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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.
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domingo, 10 de dezembro de 2017

Pastor homofóbico espalha o ódio e afirma que a solução para acabar com a SIDA é matar os gays

Se o diabo existisse em pessoa, poderia ser este pastor...

Transcrevo em inglês uma triste notícia que nos dá conta dos discursos de um pastor que já foi preso no Botswana e expulso da África do Sul, mas que em terras presididas pelo Trump encontra espaço e liberdade para atentar contra os direitos humanos mais básicos.


By Bil Browning, Wednesday, December 6, 2017

America’s most homophobic preacher exhortation to Americans to kill all LGBTQ people is making the rounds again. Steven Anderson’s hatred may have gotten him arrested in Botswana and banned from South Africa, but his freedom of speech allows him to spew his vitriol in America. In the sermon, Anderson tells his flock that God demands all LGBT people be put to death and encourages them to do “as the Lord commands” by Christmas. The church uploaded the sermon online.

“Turn to Leviticus 20:13,” he says in the video, “because I actually discovered the cure for AIDS.”

“If a man also lie with mankind, as he lieth with a woman, both of them have committed an abomination: they shall surely be put to death. Their blood shall be upon them,” Anderson reads.

“And that, my friend, is the cure for AIDS. It was right there in the Bible all along — and they’re out spending billions of dollars in research and testing,” he said. “It’s curable — right there. Because if you executed the homos like God recommends, you wouldn’t have all this AIDS running rampant.”

Anderson goes on to say that LGBTQ people cannot be Christians and that he would not allow gay people to attend his services.

“No homos will ever be allowed in this church as long as I am pastor here,” he shouts. “Never! Say ‘You’re crazy.’ No, you’re crazy if you think that there’s something wrong with my ‘no homo’ policy.”
Watch the videos from 2014 below if you have the stomach for it.

Para ver os vídeos:

Saber mais:
Ouvir a entrevista relacionada com este artigo: The anti-gay interview that got American hate pastor arrested in Africa
Sobre as vítimas do ataque terrorista em Paris: Antigay pastor: Victims of Paris terror attacks deserved to die

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Há dois anos

Permito-me publicar este artigo de opinião/crónica publicado no jornal SOL, a 10 de dezembro de 2015, como reacção às afirmações do economista no canal de televisão Porto Canal a propósito da lei da adopção gay. Pedro Arroja, além desta polémica é conhecido pela sua posição conservadora e pela manifestação das suas opiniões pouco consensuais. 

Pedro Arroja no seu melhor
Alguns exemplos das frases proferidas por Pedro Arroja nos meios de comunicação social são: 
"Elevar mulheres à direção de partidos é enfraquecer o espírito partidário"
In Visão

"Duas mulheres ou dois homens a criarem uma criança geram desequilíbrios. Com duas mulheres tenderá a ser uma atada; com dois homens poderá ser violenta."
"A relação homossexual é um desequilíbrio"

“Eu sou um homem. (…) Tenho pénis, testículos… Não fui eu que os fiz. (…) Posso facilmente imaginar-me a perguntar à minha mãe: “Olha, tu sabes fazer pénis?” e estou a ouvir a resposta da minha mãe: “Oh filho, eu sei lá fazer uma coisa destas!” (…) Ela fez quatro! Mas não sabe fazer pénis!”
[Pedro Arroja garante que se fosse uma criança novamente e pudesse escolher se queria como pais um casal hetero ou homossexual, de mulheres ou homens, escolheria o heterossexual:]
“Porque um homem e uma mulher vão-me ensinar na vida um caminho e um caminho que percorrerei com equilíbrio e com moderação (…) E quanto aos outros? Se tivesse de escolher um dos outros? Eu diria – Seria mau. Ser educado ou por duas mulheres ou por dois homens (…) Mas se tivesse de escolher antes quero ser educado por um casal de duas mulheres do que por dois homens. Porque [com as mulheres] corro o risco de ser um atado (…), mas ali [com dois homens] corro o risco de ser um brutamontes.”
In Porto Canal e artigo de Joana Martins na RTP

E agora o artigo de opinião prometido:

"Fora com os pretos, gays e pénis não moldados por Deus. Obrigado pela clarividência, Pedro Arroja

É de manhã cedo. Saio de casa de axilas bem lavadas (à 4f é dia de axila e amanhã dou um esfreganço nas virilhas e restante área escrotal), dou um pontapé num preto que estava no meu alpendre a fazer uma pausa na lavagem do chão e sigo para a missa a assobiar o “My Dick Is a God’s Masterpiece”, o hit que é faixa número 1 do disco “Now 1647”.

Tudo impecável na missa. Gosto do padre. Ficámos há dias a saber que tinha abusado de uma criancinha, por esta ter feito queixa. O que vale é que ficou tudo tratado num instante, o clero matou a criança, enfiou o corpo numa santa lá da Igreja, e abafou o caso rapidamente.

Saído da missa com os meus valores morais alinhados com o bem da Humanidade, vou ter com o meu grande amigo e tutor Pedro Arroja. Queixo-me que os meus pretos estão a trabalhar pouco e já os tive que obrigar a construir uma prisão dentro da sua própria sanzala. E eles “uma prisão na sanzala é um pleonasmo, Senhor dos Senhores Diogo Faro!” – “Pleonasmo? Que merda é essa? Levas é já 200 chibatadas pa’ te calares!”. Ao contar isto ao grande Arroja, ele pergunta-me: “Os teus pretos estão sempre a fornicar?” – “Sim! Gostam imenso daquilo, parecem pessoas!” – “Logo vi. É por isso que trabalham menos! Vai antes buscar chineses ou romenos. São mais fáceis de domesticar.”.

Vamos então para casa dele onde a inútil da mulher dele - como todas as mulheres, diga-se – está a tentar fazer o almoço que nem uma barata tonta. Lá tem que ser ele a espetar-lhe um par de lambadas para ela se orientar e perceber o caminho para o fogão. É impressionante como há mulheres quase tão inúteis como muçulmanos. O que vale é que as coisas nas Cruzadas estão a correr bem. Ouvi dizer pelo estafeta que veio agora do Norte de África que os nossos cristãos têm andado a dizimar milhões de infiéis. Se ao menos alguém inventasse engenhos que explodissem no meio de multidões, matavam-se às dezenas de cada vez, arrumava-se com essas tentativas de religiões e poupava-se muito tempo e dinheiro! Enfim, talvez daqui a uns séculos…

Preciso de me arrebitar neste dia cinzento. Estou indeciso entre dois espectáculos tradicionais para ir ver agora à tarde com o meu amigo Pedro Arroja que é um grande apreciador de ambos. Não sei se vá ver gays a ser apedrejados, enquanto estão pendurados pelos seus pénis moldados pelo Diabo no pelourinho da cidade, até à morte ou até gritarem que adoram mamas; ou se vá antes ver uma rica tourada e levo também os meus putos a ver o touro esvair-se lentamente em sangue perante a supremacia do Homem.

São ambos educativos, mas o primeiro é mais caro porque, às vezes, os apedrejados além de gays são pretos e os gajos aproveitam para cobrar um bilhete duplo. Escandaloso.

Vou-me decidir entretanto e logo vos conto como correu. Por agora, tenho que voltar ao meu bairro para ver o que se passa: ouvi dizer que está uma gritaria descontrolada algures numa das zonas, acho que é no bloco da esquerda.
Pedro Arroja, um abraço e não te esqueças de escrever no testamento que doas o teu cérebro à ciência. Vai ser giro daqui a 5 ou 6 séculos, lá para século XXI, os cientistas verem como eras brilhante."

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Ex-padre gay não baixa os braços

Esta notícia poderá estar desactualizada, pois foi publicada pelo Observador a 18 de Janeiro de 2017. Independentemente de Krzysztof Charamsa poder estar a tomar atitudes exclusivamente para chocar e para auto-promoção (porque o escândalo vende bem), publico este artigo por me parecer relevante a provocação na sua finalidade de questionar e procurar novas formas, actos e palavras para a Igreja dialogar e incluir a comunidade LGBTQ:

O teólogo gay que foi expulso do Vaticano vai voltar a abanar a Igreja

"Krzysztof Charamsa, antigo padre polaco, assumiu a sua homossexualidade em 2015, numa entrevista onde pediu ao Vaticano que reconhecesse. Agora, promete contar alguns escândalos da Igreja. De novo.
Krzysztof Charamsa, padre polaco de 45 anos, agora suspenso, antigo funcionário do Vaticano, assumiu a sua homossexualidade em 2015, numa entrevista polémica onde pediu ao Vaticano que reconhecesse a sua natureza. Agora, vive em Badalona, Catalunha, com o namorado, Eduard Planas, depois de se ver obrigado a fugir de Roma, conta o El Español.

No meio da mediatização do caso, Charamsa publicou um livro de reflexão, o La prima pietra (“A primeira Pedra”), onde faz uma reflexão provocadora sobre a sua vida. Tempo depois, começou a ser comentador em tertúlias políticas na estação TV3.

Antes de “sair do armário”, Charamsa era um alto funcionário do Vaticano e “deixou todos de boca aberta”, como diz o El Español, quando assumiu a sua homossexualidade perante o mundo. Foi, durante 18 anos, padre em várias congregações, escreveu vários livros e artigos, foi professor de teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana e da Universidade Pontifícia Regina e foi também um oficial da Congregação para a Doutrina da Fé.

A 3 de outubro de 2015 Charamsa decidiu enviar uma carta ao Papa, dizendo que tinha tomado a decisão de rejeitar publicamente a violência da Igreja contra os gays, lésbicas, bissexuais, transexuais. Agora, dedica a sua vida a defender a comunidade LGBT.

Depois do seu livro “A Primeira Pedra”, o teólogo prepara-se para, novamente, lançar um outro livro que é considerado uma “bomba-relógio” para a Igreja.

O El Español juntou algumas das suas reflexões mais “explosivas”:

Seminários homofóbicosAo longo dos séculos, milhares de pessoas com desejos e sentimentos homossexuais têm passado por seminários católicos, doutrinados por uma única ‘verdade’, baseada nos textos paulinos sobre a homossexualidade, que sussurram aos seus ouvidos: ‘odeia os homossexuais, eles estão condenados para todo o sempre e não vão estar connosco no paraíso’. Também eu vivi neste pesadelo: num ambiente fechado, onde só existem homens que, ironicamente, se vestem como mulheres.”
Gays: o malEu sou gay. E sou gay desde que os meus pais me trouxeram à vida. Desejava ser sacerdote e, por isso, deveria ser homofóbico. Antes de mais, estava imbuído do juízo de condenar todos os homossexuais pervertidos: sabia que representavam o mal, um mal que poderia consumir-me. Foi assim que, convencido de que isto era apenas uma confusão de adolescente, me habituei a pensar que o desejo que sentia por homens era uma tendência natural de me querer comparar a eles.”
A masturbação e a igrejaDevíamos questionar os bispos, sacerdotes, diáconos e, até, catequistas, quantas vezes é que eles se masturbam, quantas vezes é que sentem essa tentação, ou quantas vezes pensam nas suas fantasias – mulher ou homem? Ou até uma orgia? – e, até que ponto, é que se tornaram seres assexuados.”

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A Igreja tem de conhecer os católicos LGBT e olhá-los como pessoas

Precisamos construir uma ponte entre a comunidade LGBT e a Igreja Católica. 
(Parte II)

por James Martin, S.J
tradução de José Leote (Rumos Novos)

2) Compaixão. O que significaria para a igreja mostrar compaixão para com os homens e mulheres LGBT? A palavra compaixão significa «experimentar com, ou sofrer com.» Portanto, o que é que significa para a igreja institucional, para a hierarquia, não somente respeitar os/as católicos/as LGBT, mas estar com eles/as, experienciar a vida com eles/as e mesmo sofrer com eles/as?

