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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.
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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Entrevista ao provincial dos jesuítas em Portugal

José Frazão Correia fala da Igreja, do Papa, dos Jesuítas...

Em entrevista, o líder dos jesuítas em Portugal, José Frazão Correia, lembra os tempos de seminário e fala da Igreja atual. Diz que a novidade do Papa Francisco não é apenas a cor dos sapatos.

Desde os tempos de infância que passou numa pequena aldeia rural a dez quilómetros do Santuário de Fátima, José Frazão Correia sabia que um dia ainda haveria de ser padre. Só não sabia bem como e onde. Por isso, acabou por seguir a tradição dos rapazes da sua aldeia e aos 12 anos mudou-se para Fátima, para o seminário da congregação dos Missionários da Consolata. Estudou naquela congregação até aos 24 anos, mas a falta de certezas levou-o a deixar a Consolata e a procurar outro lugar dentro da Igreja — a única coisa que sabia era que queria ser padre.

Acabou por descobrir os Jesuítas nuns exercícios espirituais em Coimbra para superar a inquietação e fez-se luz. Entrou na Companhia de Jesus, completou duas licenciaturas, um mestrado e um doutoramento e tornou-se professor de Teologia. Em 2014, com 43 anos, apenas dois anos depois de ter iniciado a sua carreira docente na Universidade Católica em Braga e no Porto, recebeu de Roma a notícia de que havia sido nomeado para padre provincial da Província Portuguesa da Companhia de Jesus.

A meio da Semana Santa, o líder dos jesuítas portugueses — voz influente, mas discreta, da Igreja Católica em Portugal — recebeu o Observador na Cúria Provincial, em Lisboa, para falar sobre o seu percurso de vida e de fé, os quatro anos à frente da província, o Papa Francisco e o momento atual da Igreja Católica. José Frazão Correia admite que ter ido para o seminário aos 12 anos o privou de muitas das vivências da infância e adolescência, conta como testemunhou em Roma a luta anti-máfia dos procuradores Falcone e Borsellino e comenta a polémica em torno dos divorciados, sublinhando que não se pode tentar simplificar o que é complexo.

O líder jesuíta garante que vai buscar inspiração ao Papa Francisco, outro jesuíta, e gaba-lhe a energia. Mas não lhe atraem só os pormenores. “Se a novidade do Papa fosse simplesmente ter sapatos pretos em vez de sapatos vermelhos, penso que seria uma coisa quase ridícula. Até viver numa casa em vez de outra casa é uma coisa significativa, mas confesso que acho pouco relevante”, afirma mesmo o padre português, que prefere destacar a “coerência de um estilo de vida” que o Papa mantém, numa altura em que o Cristianismo já não é a norma para a sociedade europeia.

Nasceu em Alqueidão da Serra, ao lado do Santuário de Fátima. A proximidade com Fátima foi decisiva para a sua relação com a fé?Não atribuo nenhuma relação direta. É verdade que desde criança, até pela grande proximidade física, íamos muito a Fátima. Conhecia muitas pessoas, alguns idosos, que tinham uma relação muito próxima, porque foram quase protagonistas, ou pelo menos pessoas que acompanharam o período das aparições, e que depois regularmente iam a Fátima a pé. Lembro-me de um senhor de uma aldeia da minha freguesia… Associava à proximidade, até do modo de vida, mas não posso dizer que haja uma relação assim direta pelo facto de estar tão próximo.

Esse senhor contava-lhe histórias de como foi esse tempo?
Esse senhor era muito curioso, porque tinha um barrete exatamente como o do Francisco. Ele viveu muitos anos, era de uma localidade próxima à minha aldeia e vinha sempre à missa ao domingo, e causava curiosidade pelo barrete que tinha. Sobretudo, conversava com a filha dele, uma senhora que também morreu há relativamente pouco tempo, e era mais ela que, já mais tarde, me contava as histórias desse senhor.

E que histórias eram?
Ele teria estado no famoso milagre do Sol e portanto a partir daí ele ia todos os meses a pé a Fátima. Atravessava a serra e portanto criou uma relação de grande proximidade a Nossa Senhora. Era alguém muito marcado por toda a envolvência das aparições de Fátima.

A sua família era católica?
Sim. Nós somos sete, a minha mãe já faleceu. É uma família tradicionalmente católica, que leva uma vida cristã séria. De facto, não era simplesmente uma formalidade ou uma pertença sociológica. Havia nos meus pais uma grande implicação com a fé, uma apropriação pessoal da fé, e um envolvimento com a vida da Igreja, através da Ação Católica sobretudo, que teve um peso muito significativo na formação dos meus pais e de pessoas da idade deles, e também das Conferências de São Vicente de Paulo. Por isso, nascemos com a prática de ir à missa aos domingos, às vezes à semana, de rezar o terço à noite, ao domingo ir à adoração do Santíssimo Sacramento à tarde. Além disso, penso que foi também uma formação espontânea, de coerência evangélica. Esse é o meu contexto de infância e de adolescência, marcado por uma identidade cristã muito forte, vivida dentro da família, mas depois com todas as práticas associadas a uma aldeia tradicional católica.

O que é que fazia durante a infância na aldeia?
A minha infância era muito marcada pela escola e pela ajuda aos meus pais nos trabalhos agrícolas. O meu pai era funcionário da Câmara de Porto de Mós e a minha mãe era doméstica, e eram muitos filhos. Lembro-me do ritmo da escola, a partir dos seis anos, e da ajuda nos trabalhos agrícolas, sobretudo ao sábado e às vezes à tarde durante o verão.

Onde estudou?
A primária e o ciclo preparatório fiz na minha aldeia. Depois, para o sétimo ano, fui para Fátima, para o seminário dos Missionários da Consolata, onde fiz um período de formação muito longo, até aos 24 anos. Estive 12 anos na minha aldeia e depois mais 12 anos num período de formação nos Missionários da Consolata. Deixei a minha aldeia aos 12 anos.

Quando foi para o seminário dos Missionários da Consolata já ia com a vocação para ser padre?
Dito assim, não posso dizer que seja. Mas é verdade que, desde muito pequenino, com cinco ou seis anos, já sentia um apelo muito forte a alguma coisa do género. É verdade que isso não foi suficiente para a opção adulta, para um estilo de vida, mas é verdade que esses sentimentos, essas intuições, essa memória da oração na minha infância, tiveram sempre um peso muito grande no meu percurso vocacional. Desde muito cedo havia algo muito sério que, de alguma maneira, me orientava para este caminho.

Via-se a ser padre, quando ia à missa ao domingo?
Havia um desejo de ser padre, sim. Às vezes punha-me a pensar: todos os padres têm óculos e eu também tenho óculos, todos os padres são carecas e eu agora também sou, na altura não o era (risos). Acho que, desde muito cedo, sentia algum desejo de ir por este caminho. Sentia a consciência da presença de Deus na minha vida. Enfim, como uma criança pode ter, obviamente. Mas era muito forte, e por isso lembro-me de um sentimento de intimidade com Deus do qual hoje até tenho um bocadinho de saudades, porque parece que nessa altura era mais forte e mais intensa do que hoje, afetivamente mais intensa. É evidente que isso são experiências de criança, mas sempre foram muito fortes para mim, sobretudo depois em tempos mais difíceis, menos claros, a nível espiritual.

Teve crises de fé?
Não posso dizer que tive assim crises de fé, de abandono, de duvidar ou não duvidar. Mas o percurso da fé, como o percurso da vida, tem altos e baixos. Há momentos onde tudo faz muito mais sentido e há momentos onde parece que as coisas parece que fazem muito menos sentido. Diria mais momentos de vazio espiritual, não propriamente de crises de fé.

Dizia que foi para o seminário com 12 anos ainda sem a vocação completamente definida. Quando se decidiu então a ser padre?
Foi um caminho em crescendo, com um misto de experiências afetivas, espirituais, relacionais. Por um lado, objetivamente, é um menino, um rapazinho de 12 anos, que sai porque quer, não foram os pais que impuseram. Foi por um conjunto de circunstâncias, mas de facto foi vontade. De alguma maneira, percebi que era um caminho natural, era por ali que tinha de ir. Por outro lado, a experiência foi marcada também por tudo o que está associado a estar fora de casa muito tempo, num seminário grande, e na altura os grupos eram muito grandes. Portanto, o que sentia era que estava a fazer o caminho que tinha de fazer, e nesse sentido estava contente, mas por outro lado tinha a perceção da distância de casa, dos amigos de infância, dos colegas da escola, e também de que aquele caminho vocacional que estava a fazer me deixava, de alguma maneira, desconfortável. Era por ali que eu queria ir, mas sentia que não era exatamente por ali, o que fez com que, já depois de um grande percurso, aos 24 anos, decidisse deixar os Missionários da Consolata. O que não significou abandonar a questão vocacional por este lado — ser religioso e ser padre –, mas havia um desconforto de fundo que me fazia não me identificar plenamente com o lugar onde estava.

Que sinais de desconforto eram esses?
Se há imagem que me vem à cabeça é a de estar a colocar uma camisa. Sabemos que temos de vestir a camisa, mas é uma camisa apertada. Isto não significa nenhuma avaliação negativa do sítio onde estava, neste caso os Missionários da Consolata. Pelo contrário, sinto muita gratidão por todo esse percurso. Mas sentia que a camisa estava apertada.

Se tivesse ficado nos Missionários da Consolata, qual teria sido o percurso natural a partir dali?
Seria ser ordenado, fazer os votos perpétuos, e seguir a vida como religioso nesse instituto.

Portanto, logo de início preferiu a vida religiosa, não quis ser um padre diocesano, ter uma paróquia.
Não sei se foi uma opção consciente, foi por um conjunto de circunstâncias. Havia um grupo de rapazes da minha terra que costumavam ir para os Missionários da Consolata em Fátima e, concretamente, quando eu estava no sexto ano, vieram uns missionários fazer promoção vocacional à escola. Isso entusiasmou-nos, e as coisas aconteceram assim. Mas é verdade que a questão do seminário, propriamente, nunca me despertou uma curiosidade tão forte.

Não ficava com pena de não poder ter uma namorada, por exemplo?
Acho que a verbalização, ou a consciência, de todas estas questões veio mais tarde. Na altura vivia as coisas com normalidade, talvez até com um certo sentido de dever, que se calhar que tenho desde muito cedo — talvez por educação familiar do lado da mãe. Portanto, sentia que tinha de estar onde devia estar. Mas a elaboração do que foi, do que não foi, das coisas boas e das coisas menos boas, já foi mais tarde e não propriamente enquanto vivia as coisas. Diria que hoje não aconselharia… Não creio que foi inibidor de coisas essenciais, mas hoje compreendo que uma criança sair do ambiente familiar, do seu contexto social de amizades, para ir para um sítio já tão marcado, tem aspetos positivos e tem aspetos negativos. Do ponto de vista afetivo, da maturação a todos os níveis, ter estado no seminário foi uma coisa muito boa, mas também teve limites. Essa elaboração veio mais tarde. Isso não significa que foi bom ou foi mau. Como todas as coisas, tem luz e tem sombras. Hoje, consigo mais claramente identificar as luzes e também as sombras.

