por aquilo que és, não pelo que tens: a seus olhos, não vale mesmo nada a roupa que vestes ou o telemóvel que usas; não lhe importa se andas na moda ou não, importas-lhe tu. A seus olhos, tu vales; e o teu valor é inestimável», prosseguiu.

Por isso, vincou o papa, «Deus é fiel» no amor, «até mesmo obstinado»: «Ajudar-nos-á pensar que Ele nos ama mais do que nos amamos nós mesmos, que crê em nós mais de quanto acreditamos nós mesmos, que sempre nos apoia como o mais irredutível dos nossos fãs. Aguarda-nos sempre com esperança, mesmo quando nos fechamos nas nossas tristezas e dores, remoendo continuamente as injustiças recebidas e o passado».

«Afeiçoar-nos à tristeza, não é digno da nossa estatura espiritual. Antes pelo contrário; é um vírus que infecta e bloqueia tudo, que fecha todas as portas, que impede de reiniciar a vida, de recomeçar. Deus, por seu lado, é obstinadamente esperançoso: acredita sempre que podemos levantar-nos e não se resigna a ver-nos apagados e sem alegria», declarou.

A certeza do amor incondicional de Deus, deve configurar a existência, e para que dele não haja esquecimento ou desconsideração, Francisco sugeriu um gesto diário: «Lembremo-nos disto, no início de cada dia. Far-nos-á bem dizê-lo na oração, todas as manhãs: "Senhor, agradeço-vos porque me amais; fazei-me enamorar da minha vida". Não dos meus defeitos, que hão de ser corrigidos, mas da vida, que é um grande dom: é o tempo para amar e ser amado».

Para quem se afastou de Deus, o regresso à amizade e comunhão com Ele pode ser feito através do sacramento da Reconciliação: «Queridos jovens, não vos envergonheis de lhe levar tudo, especialmente as fraquezas, as fadigas e os pecados na Confissão: Ele saberá surpreender-vos com o seu perdão e a sua paz».

«Não tenhais medo de lhe dizer "sim" com todo o entusiasmo do coração, de lhe responder generosamente, de o seguir. Não vos deixeis anestesiar a alma, mas apostai no amor formoso, que requer também a renúncia, e um "não" forte ao doping do sucesso a todo o custo e à droga de pensar só em si mesmo e nas próprias comodidades», apelou.

A proximidade com Deus e a transformação pessoal dela resultante refletem-se depois em gestos concretos numa sociedade descrente e cética: «Poderão considerar-vos sonhadores, porque acreditais numa humanidade nova, que não aceita o ódio entre os povos, não vê as fronteiras dos países como barreiras e guarda as suas próprias tradições, sem egoísmos nem ressentimentos».

«Não desanimeis! Com o vosso sorriso e os vossos braços abertos, pregais esperança e sois uma bênção para a única família humana, que aqui tão bem representais», apontou.

Com «o olhar de Jesus», que «não se resigna perante os fechamentos, mas procura o caminho da unidade e da comunhão» e que «não se detém nas aparências, mas vê o coração», é possível «fazer crescer outra humanidade, sem esperar louvores, mas buscando o bem por si mesmo, felizes por conservar o coração limpo e lutar pacificamente pela honestidade e a justiça».

«Não vos detenhais à superfície das coisas e desconfiai das liturgias mundanas do aparecer, da maquilhagem da alma para parecer melhor. Em vez disso, instalai bem a conexão mais estável: a de um coração que vê e transmite o bem sem se cansar. E aquela alegria que gratuitamente recebestes de Deus, gratuitamente dai-a porque muitos esperam por ela», assinalou."

Excertos da homilia do Papa Francisco nas JMJ em Cracóvia
por Rui Jorge Martins em SNPC a 31 de julho de 2016

Clericalismo e fariseísmo

Papa fala sobre o clero

"Ser anunciador de uma verdade não chega, é preciso ser humilde, próximo e coerente, pois só assim se conquista autoridade e confiança junto dos crentes, frisou hoje o papa na missa a que presidiu, no Vaticano.

A homilia, centrada na leitura do Evangelho proclamada nas missas desta terça-feira (Marcos 1, 21-28), criticou os comportamentos dos pregadores e responsáveis religiosos que se afastam do povo e não mostram coerência entre palavras e atos.

«[Jesus] tinha uma atitude de servidor, e isso dava autoridade. Ao contrário, estes doutores da lei que as pessoas, é verdade, escutavam, respeitavam, mas não sentiam que tivessem autoridade sobre elas, tinham uma psicologia dos princípios: “Nós somos os mestres, os príncipes, e nós ensinamos-vos. Não serviço: nós comandamos, vós obedeceis”», apontou o papa, citado pela Rádio Vaticano.