A primeira coisa e o requesito mais essencial é o escutar. É praticamente impossível experimentar a vida de uma pessoa, ou ser compassivo, se não escutarmos essa pessoa, ou se não fazemos perguntas. As perguntas que os líderes católicos podem colocar aos seus irmãos e irmãs LGBT são: como é a vossa vida? Como foi crescer como rapaz gay ou rapariga lésbica ou pessoa transgénero? Como foi o sofrimento? Quais são as alegrias? E: qual é a sua experiência de Deus? Qual é a sua experiência da igreja? Quais são as suas esperanças, desejos e orações? Para a igreja exercer compaixão, precisamos de escutar.

Os líderes da igreja também precisam de defender os seus irmãos e irmãs LGBT sempre que estes/as são perseguidos/as. Em muitas partes do mundo, as pessoas LGBT sofrem, novamente nas palavras do Catecismo, incidentes terríveis de «discriminação injusta»: preconceito, violência e mesmo homicídio. Nalguns países, pode ser-se preso por ser-se gay ou ter relações com pessoas do mesmo sexo e ser-se assassinado por se ser um líder gay. Nesses países a igreja institucional tem o dever moral de se levantar publicamente em prol dos seus irmãos e irmãs. Lembremo-nos que o catecismo afirma: «qualquer sinal de discriminação injusta» deve ser evitado. Ajudar alguém, defender alguém quando este/a está a ser agredido/a é parte da compaixão. É parte do ser-se discípulo de Jesus Cristo. Se duvidarmos disso, devemos ler a parábola do bom Samaritano (Lc 10, 25-37).

Mais perto de nós, o que é que significaria para a nos Estados Unidos [N.T.: e também em Portugal] dizer, sempre que necessário: «É errado tratar a comunidade LGBT desta forma»? Os líderes católicos publicam regularmente declarações defendendo – como é seu dever – os refugiados e os migrantes, os pobres, os sem-abrigo, os nascituros. Esta é uma forma de estar ao lado das pessoas: colocarmo-nos a caminho, mesmo apanhar por elas.

Porém, onde estão as declarações de apoio aos nossos irmãos e irmãs LGBT? Quando faço esta pergunta, algumas pessoas dizem: «Não se pode comparar aquilo que os refugiados enfrentam com aquilo que as pessoas LGBT enfrentam.» E, enquanto pessoa que trabalhou com refugiados no leste de África, eu sei que isso é verdade. Contudo, é importante não ignorar as taxas altamente desproporcionais de suicídio entre os jovens LGBT e o facto de as pessoas LGBT são as vítimas de proporcionalmente mais crimes de ódio do que outros grupos minoritários no país. No rescaldo do massacre de Orlando, quando a comunidade LGBT por todo o país fazia luto, senti-me entristecido não sentir que mais bispos não tivessem imediatamente manifestado o seu apoio. Claro que alguns o fizeram. Agora, imaginem se os ataques fossem contra, Deus não o permita, uma paróquia metodista. Provavelmente os bispos teriam dito: «Estamos com os nossos irmãos e irmãs metodistas.» Por que isso não aconteceu em Orlando? Pareceu uma espécie de falta de compaixão, uma falha de estar ao lado de e uma falha de sofrer com. Orlando convida-nos todos e todas a refletir sobre isto.

Não precisamos de procurar muito longe um modelo de como fazer isto. Deus fez isto por todos e todas nós – em Jesus. As linhas de abertura do Evangelho de João dizem-nos que «E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco» (Jo 1, 14). O original em grego é mais vívido: O Verbo fez-se carne e «colocou a sua tenda no meio de nós» (eskēnōsen en hēmin). Não é maravilhoso? Deus entrou no nosso mundo para viver entre nós. Foi isto que Jesus fez. Ele viveu connosco. Tomou o nosso partido. Morreu mesmo como nós. Isto é o que a igreja é chamada a fazer com todos os grupos marginalizados, conforme nos lembrou o Papa Francisco, incluindo com os/as católicos/as LGBT: experimentar as suas vidas e sofrer com eles/ elas.

E também alegrar-se com eles e elas! Porque Jesus veio para experimentar todas as nossas vidas, não somente as partes dolorosas. As pessoas LGBT, embora possam sofrer perseguição, partilham as alegrias da condição humana. Também nós poderemos alegrarmo-nos com os nossos irmãos e irmãs LGBT?

3) Delicadeza: Como é que a igreja institucional pode ser «delicada» para com as pessoas LGBT? Essa é uma palavra maravilhosa utilizada pelo catecismo. No dicionário ela é definida como «uma tomada de consciência ou compreensão dos sentimentos da outra pessoa.» Encontra-se relacionada com a interpelação do Papa Francisco de que a igreja seja uma igreja do «encontro» e do «acompanhamento».

Para começar, é quase impossível saber à distância os sentimentos de outra pessoa. Não podemos compreender os sentimentos de uma comunidade, se não conhecemos essa comunidade. Não se pode ser delicado com a comunidade LGBT se somente se publicam documentos sobre ela, se prega sobre ela, ou se tweeta sobre ela, sem a conhecer. Uma das razões pelas quais a igreja lutou com a delicadeza é, na minha opinião, porque muitos líderes da igreja ainda não conhecem muitas pessoas gays ou lésbicas. A tentação é sorrir e dizer que os líderes da igreja conhecem de facto pessoas que são gays: padres e bispos que não saíram do armário em relação à sua homossexualidade. Porém, o meu sublinhado é mais vasto. Muitos líderes da igreja conhecem pessoas LGBT cuja sexualidade é conhecida. Essa falta de familiaridade e amizade significa que é mais difícil ser delicado. Como é que podemos ser delicados com a situação de uma pessoa se não a conhecemos? Portanto, um convite é que a hierarquia os possa conhecer como amigos/as.

O cardeal Christof Schönborn, arcebispo de Viena, lembrou-nos do encontro do Sínodos dos Bispos sobre a família, quando ele falou sobre um casal gay que conhecia e que tinha transformado a sua compreensão em relação às pessoas LGBT. Ele louvou mesmo as uniões entre pessoas do mesmo sexo. O cardeal disse: «Partilham a vida um do outro; partilham as alegrias e os sofrimentos; ajudam-se mutuamente. Temos de reconhecer que estas pessoas fizeram uma caminhada importante para o seu próprio bem e para o bem de outros, ainda que, claro está, esta seja uma situação que a igreja não pode considerar regular.» Ele também anulou a determinação de um padre na sua diocese que proibiu um homem, que vivia numa união do mesmo sexo, de servir num conselho paroquial, ou seja, o cardeal Schönborn esteve ao seu lado. Muito disto veio da sua experiência, conhecimento e amizade em relação às pessoas LGBT. O cardeal Schönborn disse simplesmente: «Temos de acompanhar.»

Nisto, como em todas as coisas, Jesus é o nosso modelo. Sempre que Jesus encontrou pessoas nas margens, ele via não uma categoria, mas uma pessoa. Para que fique claro, não estou a dizer que a comunidade LGBT deva ser, ou deva sentir-se, marginalizada. Em vez disso, eutou a dizer que dentro da igreja muitos deles e delas se sentem marginalizados. São vistos como «outro». Porém, para Jesus não havia «outro».

Jesus via para além das categorias; ele ia de encontro às pessoas onde estas se encontravam e acompanhava-as. No Evangelho de Lucas, quando ele encontra o centurião romano que pede a cura do seu servo, Jesus não disse «Pagão!» Em vez disso, viu um homem em estado de necessidade (Lc 7, 1-10). Mais à frente no Evangelho de Lucas, quando Jesus encontra Zaqueu, o cobrador de impostos chefe de Jericó, que teria igualmente sido considerado o chefe pecador da zona, ele não disse «Pecador!» Em vez disso, ele viu uma pessoa que procurava encontrá-lo (Lc 19, 1-10). Jesus tinha vontade de estar com, estar ao lado de e ser amigo dessas pessoas.

Uma objeção comum neste assunto é dizer-se: «Não, Jesus sempre lhes disse, antes de tudo, para não pecarem!» Portanto, não podemos conhecer pessoas gays porque eles pecam e quando os conhecermos, a primeira coisa que devemos dizer é «Parem de pecar!»

Mas este não é o caminho de Jesus. Na história de Zaqueu, como se lembrarão, Jesus vê primeiramente o cobrador de impostos empoleirado num sicómoro, tentando ver Jesus. Jesus disse que jantaria na casa de Zaqueu, um sinal de acolhimento no séc. I, na Palestina, antes que Zaqueu tenha dito ou feito o que quer que fosse. Depois de Jesus lhe ter oferecido acolhimento é que Zaqueu começa a conversar, prometendo pagar as pessoas a quem tinha defraudado. Do mesmo modo, na história do centurião romano, Jesus não repreende o homem por ser um pagão. Em vez disso, louva a fé do homem e, depois, cura-lhe o servo. Para Jesus, frequentemente, é a comunidade em primeiro lugar e a conversão em segundo.

O Papa fez-se eco disto numa conferência de imprensa recente: «As pessoas devem ser acompanhadas,» disse. «Quando uma pessoa que vive esta situação chega em frente a Jesus, Jesus certamente não dirá: «Vai-te embora porque és homossexual.»

A delicadeza baseia-se no encontro, acompanhamento e amizade. E onde é que isso nos leva? Ao segundo significado da palavra, que é, em linguajar comum, uma maior consciencialização sobre o que pode ofender. Somos «delicados» para com as situações das pessoas e, logo, somos «delicados» em relação a tudo o que possa ofender.

Uma forma de sermos delicados é termos cuidado com a linguagem que utilizamos. Alguns bispos já pediram que se rejeite a frase «objetivamente desordenado» quando se trata de descrever a inclinação homossexual (tal como se encontra no catecismo, N.º 2358). A frase refere-se à orientação, não à pessoa, mas mesmo assim é danosa. Dizer que uma das partes mais profundas de uma pessoa – a parte que recebe e dá amor – é «desordenada» em si é desnecessariamente cruel. Colocar de parte tal linguagem foi discutido no recente Sínodo sobre a família, de acordo com várias notícias publicadas. Mais recentemente, um bispo australiano, Vicent Long Van Nguyen, afirmou: «Não podemos falar acerca da integridade da criação, do amor universal e inclusivo de Deus, enquanto ao mesmo tempo fazemos conluio com as forças de opressão no tratamento errado das minorias raciais, das mulheres e das pessoas homossexuais… Isso não resulta em relação aos jovens, particularmente quando sugerimos tratar as pessoas gays com amor e compaixão, mas definimos a sua sexualidade como «intrinsecamente desordenada.»

Parte da delicadeza é compreender isso.


Publicado em português In Rumos Novos

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Igreja Episcopal Escocesa celebra casamentos entre pessoas do mesmo sexo

Mark Runnacles/Getty Images
Depois de em 2014 ser possível casar pelo registo civil na Escócia, este ano também a Igreja Episcopal Escocesa, a Igreja Anglicana da Escócia, votou pela realização de casamentos gay pela Igreja. O primeiro casamento tem lugar no Outono de 2017. Passo a citar o artigo de Harriet Sherwood, do The Guardian, publicado a 8 de Junho de 2017. O texto será o original, em inglês:

Scottish Episcopal church votes to allow same-sex weddings

"Scottish Anglicans have voted overwhelmingly in favour of allowing same-sex couples to marry in church. The historic move sets the church on a potential collision course with the global Anglican communion and risks fracture within its own ranks.