E quais eram as sombras?
Penso que tem a ver com o facto de sair muito cedo do ambiente familiar, do ambiente de relações entre rapazes e raparigas para ir para um seminário só com rapazes, com um estilo de vida bastante austero. A sombra diria que foi essa maturação menos normal, porque fui retirado de um ambiente normal da vida de qualquer criança ou de adolescente.

Essas relações de que fala fazem parte da educação e ficou sem elas, é isso?
Sim, fazem parte. É evidente que depois, no seminário, estabelece-se um tipo de relações de grande proximidade e de grande companheirismo, que são elas mesmas muito fecundas e muito boas. Agora, se tivesse de optar — com os critérios de hoje, que são diferentes dos dos anos 80 –, diria que, até uma idade mais tardia, favorece mais um tipo de relações normais num ambiente familiar do que num ambiente separado como o de um seminário. Hoje avalio as coisas assim.

O que o levou depois aos Jesuítas?
Bem, eu estive nos Missionários da Consolata, o que fez com que eu fizesse o noviciado e ainda o primeiro ciclo de Teologia fora de Portugal. Portanto, eu deixei a Consolata já no final do primeiro ciclo de Teologia.

Ainda fez parte do percurso lá, então.
Sim. Primeiro o seminário menor, depois o início da Teologia, em Lisboa. Depois fui para Itália, onde fiz o noviciado e mais três anos. O que me fez sair foi sentir que era por aqui o caminho, mas não era, digamos assim, naquele caminho. Mas eu não sabia qual seria. Foi um tempo de grande provação interior, porque eu sentia que era por ali, mas não exatamente daquela maneira.

O que é que nos Missionários da Consolata lhe dizia que não era por ali? Falou da imagem da camisa apertada, mas em que se traduzia isso?
Não sei traduzir em concreto. Mas o que havia era uma coerência com as dúvidas interiores, que já estavam a ser forçadas para além do razoável. Quase uma espécie de inautenticidade. Pensava: “Se vou por aqui, não estou a ir bem.”

Era artificial?
Não artificial, mas talvez não suficientemente autêntico para comprometer toda a vida. Tive a necessidade de fazer um tempo de pausa. Decidi voltar a Portugal, sem saber muito bem para fazer o quê, e sem saber muito bem como é que iria, para usar a expressão, descalçar esta bota. Não havia a perceção de ter de mudar radicalmente de vida, de dizer: “Não é por aqui que eu quero ir.” Mas também não sabia muito bem o quê. Então, a Companhia de Jesus nasce aqui num tempo de grande obscuridade interior e de inquietação por não saber por onde deveria ir. De repente, umas irmãs em Leiria falaram-me que em Coimbra havia exercícios espirituais dados por Jesuítas e que me faria bem fazer uns exercícios espirituais. Foi aí. Fiz três dias em Coimbra e isso para mim foi como uma iluminação interior. Como se as perguntas que eu já andava a fazer há tanto tempo, para as quais não tinha respostas, se tivessem iluminado. Aí nasceu um percurso de aprofundamento da vocação e da possibilidade de entrar na Companhia. Curiosamente, todas as dúvidas e inquietações que eu tinha anteriormente foi como se tivessem dissipado. Nunca mais voltaram.

O que viu nos Jesuítas em concreto que o fizesse querer seguir esse caminho?
Não sei se foi nos Jesuítas em concreto. Foi na experiência dos exercícios espirituais, que foi uma experiência muito intensa, autêntica, de encontro com o Senhor. Ao mesmo tempo, tive a perceção de que a Companhia — e eu conhecia muito pouco da Companhia de Jesus — vinha ao encontro das expectativas que eu tinha, mas que ainda não tinha encontrado, porque ainda não tinha encontrado aquele caminho. Vinha ao encontro do desejo que eu tinha, mas ainda não tinha encontrado o seu objeto.

Mantinha a vontade de ser padre?
Sim, acho que essa foi a constante que se manteve sempre, mesmo nessa fase de crise vocacional.

Fez duas licenciaturas, um mestrado e um doutoramento, e depois continuou ligado à universidade como professor de Teologia em Braga. Gostava da vida académica?
Sou um rapaz… agora já sou um velho (risos), sou um homem esforçado, digamos assim. As respostas de sim ou não, gosta ou não gosta, se calhar temos de as matizar. No fundo, todo este percurso académico acabou por ser fruto de muitas circunstâncias, desde logo essa formação na Consolata que fez com que eu fizesse a licenciatura em Teologia, que na altura tinha ainda uma fase de Filosofia. Depois, a entrada na Companhia fez com que eu completasse a licenciatura em Filosofia, depois a de Teologia, e depois fizesse o mestrado e o doutoramento em Teologia. Há aqui algo de normal num percurso, mas há também um envolvimento pessoal, que por um lado veio de mim, e por outro lado foi-me pedido. Por exemplo, o doutoramento, já na Companhia. Eventualmente, eu por mim não o teria feito, porque já estava um bocadinho cansado do percurso académico e com vontade de fazer outras coisas.

Porque é que lhe pediram para estudar mais, então?
Pois, foi o provincial… Penso que a avaliação que ele fez daquilo que eu estava a fazer na Companhia, eventualmente de aptidões, de interesses, de perceções ou de feedbacks de outras pessoas, levaram-no a decidir. Depois da minha ordenação e de ter regressado de Paris, estive dois anos no centro académico de Braga, na pastoral universitária, e estava muito bem, e ele disse-me: “Bom, se calhar é melhor interromper aqui e ir para o doutoramento em Roma”. Aceitei com serenidade, mas ainda assim creio que por mim não teria dado esse passo. A minha relação à vida académica, à vida dos estudos, é algo de natural, mas esforçado. Por outro lado, nasceu mais de pedidos e de perceções externas do que de convicção própria. Se calhar, alguns outros achavam que eu tinha mais capacidades e possibilidades de ir por esse caminho, do que uma convicção própria, o que continua a ter algo de verdade. Parece que os outros acreditam mais no que eu posso dar neste campo do que eu próprio estou convencido (risos). Há sempre aqui um misto de naturalidade e também um bocadinho de drama, de custo.

Como foi esse tempo que estudou fora do país?
Foi muito bom. A minha primeira estadia em Itália, ainda no tempo da Consolata, teve um certo deslumbramento. Tudo em Itália me fascinava, ficava fascinado pela língua e pela cultura italiana, pela política, que eu seguia muito. Foram anos muito difíceis, da Cosa Nostra e da luta anti-máfia dos procuradores Falcone e Borsellino. Lembro-me perfeitamente de Roma quase em estado de sítio. Nessa altura, foi um tempo de grande adesão. O meu regresso a Roma já depois da Consolata já foi um tempo mais difícil, durante o tempo do doutoramento, até porque, pessoalmente, foi um tempo mais exigente do ponto de vista pessoal. Também era um ambiente mais intra-eclesial, menos de contacto com a cultura italiana, que era mais espontânea e mais extra-eclesial. Nesse sentido, a dimensão extra-eclesial era muito mais viva e muito mais entusiasmante do que aquela típica dos contextos eclesiais de Roma, que sentia mais pesada.

Quando voltou dos seus estudos, passou pela pastoral universitária, deu aulas na Faculdade de Teologia de Braga e coordenou um centro de formação para Jesuítas. Preferia a educação dos outros à sua vida académica?
A vida académica no sentido estrito — carreira académica universitária, ensino, investigação e escrita –, só por si, tem muito pouco interesse para mim. Posso dizer assim com toda a honestidade. Mas interessa-me a Teologia, e nesse sentido, onde me sinto de uma maneira mais espontânea é algures entre a academia — uma reflexão centrada no método académico e dentro das quatro paredes da universidade — e a vida eclesial comum — que também sinto que muitas vezes acaba por ser pobre e um bocadinho órfã de uma capacidade de se pensar. Portanto, o meu interesse pela Teologia é entre estes dois mundos, o da academia e o da vida eclesial quotidiana. Creio que as duas se podem ajudar mutuamente. A universidade precisa de se deixar tocar — e o Papa Francisco tem falado muito disto — pela vida eclesial quotidiana, mas também pela vida social e cultural, e ao mesmo tempo a vida eclesial quotidiana tem necessidade da inteligência das coisas que a universidade lhe pode dar. É um espaço que não é fácil de habitar, porque a universidade tem regras e muitas vezes a vida eclesial não quer muito saber de reflexões um bocadinho mais aprofundadas.

Em 2014 foi nomeado para padre provincial. Porque acha que foi escolhido?
Bem, isso tem de perguntar a quem fez o processo (risos).

Como foi esse processo? Foi consultado primeiro?
Há um conjunto de consultas internas, que seguem um conjunto de procedimentos. Ouvem-se os consultores, que são os conselheiros mais próximos do provincial. Depois há uma consulta mais alargada, e chega-se à identificação de três nomes. Esses três nomes são apresentados ao padre geral e ele nomeia um. Neste caso fui eu. O que esteve por trás, não conheço. Foi-me dito: “O padre geral escolheu-te”.

Quando era professor e estava na comunidade de Braga, imaginava vir a ser provincial?
Não pensava nisso, com toda a honestidade. Se formos ver a idade dos provinciais em Portugal, houve alguns na casa dos 40, mas habitualmente associamos a um tempo um bocadinho mais tardio. É verdade que eu estava a começar a vida na Universidade Católica em Braga e no Porto. Estive quatro semestres e interromper não seria, eventualmente, a coisa mais normal. Com toda a honestidade, não pensava que isso pudesse acontecer, concretamente naquele tempo.

E o que pensou quando soube que tinha sido nomeado?
Pensei que ia ter de terminar os exames, porque estava em fevereiro, ir para Lisboa e começar uma coisa radicalmente nova. Confesso que o facto de, na altura, ser consultor do provincial fazia com que conhecesse muitos temas, muitas decisões em curso, necessidades, de uma maneira mais interna. Se viesse sem nada seria muito difícil pegar num conjunto de dossiês dos quais nada sabia. O facto de ter tido essa experiência deu-me um conhecimento das coisas que me habilitou um bocadinho mais ao início deste trabalho. Mas tive a perceção de que acabava um percurso de dois anos sem saber muito bem quando é que podia pegar nele, e ia para uma coisa completamente diferente. Portanto, foi essa perceção de que deixava Braga e ia para Lisboa, deixava a universidade e a comunidade de formação e ia para um trabalho completamente diferente. Mudei de página.

Veio já com ideias?
O facto de ser consultor ajudava-me a ter uma compreensão de temas, problemas e necessidades. Mas não tinha propriamente um programa político, até porque não tive muito tempo para pensar nele. Foi-me comunicado em janeiro e em março já estava aqui a começar, e tive de acabar a correção de exames no Porto e em Braga. Não tive muito tempo para pensar. Depois fui pensando, obviamente, mas até janeiro não pensava no que é que podia ser.