Por ser próximo, «Jesus não tinha alergia às pessoas: tocar os leprosos, os doentes, não lhe causava repugnância», enquanto os fariseus e doutores da lei se mantinham distantes dos crentes, prosseguiu.

Os religiosos do tempo de Jesus «tinham uma psicologia clericalista: ensinavam com uma autoridade clericalista, isto é, o clericalismo», declarou Francisco.

«Primeiro, servidor, de serviço, de humildade: o chefe é aquele que serve, vira tudo de pernas para o ar, como um icebergue. Do icebergue vê-se o topo; ao contrário, Jesus vira ao contrário e o povo está em cima e Ele que comanda está em baixo, e de baixo comanda», afirmou.

Outro aspeto que diferencia a autoridade dos religiosos e de Jesus é a coerência: «Havia como uma unidade, uma harmonia entre o que pensava, sentia, fazia», ao passo que quem se sente mais importante tem «uma atitude clericalista».

«Essa gente não era coerente e a sua personalidade estava dividida, ao ponto de Jesus aconselhar aos seus discípulos: “Fazei o que vos dizem, mas não o que fazem”: diziam uma coisa e faziam outra. Incoerente. Eram incoerentes. E o adjetivo que muitas vezes Jesus lhes atira é hipócrita», continuou o papa.

É compreensível, sublinhou Francisco, «que alguém que se sente príncipe, que tem uma atitude clericalista, que é um hipócrita, não tenha autoridade. Dirá a verdade, mas sem autoridade. Ao contrário, Jesus, que é humilde, que está ao serviço, que está próximo, que não despreza as pessoas e que é coerente, tem autoridade. E esta é a autoridade que o povo de Deus sente». "

por Rui Jorge Martins em SNPC

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

Este blogue também é teu

São benvindos os comentários, as perguntas, a partilha de reflexões e conhecimento, as ideias.

Envia o link do blogue a quem achas que poderá gostar e/ou precisar.

Se não te revês neste blogue, se estás em desacordo com tudo o que nele encontras, não és obrigado a lê-lo e eu não sou obrigado a publicar os teus comentários. Haverá certamente muitos outros sítios onde poderás fazê-lo.

Queres falar?

Podes escrever-me directamente para

rioazur@gmail.com

ou para

laioecrisipo@gmail.com (psicologia)


Nota: por vezes pode demorar algum tempo a responder ao teu mail: peço-te compreensão e paciência. A resposta chegará.

Os textos e as imagens

Os textos das mensagens deste blogue têm várias fontes. Alguns são resultados de pesquisas em sites, blogues ou páginas de informação na Internet. Outros são artigos de opinião do autor do blogue ou de algum dos seus colaboradores. Há ainda textos que são publicados por terem sido indicados por amigos ou por leitores do blogue. Muitos dos textos que servem de base às mensagens foram traduzidos, tendo por vezes sofrido cortes. Outros textos são adaptados, e a indicação dessa adaptação fará parte do corpo da mensagem. A maioria dos textos não está escrita segundo o novo acordo ortográfico da língua portuguesa, pelo facto do autor do blogue não o conhecer de forma aprofundada.

As imagens que ilustram as mensagens são retiradas da Internet. Quando se conhece a sua autoria, esta é referida. Quando não se conhece não aparece nenhuma referência. Caso detectem alguma fotografia não identificada e conheçam a sua autoria, pedimos que nos informem da mesma.

As imagens são ilustrativas e não são sempre directamente associáveis ao conteúdo da mensagem. É uma escolha pessoal do autor do blogue. Há um critério de estética e de temática ligado ao teor do blogue. Espero, por isso, que nenhum leitor se sinta ofendido com as associações livres entre imagem e conteúdo.