The vote at the Scottish Episcopal church general synod makes it the first Anglican church in the UK to allow same-sex weddings, with the first ceremony likely to take place this autumn.

The move, which raises the prospect of gay Christians from England, Wales and Northern Ireland heading to Scotland for a church wedding, was hailed by gay rights campaigners.

Canon law was changed to remove a doctrinal clause stating that marriage is between a man and a woman. A new conscience clause allows clergy to opt out of performing same-sex weddings.

The decision invites the possibility of sanctions by the 80 million-strong Anglican communion. Last year, the US Episcopal church was subjected to punitive measures at the end of a four-day meeting of church leaders in Canterbury. They said the US church’s acceptance of same-sex marriage represented “a fundamental departure from the faith and teaching held by the majority of our provinces on the doctrine of marriage”.

Traditionalists insist that a literal reading of the Bible means marriage must be a lifelong union of a man and a woman and that the church must resist changes in social attitudes or cultural pressure.

Minutes after the vote, Gafcon, which represents conservative Anglicans worldwide, named Andy Lines as a new “missionary bishop” for Scotland. The post is intended to offer alternative leadership for traditionalist Anglicans opposed to the synod’s decision.

Lines told a press conference that the church was “not at liberty to tamper with [God’s] words” and that he would offer help and support to those “who wish to maintain the authority of the Bible”.

Jayne Ozanne, a leading campaigner for LGBT rights within the Church of England, said: “I’m thrilled that the Scottish Episcopal church has chosen to take this brave and momentous step in enabling same-sex marriage. This has been done in a graceful and sensitive way, recognising the differing views on how we interpret scripture, and is a model for others to follow.”

Vicky Beeching, another gay rights campaigner, tweeted: “Come on Church of England, we need you to watch & learn from Scotland’s bold step today. Hoping for that change someday soon.”

Archbishop Josiah Idowu-Fearon, secretary general of the Anglican communion, said he expected the decision to be discussed by Anglican primates who are meeting in Canterbury in October. He said: “There are differing views about same-sex marriage within the Anglican communion, but this puts the Scottish Episcopal church at odds with the majority stance that marriage is the lifelong union of a man and a woman. This is a departure from the faith and teaching upheld by the overwhelming majority of Anglican provinces on the doctrine of marriage.”

A spokesperson for the Church of England said the decision was a matter for the Scottish Episcopal church: “The Church of England is unable by law to marry couples of the same sex and the teaching of the Church of England remains unchanged. However, this is a matter on which there is real and profound disagreement in the Church of England.”

The change to canon 31 on the solemnisation of holy matrimony that was agreed by the Scottish Episcopal church required a two-thirds majority in each section of the synod, the bishops, clergy and laity. The bishops and laity voted 80% in favour, the clergy at 67%.

It removed a clause saying marriage was “a physical, spiritual and mystical union of one man and one woman … and is a holy and lifelong estate instituted by God”.

The new clause says: “In the light of the fact that there are differing understandings of the nature of marriage in this church, no cleric of this church shall be obliged to conduct any marriage against their conscience.”

Draft guidelines on the new canon produced by bishops before the vote acknowledged that the issue of same-sex marriage was “one of deep distress”.

The new position “does not alter the fact that within the church there remains a range of views on marriage”. The revised canon “permits those clergy who, on the grounds of conscience, wish to conduct the marriages of same-sex couples, to seek nomination to do so; it also allows that there will be those who, on the grounds of conscience, will not seek such nomination.”

Church employees and volunteers, such as vergers, organists, choristers and flower arrangers, should be allowed to exercise their conscience and decline to participate in same-sex weddings.

Proposing the change, John Armes, the bishop of Edinburgh, told the synod: “No one is being asked to change their theology of marriage.” The new canon was an official recognition of a diversity of viewpoints, he said. “It is permissive, not directive.”

Ian Ferguson, of Aberdeen and Orkney, the only Scottish diocese to oppose the change during consultations over the past year, said: “This is one of the saddest and most painful days for us … We are broken. This schismatic move … will cause serious harm to our unity.” Members of the church “may seek alternative episcopal oversight”, he said.

Same-sex marriage was legalised in Scotland in 2014."


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quinta-feira, 11 de maio de 2017

Conceitos LGBTI: Heterofobia, Heterossexual, Heterossexismo, Homofobia, Homofobia Internalizada, Homossexual e HSH

Glossário LGBTI: letra H

Reconhecendo as minhas próprias limitações relativas a alguns conceitos utilizados ao falar de questões ligadas à comunidade LGBTI, resolvi partilhar com os leitores do blogue um glossário dos termos mais recorrentes. Esta publicação será faseada e é baseada numa publicação do site da rede ex aequo

"Conscientes dos efeitos de estereotipização e da tentativa de normalização, não se pretende com este glossário contribuir ainda mais para o aumento dessa problemática. Pretendemos apenas clarificar alguns conceitos básicos para que possamos todos/as falar a mesma língua.

Heterofobia – consiste nas reações de medo e de ódio tidas por pessoas homossexuais em relação a pessoas heterossexuais.

Heterossexual – pessoa que se sente atraída física, emocional e psicologicamente por pessoas de sexo diferente do seu.

Heterossexismo – é o pressuposto social de que todos/as são heterossexuais e que a heterossexualidade é de alguma forma superior à homossexualidade. Heterossexismo é um termo mais abrangente que a homofobia, já que este último remete imediatamente para a noção de fobia. O heterossexismo está presente em frases como: “ela enlouquece qualquer homem” ou “ele é o marido de sonho para todas as mulheres”, frases que partem do pressuposto de que a heterossexualidade é a única orientação que existe ou que importa.

Homofobia – termo usado pela primeira vez pelo psicólogo George Weinberg num livro seu intitulado A Sociedade e o Homossexual Saudável (1972), em que se refere à homofobia como sendo medo irrealista ou irracional ou como uma aversão à homossexualidade e/ou a pessoas homossexuais. A homofobia é uma doença social que se tem vindo a prolongar devido aos estereótipos negativos e aos conceitos errados associados geralmente à homossexualidade. A homofobia pode levar ao ódio, à discriminação e à violência contra homossexuais e bissexuais.

Homofobia internalizada – acontece quando alguém faz comentários homofóbicos em relação a si próprio/a ou à homossexualidade em geral. Tendo em conta que muitas pessoas na sociedade ainda vêem a homossexualidade como algo pervertido, sujo e anormal, uma pessoa com homofobia internalizada vai interiorizar e dirigir essa homofobia para si própria acreditando que é alguém pervertido/a, sujo/a ou defeituoso/a. Isto leva a sentimentos complexos e pode ter um grande impacto na autoestima, podendo provocar depressões e ansiedade. Há pessoas que se autoinfligem ou chegam mesmo a tentar o suicídio como resultado da homofobia internalizada.

Homossexual – pessoa que se sente atraída fisicamente, emocionalmente e psicologicamente por uma pessoa do mesmo sexo."

HSH - Sigla que resume "Homens que têm Sexo com Homens", referindo-se a pessoas do sexo masculino que, frequente ou esporadicamente, têm actividade sexual com pessoas do sexo masculino. HSH deriva do original inglês "Men Who Have Sex With Men" (MSM) e a expressão pretende integrar não só homens homossexuais e bissexuais, mas também homens que, apesar de não se identificarem com estas "categorias", têm ou já tiveram sexo com homens. De forma semelhante HSM significa Homens que têm sexo com mulheres.

terça-feira, 18 de abril de 2017

A homossexualidade e a Rússia

Noutro artigo do Público é-nos apresentada uma análise sobre a forma como a homossexualidade é encarada na Rússia. Por Clara Barata:

Na Rússia, a homossexualidade é só um acto e as pessoas podem ser castigadas ou curadas

Os Jogos Olímpicos de Sochi fizeram explodir os protestos por causa da discriminação dos gays russos. Mas esta é uma história com raízes profundas

Na Rússia, a rejeição da homossexualidade é uma coisa séria. A lei que torna crime a “propaganda da homossexualidade” junto de menores não é apenas uma ideia do Presidente Vladimir Putin — é realmente apoiada pela população.

Segundo uma sondagem do Instituto Pew de Junho do ano passado, quando foi publicada esta lei, apenas 16% dos russos considera que a homossexualidade deve ser aceite pela sociedade. Em 2007 eram 20%, pelo que a Rússia está a tornar-se ainda mais intolerante.

Estes dados não surpreendem Laurie Lessig, professora de Sociologia e Género, Sexualidade e Estudos Feministas na Universidade de Middlebury, no estado de Vermont (Estados Unidos da América), que entre as décadas 1980 e 1990 viveu na Rússia e fez trabalho de campo a investigar a comunidade gay na União Soviética — que então se estava a desagregar. “Será preciso muito mais do que boicotes e estrelas da pop para tornar este país mais tolerante. A Rússia tem uma história da sexualidade muito diferente da do Ocidente, e o que se passa hoje é o resultado dessa história”, afirmou.

A Rússia está a ser alvo de uma intensa campanha motivada pela lei que pune com uma multa que pode ir até 10.600 euros e com penas de prisão quem faça “propaganda homossexual” — embora sem definir o que seja essa propaganda. A investigadora norte-americana, que escreveu um livro publicado em 1999 sobre o seu trabalho na Rússia — Queer in Russia: A Story of Sex, Self, and the Other — falou com o PÚBLICO sobre a forma como a Rússia encara a homossexualidade: como meros actos, que podem ser criminalizados ou tratados.

É surpreendente que as sondagens mostrem que a lei que criminaliza a “propaganda gay” junto de menores seja apoiada por mais de 80% da população russa. Por que é que a Rússia não se aproximou mais do Ocidente nas suas atitudes em relação à sexualidade?É importante compreender que a Rússia tem uma história da sexualidade diferente da do Ocidente. Como escreveu [o filósofo] Michel Foucault, no Ocidente nasce-se homossexual. Na Rússia, os actos homossexuais sempre foram considerados apenas verbos — nunca se transformaram em substantivos, em espécies sexuais, o homossexual e o heterossexual. Isto é potencialmente negativo: se os actos sexuais são apenas acções, então as pessoas podem ser castigadas ou curadas. De 1934 a 1993, os homens podiam ser enviados para campos de trabalho por fazerem sexo com outros homens e as mulheres eram muitas vezes internadas em hospitais psiquiátricos por desejarem outras mulheres.

Nos tempos soviéticos, a homossexualidade era tratada como a tuberculose — atravessava as fronteiras, vinda do Ocidente burguês, e podia infectar qualquer um. Qualquer pessoa mesmo. Esta visão da sexualidade reduzida a meros actos sexuais criava uma atmosfera em que qualquer um podia sentir-se atraído por alguém do mesmo sexo. Não te tornarias homossexual ou heterossexual por causa das relações sexuais que tivesses — isso humanizava as pessoas, dava-lhes uma certa dose de liberdade, em especial após a queda da União Soviética, quando as grandes cidades russas fervilhavam de possibilidades queer [gays, lésbicas, bissexuais, transgénero], de activismo e artísticas.

Os cientistas e os profissionais de medicina russos não tentam contrariar esta visão discriminatória da homossexualidade como doença ou crime?Mas esta pode não ser a melhor maneira de combater este preconceito.