Na altura tinha acabado de ser eleito o Papa Francisco, um jesuíta. Foi uma inspiração para a sua nova missão, até pelo facto de também ele ser jesuíta?
Senti a confirmação de muitas coisas. Pode parecer presunçoso, parece que eu já antecipei o Papa Francisco e é evidente que não. Mas é verdade que senti identificação com muitos elementos que faziam parte da minha reflexão teológica e mesmo do que tinha tentado escrever numa coisa ou outra. Mais do que uma inspiração direta para ser provincial, uma inspiração direta para ser jesuíta, porque ele é de facto um bom jesuíta, para ser um bom cristão e, sim, também para ser um líder, porque de alguma maneira há aqui uma liderança apostólica e espiritual. Sem dúvida que diariamente me sinto surpreendido pela força, pela autenticidade e pela fecundidade do Papa Francisco e nesse sentido sinto-me a milhas da sua energia, tendo quase metade da idade dele.

Os jesuítas fazem um voto de não aceitar dignidades eclesiásticas nem civis. Um Papa jesuíta não é uma contradição?
Creio que não é contradição, mas não é normal. Os professos na Companhia de Jesus fazem esses votos especiais de não receber dignidades eclesiásticas. Mas o Papa pode impor… Bom, um sacramento nunca se pode impor, ninguém pode ser ordenado bispo se não o quiser. Mas o Papa pode pedir a um jesuíta que, para um serviço maior, possa exercer essa missão na Igreja. Foi o que aconteceu com o Papa quando ele era arcebispo de Buenos Aires e como há outros no mundo inteiro. Agora, a primeira resposta diante de um possível apelo desse género é dizer: “Eu fiz um voto e não posso aceitar.”

Deve tê-lo dito aos cardeais, então.
Sim, mas de qualquer maneira ele já era bispo, e nesse sentido, sendo jesuíta, já não estava sob obediência do padre geral. Uma vez nomeado bispo, continua a ser o que era, um jesuíta, mas deixa de estar a atuar apostolicamente no corpo da Companhia de Jesus, por isso já não estava sob a jurisdição do padre geral.

Que novidade é que o Papa Francisco trouxe à Igreja?
Acho que há uma coerência. Se a novidade do Papa fosse simplesmente ter sapatos pretos em vez de sapatos vermelhos, penso que seria uma coisa quase ridícula. Até viver numa casa em vez de outra casa é uma coisa significativa, mas confesso que acho pouco relevante. Acho que a novidade do Papa Francisco é um estilo diferente de compreender a própria missão, desde logo como Papa, como bispo de Roma — é interessante que ele ponha a ordem das coisas: ele é Papa porque é bispo de Roma –, e um outro modo, uma outra prática de compreender o lugar do Cristianismo, compreender um estilo cristão de ser num tempo que não se revê imediatamente, nem no modo de pensar, nem de viver, nem de sentir do Cristianismo. A grande novidade do Papa Francisco é procurar um Cristianismo que faça sentido e que seja fecundo num tempo onde a proposta cristã não decorre de si. Em tudo o resto, desde os aspetos mais anedóticos da sua indumentária até opções de fundo no campo pastoral, como a Amoris Laetitia, acho que há aqui uma grande coerência de um estilo de vida que vai para além de uma compreensão simplesmente nocional, como diria o cardeal Newman, ou teórica das coisas.

Desde a eleição do Papa Francisco parece haver na Igreja Católica uma divisão entre os mais progressistas e os conservadores que criticam o Papa, se é que podemos usar estes rótulos. A dimensão progressista do Papa tem alguma coisa a ver com ser jesuíta?
Muito da sua maneira de ser é porque é quem é. De facto, vê-se que é uma pessoa clara na palavra e no gesto, frontal, mas ao mesmo tempo próximo, com bom humor, etc. As características pessoais da sua personalidade e do seu contexto. Agora, pegando nessa questão, a própria categoria conservador e progressista creio que faz sentido — ou melhor, compreende-se. Mas não sei se é muito adequada, porque acaba por pôr as coisas em clichés quase de pólos opostos. Creio que a questão é mais complexa do que isso. Como eu entendo, o Papa Francisco vai ao coração, ao que é mais elementar no Evangelho, e a como é que essa dimensão mais elementar do Evangelho pode hoje levar a Igreja a redesenhar o modo de estar, de sentir, de pensar, de atuar, que seja fecundo num contexto global, plural, secularizado em muitos contextos. Creio que isso faz com que haja aqui uma deslocação da própria compreensão da autoridade da Igreja, até da própria tradição da Igreja, e de símbolos eclesiais, que em muitos casos são identificados quase como o coração da Igreja e da vida eclesial. Penso que é mais um conflito de perceções e de insistências, mais do que conservador e progressista. Porque acho que o Papa, nalgumas coisas, para usar essa categoria, tem muito de progressista e tem coisas em que tem muito de conservador.

Onde é que tem muito de conservador?
Numa certa linguagem espiritual, por exemplo quando fala do Diabo ou quando fala da piedade popular, que eventualmente pode ser associada a práticas espirituais mais conservadoras. Portanto, acho que são categorias que servem tanto quanto.

Disse uma vez que o Papa Francisco “não tem uma compreensão teórica, intelectualizada, do fenómeno cristão”. Era esta a compreensão que Bento XVI tinha?
O próprio Papa Bento XVI disse agora recentemente, soubemos numa carta, que dizer que ele é o teólogo e o Papa Francisco é o pastoralista — agora já são expressões minhas — é um bocadinho tonto, e acho que ele tem razão. Agora, é evidente que há aqui acentos muito diferentes. O Papa Bento XVI tinha uma compreensão muito teológica, até no melhor sentido da palavra, do Cristianismo e do modo como a Igreja hoje deve estar no mundo contemporâneo. O Papa Francisco tem uma abordagem muito mais a partir da realidade como ela se apresenta. Por isso, as abordagens não estão em contradição, pelo contrário, são complementares. Mas acho que sim, o ponto de partida e o ponto de acentuação é diferente.

Era preciso um Papa como Francisco perante o mundo atual de que falava, em que o Cristianismo já não é a norma?
Sei que a Igreja vê-se com o Papa Francisco. De alguma maneira, confrontou-se com uma renúncia inesperada do Papa Bento XVI e encontrou-se com a eleição de uma pessoa como o Papa Francisco. Hoje cabe-nos, creio eu, entrar generosamente em contacto com o modo como o Papa Francisco entende a Igreja e o modo como a Igreja deve estar no mundo contemporâneo. Essa é a força, tal como anteriormente a Igreja e cada um de nós foi chamado a confrontar-se com os acentos que o Papa Bento XVI fazia, hoje creio que nos cabe entrar numa relação fecunda com aquilo que o Papa Francisco apresenta para a Igreja. Estando ele, creio que é claramente uma bênção para o momento da Igreja.

Há pouco falava da exortação apostólica Amoris Laetitia e classificava-a como uma opção de fundo a nível pastoral. Relativamente à questão que mais tem dado que falar naquele documento, que são as referências às situações irregulares no casamento e ao acolhimento dos divorciados que voltaram a casar, disse numa entrevista que não há “ambiguidade no texto”. Então o que é que explica que tenha havido tanta polémica com este documento que o patriarca de Lisboa escreveu sobre o assunto?
O que é complexo é complexo, e acho que a tentativa de simplificar excessivamente as coisas corre o risco de as aplanar quando elas não são aplanáveis. São questões rugosas, digamos assim. É uma situação complexa e até complicada, e fazer de conta que não o é, penso que é tirar força à própria realidade. A vida dos casais é complexa, complicada, é exigente. A vida das pessoas, a vida afetiva, a educação dos filhos, tudo isso. Desde logo, nesta questão dos recasados, é isso que vem ao de cima. As relações entre um homem e uma mulher são muito complexas, a educação e a geração dos filhos, a fidelidade, é tudo isso. Essa é a matéria prima que está nesta questão dos recasados. Creio que aqui o mais importante, independentemente de todas as outras questões, é: o que é que a Igreja faz diante das situações concretas? O Papa Francisco parte daqui, e ele não parte sozinho. A Amoris Laetitia é o resultado de dois sínodos, de muita reflexão na Igreja Universal e depois concretamente entre os bispos e os outros peritos presentes nos sínodos. Portanto, o que se passa aqui é não deixar sem uma resposta minimamente aceitável aqueles que vivem situações não regulares pela ordem das coisas e que não querem ser considerados à margem de todo o percurso cristão. A força da Amoris Laetitia é de entender, de assumir que hoje em dia não é possível um padrão absoluto e fechado sobre si mesmo que se aplique de igual modo a todas as pessoas e em todas as circunstâncias.

É preciso ir a cada caso concreto?
Tem de se ir a cada caso. Creio que hoje a pastoral da Igreja — e o Papa Francisco tem isso muito claro — não é possível ser efetiva e fecunda se não for capaz de acompanhar ritmos diferentes de vida e de fé, e de não ter simplesmente sim ou não para as situações de vida, de pessoas, de grupos, de casais, que por algum motivo não correu como seria expectável e desejável. Se a Igreja diz que há lugares onde a Graça não pode fazer nada, a não ser que a pessoa mude radicalmente — mas nós sabemos que há situações não podem ser mudadas –, estamos a fazer uma afirmação teológica muito grave. Não há situação nenhuma onde a Graça não possa agir de alguma maneira, não possa recomeçar um caminho. Esta é a força da Amoris Laetitia, olhar para a realidade como é, tentar dar resposta concreta a “n” situações deste género que geram tanto sofrimento, e tentar fazer um percurso adulto, sério, de discernimento, de acompanhamento e de integração. Como é algo muito complexo, que toca questões muito centrais na Igreja como a questão do sacramento, a questão da fidelidade, é natural que haja debate, é natural que haja desencontro, mas isso faz parte do percurso do discernimento.

É isso que o Papa quer? Provocar debate e discussão?
Não sei se é o que ele quer, mas creio que o Papa Francisco leva a sério a questão do discernimento, que é sempre um pesar de moções diferentes, que podem ser moções mais interiores ou moções mais intelectuais. Por isso é que o Papa não quis, em nome de uma unidade da Igreja, preservar as próprias atas onde a discussão do sínodo era exposta. A discussão faz parte do discernimento, e portanto não temos de sentir que a unidade da Igreja está posta em causa quando sobre situações tão complexas há entendimentos diferentes, que não têm de se excluir, mas também não tem de se chegar a uma linha meridiana que integre tudo e não sirva para nada. Não tenho medo dessa tensão, mas o que o discernimento espiritual nos diz também, a partir dos exercícios, é que existem movimentos ordenados segundo o espírito, e há movimentos desordenados. Na linguagem de Santo Inácio, que são do mau espírito. Muitas vezes, nem são morais. São resistências, são medos, são dificuldades de ver, são fechamentos à abertura. Portanto, o discernimento pede-nos abertura à discussão e à partilha franca, mas pede-nos também uma análise pessoal e eclesial dos possíveis bloqueios que estamos a pôr à ação do Espírito Santo. Daí a exigência do discernimento.