Contribuidores

Amigos do blogue

Mensagens mais visitadas nesta semana

Categorias

11/9 (1) 2011 (1) 25 de Abril (1) 3ª idade (1) 5ª feira Santa (1) abandono (3) abdicar (1) abertura (4) aborto (3) abraão (1) abraço (1) abstinencia sexual (2) abusos (4) acção (4) aceitação (4) acolhimento (19) acompanhamento (3) açores (1) acreditar (1) acrobacia (1) activismo (2) activistas (2) actores (1) actos dos apostolos (1) actualidade (85) adão e eva (1) adesão (1) adeus (2) adilia lopes (2) administrativo (1) admiração (1) adolescentes (1) adopção (15) advento (15) afecto (3) africa (21) África (1) africa austral (1) africa do sul (8) ágape (1) agenda (2) agir (1) agressividade (1) água (2) alan gendreau (1) alegorias (1) alegria (11) aleluia (1) alemanha (15) alentejo (3) alerta (1) alexandra lucas coelho (1) Alexandre Quintanilha (1) alimento (1) alma (4) almada (1) alteridade (2) alternativo (9) amadeo de sousa cardoso (1) amantes (2) amargura (1) américa (5) américa central (1) américa latina (10) AMI (1) amigo (3) amizade (4) amnistia internacional (2) amor (54) amplos (2) androginia (1) andrógino (1) angelo rodrigues (1) angola (2) animal (3) anjos (8) anselmo borges (2) anti-semitismo (1) antigo testamento (15) antiguidade (1) antónio ramos rosa (3) antropologia (1) anunciação (2) anuncio (1) ao encontro (1) aparência (1) aparições (2) apatia (1) API (1) apocalipse (1) apócrifos (2) apoio psicologico (1) apolo (2) apóstola (1) apóstolos (1) apple (1) aprender (1) aproximar (1) aquiles (1) ar livre (1) arabes (1) arabia saudita (2) arbitro (1) arco-iris (4) argélia (4) argentina (9) arquétipo (1) arquitectura (9) arrependimento (1) arte contemporanea (18) arte e cultura (322) arte sacra (59) artes circences (1) artes plásticas e performativas (32) artista (2) arvo pärt (6) árvore de natal (1) ascensão (1) asia (9) asilo (2) assassinato (1) assembleia (2) assexuado (3) assexual (1) assexualidade (2) assintomático (1) associação do planeamento da família (1) associações (1) astronomia (1) ateliers (1) atenção (5) atender (1) ateu (2) atletas (2) australia (6) autoconhecimento (1) autodeterminação de género (2) autonomia (1) autoridade (2) avareza (1) ave-maria (2) avô (1) azul (1) bach (6) bairro de castro (1) baixa (1) banal (1) banco alimentar (3) bancos (2) bandeira (2) baptismo (1) baptizado (2) barcelona (5) barroco (3) basquetebol (1) beatificação (2) beatos (1) beckham (1) beijo (4) beja (1) bela e o monstro (1) beleza (18) bélgica (2) belgrado (1) belo (5) bem (5) bem estar (1) bem-aventuranças (3) ben sira (1) beneditinos (2) bento xvi (35) berlim (5) berlusconi (1) best-sellers (1) bethania (2) betos (1) bi (1) bíblia (45) bibliografia (1) bicha (1) bienal (1) bifobia (1) bigood (1) bill viola (1) binarismo (1) biografias (28) biologia (4) bispos (10) bissexualidade (9) bizantina (1) bjork (1) blogue informações (44) bloguer (1) blogues (2) blondel (1) boa nova (1) boa vontade (1) bom (1) bom pastor (1) bom samaritano (1) bombeiro (1) bondade (2) bonecas (1) bonhoeffer (2) bose (5) botswana (1) boxe (2) braga (2) brasil (15) brincadeira (1) brincar (1) brinquedos (2) britten (1) budismo (2) bullying (5) busca (1) buxtehude (1) cadaver (1) calcutá (1) calendário (3) calvin klein (1) caminhada (1) caminho (5) campanha de prevenção (1) campanha de solidariedade (6) campo de concentração (3) cancro (2) candidiase (1) candomblé (1) canonização (2) cantico dos canticos (3) canticos (2) canto (1) cantores (2) capela do rato (11) capelania (1) capitalismos (1) caraíbas (3) caravaggio (4) carcavelos (1) cardaes (1) carência (1) caridade (7) caritas (2) carlos de foucauld (1) carmelitas (2) carnaval (1) carne (1) carpinteiro (1) carta (15) carta pastoral (2) casa das cores (1) casais (17) casamento (61) casamento religioso (1) castidade (3) castigo (1) catacumbas (1) catalunha (3) catarina mourão (1) catástrofes (1) catecismo (3) catolica (1) catolicismo (26) causas (1) CD (1) cegueira (1) ceia (1) celebração (3) celibato (9) censos (3) censura (2) centralismo (1) cep (1) cepticismo (1) céu (1) chamamento (1) chapitô (1) charamsa (1) charles de foucauld (1) chatos (1) chechénia (1) chemin neuf (1) chicotada (1) chile (2) china (3) chirico (1) chorar (1) ciclone (1) cidade (2) ciência (2) cig (1) cimeira (3) cinema (41) cinemateca (1) cinzas (1) ciparisso (1) circo (1) cisgénero (1) civismo (1) clamidia (1) clarice lispector (1) clarissas (1) clausura (3) clericalismo (3) clero (5) cliché (1) co-adopção (3) coccopalmerio (1) cockinasock (2) cocteau (2) código penal (2) colaborador (1) colegialidade (1) colegio cardenalicio (2) colégio militar (1) colóquio (2) colossenses (1) combate (1) comemoração (2) comentário (1) coming out (1) comissão justiça e paz (1) comodismo (1) compaixão (3) companhia de jesus (11) comparação (1) complexidade (1) comportamento (2) composição (1) compromisso (1) comunhão (18) comunicação (2) comunidade (3) comunidade bahai (1) comunidades (3) conceitos (15) concertos (18) concílio (1) condenação (8) conferência (15) conferencia episcopal portuguesa (2) confessar (1) confiança (4) confissão (3) conformismo (1) conhecer (2) conjugal (1) consagrado (2) consciência (4) consumo (1) contabilidade (1) contemplação (5) contos (1) contracepção (1) convergencia (1) conversão (3) conversas (1) convivência (2) cópia (1) copta (1) coração (5) coragem (4) coreia do norte (1) cores (1) corintios (1) corita kent (1) coro (1) corpo (19) corpo de Deus (2) corporalidade (2) corrupção (1) corrymeela (1) cracóvia (1) crença (1) crente (1) creta (1) criação (5) crianças (8) criatividade (1) crime (8) criquete (1) crise (8) crisipo (2) cristãos lgbt (1) cristianismo (41) cristiano ronaldo (2) crítica (15) crossdresser (2) CRS (2) cruz (11) cuba (1) cuidado (1) cuidar (2) culpa (4) culto (2) cupav (2) cura (2) curia (1) curiosidade (6) cursos (4) CVX (1) dádiva (3) dador (2) dadt (8) daltonismo (1) dança (7) Daniel Faria (4) daniel radcliffe (2) daniel sampaio (1) danielou (1) dar (3) dar a vida (12) dar sangue (2) Dark Hourses (1) David (8) david lachapelle (3) deficiência (1) defuntos (1) delicadeza (1) democracia (1) dependências (1) deportação (1) deputados (1) desânimo (1) desassossego (3) descanso (1) descentralização (1) descobrir (1) desconfiança (1) descrentes (1) descriminalização (4) desejo (5) desemprego (1) desenho (12) deserto (3) desfile (1) desilusão (2) desordenado (1) despedida (1) desperdicio (1) despojar (1) desporto (34) detecção (1) Deus (50) deuses (1) dia (1) dia mundial dos pobres (1) diaconado (1) diácono (1) diálogo (9) diálogo interreligioso (7) diferenças (3) dificuldade (1) dignidade (2) dinamarca (1) dinamismo (1) dinheiro (1) direcção espiritual (1) direito (30) direito laboral (1) direitos humanos (51) direitos lgbt (9) discernimento (1) discípulas (1) discípulos (1) discriminação (29) discurso (2) discussão (5) disforia de género (1) disney (2) disparidade (1) disponibilidade (1) ditadura (1) diversidade (8) divindade (2) divisão (2) divorciados (4) divórcio (3) divulgação (1) doação (1) doadores (1) doclisboa (1) documentários (3) documentos (1) doença (2) dogma (1) dois (1) dom (10) dom helder câmara (1) dom manuel martins (2) dom pio alves (1) doma (1) dominicanas (3) dominicanos (6) donativos (1) dons (1) dor (4) dos homens e dos deuses (1) dostoievsky (1) doutores da igreja (2) doutrina da fé (2) doutrina social (5) drag (2) drag queens (2) dst (2) dureza (1) e-book (1) eckart (2) eclesiastes (3) eco (1) ecologia (6) economia (7) ecos (1) ecumenismo (14) edith stein (3) educação (7) efémero (1) efeminação (1) efeminado (2) egipto (2) ego (1) egoismo (1) elite (1) emas (1) embrião (1) emoção (1) empatia (1) emprego (10) enciclica (2) encontro (16) ensaios (11) ensino (1) entrevista (15) entrudo (1) enzo bianchi (2) equipa (1) equipamentos (1) erasmo de roterdão (1) erotismo (3) escandalo (2) escândalo (2) esclarecimento (1) escócia (1) escolas (5) escolha (2) escravatura (1) escultura (8) escuridão (1) escuta (7) esgotamento (1) esmola (1) espaço (3) espanha (10) espanto (1) esparta (1) espectáculos (1) espera (6) esperança (3) esperma (4) espermatezoide (1) espírito (4) Espírito Santo (4) espiritualidade (100) esquecer (1) estar apaixonado (1) estatística (13) estética (3) estoril (2) estrangeiro (2) estrelas (1) estudos (20) estupro (1) eternidade (1) ética (3) etty hillesum (4) eu (5) EUA (39) eucaristia (11) eugenio de andrade (4) eurico carrapatoso (8) europa (45) eutanásia (1) evangelho (19) evangelização (2) évora (1) ex-padre (1) exclusão social (2) exegese (1) exemplo (3) exercicios espirituais (2) exército (12) exibicionismo (2) exílio (1) exodus (1) exposição (1) exposições (13) ezequiel (1) f-m (1) f2m (1) facebook (4) fado (1) falar (1) falo (2) falocratismo (1) faloplastia (1) família (36) famílias de acolhimento (1) famosos (18) fardo (1) fariseismo (1) fátima (4) favela (1) (22) fé e cultura (5) fecundidade (2) feio (1) felicidade (1) feminino (4) feminismo (3) fernando pessoa (2) festa (2) festival (11) fiat (1) fidelidade (4) FIFA (4) figuras (11) filho pródigo (1) filhos (3) filiação (1) filipinas (1) filmes (27) filoctetes (1) filosofia (4) finlandia (1) firenze (2) flagelação (1) flaubert (1) flauta (2) floresta (1) fome (3) fontana (2) força (1) forças armadas (2) formação (3) fotografia (41) fr roger de taizé (3) fra angelico (1) fracasso (1) fragilidade (5) frança (9) franciscanos (1) francisco de sales (1) francisco I (78) francisco tropa (1) françoise dolto (2) fraqueza (1) fraternidade (4) frederico lourenço (5) freira (3) frescos (1) freud (2) frio (2) fronteira (2) ftm (1) fundacao evangelizacao culturas (3) fundamentalismos (1) funeral (1) futebol (16) futebol americano (1) futuro (3) galileu (1) galiza (1) ganancia (1) gandhi (2) ganimedes (2) gastronomia (2) gaudi (4) gaudium et spes (2) gay (112) gay lobby (3) gaydar (1) gayfriendly (2) género (25) generosidade (1) genes (1) genesis (3) genética (4) genital (1) geografia (1) gestos (1) gilbert baker (1) ginásio (1) global network of rainbow catholics (1) glossário (15) gnr (2) GNRC (1) goethe (1) gomorra (2) gonorreia (1) gozo (2) gratuidade (3) gravura (1) grécia (1) grécia antiga (9) grit (1) grün (1) grupos (1) gula (1) gulbenkian (3) habitação (1) haiti (1) harvey milk (1) hasbro (1) havai (1) heidegger (1) helbig (1) hellen keller (1) hemisfério sul (1) henri de lubac (1) héracles (1) herança (1) heresia (1) hermafrodita (2) hermafroditismo (2) herpes genital (1) heterofobia (1) heteronormatividade (1) heterosexuais (5) heterosexualidade (3) heterossexismo (2) hierarquia (34) hilas (1) hildegarda de binden (1) hildegarda de bingen (1) hinos (1) hipocrisia (3) história (42) história da igreja (1) Hitler (1) holanda (5) holocausto (2) homem (14) homenagem (2) homilia (6) homoafetividade (7) homoerotismo (14) homofobia (65) homoparentalidade (3) homossexualidade (150) honduras (1) hormonas (1) hospitais (1) hospitalidade (4) HPV (1) HSH (3) humanidade (5) humildade (6) humor (9) hysen (2) icone gay (9) icones (4) iconografia (1) idade (1) idade média (2) idealização (1) identidade (13) ideologia do género (2) idiota (1) idolatria (2) idolos (1) idosos (1) ignorância (2) igreja (156) igreja anglicana (7) igreja episcopal (2) igreja lusitana (1) igreja luterana (2) igreja presbiteriana (1) igualdade (9) II guerra mundial (7) ikea (2) ILGA (10) iluminismo (1) iluminuras (1) ilustração (1) imaculada conceição (1) imigração (2) imitação (1) impaciencia (1) impotência (1) imprensa (53) inácio de loyola (1) incarnação (4) incerteza (1) inclusão (5) incoerência (1) inconsciente (1) indemnização (1) india (2) indiferença (1) individuo (1) infalibilidade (1) infancia (1) infância (2) infecção (1) infertilidade (1) infinito (1) informática (1) ingenuidade (1) inglaterra (3) iniciativas (1) inimigos (3) injustiça (1) inocentes (1) inquérito (1) inserção social (1) instinto (1) instrumentos musicais (1) integração (2) inteligencia (1) inter-racial (1) intercessão (1) intercultural (2) interior (4) internacional (3) internet (1) interpretação (1) interrogação (1) intersexualidade (5) intolerância (2) inutilidade (1) inveja (1) investigação (4) invocação (1) invocar (1) iolau (1) irão (1) irlanda (6) irmão (2) irmão luc (1) irmãos de jesus (1) irmãs de jesus (1) irreverencia (1) isaias (2) islandia (1) islão (12) isolamento (1) israel (2) IST (3) italia (5) jacinto (1) jacob (3) jacopo cardillo (1) jacques berthier (1) james alison (4) james martin (4) jantar (1) japão (1) jardim (1) jasão (1) jean vanier (1) jejum (2) Jeová (1) jeremias (1) jerusalem (1) jesuitas (3) jesus cristo (49) JMJ (8) joana de chantal (1) João (8) joao climaco (1) joao paulo II (8) joão XXIII (2) job (2) jogos (2) jogos olimpicos (2) jonas (1) Jonatas (5) jorge sousa braga (1) jornadas (1) jornalismo (2) josé de arimateia (1) josé frazão correia (1) jovens (7) judaismo (9) judas (4) jung (2) justiça (21) juventude (5) kenose (1) kitsch (3) krzystof charamsa (1) l'arche (1) ladrão (1) lady Gaga (2) lagrimas (2) lágrimas (1) laicidade (2) laio (2) lançamento (1) lázaro (1) lazer (2) LD (1) lectio divina (1) lei (25) lei da blasfémia (1) leigos (3) leigos para o desenvolvimento (1) leiria (1) leituras (37) lenda (1) leonardo da vinci (1) lésbica (48) lev tolstoi (1) Levinas (1) levitico (2) levítico (2) lgbt (74) lgbti (20) liberdade (8) libertinagem (1) liderança (3) limpeza (1) linguagem (2) lisboa (83) literalidade (1) literatura (4) lituania (1) liturgia (6) livrarias (2) livros (36) ljungberg (2) londres (1) Lopes-Graça (1) loucura (1) lourdes castro (4) loures (1) louvor (2) lua (1) lubrificante (1) lucas (5) lucian freud (1) luiz cunha (1) luta (5) luto (3) luxemburgo (1) luz (2) m-f (1) M2F (1) macbeth (1) machismo (4) macho (2) madeleine delbrel (1) madre teresa de calcuta (9) madureira (1) mãe (1) mães (7) mafra (1) magdala (2) magia (1) magnificat (8) magrebe (1) mal (2) malasia (2) man (1) mandamentos (1) manifestação (1) manuel alegre (1) manuel cargaleiro (1) manuel clemente (4) manuel graça dias (1) manuel linda (1) manuel neuer (2) maori (1) mãos dadas (2) marcelo rebelo de sousa (1) marcha (5) marcos (1) Maria (18) maria de lourdes belchior (1) maria madalena (4) maria-rapaz (1) marinheiros (1) marketing (1) marrocos (2) martha medeiros (1) martin luther king (1) martini (2) mártir (5) martírio (3) masculinidade (10) masculino (1) mastectomia (1) masturbação (2) matéria (1) maternal (1) maternidade (1) mateus (7) matrimónio (1) mattel (1) mecenas (2) media (2) mediação (1) médicos (2) medio oriente (2) meditacao (8) medo (9) meia-idade (1) melancolia (1) membro (1) memória (1) memorial (1) mendigo (1) menino (4) menores (2) mensagem (2) menstruação (1) mentira (1) mercado (1) mesa (1) mestrado (1) metafora (1) metanoia (1) méxico (3) michael stipe (2) Michelangelo (2) Michele de Paolis (2) micronesia (1) migrante (1) miguel esteves cardoso (2) milão (1) mimesis (1) mineiros (2) minimalismo (1) ministerio publico (1) minorias (1) minorias étnicas (1) mira schendel (1) misericordia (3) misericórdia (3) misoginia (1) missa (7) missão (4) missionarias da caridade (1) missionário (3) mistério (3) mística (6) mitcham (2) mito (3) mitologia (8) mitos (2) moçambique (4) moda (5) modelos (8) modernidade (2) moina bulaj (1) moldavia (1) monge (4) monogamia (1) monoparentalidade (1) montenegro (1) montserrat (1) monumentos (1) morada (1) moral (6) moralismo (1) morte (25) mosteiro (1) movimento civico (1) movimento gay (1) MRAR (1) MSV (1) MTF (1) mudança (1) mudança de nome (1) mudança de sexo (6) mulheres (19) mundial (3) mundo (148) munique (1) murais (1) muro pequeno (2) musculos (1) museus (11) musica (2) música (87) musical (1) namoro (3) nan goldin (1) não crentes (2) não-violência (1) narciso (2) natação (1) natal (43) natividade (3) NATO (3) natureza (5) naufrago (1) nauru (1) nazis (5) newman (1) nigeria (1) nobel (2) noé (1) nómada (1) nome (5) nomeação (1) nós somos igreja (2) nossa senhora (1) nota imprensa (1) notícias (2) nova iorque (2) nova zelandia (2) novelas (1) novo testamento (5) nudez (20) numero (1) núncio apostólico (1) NY (1) o nome da rosa (1) obediência (1) objectivos milénio (1) obra (14) obstáculos (1) oceania (1) ocupação (1) ódio (5) ofensa (1) oferta (1) olhar (4) olho (1) olimpicos (2) olimpo (1) omnissexualidade (1) ONU (14) opinião (157) oportunidades (3) optimismo (2) opus gay (2) oração (59) oração comum (2) oração do nome (1) orar (3) ordem de cister (2) ordem dos advogados (1) ordem dos médicos (6) ordenação de gays (5) ordenação de mulheres (8) orgão (3) orgia gay (1) orgulho gay (7) orientação (12) oriente (1) origem (2) orlando cruz (1) ortodoxia (2) oscar romero (1) ousar (1) outro (2) ovideo (1) ovocitos (1) ovulo (1) paciencia (1) pacificador (1) pacífico (3) pacifista (2) padraig o tuama (1) padre (22) padre antónio vieira (1) padres (2) padres casados (1) padres da igreja (1) padres do deserto (2) paganismo (1) pai (7) pai natal (1) pai-nosso (2) pais (6) pais de gales (2) paixão (15) palácios (1) palavra (8) palestina (1) palestra (1) paneleiro (1) pansexualidade (1) papas (41) papel da mulher (11) papiloma (1) paquistão (1) paradas (3) parágrafo 175 (2) paraíso (3) parcialidade (1) parentalidade (4) paridade (2) paris (7) parlamento (3) paróquias lgbt (1) participação (2) partilha (8) pascal (3) páscoa (4) pasolini (2) pastoral da saúde (1) pastoral homossexual (27) pastoral trans (2) pastoral universitária (2) paternal (1) paternidade (3) patinagem (3) patio dos gentios (2) patriarca (1) património (5) pátroclo (1) paul claudel (4) paulo (5) paulo VI (1) pausanias (1) paz (12) pecado (7) pederasta (1) pederastia (1) pedir (1) pedofilia (10) pedra (1) pedro arroja (1) pélope (1) pena (4) pénis (1) penitência (5) pensamentos (3) pensão (1) pentecostes (2) perdão (6) peregrinação (1) peregrino russo (1) perfeição (2) pergunta (2) periferias (4) perigo (1) perplexidade (1) perseguição (1) perseverança (1) pessimismo (2) pessoa (8) petição (2) piano (1) piedade (1) pina bausch (3) pink narcisus (1) pintura (15) piolho-da-pubis (1) pirítoo (1) pistas (1) pluralidade (1) pobreza (14) poder (1) poesia (53) poitiers (1) polémica (4) poliamor (1) policia (3) polissexualidade (1) política (50) polo aquatico (1) polónia (1) pontes (1) pontificado (1) pontífices (1) POP art (1) população (1) pornodependencia (1) pornografia (2) portas (1) porto (9) porto rico (1) portugal (115) poseidon (1) povo de Deus (3) praia (1) prática (2) prazer (4) prece (3) preconceito (3) pregador (1) prémios (12) presença (2) presentes (1) presépios (5) preservativo (12) presidente (3) prevenção (1) pride (1) primavera (3) primeiros cristãos (1) principes (1) prisão (3) priscilla (1) procriacao (3) procura (4) professores (1) projecto (1) prostituição (4) prostituta (2) protagonista (1) provisório (1) próximo (5) psicanálise (1) psicologia (16) psicoterapia (1) psiquiatria (1) publicidade (4) pudor (1) qatar (4) quaintance (1) quakers (1) quaresma (35) queer (7) quenia (1) questionário (1) quotidiano (2) racial (1) racismo (4) radcliffe (2) rahner (1) rainhas (1) ranking (1) rapto (2) raul brandão (1) rauschenberg (1) razão (2) realidade (5) recasados (3) reciclar (5) reciprocidade (1) recolha de alimentos (1) recolhimento (1) reconciliação (5) rede ex aequo (8) redes sociais (5) refeição (1) reflexão (61) reforma (3) refugiados (3) registo civil (2) reino de Deus (2) reino unido (14) reis (9) relação (14) relatórios (2) religião (18) religion today (1) religiosidade (3) religioso (2) REM (2) Renascimento (1) renúncia (1) repetição (1) repouso (1) repressão (1) reproducao (2) república (1) republica checa (1) respeito (3) respiração (1) responsabilidade (2) ressurreição (2) restauro (1) retiro (10) retrato (4) reutilizar (5) rezar (2) Richard Zimler (1) ricky cohete (1) ricky martin (4) ricos (1) rigidez (1) rilke (4) rimbaud (2) riqueza (1) rival (1) rodin (1) roma (3) romance (1) romanos (1) romenia (1) rosa (6) rosa luxemburgo (1) rosto (1) rothko (1) rotina (1) roupa interior (1) rufus wainwright (5) rugby (4) rui chafes (2) rumos novos (4) russia (4) ryan james caruthers (1) s. bento (7) s. valentim (1) sábado santo (1) sabedoria (2) sacerdócio (2) sacerdotes (1) sacerdotisas (2) sacramentos (4) sacro (1) sagrada família (5) sagrado (7) sahara ocidental (3) sair (2) sair do armario (19) salmos (5) salvação (5) Samuel (1) sanção (1) sangue (1) santa catarina (1) santa cecilia (1) santa hildegarda (1) santa sé (2) santa teresa de avila (2) santarem (4) santas (2) santegidio (1) santidade (8) santo agostinho (3) santo ambrosio (1) santo antonio (1) santos (18) são cristóvão (1) sao francisco (7) sao joao (1) São José (2) sao juliao (1) sao tomas de aquino (1) sao tome e principe (1) sapatas (1) sapatos (1) saramago (1) sartre (1) saúde (26) Saul (1) schütz (1) seamus heaney (1) sebastião (9) séc XX (1) secura (1) sede (10) sedução (1) segurança (2) sem-abrigo (2) semana santa (7) semen (1) seminários (5) sensibilidade (1) sensibilização (1) sentença (1) sentidos (4) sentimentos (2) sepulcro (1) sepultura (1) ser (3) ser humano (3) ser solidário (44) sermões (5) serralves (1) servia (2) serviço (8) setúbal (3) sexismo (2) sexo (10) sexo biológico (2) sexo seguro (2) sexta feira santa (2) sexualidade (23) shakespeare (1) sic (1) sicilia (1) sida (20) sífilis (1) sightfirst (1) silêncio (12) sim (1) símbolos (2) simone weil (4) simplicidade (3) singapura (1) singularidade (1) sínodo (5) sintomas (1) sintomático (1) sobrevivente (1) sobreviver (1) sociedade (89) sociologia (1) sodoma (3) sodomia (2) sofrimento (13) solicitude (1) solidão (13) solidariedade (4) sondagem (10) sonhos (2) Sophia (8) st patrick (1) steven anderson (1) stockhausen (1) stölzel (1) stonewall (2) submissão (1) sudário (1) suécia (4) suicidio (5) sul (1) surrealismo (1) susan sontag (1) sustentabilidade (1) taborda (1) tabu (2) taizé (6) talentos (1) tapeçaria (1) tavener (6) TDOR (1) teatro (14) teatro do ourives (1) tebas (1) tecnologia (3) tel aviv (1) televisão (2) templo (2) tempo (4) temps d'images (1) tenebrismo (1) tentação (2) teologia (46) teologia da libertação (2) teólogo (2) teoria do género (1) terceiro género (1) teresa benedita da cruz (1) teresa forcades (1) terras sem sombra (1) terrorismo (1) teseu (1) teste (1) testemunhas de jeová (1) testemunhos (39) testículos (1) textos (2) the king's singers (1) Thibirine (2) thomas merton (2) tibães (1) timor (1) timoteo (1) tocar (1) tolentino (32) tolerância (5) torres vedlas (1) tortura (1) trabalho (6) trabalho doméstico (1) tradição (1) traição (1) transexualidade (22) transfobia (6) transformista (1) transgender (8) transgeneridade (1) transgéneros (3) trapistas (2) travesti (3) travestismo (3) trevor hero (1) triângulo (5) tribunal (4) tricomoniase (1) Trindade (3) trinidad e tobago (1) tristeza (2) troca (1) troilo (1) tu (2) turim (1) turismo (2) turquia (3) ucrania (2) uganda (6) últimos (1) umberto eco (1) umiliana (1) unção (1) UNESCO (1) união (15) único (1) unidade (7) unitaristas (1) universal (1) universidade (2) universo (1) utero (1) útil (1) vaidade (3) valores (2) vanitas (1) vaticano (48) vaticano II (12) vazio (1) velhice (3) veneza (3) vento (1) verdade (10) vergonha (1) via sacra (10) vício (1) vida (64) vida dupla (1) vidas consagradas (5) video (39) vieira da silva (1) vigarice (1) vigiar (2) vih/hiv (19) vingança (1) vintage (1) violação (4) violência (9) violência doméstica (1) VIP (1) virgindade (1) viril (2) virilidade (1) vírus (1) viseu (1) visibilidade (2) visitação (1) visitas (7) visões (1) vitimas (2) vítor melícias (1) vitorino nemésio (1) vitrais (1) viver junto (2) vocação (5) voluntariado (10) von balthasar (2) vontade (2) voyeur (1) warhol (1) whitman (1) wiley (1) wrestling (1) xenofobia (4) youtube (1) yves congar (1) zeus (1)

As nossas visitas