Há muitos psicólogos, sociólogos e antropólogos que estão a trabalhar para combater esta ideia de “contágio gay”. Mas será esta a melhor maneira de combater este preconceito? Na América, uma coisa tão complexa como o desejo foi reduzida ao conceito “nasci assim”. Isto parece uma simplificação absoluta para muitos cientistas russos (e americanos), que fazem uma análise mais profunda, olham para os registos antropológicos e históricos e defendem que o sexo é algo bastante mais complicado.

Os cientistas russos devem investir na noção de os gays simplesmente nasceram assim? Talvez, mas não tenho a certeza de que isso poderá proteger os gays na Rússia. Afinal de contas, outros grupos que também “nasceram assim” – como as minorias raciais e os judeus – também são alvo de discriminação. Mas talvez insistir na ideia de que os gaysnascem assim possa diminuir o pânico em relação aos homossexuais, reduzir o pânico de que a homossexualidade seja infecciosa. Acredito que há muitas pessoas a trabalhar no duro para contrariar este pânico – académicos, activistas, jornalistas. O que eu não acredito é que devam ser os académicos americanos a dizer-lhes o que devem fazer.

Os direitos das minorias sexuais existe como tema da agenda política? A oposição pega nele?Sim, mas não no Parlamento, que votou unanimemente a lei sobre a propaganda
gay. Mas há inúmeros grupos de defesa dos direitos humanos e dos direitos dos homossexuais que lutam contra esta forma de discriminação. Infelizmente, os media são quase completamente controlados pelo Governo e dizer alguma coisa sobre a homossexualidade pode resultar em ser multado por quebrar a lei. Portanto, se não houver uma imprensa livre na Rússia, estes grupos nunca conseguirão mobilizar muita gente.

A comunidade gay na Rússia já começou de facto a organizar-se, apesar de todas estas dificuldades?Há organizações gay, mas têm uma eficácia limitada, porque não há uma imprensa livre, e não existe o direito à livre manifestação. Além disso, alguns líderes da comunidade gay tentaram mostrar-se como “russos autênticos”, manifestando um perturbante anti-semitismo. Outros, no entanto, estão a fazer alianças com organizações que defendem judeus e povos da Ásia Central – se se unirem, os que são considerados “poluição estrangeira” podem conseguir muito mais do que se trabalharem sozinhos.

O fenómeno dos ataques violentos contra homossexuais colocados online por um grupo que se identifica como Occupy Pedophilia, que parecem ser neonazis, é algo de novo, ou é apenas um novo rosto de uma violência que já existia em tempos soviéticos?
Nos tempos da União Soviética havia os
remontniki, os “reparadores”, que andavam de carro à procura de pessoas que pareciam homossexuais ou punks, ou de alguma forma uma ameaça à pureza russa, nos quais pudessem bater. Estes Occupy Pedophilia são apenas a versão destes remontniki da Idade da Internet. Tal como no tempo dos sovietes, as autoridades ignoram esta forma de vigilantismo, desde que isso sirva os seus interesses – que é manter a população receosa e sob controlo.

Tortura e morte na Chechénia: os gays na mira

O Público dá-nos conta das atrocidades que perduram na Chechénia. Uma reportagem de Mário Lopes a 14 de Abril de 2017

Presos, torturados, mortos: a perseguição em massa dos gays tchetchenos

Uma reportagem num jornal russo denunciou aquilo que testemunhos e informações recolhidas por organizações de defesa dos direitos já indicavam: as autoridades tchetchenas estão a deter ilegalmente centenas de homens em toda a república. De que são culpados? Da sua orientação sexual.

A Chechénia continua a contar com uma forte presença militar russa desde as duas guerras que opuseram Moscovo aos separatistas do Cáucaso. 

***

Atraídos para emboscadas, presos ilegalmente pela polícia, torturados durante dias, quando não assassinados. Obrigados a denunciar amigos e conhecidos, chantageados pelas autoridades, ameaçados pelas próprias famílias. Há vários anos que associações de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch, ou a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA), vêm alertando para a violenta discriminação de que são alvo os gays tchetchenos. Aquilo que denuncia uma reportagem publicada recentemente no diário russo Nóvaya Gazeta mostra que discriminação é expressão insuficiente para descrever o que se passa na pequena república do Cáucaso, integrante da Federação Russa.

Segundo o artigo, está neste momento a ser levada a cabo uma verdadeira purga da comunidade gay da república, com a polícia a deter centenas de homens em centros prisionais onde são mantidos em condições desumanas e torturados para denunciar aqueles, entre os seus conhecidos, que tenham a mesma orientação sexual. Apesar de não haver confirmação do denunciado pelo Nóvaya Gazeta por parte de fontes independentes, a Human Rights Watch russa já confirmou que o relatado coincide com informações e testemunhos que a associação recolheu no terreno. Segundo o diário, há três mortes confirmadas, mas suspeita-se que o número possa ser muito superior, tendo em conta a impossibilidade de recolher dados, quer junto às autoridades, quer junto das vítimas de perseguição que evitam contactar entre si devido ao controlo apertado que o estado tchetcheno faz a todo o tipo de comunicações.

A União Europeia e o Departamento de Estado dos Estados Unidos exortaram a Rússia a investigar o caso. “É indispensável levar a cabo investigações eficazes e exaustivas sobre as informações de sequestros e assassinatos de homossexuais na república da Tchetchénia no Cáucaso”, defendeu em comunicado Federica Mogherini, alta representante para a política externa da União Europeia. A Rússia, cujo Governo se tem mostrado particularmente activo internamente na supressão dos direitos dos homossexuais, negou ter conhecimento de quaisquer perseguições.

A reportagem do Nóvaya Gazeta foi elaborada com recurso a fontes internas das autoridades tchetchenas e ao depoimento de homens presos em várias cidades que, após a detenção pelas autoridades, conseguiram escapar da república. Na Tchetchénia, região de maioria muçulmana, extremamente conservadora e onde a homofobia é a norma, os gays vivem numa quase total invisibilidade. Além de lidar com a hostilidade das autoridades, têm muitas vezes contra si a própria família.

Na Tchetchénia, ter um familiar homossexual é considerado pela maioria da população como uma desonra para toda a família e o chamado crime de honra surge como a forma de limpar o seu bom nome. Daí a maioria dos gays tchetchenos serem obrigados a viver vidas duplas, casados de forma tradicional e escondendo de toda a família a sua orientação sexual. Daí que as autoridades tchetchenas, república liderada por Ramzan Kadyrov, tenham negado qualquer tipo de perseguição. Para o regime, tal é, muito simplesmente, uma impossibilidade. “Não se pode deter e perseguir pessoas que, muito simplesmente, não existem na república”, declarou o porta-voz de Kadyrov à agência noticiosa Interfax, acrescentando que, “se houvesse pessoas assim na Tchetchénia, os órgãos responsáveis pelo cumprimento da lei não precisariam de fazer nada, porque os seus familiares iriam enviá-las para um sítio de onde não é possível regressar”.

Uma reportagem do Guardian publicada esta quinta-feira recolhe depoimentos de duas vítimas da perseguição em curso na Tchetchénia. Um dos homens que acederam falar sob anonimato com o jornal britânico conta como foi atraído para uma cilada por um amigo chantageado pela polícia. Quando chegou ao local onde combinara o encontro, esperavam-no seis pessoas, algumas em uniforme. Levado para um centro de detenção, passou dez dias a ser espancado e torturado pela polícia com choques eléctricos. Por vezes, eram levados à sua presença outros prisioneiros, que os guardas, anunciando-lhes que estavam na presença de um gay, incitavam a agredi-lo.

Outro detido entrevistado pelo Guardian conta como foi obrigado a fazer pagamentos regulares à polícia, que o chantageava com a ameaça de divulgar na Internet e junto da sua família a sua orientação sexual. Quando aquilo que está a ser descrito como uma perseguição em massa teve início, encontrava-se fora da Tchetchénia. Recebeu um telefonema da família, que estava acompanhada pela polícia tchetchena. Esta exigia-lhe que regressasse, caso contrário, manteriam refém um membro da sua família. Entre insultos, um dos familiares exigiu-lhe que regressasse imediatamente. Prometeu que o faria, mas não o fez. No dia seguinte, estava a caminho de Moscovo. “Não tenho a mínima dúvida que os meus próprios familiares planeavam matar-me. Era o convite para uma execução”, diz.

Apesar de todo o historial de homofobia e da perspectiva de atravessar a vida reprimido, confessa aos repórteres que nunca imaginou ver-se nesta situação: “Só queria fazer a minha mãe feliz e orgulhosa. Estava preparado para me casar. Teria levado todos estes problemas comigo para a sepultura. Nunca imaginei nos meus piores pesadelos que estaria aqui em frente a um jornalista a dizer: ‘Sou tchetcheno e sou gay’”.

terça-feira, 14 de março de 2017

Uma história de bullying

Partilho este texto de Leonardo Rodrigues, escrito na primeira pessoa, por abordar um assunto que ressoa em muitos de nós:

Quando foi comigo, o paneleiro

Existem dias em que com muita esperança, talvez presunção, penso "já passou", que, enquanto adulto, está tudo bem, que não voltarei a sentir isolamento, que não vou olhar o mundo e pensar que está contra mim e que já fiz o percurso que tinha de ser feito. Está mais perto, mas sair do armário, como lhe chamam, faz apenas parte do início da caminhada.

Há muito que queria escrever este post e dizia-me não ter as palavras certas, quando na realidade não existem palavras certas para dizer que enquanto crescia, algumas pessoas, motivadas pelo que outras lhes incutiram como sendo certo, me fizeram sentir errado, sujo, mau, feio, vergonha. Sem que ainda soubesse àquilo a que se referiam ou quem era.

Amigos que se mantêm próximos não têm memória. Quem me infligiu dor física e psicológica talvez também não. Eu sim, e agora estou em condições de partilhá-la. É um exercício duro deixar-me guiar pelas memórias que não quero lembrar e sentimentos que não quero sentir, mas é isso que faço convosco hoje. Porque este blog é sobre mim, as coisas boas e más, e o que aprendo com elas. Porque este blog, seja de que forma for, é para outros lerem.

O bullying começou na mesma altura em que me apercebi que era diferente, tinha eu uns oito anos. Diferente, aos oito, era tudo o que sabia. Não conhecia palavras para associar à diferença. Não sabia que parte da minha família e comunidade me viam como algo de mau, a precisar de tratamento ou de morrer, como cheguei a ouvir.

Antes de sequer ousar expor o que pulsava cá dentro tudo mudou. O meu melhor amigo passou a chamar-me várias coisas menos Leonardo. Paneleiro e "escabaçado" - seja lá isto o que for - eram as mais constantes. Não sabia o que era, mas já mo apontavam, pejorativamente. Ser isso, "padecer" disso, era mau. Essa palavra, nova no meu vocabulário, tinha muito poder - para todos menos para mim: fazia com que me batessem nos intervalos, com que não pudesse usar o computador nas aulas de informática e que cascas de fruta voassem para a minha sopa.

Lembro-me dum episódio em particular, estávamos no intervalo, enquanto um colega me agarrava, outro apertava o pescoço e outro dava pontapés. Gritei o mais alto que pude olhando para alguém responsável, que me devolvia o olhar sem nada fazer. Talvez porque "éramos só crianças a brincar". Aí entendi que quem me poderia proteger não o ia fazer, que estava por minha conta e passei a ter medo do que era o meu lugar favorito, a escola.

A vergonha e o medo manifestavam-se, além das lágrimas, numa dor de cabeça, acompanhada de um formigueiro. Não tinha apetite e implorava que me deixassem ficar em casa. A minha mãe esforçou-se para entender. Como é que alguém que sempre quis estar na fila da frente, com excelentes a tudo e amigos de repente não quer sair de casa? Também ao psicólogo senti que precisava mentir. Quando contei parte do que acontecia foi pior. Mentir deu-me um conceito ridículo de proteção: calar para apanhar menos.