Num futuro próximo é possível implementar ações como o fim do celibato ou a ordenação de mulheres?
São coisas diferentes, são questões mais uma vez exigentes, difíceis. Não creio que se chegue lá facilmente e de ânimo leve.

Mas há que chegar lá?
Confesso que não tenho isso como uma prioridade. Apesar de tudo, são coisas diferentes. Não sinto que seja uma prioridade, não creio que a Igreja esteja aí. Mas também quem sou eu para dizer que a Igreja não vai fazer um caminho nesse sentido, como fez um caminho em tantos outros sentidos no passado? Serão necessariamente caminhos de maturação muito lenta.

Relativamente à questão das mulheres, lembro uma notícia recente que saiu na revista do Osservatore Romano sobre situações de exploração de freiras por parte de membros do clero. Por um lado, há ali uma questão de exploração que se prende com direitos humanos e questões laborais, mas por outro lado expôs novamente a ideia de que as mulheres têm um papel inferior na Igreja — e a não ordenação de mulheres é outro exemplo. A Igreja Católica discrimina as mulheres?
Pode haver ainda casos que indiciam uma cultura machista na Igreja, como uma cultura machista fora da Igreja. Não excluo que haja situações que são expressões desse machismo, ou de uma presença de desigualdade entre o homem e a mulher. Na cultura ocidental, na cultura portuguesa, e também na Igreja ocidental — e se calhar noutros contextos ainda mais. Se existem, acho que nos cabe corrigi-las. Acho que ajuda a pôr as coisas não apenas bem ou mal, mas num contexto da sua evolução. Se existem situações deste género, onde claramente sentimos que a mulher, por ser mulher ou por ser religiosa, está ao serviço do padre ou do bispo só porque ele é homem e porque está numa posição de superioridade, como se fosse uma espécie de serviço pouco digno, há que corrigir isso, claramente.

Já está há quatro anos à frente da província dos Jesuítas em Portugal. Como avalia o que tem sido feito neste tempo?
Desde logo, até por pedido do padre geral a toda a Companhia, houve aqui um esforço de avaliação do estado em que estávamos, de cada uma das obras. No fundo, para provocar um certo distanciamento de cada um dos nossos trabalhos para perceber como é que estamos a fazer. Um diagnóstico que nos ajudasse a relançar o nosso caminho a partir do que existe. Daí nasceu o Plano Apostólico da Província, que de alguma maneira estabeleceu um conjunto de prioridades. Mas não só prioridades de coisas a fazer. Para mim foi muito importante também estabelecer um modo de fazer. São coisas que podem parecer um bocadinho abstratas, mas que para mim são muito importantes. Esse modo de fazer consistia em assumir com serenidade a consciência de que nos cabe evangelizar, anunciar o Evangelho, num contexto plural e secularizado. Esse é o ponto de partida. Olhar para a nossa realidade com o mínimo de serenidade e de tranquilidade. Nós vivemos numa sociedade plural e secularizada onde o Cristianismo, à partida, já não é a forma de pensar e de sentir comum das pessoas. A partir daqui, cabe-nos olhar para ela com uma grande empatia, isto uma capacidade de entrar em contacto com a realidade cultural, pessoal, política, social. Um verdadeiro exercício de encarnação. Temos de amar este mundo, que é o nosso. Não temos outro e não somos pessoas sem mundo, este é o nosso mundo. Ao mesmo tempo, temos de olhar para a sociedade com uma grande liberdade profética. Como cristãos, temos alguma coisa a acrescentar ou não? Podemos alargar o horizonte? Podemos ajudar a que as pessoas tenham uma vida mais fecunda? A que as relações sejam mais justas, mais verdadeiras? Esse é o lado do contributo. E depois, desejar construir pontes fecundas com outros protagonistas, com outras pessoas que não estão imediatamente no nosso contexto.

Privilegiam o diálogo com quem está fora da Igreja Católica?
Importa muito, porque o Cristianismo, se se fechar sobre si mesmo, não é nada. O Cristianismo existe para anunciar o Evangelho ao outro. Mas o outro, as outras pessoas, não são apenas destinatários da nossa mensagem. Os outros são aqueles sem os quais nós ainda não nos compreendemos plenamente como cristãos. Nós, cristãos, não nos podemos compreender sem aqueles a quem o Evangelho ainda não foi anunciado. Hoje, o modo de anunciar o Evangelho passa por querer estar em contacto com a realidade, mesmo com aquela que é exterior à Igreja — diria sobretudo com essa. Porque a Igreja não tem de aceitar acriticamente as críticas que lhe são feitas, ou não tem de aceitar a pluralidade dos contextos exteriores à própria Igreja, mas a Igreja ganha muito se aceitar ser observada, se se deixar observar e receber o feedback daqueles que estão de fora. De facto, de fora também se veem coisas que não se veem de dentro, e essas coisas penso que ajudarão muito a Igreja a compreender-se.

Que coisas são essas que se veem de fora?
Posso dar um exemplo que me é muito caro. Sigo muito um filósofo italiano, Massimo Cacciari, que foi presidente da Câmara de Veneza. Ele não se apresenta como cristão, pelo menos será agnóstico, mas é das pessoas que conheço que mais conhecem o Cristianismo. A mim ajuda-me muito ouvi-lo. Como é que ele, a partir de fora, lê o Cristianismo, as grandes dinâmicas cristãs e até personagens cristãs, como por exemplo São Francisco. Outro exemplo, este caso que citou relativo às mulheres. Acho que esse é um olhar de fora que ajuda a Igreja a tomar consciência de coisas que à partida não notaria, pela força do hábito, e que a ajuda a ser mais o que deve ser. Portanto, não significa simplesmente estar dependente da observação exterior, mas creio que esta capacidade de entrar em diálogo franco, poder dar uma palavra franca sobre as coisas e ter uma disponibilidade para ouvir uma palavra franca sobre as coisas de quem à partida não pensaria como nós pode construir algo muito fecundo.

Em Portugal, o que é que os jesuítas fazem neste sentido?
Há duas coisas muito concretas além de todas as outras que fazemos no dia a dia, nos centros universitários, nas paróquias, seja onde for. O portal Ponto SJ nasceu como a concretização de um desejo de ter vários olhares que nos interessam a todos e estabelecer pontes entre o Cristianismo, ou uma identidade cristã vivida na primeira pessoa, e olhares que estão mais na periferia ou até em zonas nada identificadas com o modo cristão de ver. Por isso, também procurámos que a abertura, no Teatro da Comuna, pondo uma irmã e a Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, a dialogar, a encontrar-se, servisse para dizer que há lugares de grande fecundidade que podem acontecer quase de modo improvável, entre pessoas que à partida não se encontrariam. Esse é um modo muito fecundo de construir a Igreja, mas também de construir uma sociedade mais justa. O que estamos a planear em redor da Brotéria, da revista e da biblioteca, mas também um centro cultural de reflexão, de pensamento, mais amplo, que possa ser uma interface, um ponto de encontro e de diálogo entre uma perspetiva cristã e as culturas urbanas contemporâneas. É um espaço na cidade de Lisboa, numa cultura mais urbana, que possa gerar encontros, talvez esses também improváveis, de maneira a que daí também possa surgir alguma fecundidade também no espaço público. São dois exemplos concretos de viver o anúncio do Evangelho, de ser presença de Igreja e de realizar este diálogo.

Por João Francisco Gomes in Observador, 1 de Abril de 2018

domingo, 27 de outubro de 2013

Carta a um leitor anónimo e solitário

No ano passado recebi um e-mail de um leitor que terá criado uma conta com nome fictício para se sentir mais confortável e mais protegido. Demorei algumas semanas a responder e, quando o fiz, o mail nunca foi entregue - provavelmente a conta foi fechada. Mas como penso que a história contada (fictícia mas com muitos traços de realidade) e a resposta dada possa ser útil a algum leitor, tomo a liberdade de as transcrever para o corpo desta mensagem de moradasdedeus:

Mensagem recebida de um leitor gay católico não assumido

Olá! Estive a fazer umas pesquisas na internet e descobri o teu blogue, que me chamou a atenção.

Confesso que não li muitos posts (até porque eram grandes) mas o que me me fez escrever este e-mail foi a vontade de ouvir e ter contacto com alguém que vai perceber o sofrimento enorme que tenho sentido!

Eu também sou gay (não assumido) e católico. Tenho 25 anos e sou formado em Direito.
Nasci numa família extremamente conservadora (de quem gosto muito) e a maior parte dos meus amigos - ou pelo menos aqueles com quem tenho amizades mais profundas - também são católicos activos e empenhados. 

A minha experiência de fé está muito ligada à espiritualidade Inaciana (aos Jesuítas) que, dentro da Igreja, acabam por ser bastante abertos. Ainda assim, e apesar de me ter sentido sempre acolhido pelos padres com quem falei, estou numa tristeza enorme por ser gay. Sinto-me completamente inferiorizado, tenho pena de ser assim e, no fundo, adorava ter uma família e filhos.

Ultimamente, por sugestão do meu orientador espiritual, tenho procurado, em oração contemplar o olhar amoroso de Deus para mim, gay... E não consigo. Sinto que este é um ponto na minha vida que correu mal. Que deu para o torto. E Deus, que me ama no todo, não ama especificamente essa minha vertente. Eu sei que isto não faz muito sentido. O padre que me orienta até se esforça por me convencer que não existe qualquer fundamento para isso mas eu não consigo avançar na oração.

Também em casa e entre os amigos me sinto sempre inferior. Fico completamente destruído pelas piadas homofóbicas e fico de rastos com a possibilidade de haver suspeitas de que eu sou gay. Este ano especificamente, em que muitos dos meus amigos se vão casar, cada vez que os vejo juntos e felizes fico ainda mais triste com a minha solidão (embora fique feliz por eles).

Por outro lado, não me identifico nada com o mundo gay... as paradas e desfiles, as noites de engate, as bichas histéricas, etc. "A minha cena" é diferente. Acredito em compromisso, em relações profundas e difíceis. Acredito no verdadeiro amor, no que dá trabalho, no que pede investimento e entrega.

Ponto de situação - sinto-me completamente só! Parece que tenho um ácido que me vai destruindo. Tenho imensa pena de não ter uma doença grave, que me faça durar pouco. Ou então de não ter coragem (e pouco respeito pela vida) para me poder suicidar.

Enfim...
Não sei muito bem porque é que te estou a escrever. A verdade é que dificilmente me poderás ajudar, tanto mais que nem me conheces. De qualquer maneira, se tiveres tempo e vontade responde.
Um abraço.

P.S. - Desculpa mas toda a minha identificação é fictícia. Criei este e-mail para poder expressar livremente a minha condição.

Resposta ao leitor

Olá!
Aproveito estes momentos mais tranquilos para responder calmamente ao teu mail.

