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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.
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sábado, 23 de junho de 2018

Um náufrago acolhido

Em mês de festas populares da cidade de Lisboa, onde a figura de Santo António não passa despercebida, não deixa de ser actual reflectir sobre a história deste grande santo da cidade...

Santo António

Uma vida aventurosa no rasto do Evangelho e em grande sintonia com Francisco de Assis, que conheceu pessoalmente. Infinitas viagens pela Europa, da natal Lisboa até à última etapa em Pádua. E encontros, muito estudo, meditações, orações, pregações (nas quais era um verdadeiro mestre), caridade.

Santo António (Lisboa, 1195 - Pádua, 1231) é certamente uma das figuras mais veneradas do catolicismo. Em cada canto da Europa e em numerosas localidades do mundo surgem igrejas e santuários dedicadas ao frade franciscano, a ele se elevam súplicas, contam-se os seus milagres.

Hoje, em Pádua, um cortejo histórico com mais de 150 figurantes, que remonta a 1931, sétimo centenário da morte, recorda as últimas horas de vida do santo, culminando com o concerto dos sinos que anuncia o início das celebrações solenes do 13 de junho.

É reconhecido como protetor dos pobres, dos oprimidos, das grávidas, dos prisioneiros, dos viajantes e dos náufragos, e também dos animais. A festa litúrgica de 13 de junho é ocasião para dirigir orações e pedidos de ajuda ao "lírio-cândido", um dos seus múltiplos símbolos. Entrevista ao diretor editorial das Edições Messaggero Padova, Fabio Scarsato, frade menor conventual.

Quais são hoje, em síntese, os contornos e as particularidades da devoção a Santo António?
Creio que a devoção de muitas pessoas que ainda encontram em António um ponto de referência pode definir-se como uma espécie de milagre, porque foi capaz de evoluir no tempo. Passou-se de uma devoção baseada apenas nos milagres a uma em que as pessoas veem em António um estilo de vida, a ideia de que é possível para cada um de nós encontrar o caminho para uma santidade quotidiana.
Outra coisa que me toca, e que pode parecer paradoxal, é que António foi um apurado exegeta e um grande teólogo, mas o seu público de referência, chamando-o assim, foi sempre, e continua a ser hoje, formado sobretudo por gente simples.

Qual é a geografia desta devoção?
Há muitos lugares ligados à figura de António: a partir de Lisboa, onde nasceu, ou Coimbra, sempre em Portugal, onde se fez monge agostinho; mas há também um santuário em França ou o de Samposampiero, próximo de Pádua. Mas o que é impressionante, e digo-o por experiência direta, é que para além destes lugares históricos é difícil encontrar no mundo uma igreja onde não haja uma estátua, um ex-voto ou uma imagem de António ou quaisquer tradições ligadas a ele, por exemplo com referência à caridade e ao famoso "pão de Santo António".

Pela sua biografia, António foi um verdadeiro "santo europeu": o que é que diz hoje a um Velho Continente algo perdido?
Seria quase demasiado fácil ou retórico fazer atualizações. Mas é assim, é inútil negá-lo. António fala-nos de uma Europa que seguramente tinha fronteiras diferentes das nossas, mas era um continente que podia ser "caminhado" de um lado ao outro e que se misturava. António parte de Portugal, chega a Itália, depois passa um período em França...
Era uma Europa em que, de certa forma, onde quer que estivesses, sentias-te em casa, sentias-te cidadão. Sentias que havia um espaço para ti. António, por exemplo, trouxe para a Itália uma importante cultura teológica e enriqueceu o franciscanismo. É nesta mistura que, de certa maneira, todos ganham e todos podem dar passos em frente. Parece-me ser esta a bela ideia de cidadania que António nos dá. Depois há um episódio muito significativo.

Qual?
O naufrágio nas costas da Sicília, no regresso de Marrocos. É um facto que há contornos históricos que não são precisos, mas não há dúvida de que aconteceu, e é um facto que tem uma atualidade fortíssima. António, a certo ponto da sua vida, é um náufrago, mas vive a experiência do acolhimento dos seus confrades. A mim agrada-me a ideia de que se possa naufragar em qualquer lado onde não se conhece pessoalmente ninguém, sabendo que haverá alguém que te acolherá. E hoje esta experiência é cada vez mais rara.

Gianni Borsa/SIR
Trad./edição: SNPC Publicado em 12 de junho de 2018

terça-feira, 10 de abril de 2018

Thomas Merton

Do ermitério fez um púlpito sem fronteiras: solidão e comunhão, contemplação e ação

«No último dia de janeiro de 1915, sob o signo de Aquário, num ano de uma grande guerra, na fronteira com a Espanha, à sombra dos montes franceses, vim ao mundo. Feito à imagem de Deus, e por isso livre por natureza, fui todavia escravo da violência e do egoísmo, à imagem do mundo em que nasci. Aquele mundo era o quadro do inferno, cheio de homens como eu, que amavam Deus e contudo o odiavam, e, nascidos para o amar, viviam no temor e no desespero de apetites contrários.» Assim escreveu Thomas Merton no início daquele que é, talvez, o seu trabalho mais conhecido, “A montanha dos sete patamares”, de 1948, evocando o dia do seu nascimento, em Prades, de Owen, neozelandês, e de Ruth Jenkins, norte-americana, pintores “globe-trotter”.