Éramos, sim, crianças. Mas há algo que todos precisamos compreender: as crianças são uma tábua rasa. Se o que lá for escrito for mau, elas irão agir de acordo com isso. Se lhes ensinam violência elas vão perpetuá-la. Se lhes ensinam a odiar é ódio que vão sentir. Da mesma forma que, quando envolvidas em amor e respeito, o reproduzem infinitamente, da forma bonita como só elas sabem.

No 5º ano, como íamos para escolas diferentes, achei que tudo ia mudar. Os primeiros meses foram fantásticos, conhecimentos e amigos novos, vida nova. Mas claro que "isto" me iria sempre apanhar, fosse como fosse. Uma professora para me mandar calar, a mim e a um amigo, disse para pararmos de estar aos beijinhos. Ainda hoje não entendo. Só beijei um rapaz pela primeira vez aos 18. Num meio pequeno, numa escola, não importa que não fosse verdade. Comentou-se fora da sala e tudo mudou novamente, durante anos. Estava marcado por uma suposta demonstração de afeto.

Achei que a história se iria embora, como as notícias vão, mas não. Os dias de medo regressaram, mas agora ia lidar com muitos mais, de todas as idades, numa escola grande, onde achavam por bem bater e insultar por algo que ainda não compreendia. As dores de cabeça e o formigueiro voltaram. Tomei as medidas possíveis: sentar-me no início do autocarro - os machos curiosamente preferem a parte de trás; deixei de entrar na escola pela entrada principal e ia sempre por detrás dos pavilhões. Havia menos pessoas, parecia mais seguro. Parei de comer na cantina, situações menos boas ocorriam lá. Isso não foi suficiente. Durante anos que não foi.

Na escola faziam sempre festas no final do período e ocasiões especiais. Numa dessas, atiraram-me papéis durante todo o evento. Deixei de ir às festas. Num dos cortejos de carnaval atiraram-me pedras. Deixei de estar presente. Os intervalos eram oportunos para essas coisas, então comecei a ficar dentro dos pavilhões.

Comecei também a riscar os dias num calendário que guardava na carteira. Contava as faltas que podia dar, os dias piores, os feriados, os fins de semana. Sozinho.

Acho que até aos 12 todas as manhãs acordava na expetactiva de ter mudado, mas bastava-me chegar à escola para olhar para um rapaz e saber que era um olhar diferente. Achei que não podia ser amado se fosse assim. Cheguei ao ponto de rezar para que se fosse embora, mesmo já não acreditando num deus que cria alguém de uma forma e depois castiga. Não foi embora, não podia, nem tinha.

Há um outro episódio antes do secundário que me marcou. Abriu um bar na terriola e fui sair à noite pela primeira vez com os meus amigos. Um rapaz "popular" agarrou-me, apalpou-me e disse-me coisas terríveis. Hoje, embora racionalmente saiba que está tudo bem, sair à noite e pensar em sair causam-me ansiedade.

As aulas de educação física eram as piores. É cliché, mas era péssimo em futebol. Os rapazes tinham que jogar futebol. Um rapaz que preferisse jogar volley não podia, uma rapariga que quisesse jogar futebol podia. O professor que tive durante anos, assumidamente homofóbico, tinha uma metodologia de ensino peculiar: "joguem futebol"; beliscar as raparigas, olhar-lhes para o rabo e conversar com os favoritos. Havia uma certa discriminação na avaliação. Estudava e sabia as matérias, tanto para história como para educação física. Curiosamente, a história tinha 19 e a educação física chegar à positiva era complicado. Na parte prática, uma rapariga pior tinha 15, eu nunca mais do que 14.

Aos 18 anos, a fazer algo que de forma simples se chama terapia disse pela primeira vez que era gay. A sessão demorou 3 horas porque só após chorar durante este tempo, depois de me ter sido servido um gin e um whiskey - sim isto aconteceu mesmo - é que consegui abanar a cabeça. Demorei tanto tempo porque achava que me iria querer suicidar, que não aguentaria a vergonha se alguém soubesse. Em vez disso fui recebido com um sorriso e um abraço. 

Não sei bem o que tem de ser feito, mas o problema é muito profundo. As "vítimas" nem sempre denunciam, e por vezes suicidam-se. Na ausência de uma denúncia por parte da vítima, poderiam ser os colegas. Os colegas por vezes "não vêem", não têm de ser homofóbicos, racistas e afins, podem só ter medo. É difícil ir contra os estabelecido. Resta-nos os professores, mas esses conseguem ser piores. Parece popularucho ou demasiado português dizer isto, mas é verdade.

Quando via pessoas na minha situação e não conseguia fazer nada, sentia-me impotente. Por vezes até tentava gozar, acho que era homofóbico. Falei há uns tempos com um colega que passou algo semelhante na escola e lamentei não ter sido capaz de intervir. Ele disse que não importava e até me confessou que fui das primeiras "crushes" dele. Saber isso foi emocionante para mim. Numa altura em que eu tinha repulsa de mim, havia alguém que reparava. Há sempre alguém.

Nem sempre estive consciente, mas hoje sei que gosto muito de mim. As feridas são quase cicatrizes porque tenho vindo a entender que não seria quem sou sem um passado. E, ser gay não faz de mim menos homem nem é tudo o que sou. Até as emoções menos boas levaram-me a olhar as coisas com outros olhos e aguçou-me o sentido de humor. A honestidade só trouxe vantagens. Não só me permitiu manter as minhas amizades, como possibilitou que as mesmas se fortalecessem e multiplicassem. Permitiu-me amar e ser amado, construir algo com alguém. Permitiu-me ser livre.

A vida é cada vez mais plena porque tenho deixado que permaneça em mim um "e se?", porque me deixei guiar pela imaginação, por curiosidade relativamente a outras vidas. Espero que quem leia, independentemente da vida, cor, peso, ou orientação sexual, se pergunte, com vista ao futuro "e se?" e veja todas as combinações possíveis.

Ler em Leonismos

domingo, 12 de março de 2017

Um coro de Igreja junta a voz pelo seu maestro gay

Basta!!

Um artigo no Observador chamou-nos a atenção. Abaixo os nossos leitores poderão ler na íntegra o artigo.

Gostaríamos que o facto de um cristão ser gay nunca fosse um factor de exclusão. Acreditamos que o afastamento de bons cristãos de condição homossexual não é um fruto da caridade nem vai de encontro aos valores pregados no Evangelho. Bem pelo contrário, essas atitudes são alarmantes sinais de incoerência, de desamor, de um coração de pedra longe dos valores palpitantes e vivificantes que Jesus nos revela ao longo do seu ministério.

Gostaríamos de dizer ao João Maria e a quem de uma forma ou de outra se vai sentindo pouco amado pela Igreja - ou por alguns dos seus ministros ou fiéis - que, na medida das nossas possibilidades, estamos aqui de mão estendida, leigos, homossexuais, cristãos como vocês, e acreditamos que a Igreja tem uma palavra de amor para cada ser humano.

Aqui segue o artigo:
A revolta de um Coro de Igreja

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Austrália contra a Lgbtfobia

Um sinal de esperança: há Estados que se preocupam com a educação contra as "fobias"

Em 2012 o Ministro da Saúde lançou na televisão australiana dois vídeos para combater a homofobia.

Até aqui, apesar do reconhecimento da devida intervenção do estado, nada demais. A excepcional diferença, digna de registo, fica por conta do conteúdo:

Os vídeos denunciam a existência da prática velada de homofobia presente nas escolas, clubes desportivos, locais de trabalho e outros lugares públicos. A campanha centra-se na necessidade de haver uma resposta não só de quem sofre a homofobia como também daqueles que a testemunham.

Segundo o Ministro da Saúde, Maria Wooldridge, o desafio é que todos possam entender que têm responsabilidade de agir contra a discriminação motivada pela homofobia.

A página em http://www.notohomophobia.com.au informa o comum cidadão, ajuda-o a encontrar apoio e a agir, contendo toda a informação relevante, recursos e contactos num mesmo lugar.

A Porta-voz, Anna Brown, afirma: "Toda a gente concorda que não há lugar para o racismo ou para o sexismo na Austrália moderna. A homofobia, bifobia e a transfobia não são diferentes. O assédio homofóbico não é aceitável e é muitas vezes ilegal. Precisamos parar o assédio e os danos que causam aos nossos amigos, membros da nossa família e vizinhos."

Veja aqui o vídeo

adaptado por rioazur de carlosalexlima

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

domingo, 27 de outubro de 2013

Carta a um leitor anónimo e solitário

No ano passado recebi um e-mail de um leitor que terá criado uma conta com nome fictício para se sentir mais confortável e mais protegido. Demorei algumas semanas a responder e, quando o fiz, o mail nunca foi entregue - provavelmente a conta foi fechada. Mas como penso que a história contada (fictícia mas com muitos traços de realidade) e a resposta dada possa ser útil a algum leitor, tomo a liberdade de as transcrever para o corpo desta mensagem de moradasdedeus:

Mensagem recebida de um leitor gay católico não assumido

Olá! Estive a fazer umas pesquisas na internet e descobri o teu blogue, que me chamou a atenção.

Confesso que não li muitos posts (até porque eram grandes) mas o que me me fez escrever este e-mail foi a vontade de ouvir e ter contacto com alguém que vai perceber o sofrimento enorme que tenho sentido!

Eu também sou gay (não assumido) e católico. Tenho 25 anos e sou formado em Direito.
Nasci numa família extremamente conservadora (de quem gosto muito) e a maior parte dos meus amigos - ou pelo menos aqueles com quem tenho amizades mais profundas - também são católicos activos e empenhados. 

A minha experiência de fé está muito ligada à espiritualidade Inaciana (aos Jesuítas) que, dentro da Igreja, acabam por ser bastante abertos. Ainda assim, e apesar de me ter sentido sempre acolhido pelos padres com quem falei, estou numa tristeza enorme por ser gay. Sinto-me completamente inferiorizado, tenho pena de ser assim e, no fundo, adorava ter uma família e filhos.

Ultimamente, por sugestão do meu orientador espiritual, tenho procurado, em oração contemplar o olhar amoroso de Deus para mim, gay... E não consigo. Sinto que este é um ponto na minha vida que correu mal. Que deu para o torto. E Deus, que me ama no todo, não ama especificamente essa minha vertente. Eu sei que isto não faz muito sentido. O padre que me orienta até se esforça por me convencer que não existe qualquer fundamento para isso mas eu não consigo avançar na oração.

Também em casa e entre os amigos me sinto sempre inferior. Fico completamente destruído pelas piadas homofóbicas e fico de rastos com a possibilidade de haver suspeitas de que eu sou gay. Este ano especificamente, em que muitos dos meus amigos se vão casar, cada vez que os vejo juntos e felizes fico ainda mais triste com a minha solidão (embora fique feliz por eles).

Por outro lado, não me identifico nada com o mundo gay... as paradas e desfiles, as noites de engate, as bichas histéricas, etc. "A minha cena" é diferente. Acredito em compromisso, em relações profundas e difíceis. Acredito no verdadeiro amor, no que dá trabalho, no que pede investimento e entrega.

Ponto de situação - sinto-me completamente só! Parece que tenho um ácido que me vai destruindo. Tenho imensa pena de não ter uma doença grave, que me faça durar pouco. Ou então de não ter coragem (e pouco respeito pela vida) para me poder suicidar.