Antes de mais quero dizer-te que fico muito feliz por teres chegado ao blogue e ainda mais feliz por teres encontrado a coragem de escrever a mensagem. Sinto-me muito privilegiado quando vejo que, de alguma forma, o blogue vai cumprindo a sua primeira vocação: o ser útil a alguém e fazer com que esse alguém compreenda que não está só e não é um caso isolado. E, por essa razão, quero reafirmar-te a minha disponibilidade para te escutar e, se quiseres, para partilhar contigo a minha experiência pessoal e a minha experiência enquanto pessoa que já conheceu muita gente que vive um conflito interior entre a sua condição (homossexual) e a sua fé ou educação, que é muito doloroso e até pode ser muito destrutivo.

O blogue já tem algum tempo, e comecei-o depois de aceitar plenamente a minha homossexualidade e de ter falado com os meus pais e algumas pessoas que me eram mais próximas. Tenho a sorte de ter uma fé bem alicerçada e de ter trabalhado com relativa facilidade o possível conflito entre a minha orientação sexual e a religião. Outras questões foram bem mais morosas e difíceis. Mas não me quero desviar do teu mail. Estava a falar-te do blogue. É verdade que alguns posts são grandes, e não te aconselho a ler o blogue de fio a pavio. Mas quando tiveres questões ou assuntos que te interessem de um modo particular, no fim da primeira página tens uma série de palavras-chave, que te podem conduzir mais directamente ao tema do teu interesse. Outra forma é ires ao historial do blogue e escolheres pelos títulos.

Adiante.
Falaste-me da tua família, dos teus amigos, da espiritualidade com que te identificas mais. Deixa-me dizer-te que tens sorte por teres uma família que amas, e nada disso vai mudar, independentemente do futuro. E tens sorte também por te identificares com a espiritualidade inaciana, que é uma lufada de ar fresco no mofo da Igreja em Portugal (ainda muito conservadora e hierarquizada). Os Jesuítas são homens muito abertos à sociedade onde vivem. São pessoas habituadas a escutar e a ir ao encontro das pessoas e são pessoas normalmente inteligentes e com espírito crítico, sem grandes preconceitos e sem medos (o conhecimento normalmente afasta o receio cego). Tens um director espiritual que te escuta, e isso é extraordinário. É frequente haver directores espirituais que são um pouco manipuladores, e o teu não parece ser. Escolheste ter um director espiritual: se estás contente com o "trabalho" que estão a fazer em conjunto, aconselho-te vivamente a confiares nele.

Quanto à tua tristeza, posso compreendê-la perfeitamente: quem não desejaria ser heterossexual, quem não desejaria ter uma vida mais fácil, uma relação mais socialmente integrada e aceite? Sobretudo quando se deseja ter uma família e filhos...

Também eu passei anos a negar, a querer construir algo que no meu íntimo sabia não ser capaz de construir... Mas sabes, agora já não me sinto tão triste. Não pelo facto de ser gay; às vezes sim pela dificuldade de encontrar alguém com quem possa construir uma relação duradoira. Ou até pela dificuldade de encontrar alguém de uma forma natural e de me apaixonar assim (apesar de não ter nada contra quem conheça pessoas pela net, continuo a acreditar que prefiro apaixonar-me por alguém que conheça na minha vida quotidiana).

Quanto ao descobrires o olhar amoroso de Deus, a mim também me parece fundamental. Achas que se Deus não te quisesse como és, tinha-te feito gay? Acreditas mesmo que Deus se anda a enganar ou a fazer experiências falhadas? Não, a tua vida não deu para o torto, nem vai dar! A vida é uma coisa maravilhosa e incompreensível, e também difícil e tortuosa, mas não teria piada nenhuma se não o fosse... Seria tépida e enjoativa e ninguém construiria nada com as suas vidas. Não haveria artistas, nem santos, nem ninguém lutaria por construir um mundo melhor - porque não acreditariam que fosse possível. Deus ama-te inteirinho. Deus até ama as coisas que nos parecem menos boas. Mas. acredita, ser gay não entra na categoria dos "defeitos" (até ao século passado achava-se que ser canhoto era defeito, assim como ser mulher). Se não fosses gay serias certamente menos sensível, menos atento ao sofrimento alheio. E daqui a uns tempos, quando te conseguires amar e aceitar inteiramente, verás que serás uma pessoa muito melhor e um ser humano mais completo - provavelmente, se não fosses gay, nunca terias de trabalhar isso.

Se em oração não consegues acreditar nesse olhar amoroso que Deus tem para ti, pede-lhe simplesmente perdão pela dificuldade de acolher esse Amor. Oferece-lhe a tua pobreza, o teu medo, a tua insegurança e a falta de amor (a ti mesmo). E podes oferecer-lhe mesmo isso, pois Deus está cheio de tudo de bom o que tens para dar. O que Ele quer mesmo é a tua fraqueza, pois isso Ele não tem, mas pode certamente transformar.

Quanto ao sentimento de seres inferior... Não és, e sabes disso! Ninguém é inferior a ninguém. Somos todos seres humanos. Jesus viveu com homens e mulheres pecadores, seres "inferiores". Não achas que Ele o fez por alguma razão? Achas que o facto de Ele ter morrido e ressuscitado por ti, não mudou nada na tua vida? Na minha mudou!

E os medos das suspeitas. É normal que os tenhas: tu ainda não trabalhaste em ti a aceitação. Como não ter receio que os outros não aceitem? Essa é uma fase seguinte: primeiro tens de acreditar (cabeça) e aceitar (coração) que o G (nome fictício do leitor) é homossexual, e que não há qualquer problema nisso. Depois, aos poucos, vais ficando menos tenso e menos na defensiva, e deixas de ter medo das "suspeitas".

Conheço um rapaz homossexual, que dizia saber desde sempre que era homossexual. Ele não queria nada parecê-lo, e tentava sempre manter uma postura impecável mas muito rígida e inflexível. Uma vez disse-lhe que sempre soube que ele era gay. Ele ficou espantado, perguntou-me se se notava (com receio que algum trejeito o tivesse revelado). Eu disse-lhe para ele não ter receio, pois não era disso que se tratava: era a sua rigidez e constante tensão. Como vês, às vezes o feitiço pode-se virar contra o feiticeiro. E outra coisa que te quero chamar a atenção - pois neste caso isso acontecia -, tens de prestar atenção se esse medo das suspeitas e a tua sensação quando contam piadas homofóbicas não tem a ver com a tua própria homofobia. Sim, podes crer que há muitos gays homofóbicos. E isso é um mecanismo natural de defesa (porque desejavas ser heterossexual, porque tens dificuldade em aceitares-te como és). Não te estou a acusar de nada - não te conheço -, nem te quero ofender, quero somente alertar-te para as "manhas" da nossa cabeça e para a complexidade de todo o processo da aceitação da nossa sexualidade.

A solidão é de facto um fardo pesado a carregar. Não se aplica somente aos homosexuais, mas a todo o ser humano. Mas não podemos confundir o estar sozinho com o estar só. Ao longo da minha vida tenho trabalhado essa questão. Gosto muito quando não estou sozinho, e desejo ter um companheiro de vida, mas acho que aprendi a nunca estar só. Há fases na minha vida em que estou sozinho - por exemplo agora - mas sinto que é importante aprender a estar bem sozinho. Só se está bem acompanhado se se sabe estar bem sozinho. Claro que isso parece um chavão mas, acredita, nos meus 35 anos de vida tem sido uma descoberta. Mas digo-te que também eu, por vezes, sinto a solidão.

O mundo gay com que não te identificas, também eu e a maioria dos gays que conheço não se identifica com ele. A tua "cena" é diferente da "cena cultural gay" mediatizada, mas é a mesma da maioria dos gays. Só que a sociedade faz com que andemos às escondidas, daí não ser fácil ter referências que consideres positivas, construtivas, com as quais te identifiques. Mas elas existem, e cabe-nos construí-las.

Ponto da situação: não estás só! Eu estou aqui, e há muita gente que não conheces que anda por aí. Não deixes que o teu coração escolha o caminho fácil (o do desespero, o de desejar morrer, o do suicidio). Também eu sonhei e pensei muitas vezes nisso. Mas amo demais a vida, e já "morri" uma vez. Aguento o sofrimento, sei disso. E tu também. O ser humano tem uma energia vital e uma capacidade de reconstrução espantosa. Tens uma vida para construir, do que estás à espera? Espero não te assustar com tantas palavras e - aparentemente - tantas certezas. Não o quero fazer, só te quero dar força e dizer-te que estou aqui. E dizer-te também que se quiseres falar de tudo isto estarei cá.

Abraço-te calorosamente, e estou mesmo aqui, para o que for preciso neste processo.
Rioazur

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Entrevista com o Papa Francisco

Pela extensão da primeira entrevista do Papa Francisco, uma entrevista exclusiva às revistas dos Jesuítas dada ao P. Antonio Spadaro S.J. no dia 19 de Agosto de 2013, esta não será transcrita na íntegra para o corpo de uma mensagem.

Mas pelo interesse do seu conteúdo, o moradasdedeus vai anexá-la aos documentos em destaque no blogue, disponíveis acima das mensagens, no topo do blogue.

Aqui segue um link directo

domingo, 1 de abril de 2012

Comparação e imitação: o perigo de seguir um modelo

Viver sem se comparar

Para falar, o homem usa comparações. Não são elas essenciais à descoberta e à expressão da verdade? O próprio Cristo age assim quando quer «revelar» coisas escondidas desde a fundação do mundo. «Com que hei-de comparar o Reino dos céus…?» E Santo Inácio, para que se torne visível o que é invisível, propõe à pessoa que está a fazer retiro uma «composição de lugar» que é uma verdadeira «comparação corporal»!

Contudo, se tem de comparar, o homem deve reconhecer que comparar-se é entrar no jogo mortal da rivalidade e da inveja. Para nos encontrarmos a nós mesmos, devemos renunciar a todo o modelo, isto é, num primeiro sentido: «aquilo que se reproduz por imitação. Latim: “modulus” medida… por analogia pessoa, objecto… que merecem ser imitados.» (Grand Larousse encyclopédique de 1963).

A imitação é um conceito que, para ser bem compreendido e vivido, deve ser convertido, sobretudo quando se trata «de imitar Jesus-Cristo». Seguir Jesus-Cristo é passar para além do mimetismo para deixar viver o desejo. Quando Cristo nos diz: «Amai-vos como eu vos amei», o como é analógico, respeita a diferença; segundo bons exegetas, dever-se-ia traduzi-lo «segundo a medida do meu amor». E cada um segundo a medida da sua graça! Com efeito, Cristo é único e inimitável. Aliás, há vários «modelos» no Evangelho. Qual escolher? O da Galileia ou o de Jerusalém? Temos opção?

Paradoxalmente é renunciando a toda a imagem imitável, mesmo à de Jesus Cristo, que nos tornaremos nós próprios, e conseguiremos assemelhar-nos àquele cuja imagem somos chamados a reproduzir (Romanos 8, 29). (…)

Assim, sem sacralizar nenhuma via, mesmo que ela seja excelente, chegaremos àquela que as «ultrapassa a todas»: a via do amor verdadeiro.