Enfim...
Não sei muito bem porque é que te estou a escrever. A verdade é que dificilmente me poderás ajudar, tanto mais que nem me conheces. De qualquer maneira, se tiveres tempo e vontade responde.
Um abraço.

P.S. - Desculpa mas toda a minha identificação é fictícia. Criei este e-mail para poder expressar livremente a minha condição.

Resposta ao leitor

Olá!
Aproveito estes momentos mais tranquilos para responder calmamente ao teu mail.

Antes de mais quero dizer-te que fico muito feliz por teres chegado ao blogue e ainda mais feliz por teres encontrado a coragem de escrever a mensagem. Sinto-me muito privilegiado quando vejo que, de alguma forma, o blogue vai cumprindo a sua primeira vocação: o ser útil a alguém e fazer com que esse alguém compreenda que não está só e não é um caso isolado. E, por essa razão, quero reafirmar-te a minha disponibilidade para te escutar e, se quiseres, para partilhar contigo a minha experiência pessoal e a minha experiência enquanto pessoa que já conheceu muita gente que vive um conflito interior entre a sua condição (homossexual) e a sua fé ou educação, que é muito doloroso e até pode ser muito destrutivo.

O blogue já tem algum tempo, e comecei-o depois de aceitar plenamente a minha homossexualidade e de ter falado com os meus pais e algumas pessoas que me eram mais próximas. Tenho a sorte de ter uma fé bem alicerçada e de ter trabalhado com relativa facilidade o possível conflito entre a minha orientação sexual e a religião. Outras questões foram bem mais morosas e difíceis. Mas não me quero desviar do teu mail. Estava a falar-te do blogue. É verdade que alguns posts são grandes, e não te aconselho a ler o blogue de fio a pavio. Mas quando tiveres questões ou assuntos que te interessem de um modo particular, no fim da primeira página tens uma série de palavras-chave, que te podem conduzir mais directamente ao tema do teu interesse. Outra forma é ires ao historial do blogue e escolheres pelos títulos.

Adiante.
Falaste-me da tua família, dos teus amigos, da espiritualidade com que te identificas mais. Deixa-me dizer-te que tens sorte por teres uma família que amas, e nada disso vai mudar, independentemente do futuro. E tens sorte também por te identificares com a espiritualidade inaciana, que é uma lufada de ar fresco no mofo da Igreja em Portugal (ainda muito conservadora e hierarquizada). Os Jesuítas são homens muito abertos à sociedade onde vivem. São pessoas habituadas a escutar e a ir ao encontro das pessoas e são pessoas normalmente inteligentes e com espírito crítico, sem grandes preconceitos e sem medos (o conhecimento normalmente afasta o receio cego). Tens um director espiritual que te escuta, e isso é extraordinário. É frequente haver directores espirituais que são um pouco manipuladores, e o teu não parece ser. Escolheste ter um director espiritual: se estás contente com o "trabalho" que estão a fazer em conjunto, aconselho-te vivamente a confiares nele.

Quanto à tua tristeza, posso compreendê-la perfeitamente: quem não desejaria ser heterossexual, quem não desejaria ter uma vida mais fácil, uma relação mais socialmente integrada e aceite? Sobretudo quando se deseja ter uma família e filhos...

Também eu passei anos a negar, a querer construir algo que no meu íntimo sabia não ser capaz de construir... Mas sabes, agora já não me sinto tão triste. Não pelo facto de ser gay; às vezes sim pela dificuldade de encontrar alguém com quem possa construir uma relação duradoira. Ou até pela dificuldade de encontrar alguém de uma forma natural e de me apaixonar assim (apesar de não ter nada contra quem conheça pessoas pela net, continuo a acreditar que prefiro apaixonar-me por alguém que conheça na minha vida quotidiana).

Quanto ao descobrires o olhar amoroso de Deus, a mim também me parece fundamental. Achas que se Deus não te quisesse como és, tinha-te feito gay? Acreditas mesmo que Deus se anda a enganar ou a fazer experiências falhadas? Não, a tua vida não deu para o torto, nem vai dar! A vida é uma coisa maravilhosa e incompreensível, e também difícil e tortuosa, mas não teria piada nenhuma se não o fosse... Seria tépida e enjoativa e ninguém construiria nada com as suas vidas. Não haveria artistas, nem santos, nem ninguém lutaria por construir um mundo melhor - porque não acreditariam que fosse possível. Deus ama-te inteirinho. Deus até ama as coisas que nos parecem menos boas. Mas. acredita, ser gay não entra na categoria dos "defeitos" (até ao século passado achava-se que ser canhoto era defeito, assim como ser mulher). Se não fosses gay serias certamente menos sensível, menos atento ao sofrimento alheio. E daqui a uns tempos, quando te conseguires amar e aceitar inteiramente, verás que serás uma pessoa muito melhor e um ser humano mais completo - provavelmente, se não fosses gay, nunca terias de trabalhar isso.

Se em oração não consegues acreditar nesse olhar amoroso que Deus tem para ti, pede-lhe simplesmente perdão pela dificuldade de acolher esse Amor. Oferece-lhe a tua pobreza, o teu medo, a tua insegurança e a falta de amor (a ti mesmo). E podes oferecer-lhe mesmo isso, pois Deus está cheio de tudo de bom o que tens para dar. O que Ele quer mesmo é a tua fraqueza, pois isso Ele não tem, mas pode certamente transformar.

Quanto ao sentimento de seres inferior... Não és, e sabes disso! Ninguém é inferior a ninguém. Somos todos seres humanos. Jesus viveu com homens e mulheres pecadores, seres "inferiores". Não achas que Ele o fez por alguma razão? Achas que o facto de Ele ter morrido e ressuscitado por ti, não mudou nada na tua vida? Na minha mudou!

E os medos das suspeitas. É normal que os tenhas: tu ainda não trabalhaste em ti a aceitação. Como não ter receio que os outros não aceitem? Essa é uma fase seguinte: primeiro tens de acreditar (cabeça) e aceitar (coração) que o G (nome fictício do leitor) é homossexual, e que não há qualquer problema nisso. Depois, aos poucos, vais ficando menos tenso e menos na defensiva, e deixas de ter medo das "suspeitas".

Conheço um rapaz homossexual, que dizia saber desde sempre que era homossexual. Ele não queria nada parecê-lo, e tentava sempre manter uma postura impecável mas muito rígida e inflexível. Uma vez disse-lhe que sempre soube que ele era gay. Ele ficou espantado, perguntou-me se se notava (com receio que algum trejeito o tivesse revelado). Eu disse-lhe para ele não ter receio, pois não era disso que se tratava: era a sua rigidez e constante tensão. Como vês, às vezes o feitiço pode-se virar contra o feiticeiro. E outra coisa que te quero chamar a atenção - pois neste caso isso acontecia -, tens de prestar atenção se esse medo das suspeitas e a tua sensação quando contam piadas homofóbicas não tem a ver com a tua própria homofobia. Sim, podes crer que há muitos gays homofóbicos. E isso é um mecanismo natural de defesa (porque desejavas ser heterossexual, porque tens dificuldade em aceitares-te como és). Não te estou a acusar de nada - não te conheço -, nem te quero ofender, quero somente alertar-te para as "manhas" da nossa cabeça e para a complexidade de todo o processo da aceitação da nossa sexualidade.

A solidão é de facto um fardo pesado a carregar. Não se aplica somente aos homosexuais, mas a todo o ser humano. Mas não podemos confundir o estar sozinho com o estar só. Ao longo da minha vida tenho trabalhado essa questão. Gosto muito quando não estou sozinho, e desejo ter um companheiro de vida, mas acho que aprendi a nunca estar só. Há fases na minha vida em que estou sozinho - por exemplo agora - mas sinto que é importante aprender a estar bem sozinho. Só se está bem acompanhado se se sabe estar bem sozinho. Claro que isso parece um chavão mas, acredita, nos meus 35 anos de vida tem sido uma descoberta. Mas digo-te que também eu, por vezes, sinto a solidão.

O mundo gay com que não te identificas, também eu e a maioria dos gays que conheço não se identifica com ele. A tua "cena" é diferente da "cena cultural gay" mediatizada, mas é a mesma da maioria dos gays. Só que a sociedade faz com que andemos às escondidas, daí não ser fácil ter referências que consideres positivas, construtivas, com as quais te identifiques. Mas elas existem, e cabe-nos construí-las.

Ponto da situação: não estás só! Eu estou aqui, e há muita gente que não conheces que anda por aí. Não deixes que o teu coração escolha o caminho fácil (o do desespero, o de desejar morrer, o do suicidio). Também eu sonhei e pensei muitas vezes nisso. Mas amo demais a vida, e já "morri" uma vez. Aguento o sofrimento, sei disso. E tu também. O ser humano tem uma energia vital e uma capacidade de reconstrução espantosa. Tens uma vida para construir, do que estás à espera? Espero não te assustar com tantas palavras e - aparentemente - tantas certezas. Não o quero fazer, só te quero dar força e dizer-te que estou aqui. E dizer-te também que se quiseres falar de tudo isto estarei cá.

Abraço-te calorosamente, e estou mesmo aqui, para o que for preciso neste processo.
Rioazur

sábado, 1 de dezembro de 2012

Homossexualidade na GNR e nas Forças Armadas

Em "nenhum momento" a GNR é homofóbica
Será que o recente casamento entre a capitã Patrícia Almeida, de 27 anos, e a cabo Maria Teresa Carvalho, de 39 anos, ambas da GNR, demonstra abertura da instituição à questão homossexual? O casal não quis até agora falar com a imprensa. O P2 pediu um comentário ao porta-voz da GNR, tenente-coronel Pedro Costa Lima, mas este recusou-se, alegando que a GNR "não comenta publicamente assuntos que sejam do foro privado dos seus militares". À pergunta sobre se as pessoas homossexuais ao serviço da GNR sofrem algum constrangimento profissional em função da orientação sexual, Pedro Costa Lima respondeu que não. "Em nenhum momento", garantiu.
A GNR não é um ramo das Forças Armadas, mas uma força de segurança militar, com dupla tutela do Ministério da Defesa e Ministério da Administração Interna.
A associação ILGA-Portugal promoveu em Novembro do ano passado uma acção de formação sobre Crimes de Ódio Contra as Pessoas LGBT, em que os formandos, por via de protocolos institucionais, foram membros da GNR e de outras forças de segurança. "Houve muita participação e interesse", comenta Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA. "Há sinais de abertura e receptividade, embora o trabalho esteja ainda no seu início."

Cinema e literatura registam o tema
"No Exército, não há maricas", diz a personagem de um tenente-coronel no filme 20,13 Purgatório, de Joaquim Leitão (2006). Com prudência, e a espaços, o cinema e a literatura têm abordado a presença de militares homossexuais nas Forças Armadas. Quase sempre sob o signo da Guerra Colonial. São histórias que comprovam que a homossexualidade existe na instituição e até já teve uma expressão pública mais vincada. A ambiguidade de soldados e marinheiros em Moçambique é contada no romance autobiográfico A Sombra dos Dias (1982), de Guilherme de Melo. Um militar português esmagado pela hipocrisia da instituição aparece no livro de contos Persona (2001), de Eduardo Pitta. O filme Morrer Como um Homem (2009), de João Pedro Rodrigues, mostra uma cena de sexo entre dois soldados. E o livro de memórias Máscaras de Salazar (1997), do jornalista Fernando Dacosta, conta que os anos 60 lisboetas conheceram muita prostituição masculina de "mancebos mobilizados pela tropa".
O poeta e pintor Mário Cesariny, no documentário Autografia (2004), de Miguel Gonçalves Mendes, dá uma noção do que se passava: "Diverti-me à brava com a Marinha portuguesa quase toda. Nada de oficiais, que já têm a cabeça cheia."
Eduardo Pitta, no ensaio literário Fractura (2003), grava a epígrafe: "A figura do magala é com certeza um fantasma português."

por Bruno Horta
in Público, Maio de 2011

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Homofobia e as Forças Armadas portuguesas


Ross Watson

Há uma cultura homofóbica nas Forças Armadas?


Por Bruno Horta

Não há homossexuais assumidos nas Forças Armadas. A hierarquia superior e o ministro da Defesa dizem que a Constituição é cumprida, mas o bispo das Forças Armadas descreve um ambiente discriminatório dentro dos quartéis. Sargentos e oficiais homossexuais falam em "cultura homofóbica" e optam por esconder a sua identidade.

Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas e de Segurança, descreve o ambiente militar que envolve gays e lésbicas: "Sinto que se olha a homossexualidade como uma ofensa de lesa-majestade. Há quem entenda que estas pessoas nem sequer deveriam ser autorizadas a ingressar, porque contaminam a raça e a tribo", diz ao P2. "Nas conversas do dia-a-dia, salpicadas de humor e às vezes de grande sanha, é voz corrente que "qualquer dia isto [homossexualidade] é obrigatório". Oiço também dizer que são pessoas que desprestigiam, porque têm um comportamento desviante e o que fazem é de uma incorrecção hedionda", conclui o bispo, sem querer alongar-se em explicações.


Muita coisa mudou desde a declaração televisiva do coronel Galvão de Melo (1921-2008), da Junta de Salvação Nacional, pouco depois do 25 de Abril de 1974: "A Revolução não foi feita para prostitutas e homossexuais." Desde 2004, o artigo 13.º da Constituição determina que a orientação sexual não pode motivar a discriminação dos cidadãos. As uniões de facto (2001) e o casamento civil (2010) alargaram-se aos homossexuais. E a visibilidade social de gays e lésbicas nunca foi tão forte. Portugal aparece em 13.º lugar na lista Rainbow Europe Country Index, elaborada em 2010 pela associação ILGA-Europe, relativa às garantias legais dadas aos cidadãos homossexuais nos 50 países europeus. Apesar de tudo, será que a identidade destas pessoas é respeitada pela instituição militar? As chefias alegam cumprir a lei, mas, perante perguntas concretas, optam por argumentos vagos.
O P2 pediu aos porta-vozes dos três ramos das Forças Armadas que comentassem as palavras de Januário Torgal Ferreira, o que estes recusaram, sem apresentar justificações. Sobre o mesmo ponto, o ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, disse através do assessor de imprensa, Filipe Nunes, que "a organização das Forças Armadas obedece ao preceituado na Constituição e na lei", logo "nenhum militar pode ser discriminado em função da sua orientação sexual."
O que contam um ex-militar e dois militares no activo, que aceitaram falar sob anonimato e desde que não fossem divulgados pormenores sobre a sua situação profissional, por isso alegadamente lhes prejudicar a carreira, sugere a existência de uma segregação tácita contra os homossexuais nas Forças Armadas. Os próprios admitem e adoptam os preconceitos que os rodeiam. "É uma instituição com uma cultura homofóbica, mas acabamos por nos integrar porque é assim que aquilo funciona", diz um oficial gay da Marinha, com menos de 30 anos. "Vivemos num armário que não nos é imposto, mas que é cultural. Quem não o aceita não consegue viver bem nas Forças Armadas", acrescenta um sargento da Força Aérea, com mais de uma década de experiência.
Os porta-vozes do chefe do Estado-Maior de cada ramo das Forças Armadas também foram questionados sobre se há homossexuais assumidos na instituição militar. "A Marinha não tem conhecimento de qualquer dos seus militares que se tenha assumido publicamente, incluindo no interior da instituição", diz o comandante Alexandre Santos Fernandes, porta-voz da Marinha. O tenente-coronel Hélder Perdigão, porta-voz do Exército, e o coronel Mário Gaspar, porta-voz da Força Aérea, também "não têm conhecimento". Quanto aos efeitos de uma possível assunção pública de homossexualidade por parte de militares, responde Alexandre Santos Fernandes que não teria "nenhuns efeitos". O Exército e a Força Aérea dizem que "depende das circunstâncias concretas dessa assunção", mas preferem não detalhar.
Por que motivo não há então homossexuais assumidos entre os 50 mil militares portugueses? "Os aspectos da vida privada dos militares só aos próprios dizem respeito", justifica o Exército. "É uma questão do foro íntimo de cada um", responde a Força Aérea. "A sexualidade de cada indivíduo, seja ele civil ou militar, é um assunto do foro privado", defende a Marinha.
"Não sejam maricas"

O ex-sargento António Reis Marcos, de 32 anos, é homossexual assumido e passou quase nove anos no Exército. Saiu em 2009, quando o contrato terminou. Recorda um ambiente pouco amistoso em relação aos homossexuais: "Fosse por gozo ou coscuvilhice, a questão homossexual aparecia nas conversas. Havia sempre alguém que desconfiava de alguém e comentava. Dizia-se "maricas" ou "grande paneleiro", mas jamais na cara das pessoas, era sempre nas costas. Depois, quando tinham de lidar directamente com essas pessoas, a relação era cordial", relata. "Eu próprio cheguei a participar nesse tipo de conversas. E quando fui instrutor, também dizia "não sejam maricas", que é uma expressão muito usada. Talvez seja um sinal de homofobia, mas faz parte, são termos instaurados." "A utilização de quaisquer termos depreciativos não é permitida no Exército", diz o tenente-coronel Hélder Perdigão.
António Reis Marcos voluntariou-se para o Exército aos 22 anos. Nasceu em Vilarinho da Castanheira, concelho de Carrazeda de Ansiães, estudou Engenharia Informática no Instituto Politécnico de Bragança, mas o curso correu mal e ele queria independência económica em relação aos pais - por isso alistou-se. "O meu irmão fez o serviço militar obrigatório; de resto, nunca tive nenhum familiar nas Forças Armadas." A recruta e a especialidade, fê-las na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, como voluntário. Só depois assinou contrato. De Mafra foi para Viseu e daí para Vila Real, durante cinco anos. "Nunca tinha experimentado qualquer contacto homossexual. Cheguei a ter uma namorada, mas, como é óbvio, as coisas não funcionavam. A minha orientação sexual estava indefinida em termos de vida futura, mas muito bem definida em termos de desejo. Marcava encontros através da Internet e comecei a aproximar-me daquilo que me interessava. Foi um pouco por causa disso que acabei por pedir transferência para Lisboa. Queria conhecer outras coisas e, no fundo, sabia que na capital era mais fácil ter alguma vida gay." Foi colocado no quartel de Paço de Arcos e, nessa altura, na vida civil, iniciou uma relação estável.
Ainda que mencione algumas dificuldades, este antigo sargento também teve experiências positivas. "Uma vez, contei a um primeiro-sargento. Ele era heterossexual, mas, como trabalhávamos juntos, fui ganhando confiança. Mais tarde, conheci a mulher e os filhos dele. Senti sempre uma abertura muito grande. Eu até brincava e dizia: "Qualquer dia, tens de experimentar". E ele respondia: "Nem pensar, tenho medo de gostar"."
A homossexualidade terá sido irrelevante para a saída de António Reis Marcos do Exército. Mas o à-vontade que acabou por sentir deveu-se ao facto de estar de passagem. "Mesmo assim, sabendo o que sei hoje, acho que ser homossexual não me teria impedido de ascender dentro da instituição, se fosse caso disso. Aquilo tem regras muito definidas e sobe-se com alguma tranquilidade. Só alguém claramente efeminado é que pode ter mais dificuldades."
O oficial da Marinha que aceitou falar com o P2 está de acordo: "Raramente há homossexuais efeminados nas Forças Armadas". "Não sei se se auto-excluem ou são excluídos na selecção. O meio militar é muito machista. O estereótipo do bom oficial é aquele que entende bem as pessoas, que sabe liderar, que tem uma estrutura psicológica à prova de bala. Ser viril e heterossexual são elementos secundários, parte-se do princípio de que já lá estão. É como a boa forma física: é um dado adquirido para a instituição." É isso que leva os militares a esconderem a sua homossexualidade? "Em parte, sim", responde.
O mesmo oficial chama a atenção para um aspecto: "Há uma diferença muito importante entre os oficiais do quadro permanente e militares contratados". Em que termos? "Se se souber que um militar contratado é gay, pode não lhe acontecer nada, porque ele acaba por sair daí a poucos anos ou meses, quando o contrato termina. Já o oficial é um militar que fica na instituição para sempre e só sai se cometer um erro do outro mundo. A única maneira de o subjugar, em caso de homossexualidade, é criar-lhe obstáculos."
Há casos concretos? "Há pouco tempo, um oficial que já tinha bebido uns copos meteu-se com dois ou três cadetes do primeiro ano durante um baile na Escola Naval [na Base do Alfeite, em Almada]. Pode ter sido apenas um mal-entendido, mas consta que ele disse qualquer coisa de cariz sexual. Dias depois, levou com um processo disciplinar em cima. Um processo que não deve falar sobre homossexualidade, porque eles não deixam registo escrito destas situações. É um oficial que, à partida, tem a carreira dificultada nos próximos tempos: mandam-no fazer trabalho administrativo. Nada disto está escrito num regulamento, são procedimentos informais."
Alexandre Santos Fernandes confirma a ocorrência do episódio e diz que houve "aplicação de procedimento disciplinar." Afirma, contudo, que "nunca o apuramento de responsabilidades poderia justificar-se pela orientação sexual do indivíduo, pois essa não é uma preocupação da instituição".
Interrogado sobre se há alguma regra não escrita que tenha em vista prevenir a demonstração de comportamentos homossexuais por parte dos militares, o porta-voz da Marinha afirma que "as normas do Regulamento de Disciplina Militar, pelas quais se rege a Marinha, não fazem qualquer referência à orientação sexual dos militares". E remete para os Padrões e Códigos de Conduta, aprovados em 2008 pelo chefe do Estado-Maior da Armada. O documento, de duas páginas, foca, entre outros aspectos, o assédio sexual e estabelece que a Marinha "condena vivamente" tal comportamento. A hipótese de o assédio sexual acontecer entre pessoas do mesmo sexo é ignorada: "Tradicionalmente, o assédio sexual manifesta-se de um indivíduo do sexo masculino sobre um indivíduo do sexo feminino. Contudo, a situação inversa também poderá acontecer", lê-se.
Alexandre Santos Fernandes acrescenta que "a qualidade dos cargos e das funções desempenhadas, o registo disciplinar, as avaliações individuais e a antiguidade no posto" são os principais critérios de progressão na carreira, sustentando que a Marinha "respeita o princípio da igualdade consagrado no artigo 13.º da Constituição". Não fica explicada a existência ou não de procedimentos informais para lidar com militares homossexuais.
No capítulo das regalias e benefícios sociais, como sejam a assistência médica ou a habitação para militares fora da área de residência (guarnição), nenhum dos entrevistados disse saber de qualquer acto discriminatório contra gays e lésbicas - sejam solteiros, casados ou unidos de facto. Quem coordena a acção social das Forças Armadas é o Instituto de Apoio Social das Forças Armadas (IASFA) e a ele podem recorrer, segundo os porta-vozes dos três ramos, os militares dos quadros permanentes (no activo, reserva e reforma) e o pessoal militarizado das Forças Armadas, assim como os cônjuges, descendentes e ascendentes que estejam a cargo dos militares. "As condições específicas proporcionadas aos militares estão conformes à legislação e são válidas para todos", diz Mário Gaspar.
Um relatório de 2008 da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) indica que "gays e lésbicas ainda enfrentam uma resistência significativa dentro das Forças Armadas, ainda que as chefias militares tenham um discurso contra a homofobia". Intitulado Handbook on Human Rights and Fundamental Freedoms of Armed Forces Personnel, o relatório é assinado por Ian Leigh (Universidade de Durham, Reino Unido) e Hans Born (Centre for the Democratic Control of the Armed Forces, Suíça). "Os militares homossexuais são frequentemente obrigados a trabalhar num ambiente hostil e, por vezes, são alvo de perseguição, devido à sua orientação sexual. Tal perseguição inclui palavras ofensivas, piadas, insultos e, até, violência sexual ou agressões violentas", lê-se. "Uma das formas mais comuns de discriminação inclui políticas ou práticas informais, que podem influenciar a progressão na carreira."
Questão legislativa
O Estatuto dos Militares das Forças Armadas (EMFA), lei da Assembleia da República que regula os direitos e os deveres dos militares portugueses, faz tábua rasa da orientação sexual. O número 2 do artigo 18.º estabelece que "o militar não pode ser prejudicado ou beneficiado em virtude da ascendência, sexo, raça, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, situação económica ou condição social". O Estatuto foi aprovado em 1999 (Decreto-Lei 236/99, 25 de Junho). Desde então, sofreu pelo menos oito alterações e rectificações, a última das quais em 2009. A actual redacção do artigo 13.º da Constituição é de 2004. Ainda assim, a orientação sexual nunca passou a constar do número 2 do artigo 18.º. Ao P2, nem os chefes do Estado-Maior de cada ramo das Forças Armadas nem o ministro da Defesa quiseram explicar porquê.
Informa a Marinha, por intermédio de Alexandre Santos Fernandes: "A falta de referência à orientação sexual no artigo 18.º do EMFA não poderá ser interpretada enquanto derrogação ao exercício de direitos pelos militares". A Força Aérea e o Exército remetem resposta para o Ministério da Defesa, sustentando tratar-se de "uma questão legislativa que deverá ser colocada à tutela e não a um ramo das Forças Armadas em particular". Interrogado pelo P2, o ministro da Defesa repetiu, através do assessor de imprensa, a mesma frase com que comentara as palavras do bispo das Forças Armadas.
Para a constitucionalista Isabel Moreira, "é especialmente curioso que não seja referida a orientação sexual numa lei referente às Forças Armadas, conhecidas que são pela sua resistência à homossexualidade assumida". Segundo a especialista, "parece ter havido uma vontade clara de não incluir a questão da orientação sexual" no EMFA, visto que desde 2004 houve várias oportunidades para o fazer. "Tal como está, o artigo 18.º concretiza de forma imperfeita o estabelecido no artigo 13.º da Constituição", afirma.
No dizer desta especialista, a questão técnica é a seguinte: "Em 2004, a orientação sexual passou a ser considerada uma categoria suspeita nos termos da Constituição, ou seja, qualquer lei geral que discrimine em função da orientação sexual é à partida inconstitucional. A legislação laboral, quando reproduz os princípios do artigo 13.º, deve estar conforme à Constituição, por uma questão de exequibilidade". No entanto, mesmo que isso não aconteça, como no caso do EMFA, diz a constitucionalista que "não implica obviamente que um trabalhador possa ser discriminado".
Heterossexualidade social