«Senhor, e que vai ser deste…?
Se eu quiser… que tens tu com isso? Tu, segue-me!» (João 21, 21-22)

[Editorial do n.º 133 Janeiro de 1987 da revista CHRISTUS]

Imitar e seguir

No filme Viridiana, de Buñuel, uma jovem noviça é levada, por razões de família, a deixar o convento. Depois da sua saída, tenta imitar com exactidão no mundo aquilo que ela tinha ouvido e aprendido no convento da vida exemplar de Jesus. Reúne mendigos à volta dela, dá-lhes de comer e quereria fazer deles um grupo de devotos. Contudo, a «santa empresa» falha e provoca precisamente o contrário daquilo que a jovem mulher se propunha. Produz-se uma explosão de violência à qual a própria benfeitora escapa a muito custo.

A questão posta por este filme de Buñuel não é artificial; uma observação atenta descobre alguma coisa análoga na vida dos santos. Antes da sua conversão, Inácio de Loyola era um cavaleiro ambicioso e um soldado. Ferido em combate, entusiasmou-se, sob a influência de uma vida dos santos, por um ideal novo, e pôs-se a copiar, a partir do exterior, o género de vida de São Francisco e de São Domingos, e tentou mesmo superá-los aos dois por meio do rigor das mortificações corporais. Tudo correu bem durante alguns meses, depois desencadeou-se uma crise que o mergulhou numa perturbação profunda e que cresceu até à tentação do suicídio. A imitação de um ideal a partir do exterior tinha resultado muito rapidamente nele numa auto-agressão maciça. Não foi senão graças a um claro discernimento dos efeitos devastadores do seu zelo cego e a uma nova experiência do Espírito que ele foi libertado desse estado insuportável e perigoso. Por esta reviravolta da sua maneira de pensar (espécie de «segunda conversão»), Inácio aprendeu a distinguir entre imitar a partir do exterior e seguir segundo a condução do Espírito. Mais tarde, ele devia desenvolver o método dos Exercícios a partir desta visão central.

O mecanismo da imitação

René Girard analisou minuciosamente, utilizando grandes romances da literatura universal, a relação que existe entre a imitação/mimésis e a agressão. Ele mostra, com o testemunho dos grandes escritores, que os homens não se bastam a si próprios, aspiram a realizar-se mais e imitam desejos que lhes são alheios, porque eles próprios não sabem o que poderia dar-lhes a felicidade ardentemente desejada. Todas as espécies de modelos fascinantes podem suscitar a imitação, mas ela nasce, no fim de contas – antes de todo o julgamento e de toda a comparação – de uma «imediatidade quase-osmótica»[1] com essa imagem ideal que entra por acaso numa vida. Como este desejo é uma cópia de um desejo alheio, ele é espontaneamente dirigido para o bem que o modelo já procura alcançar. Se o bem for limitado, o conflito é inevitável porque dois desejantes não podem possuir o bem de uma maneira igual. Tal é a origem da célebre estrutura triangular do desejo que desempenha um papel determinante não só nas relações eróticas mas também na luta pelo poder e mesmo em todo o lugar em que se trate de influência e de relações.

As análises de Girard permitem compreender que da admiração, e mesmo da união «quase-osmótica» com um ideal, podem nascer espontaneamente conflitos e rivalidades, sem que uma intenção consciente perversa ou uma agressão congénita devam entrar necessariamente em jogo. A imitação fundada na admiração leva à rivalidade pelo seu dinamismo próprio. Estas mesmas análises mostram além disso que a continuação do conflito é determinada pela mimésis porque a hostilidade incipiente leva também à imitação. Assim a rivalidade pode facilmente crescer até à agressão consumada e à violência. Nesta questão, representações abstractas e ideias estranhas à vida desempenham também frequentemente um papel de modelos. Por exemplo, o Dom Quixote de Cervantes tinha perante o seu olhar interior, em todas as suas acções, o rei Artur dos romances de cavalaria. Esta imitação, a bem dizer, não o desviava para a violência física, porque o seu modelo/adversário (o rei Artur) estava demasiado distante e era absolutamente impossível combatê-lo fisicamente uma vez que ele não existia senão nos livros; mas Dom Quixote movia-se num mundo irreal e ele foi levado a lutar contra moinhos de vento.

Girard analisa também, em relação com a mimésis, os problemas da auto-agressão. Um modelo que sente que um desejo admirador e imitador aspira à mesma coisa que ele, adopta habitualmente uma conduta hostil a seu respeito. Normalmente, ele não fica apesar disso menos um modelo. É por isso que a sua tendência agressiva contra o «discípulo» é copiada também por este. Deste modo o imitador – numa união «quase-osmótica» com o seu modelo que se vira contra ele - é levado a «lutar» contra si mesmo. Fenómenos tais como o sadismo e o masoquismo podem encontrar assim uma explicação elucidativa.[2]

Estas análises da mimésis tornam muito explícitas as primeiras experiências religiosas de Inácio, porque o cavaleiro basco, depois da sua conversão, parece ter-se extraviado de duas maneiras no mecanismo da imitação. Por um lado, ele imitava os aspectos exteriores austeros do género de vida e as mortificações corporais dos santos que lhe tinham surgido como modelos novos e ele punha-se a tratar duramente o seu próprio corpo. Por outro lado, o velho ideal cavaleiresco, segundo o qual é preciso «superar» e «suplantar» os outros, continuava a actuar nele. Por isso é que ele queria fazer ainda mais do que os seus modelos novos e as suas rudes mortificações corporais. Deste modo ele foi arrastado para uma dupla dureza e «agressão» contra si próprio, e teve de experimentar que, no fim de contas, crescia nele a tentação do suicídio.

O mecanismo da mimésis ajuda a compreender de uma maneira nova tanto os personagens de romances como muitas experiências tiradas das vidas dos santos. Poder-se-ia ilustrar também a sua importância considerável com exemplos triviais como os da publicidade televisiva, porque esta publicidade não elogia, em geral, produtos isolados de todo o contexto, mas mostra pessoas sedutoras que desempenham a função de modelos e possuem o produto em questão. Deste modo é suscitado no telespectador o desejo secreto de ter o mesmo objecto. Os especialistas da publicidade parecem portanto ter descoberto instintivamente esta lei da mimésis da qual Girard fez uma análise sistemática. Mas, para o nosso tema, o que é mais significativo é que, graças a uma inteligência mais penetrante do mecanismo da mimésis, textos bíblicos capitais se tornam mais eloquentes.

A via de Cristo e a imitação

«O Reino de Deus está próximo.» Jesus inaugura a sua vida pública com esta mensagem. Antes de tentar converter os homens a um comportamento novo, indica-lhes um bem novo, o Deus próximo, capaz de satisfazer completamente a sua aspiração mais profunda e que não provoca nenhuma rivalidade, porque Ele está pronto a dar-se a todos sem limite. Os homens, no fundo do seu coração, não têm de se colocar sob uma lei nova ou sob um modelo novo, mas de perceber uma realidade nova, de se deixarem abrir a ela e determinar por ela. Jesus proclamava que o Pai celeste era um Deus intimamente próximo dos homens e que se interessava pelos pecadores com amor. Para poder reconhecer neste «Pai» o verdadeiro Deus, é preciso seguramente romper com a atracção instintiva dos modelos terrestres.

É por isso que Jesus, pela sua mensagem do poder de Deus muito próximo, exigia também aos homens uma transmutação radical daquilo que é considerado como um modelo segundo os olhos do mundo (Bem-aventuranças). Face aos ricos ele coloca os pobres, face àqueles que riem os que choram, face aos guerreiros e aos combatentes vitoriosos os mansos e os artífices da paz. No lugar dos que o mundo admira instintivamente, ele elogia os homens normalmente considerados sem valor. Deste modo ele tenta abrir para novas experiências e dar novas possibilidades de vida.

No Antigo Testamento fazia autoridade o princípio «olho por olho, dente por dente» (Êxodo 21, 24). Não era um princípio de dureza cruel como frequentemente o pensam, mas uma máxima de moderação sensata num mundo de pecado. Com efeito, os homens tendem por si mesmos para represálias sem limites, como bem o mostra o Génesis com as personagens de Caim e de Lamec que tinham por princípio vingar-se sete vezes, até setenta vezes sete (Génesis 4, 23). Jesus não se afastava somente de Caim e de Lamec; pela sua mensagem ele visava mesmo mais do que a lei das represálias únicas e comedidas, e atacava assim o mecanismo da mimésis. Com efeito, aí onde segundo o princípio «olho por olho, dente por dente» se responde a uma má acção com uma retaliação proporcionada, aí reina a imitação que, por si – apesar da tentativa de sábia moderação -, não tem fim, estando cada um persuadido de que não foi ele quem começou com o mal, mas que ele deve apenas «exercer represálias» contra uma anterior má acção do seu adversário. A escalada no mal não pode pois ser superada na raiz senão se o mecanismo da imitação for revelado e se resistirmos desde o início à sua secreta atracção.

É justamente o que Jesus pede com esta palavra decisiva: «Não oponhais resistência ao mau» (Mateus 5, 39). Com isso Ele não queria de maneira nenhuma incitar a entregar-se passivamente ao malvado visto que Ele mesmo travou um «combate impiedoso» contra as forças de perdição. A sua exortação dirigia-se contra a tendência espontânea dos homens para se oporem ao mal no mesmo plano e com as mesmas armas – tendência que não é outra coisa senão uma das múltiplas variantes da mimésis. Tanto tempo quanto ela dominar, toda a tentativa de moderação sensata está ameaçada e espreita-nos o perigo da vingança renovada sete vezes e setenta vezes sete. Afastando claramente este mau excesso, Jesus fala do excesso do amor e convida os seus discípulos a um perdão renovado setenta vezes sete (Mateus 18, 22), portanto a um comportamento que de modo nenhum se deixa arrastar, pela maldade quase sem limites do adversário, para «contramedidas» que se lhe assemelhem.

Não foi com palavras apenas que Jesus preveniu contra o perigo das retaliações imitadoras: ele teve também de enfrentar até ao fim este problema na sua própria vida. Como Ele se apresentava com poder e, pelo seu comportamento, tornava visível em sinais o mundo novo do seu Pai celeste, Ele podia suscitar em muitos uma confiança nova. Com as suas palavras sublimes e os seus sinais de salvação ele resplandecia de glória, fascinava e tinha sucesso entre o povo. Ele também era secretamente admirado pelos dirigentes (cf. João 11, 47ss.) ao mesmo tempo que foi rapidamente sentido como um concorrente. E justamente, a sua conduta plena de poder e de fascínio provoca ainda mais essa rivalidade que Ele queria superar na sua raiz. Nisto se manifesta o poder dissimulado do mal que, por meio da mimésis, pode incendiar-se também contra o seu contrário.