Quanto ao facto de os militares estarem sujeitos a restrições ao "exercício de alguns direitos e liberdades", como estabelece o número 1 do mesmo artigo 18.º, nada significa nesta questão, segundo Isabel Moreira. "Seria absurdo invocar a restrição de direitos para justificar a homofobia. Há cargos, como o de Presidente de República, ou médico ou juiz, que também implicam restrições de direitos. Os juízes, por exemplo, estão proibidos de acumular funções. Quando a lei restringe determinados direitos em função da actividade profissional, está a dizer que todas as pessoas estão aptas a desempenhar aquela profissão, mas quem a desempenha prescinde do exercício de certos direitos. O que a lei não está certamente a dizer é que uma pessoa, por ser mulher ou homossexual, não pode exercer uma profissão."

Quer isto dizer que a homofobia está ausente da instituição militar ou que não é uma questão de relevo? O sargento da Força Aérea reconhece que há discriminação, mas desvaloriza-a: "Durante a recruta, por exemplo, os instrutores costumam dizer "mexam-se, seus maricas" ou "são todos umas meninas". A recruta funciona por estímulos, tem de ser agressiva e enérgica, tem de haver berros que formem o estímulo, não pode ser com explicações detalhadas e serenas, senão não resulta. Também se diz "parece que são todos surdos" e não acho que isso signifique que quem dá a ordem está a discriminar as pessoas deficientes." O oficial da Marinha que falou com o P2 assume-se para si mesmo como homossexual. A família mais próxima sabe. E ele já teve namorados. No entanto, não frequenta bares ou discotecas gays, com medo de ser reconhecido e assim comprometer a carreira profissional. Dentro da instituição, expõe uma heterossexualidade social. "Apreciar mulheres nas conversas com os meus camaradas faz parte da tradição. Sei que não pode ser de outra forma, mas o mundo civil também não é muito diferente. Quantos políticos [homossexuais] assumidos há em Portugal?", questiona.
O porta-voz da Marinha assegura que a instituição "não obriga ninguém a fazer-se passar pelo que quer que seja" e explica que "os comportamentos do militar que não digam directamente respeito à sua condição enquanto tal, e que não afectem ou respeitem às suas funções ou ao trabalho desempenhado, não importarão à instituição, salvo nos casos em que a relação funcional seja afectada".
Ao conhecimento de Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA - Portugal, associação de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (LGBT), nunca chegaram queixas de militares homossexuais. "O silenciamento imposto pelo preconceito dificulta denúncias", justifica aquele responsável. "Por vezes, esse silenciamento não é identificado enquanto prática discriminatória por não haver uma política explícita" de discriminação por parte das Forças Armadas.
A única prática discriminatória legal, admitida por sucessivos Governos, foi a da "psiquiatrização" da homossexualidade - em sintonia com o que, durante anos, era opinião vigente na comunidade médica mundial. Na era do serviço militar obrigatório, vigoraram cinco portarias e um decreto-lei contendo "tabelas de inaptidão e incapacidade", usadas nas juntas médicas e centros de selecção (inspecção). Cada ramo das Forças Armadas tinha as suas tabelas, algumas de antes do 25 de Abril. Continham extensas listas de doenças, malformações, deficiências e problemas físicos ou psíquicos. Em relação aos homossexuais, eram usados os termos "personalidades psicopáticas", "anormais sexuais", "invertidos" (Portaria 709/73, assinada por José Pereira do Nascimento, secretário de Estado da Aeronáutica). Na mesma tabela, consideravam-se inaptos os impotentes, os gagos e os inconformistas. Em textos posteriores, a homossexualidade passou a ser chamada "transtorno da personalidade" e "desvio sexual" (Portarias 28/89 e 29/89, assinadas por Eurico de Melo, ministro da Defesa).
O provedor de Justiça Meneres Pimentel declarou, em Maio de 1999, numa entrevista ao Diário de Notícias, que aquelas portarias eram "constitucionalmente intoleráveis", apesar de estarem alinhadas com a Classificação Nacional das Deficiências, elaborada pelo Conselho Superior de Estatística, um órgão do Estado. No Verão daquele ano, o primeiro-ministro António Guterres fez aprovar, e o Presidente da República Jorge Sampaio promulgou, o Decreto-Lei 291/99, que revogava todas as "tabelas de inaptidão" e criava uma nova. A questão homossexual fora central para a revogação: "[As tabelas] não respeitam a última revisão da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde" (OMS), lê-se no preâmbulo, em referência directa à retirada da homossexualidade da lista de patologias mentais, em 1990 (com efeitos a partir de 1994, como informa o site oficial da OMS).
O decreto de Guterres seria regulamentado por portarias de 1999, 2000 e 2001. Não é possível apurar quantos portugueses, à luz daquelas tabelas, foram considerados incapazes ou quantos se declararam homossexuais para não cumprirem o SMO. "Informação de carácter reservado", argumenta o Exército. "Dados sujeitos a sigilo médico", diz a Força Aérea. A Marinha, pelo comandante Alexandre Santos Fernandes, concretiza: "Os arquivos relativos aos processos de recrutamento são mantidos apenas durante seis anos, como legalmente determinado". Ou seja, os últimos processos, relativos a 1999, terão sido destruídos em 2005.
Terminada a era da conscrição, e das "tabelas de inaptidão" com referência aos homossexuais, terá a passagem ao regime de contrato e voluntariado estabelecido uma discriminação não assumida semelhante à da política "Don"t Ask, Don"t Tell" nos EUA? Entre 1994 e 2010, os militares norte-americanos estavam proibidos de revelar, dentro ou fora de serviço, a sua orientação sexual, porque isso alegadamente punha em causa a coesão e a disciplina. Ninguém lhes perguntava nada, eles mantinham-se calados e só por flagrante ou denúncia seriam exonerados. Foi o que aconteceu a mais de 13 mil militares, até 2009, de acordo com uma sentença de um tribunal federal da Califórnia, de Setembro do ano passado. Em Dezembro, o Senado deu o último passo de um longo processo que levou à revogação daquela política, tal como prometera o Presidente Barack Obama na campanha eleitoral de 2008.
Nenhum dos três militares entrevistados foi alguma vez questionado pela instituição sobre a sua orientação sexual. Os dois no activo não se assumem, nem tencionam fazê-lo. "As chefias não interferem na vida pessoal dos militares. Nunca um chefe me perguntou com quem durmo ou vou sair, nem nunca fez comentários", garante o sargento da Força Aérea. "E isto por uma razão simples: há uma grande distância entre as três categorias que compõem as Forças Armadas: oficiais, sargentos e praças. Um oficial não tem afinidade com um sargento ou um praça, e vice-versa, o que é normal e ajuda a manter a autoridade. A única coscuvilhice que existe é entre pares. Na messe, ouve-se comentar que esta é casada e anda a sair com aquele, tal como se ouve que um ou outro pode ser homossexual. É normal, acontece em qualquer local de trabalho."
"Talvez a desvalorização das dificuldades possa corresponder a homofobia interiorizada por parte dos militares", defende o psicólogo Nuno Nodin, mestre em Psicologia da Saúde e professor da licenciatura em Psicologia do Instituto Piaget. "As Forças Armadas parecem ter valores muito conservadores e estes militares, sendo homo ou bissexuais, podem querer estar em sintonia com o contexto, constrangendo a assunção plena das suas dimensões mais íntimas." Que efeitos pode tal atitude ter? "Uma grande autovigilância sobre o que se diz ou faz. Mesmo que a pessoa entre numa rotina e não se esforce tanto, isso tem um peso grande", explica Nuno Nodin. "Implica um desgaste mental, mesmo que a pessoa não tome consciência disso. A angústia ou a depressão podem verificar-se. Ou não. Depende de muitos factores. Um militar gay que tenha um contexto profissional adverso mas, por exemplo, uma relação afectiva satisfatória estará, à partida, mais equilibrado."
Numa frase, o jovem oficial da Marinha assina a conclusão: "Fazemos tudo o que os outros fazem, mas não nos mostramos por inteiro; não se pode dizer que estejamos sob pressão, para isso era preciso que eles soubessem o que somos."

In Público Maio 2011

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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