Nesta rejeição de Jesus, a mimésis desempenhava um papel determinante sob um outro ponto de vista, como bem o mostra sobretudo o Evangelho de São João. Depois da narrativa da actividade pública de Jesus, ele tem esta reflexão: «Embora Jesus tivesse realizado diante deles tantos sinais portentosos, não acreditavam nEle… Apesar disso, até entre os chefes, muitos acreditaram nEle, mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da Sinagoga, pois amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus» (João 12, 37-43).

Aquilo que neste texto é chamado «glória» (consideração), coincide largamente com aquilo que nós considerámos até aqui nos vocábulos de «mimésis» e de «imitação». Aquele que se deixa levar pela aspiração à glória, conforma-se, no seu agir, com a atitude daqueles que, na sociedade em que estão, já usufruem do reconhecimento social e são considerados como modelos para muitas pessoas. Esta «lei» funciona também no povo ao qual Jesus se dirigia, e funciona em prejuízo dEle. Graças à sua conduta sublime, Ele irradiava na verdade uma autoridade e muitos voltavam-se para Ele; mas havia ainda uma outra autoridade, a dos Fariseus que tinham desempenhado até então o papel de dirigentes. A partir do momento em que estas autoridades entravam em conflito, as pessoas tinham de se determinar e seguiam o partido que era reconhecido desde há muito tempo e que instintivamente admitiam que a grande maioria do povo seguiria no futuro. Quem usufrui da glória é imitado, e quem é imitado por muitas pessoas adquire uma glória suplementar. Assim nasce um turbilhão a cuja atracção, normalmente, as pessoas podem dificilmente escapar.

Esta atracção funcionava também contra Jesus. A sua força aparece claramente no comportamento dos mais próximos dos seus discípulos. Tanto tempo quanto Ele foi senhor dos seus movimentos, a impressão que Ele produzia sobre eles era tão forte que ela podia neutralizar todos os poderes contrários. A partir do momento em que Ele foi preso, a sua «glória» exterior desapareceu e os seus discípulos caíram sob a influência do poder nascido da glória dos Fariseus. O pastor foi ferido e as ovelhas dispersaram-se (Mateus 26, 31). Só os encontros com o Ressuscitado e a descida do Espírito Santo puseram de novo fim a esse fascínio com novas e profundas experiências.

O Espírito Santo e a imediatidade dos modelos

Se o poder atractivo da imitação é tão grande é porque os modelos actuam no fim de contas antes de toda a reflexãoconsciente e antes de toda a comparação consciente, e porque eles determinam as aspirações e a avidez segundo uma imediatidade quase-osmótica. Esta imediatidade permite compreender por que razão as palavras de Jesus deixaram de actuar logo que a acção da sua pessoa foi contestada como modelo a imitar. As suas palavras não puderam exercer uma acção nova senão aí onde uma imediatidade nova – a presença do Espírito Santo – destruiu o fascínio quase-osmótico dos modelos. Graças à experiência do Pentecostes, os discípulos puderam vencer o respeito humano que encontra a sua fonte no jogo do modelo e da imitação.

Ao mesmo tempo, eles aprendiam também a reconhecer com mais profundidade que o Deus pregado por Jesus não é um ídolo ao lado de outros ídolos e que ele não cativa de modo nenhum os homens por meio do fascínio violento do divino. Não tendo ele próprio, no momento da maior aflição humana, nem combatido nem vencido os seus adversários por meio da força exterior, mas tendo-se oposto a eles pela sua Palavra e com toda a liberdade interior, Jesus revelava que o seu Pai era um Deus da liberdade incondicionada. Este Deus da liberdade torna possível a liberdade verdadeira das suas criaturas, porque ele supera, pelo seu Espírito, o respeito humano, o fascínio do colectivo e dos chefes reconhecidos, e a autoridade rígida da letra pretensamente «santa».

O Espírito do Pai desmascara também a verdadeira natureza do «espírito adverso», de «Satanás». A forma mais subtil da mimésis opera aí onde, não uma criatura mas uma «imagem» do próprio Deus, age à maneira de um modelo e suscita a imitação por avidez. Este problema exprime-se em linguagem simples na narrativa da queda original. Dando um mandamento ao primeiro casal humano, Deus mostra-se aí como o senhor do bem e do mal. A voz do tentador, que intervém precisamente a seguir, é uma voz que quer imitar esse Deus, porque ela não sussurra a Eva nada de diferente do desejo de conhecer, como Deus, o bem e o mal. O espírito sedutor e satânico faz-se passar pois pelo espírito da imitação de Deus por avidez.

O Novo Testamento fala claramente, também ele, desse espírito. Na parábola dos maus vinhateiros, mostra-se por exemplo que os caseiros se atiram contra os servos do senhor da vinha e os expulsam ou matam. O motivo para uma tal acção torna-se perfeitamente claro quando surge o próprio filho do senhor da vinha. Então os malvados dizem abertamente um ao outro que querem apoderar-se da herança pela força (Marcos 12, 1-12). Como, segundo a estrutura dos evangelhos, Deus é ele mesmo o senhor e Cristo o seu filho, a parábola descreve os homens que surgem no papel de malvados vinhateiros como seres que querem imitar Deus na sua qualidade de senhor da vinha e Cristo na sua função de herdeiro, para como eles disporem da vinha. «Aquilo que os vinhateiros fazem é o pecado primordial da mimésis, do desejo de querer ser igual a Deus, da hostilidade contra Deus que desencadeia a violência.»[3]

O cúmulo do pecado está portanto exteriormente muito próximo da santidade e o mal não tem ser próprio mas não é outra coisa senão uma imitação do bem. Ele gera a inveja, o espírito do mal manifesta-se antes de mais como esse espírito satânico que imita Deus e transforma-se, desde a vinda de Cristo, em espírito do anticristo que imita o Salvador.[4] Esta táctica subtil, esta arte da vigarice e da distorção não podem ser descobertas nem vencidas apenas por modelos exteriores. Somente o Espírito que introduz completamente na verdade, e está mais intimamente e mais imediatamente próximo dos homens do que qualquer modelo exterior alguma vez poderá estar, é capaz de separar a verdade da aparência ilusória.

Imitar e seguir

Não é necessário entender a crítica da imitação no sentido de que deveria recusar-se todo o modelo para o agir humano e tentar viver na pura espontaneidade. O próprio Girard não tira de modo nenhum essa conclusão da sua análise da mimésis, da rivalidade e da violência. Ele diz pelo contrário: «Os Evangelhos e o Novo Testamento não pregam uma moral da espontaneidade. Eles não pretendem que o homem deva renunciar à imitação; eles recomendam imitar o único modelo que não corre o risco de, se nós o imitarmos verdadeiramente como as crianças o imitam, se transformar por nós em rival fascinante[5]

Esta citação é importante, mas ela permanece ambígua, porque também há, como o mostra o exemplo da Viridiana de Buñuel assim como as experiências de numerosos santos, uma forma de imitação de Cristo que se mantém exterior e que finalmente não supera a rivalidade, mas que não conduz senão a uma forma mais subtil da violência. Girard também conhece esta possibilidade. É por isso que ele escreve, pouco depois da passagem precedentemente citada: «Seguir a Cristo é renunciar ao desejo mimético».[6] Muito tempo antes de Girard, Dietrich Bonhoeffer, no seu livro Nachfolge, põe em evidência a diferença que existe entre imitar e seguir a Cristo. Contrariamente à tradição protestante do sola fide sola gratia que conduziu muitas vezes à ideia de uma «graça a baixo custo»[7] ele sublinha frequentemente a necessidade de seguir o modelo de Cristo na sua própria vida e de obedecer aos seus mandamentos. Encadeando com Lucas 14, 26 onde Jesus exorta os seus discípulos a «odiar» pai, mãe, mulher, filhos, etc., Bonhoeffer mostra de maneira convincente que o verdadeiro discípulo de Cristo deve ultrapassar «a relação imediata com o mundo»[8] - a «imediatidade quase-osmótica» de Girard. Face aos mal-entendidos da tradição católica, ele sublinha mesmo que o «seguimento» de Cristo deve ser dirigido pelo apelo de Cristo e pela fé, e que não é permitido enganar-se a seu respeito considerando-o uma actividade ética. Neste caso, ele (o seguimento, seguir a Cristo) recomeçaria de imediato a suscitar formas subtis de rivalidade com Deus e com os outros homens.

Jesus não colocou na linha da frente as acções exteriores, mas viveu uma experiência nova de Deus; passando pela tentação, ele decidiu-se plenamente por este Deus, e anunciou-o aos homens apresentando-o como Pai deles, «Abba». Olhando para este modelo, nós não temos, nós também não, de copiar primeiro uma ou outra das suas acções mas temos de nos dispor a viver uma experiência nova de Deus e a determinarmo-nos a partir dela, a partir do momento em que esse dom nos é concedido. Esta experiência, sob a sua forma concreta, é única em cada homem e pode, por esta razão, ultrapassar a «pressão mimética». É justamente a entrada nos horizontes abertos pelo modelo Jesus que abre um espaço em que cada ponto de vista é único.

Se prestarmos atenção a todo o caminho seguido por Cristo, torna-se claro por outro lado que ele não viveu apenas a experiência nova de Deus, mas que, nele, o próprio Deus vem até aos homens e comunica-se a eles. Deus já não se manifesta somente como um senhor que exige obediência – e desse modo suscita secretamente rivalidades -, mas apresenta-se como essa insondável e inconcebível liberdade que consente na liberdade humana e que, feito homem, a encontra sob um aspecto que lhe é plenamente conforme.

Mais ainda: Deus revela em Cristo não somente a sua humildade e o seu amor pelos homens mas, na hora da perseguição, expõe-se também à liberdade humana tornada sua rival e percorre o caminho da cruz como um caminho de extrema auto-humilhação. Ele oferece assim um modelo que se opõe em tudo à mimésis por avidez e à rivalidade. Contudo, mesmo este modelo eminente pode ser mais uma vez totalmente invertido. Ele pode, por exemplo, suscitar em alguém a tentação de realizar pelas suas próprias forças uma auto-humilhação igual à de Deus. A humildade mascara então um orgulho satânico.

A acção exemplar do dom de si e do sacrifício pode ser desligada de Cristo, adoptada isoladamente como modelo e imitada. L. Poliakov, no segundo tomo de A Causalidade diabólica[9] que trata da história russa, dá exemplos impressionantes desse orgulho do sacrifício que já não tem nada a ver com o caminho de Deus. O grande historiador do anti-semitismo mostra aqui que papel desempenhou, nos revolucionários nihilistas do século XIX, o «sagrado negativo»[10] . Muitos – sobretudo entre os que tinham sido seminaristas -, primeiro influenciados pelo pensamento cristão do sacrifício e mais tarde perdidos no ateísmo, imitavam aspectos da espiritualidade cristã e esboçavam uma imagem do revolucionário ideal que renuncia a toda a felicidade pessoal e empenha totalmente a sua vida pela causa da revolução. No seu romance Os demónios, Dostoievsky descreveu de modo magistral este «sagrado negativo»; na sua narração do «Grande Inquisidor», ele também desenhou uma outra figura que quer imitar Cristo – contra ele – pretendendo, como ele, sob a sua própria responsabilidade última e na solidão, carregar o pecado e as fraquezas do povo.

O «Grande Inquisidor» não é somente um personagem de romance. Foi também um personagem muito real durante numerosos séculos da história cristã. Os inquisidores de carne e osso nunca quiseram aliás ser anticristãos. De comum acordo com os cruzados e os combatentes da fé, muitos dentre eles testemunhavam mesmo, pela sua vida, uma espiritualidade intensa e acreditavam, pela sua luta contra «heréticos» e «bruxas», seguir o caminho de Jesus. No entanto, outras forças estavam em acção neles. Arriscar a sua vida tentando matar outros homens, ou travar um combate espiritual quando se imita o juízo de Deus e se exige a vida dos outros, isto pouco, e mesmo nada, tem a ver com o espírito do sacrifício de Cristo que não matou outros homens – como também não a si próprio, como o pensa Manuel de Diéguez[11] -, mas se expôs, com um amor dos inimigos livre de toda a violência, ao ataque dos seus adversários e superou desde o íntimo as suas más acções pelo seu amor.

Que a ideia da cruzada e da inquisição tenha podido, contudo, regular o pensamento e a acção dos cristãos, mostra que a mimésis por avidez pode também actuar sob o manto da piedade. Isto mostra também o mal que a avidez foi capaz de gerar em nome de Cristo. É por isso que, seguir verdadeiramente a Cristo, é determinante que o discípulo, antes de todo o agir próprio, acredite totalmente naquilo que Deus fez por ele em Cristo e que ele se deixe pautar por isso. Não são os nossos actos heróicos que podem proteger a imitação de Cristo das perversões subtis, mas somente a fé no Deus que dá e perdoa, e a convicção vivida de que ele se antecipa sempre ao nosso esforço com uma graça inconcebivelmente grande.

Enquanto a voz do tentador, na narração do Paraíso, sussurra aos homens para imitarem Deus por sua livre iniciativa, Jesus-Cristo, no discurso depois da Ceia do Evangelho de S. João, garante aos seus discípulos que recebeu tudo do seu Pai e tudo transmitiu (João 14, 11-14, 26; 15, 15; 17, 7s., 21-24). Se Deus apenas tivesse dado aos homens um dom qualquer e não o dom de si mesmo, o homem não teria sem dúvida alguma nenhum direito a um «mais»; as suas aspirações supremas permaneceriam insatisfeitas, e a impotente rivalidade para com o Criador assim como a tentação satânica de o imitar não deixariam de ter uma aparência de «justificação». Mas porque Deustudo deu aos homens e porque, pelo seu Espírito, ele quer introduzi-los na sua própria vida divina, eles podem tornar-se «como Deus» num sentido muito mais realista do que a ilusão prometida pela voz tentadora da mimésis. Assim se desmascara o extremo absurdo da mimésis por avidez que quer apoderar-se por si mesma daquilo que Deus quereria dar por livre vontade.

A misteriosa unidade do homem

A imediatidade «quase-osmótica» dos modelos mostra intensamente que os homens não se bastam a si mesmos em nenhum domínio do seu ser, mas que têm em tudo e totalmente necessidade dos outros. O livro do Génesis descreve uma forma positiva deste enviar para outrem, quando conta que Deus deu a Adão uma «ajudante» e que os dois vieram a ser «uma só carne» (Génesis 2, 18-24). Mas esta forma de unidade não podia impedir um desejo mais profundo, como o mostra a narração da queda. A história de Israel também atesta que a mimésis por avidez, a rivalidade e a violência não podem ser superadas apenas pela atracção dos sexos um pelo outro. O profeta Miqueias faz mesmo uma advertência: «mesmo àquela que dorme nos teus braços não abras a tua boca» (Miqueias 7, 5). O ser humano não pode ser verdadeiramente feliz a não ser que, sem entrar ao mesmo tempo em conflito com o seu «tu» que o satisfaz plenamente (Deus ou ser humano), o seu coração «de pedra» se transforme em coração de «carne» (Ezequiel 36, 26). Sucede que este «coração de carne» é, no fim de contas, o coração trespassado de Jesus-Cristo que, na força do Espírito, está totalmente aberto a Deus e que, ao mesmo tempo, pode ser recebido pelos fiéis na comunhão. Este «tu» é mais interior aos homens do que o seu próprio eu («Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim», Gálatas 2, 20), por isso ele pode ajudá-los a acolher um «tu» sem rivalidade, porque é ele mesmo o verdadeiro «tu» que satisfaz completamente. Pela comunhão do Corpo de Cristo que sofreu, edifica-se esse corpo que comporta cabeça e membros (1Coríntios 12, 14). Neste corpo, a unidade com este Deus e a unidade dos homens entre si é tão grande que todo o verdadeiro desejo humano é finalmente saciado e a problemática damimésis é superada na raiz, porque o bem que satisfaz plenamente está mais imediatamente próximo dos homens do que todos os modelos exteriores, que nunca o podem estar. A questão da imitação revela-se, no mais profundo, ser assim uma indicação dada sobre o mistério da unidade inconcebível dos homens entre si e com Deus.

Raymond SCHWAGER, s.j. – Innsbruck, Áustria
tradução de Jorge Mendonça

[1]René Girard, To double business bound. Essays on Literature, Mimesis and Anthropology. The John Hopkins University Press, Baltimore and London, 1978, p.89.
[2] René Girard, Mensonge romantique et vérité romanesque. Paris, 1961, pp. 181-196.
[3] R. Pesh, Das Abendmahl und Jesu Todesverständnis, Herder Verlag, 1976, p. 106.
[4] Cf. R. Schwager, «Der Sieg Christi über den Teufel», Zeitschrift für katolische Theologie, 103 (1981), pp. 156-177.
[5] René Girard, Des choses cachées depuis la création du monde.Recherches avec J. M. Oughoulian et Guy Lefort. Paris, 176, p. 452.
[6] Ibid., p. 453.
[7] Bonhoeffer começa a sua obra constatando que «a graça a baixo custo é a inimiga mortal da nossa Igreja… A graça a baixo custo é a graça considerada como uma mercadoria a saldar, o perdão com desconto, a consolação com desconto, o sacramento com desconto… A graça a baixo custo é a graça considerada enquanto doutrina, enquanto princípio, enquanto sistema…» D. Bonhoeffer, op. cit., p. 19.
[8] D. Bonhoeffer, op.cit., p. 68.
[9] L. Poliakov, La Causalité diabolique. Du joug mongol à la victoire de Lénine, 1250-1920. Paris, 1985.
[10] Ibid., pp. 119, 132, 135, 138, 141s, 152.
[11]Manuel de Diéguez, L’Idole monothéiste. Paris, 1981. O autor não pode ver senão, no acto sacrificial de Cristo, uma subtil e perversa imitação dos sangrentos sacrifícios humanos.

terça-feira, 15 de março de 2011

Um encontro que promete

Ora aqui está um Encontro que promete - os Jesuítas sempre me conseguem espantar pela forma como realmente tentam estar em cima dos sinais dos tempos. Reparem nos painéis e nos convidados: temos políticos, feministas e homossexuais, entre muitos outros intervenientes que prometem tocar em pontos realmente essenciais na nossa busca enquanto cristãos.
No centro ou nas margens?
XXVI Encontro Fé e Cultura – 9 Abril 2011
Auditório da Reitoria da Univ. Coimbra

Programa:
9h30    Acolhimento
10h      Sessão de boas-vindas
10h15  Painel 
Que Deus para hoje?”  - O bispo, a feminista e o cientista
Maria Irene Ramalho, especialista em Literatura e Estudos Feministas
D. Albino Cleto, bispo de Coimbra
Carlos Fiolhais, cientista e divulgador cientifico
11h30  Pausa
12h      Sessões paralelas
           “Viver na sociedade da imagem” - A actriz, o cirurgião plástico e a portadora de deficiência
Susana Arrais, actriz de teatro e televisão
Ana Vanessa Isidro, psicóloga e tetraplégica
Jorge Lima, cirurgião plástico
Manter a integridade possível” - O político, o publicitário e o advogado
João Serpa Oliva, ortopedista e deputado
José Maria Toscano, responsável de “mobile marketing”
Tiago Duarte, constitucionalista e advogado
Pensar a Igreja plural” - A freira, o homossexual e os recasados
Ir. Irene Guia, aci
Pedro Sottomayor, teólogo e director de uma IPSS
Mafalda e Tomás Colaço, engenheira e gestor
13h15  Pausa para almoço

15h      Painel 
           Que mundo a construir?”  - O gestor, o sindicalista e a imigrante
            Elizabeta Necker, premio Empreendorismo Imigrante 2007
            Fernando Nogueira, ex-politico e gestor
            José Torres Couto, ex-secretário-geral da UGT
16h15  Pausa
16h45  Conferência 
          No centro e nas margens”  P. Carlos Carneiro sj
17h30  Encerramento e momento artístico final Por dentro, até ao fim”
  
Síntese do Fé e Cultura 2011
A edição deste ano do Fé e Cultura, organizada à volta da questão “No centro ou nas margens?”, pretende olhar para algumas questões e tensões presentes na sociedade actual, a partir de vários e diferenciados pontos de vista. Num tempo de mudanças rápidas e de fluidez de hábitos e tendências, é cada vez menos claro o que é “centro” e o que é “margem”, o que constrói e é avanço ou, pelo contrário, o que é capitulação e empobrecimento. E pensar e dialogar sobre isso, como se quer fazer no Fé e Cultura 2011, acaba por ser sempre desafiante e enriquecedor.
O primeiro painel, logo após a sessão de abertura, apresentará em diálogo um bispo, uma pensadora feminista não-crente e um cientista, a partir da questão “Que Deus para hoje?”. Segue-se um conjunto de três sessões paralelas, em formato de conversa. A primeira sessão tratará o tema “Viver na sociedade da imagem”, tendo como intervenientes uma actriz, um cirurgião plástico e uma portadora de deficiência. A segunda sessão será dedicada à questão “Manter a integridade possível”, com um político, um publicitário e um advogado. A terceira sessão, finalmente, abordará o tema “Pensar a Igreja plural”, com a presença de uma consagrada, um homossexual e um casal de “recasados”.
À tarde regressa novo painel, com a questão “Que mundo a construir?”, colocando frente-a-frente um gestor, um sindicalista e uma imigrante. Seguir-se-á a conferência “No centro e nas margens”, por um dos jesuítas da casa (como pede a tradição). E para concluir o dia, teremos um pequeno momento artístico final.
Quanto ao Cartaz e ao Boletim de inscrição para o Fé e Cultura 2011, podem ser encontrados no site www.cumn.pt/feecultura.

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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As imagens que ilustram as mensagens são retiradas da Internet. Quando se conhece a sua autoria, esta é referida. Quando não se conhece não aparece nenhuma referência. Caso detectem alguma fotografia não identificada e conheçam a sua autoria, pedimos que nos informem da mesma.

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