Um aniversário a assinalar por vários motivos que encheram uma vida de apenas 53 anos mas que foi intensa e original, como a sua espiritualidade. Escritor que evoca o visionário William Blake, Merton foi protagonista de um corajoso compromisso pela paz (fonte de diatribes com os superiores, depois valorizado por João XXIII e Paulo VI, com quem trocou correspondência), e também ponto de referência para o movimento não violento pelos direitos civis, preconizando uma paz fundada em argumentos evangélicos e confiada ao testemunho («uma parte essencial da Boa Nova é que as medidas não violentas são mais fortes do que as armas: com armas espirituais a Igreja primitiva conquistou todo o mundo romano»), que permanece hoje com toda a atualidade, como mostra o seu ensaio “Paz na era pós-cristã”.

Antes, ainda, Merton foi sobretudo um monge inquieto, mas que transformou o eremitério, com a pena, num púlpito sem fronteiras, e, com a oração, num tabernáculo onde guardava, juntamente com a Eucaristia, cada irmão; um trapista defensor da vida monástica eremítica e comunitária, convicto de «ter viva no mundo moderno a experiência contemplativa e manter aberta para o homem tecnológico dos nossos dias a possibilidade de recuperar a integridade da sua interioridade mais profunda». Até transformar a sua própria parábola numa narrativa incessante da procura de Deus, vivendo-a entre solidão e comunhão, contemplação e ação.

Além disso, Merton é recordado como homem do ecumenismo e do diálogo, respeitador das diferenças e concentrado no essencial. No diálogo inter-religioso, mais explorativo que funcional, foi pronto a abrir-se a hinduístas, budistas, judeus, islâmicos, a procurar as fontes vitais das outras religiões («se me afirmo como católico apenas negando tudo que é muçulmano, judeu, protestante, hindu, budista, no fim descobrirei que me não resta muita coisa com que me possa afirmar como católico. Certamente não terei o sopro do Espírito com o qual possa afirmá-lo»), e com uma forte atenção às expressões orientais: vejam-se as suas reflexões reunidas por William H. Shannon (“A experiência interior”), ou a recolha em que reinterpreta um dos pais do taoismo (“A via de Chuang-Tzu”).

Merton distingue-se também pelo diálogo com os não crentes, declinado na capacidade de ver sinais de «fé inconsciente» nos ateus, ou de «ateísmo inconsciente» nos crentes («o grande problema é a salvação daqueles que, sendo bons, pensam que já não têm necessidade de serem salvos e imaginam que a sua tarefa é tornar os outros bons como eles»). Uma vida contemplativa, a sua, nunca isolada da realidade. E uma vida consagrada concebida como porta aberta ao amor.

Ficando órfão ainda criança, com o irmão John Paul (perde a mãe em 1921 e o pai dez anos depois), Thomas passa parte da infância nos EUA, e da sua formação na França e na Inglaterra passa a Nova Iorque em 1934, completando os estudos na Universidade de Columbia. Chegado ao catolicismo em 1938, deixando para trás a busca de prazer («a minha conversão foi ajuda de Deus, como cada conversão, e da minha parte foi estudo e procura»), três anos depois, durante a Segunda Guerra Mundial, entra na abadia de Nossa Senhora do Getsémani, no estado do Kentucky, entre os Cistercienses de Estrita Observância. Em 1949 é ordenado padre.

Uma “meta” após um percurso marcado por estudos, viagens, desorientações, encontros, pelo contínuo interrogar-se sobre o sentido da vida, até à atração pelo claustro. Um percurso cujas etapas se refletem em muitas páginas, por vezes atormentadas, mas orientadas na direção da Graça, espalhadas entre “Nenhum homem é uma ilha” (1953), “O sinal de Jonas” (1952), “Sementes de destruição” (1966), sem esquecer “Sementes de contemplação” (1949), e outros escritos, onde a vida contemplativa nunca é fuga do mundo, mas entrada num diálogo profundo com o ser humano.

Enquanto se aguarda que um editor se disponibilize a publicar a versão integral dos seus diários, poder-se-á ler “Merton na intimidade: sua vida em seus diários”, organizado pelos irmãos Patrick Hart e Jonathan Montaldo, síntese que segue o percurso traçado pelo diário que Merton escreveu desde os 16 anos até à morte.

Desde o apartamento no n.º 35 de Perry Street, em Manhattan, e das câmaras de abrigo em Miami e Cuba, até ao “bungalow” de Banguecoque, onde um ventilador o fulminou, a 10 de dezembro de 1968 (encontrava-se lá para um congresso sobre monaquismo, e, como documenta o “Diário da Ásia”, estava bem preparado), passando pelos espaços a ele familiares na abadia do Getsémani (a enfermaria, a cripta dos livros raros, onde escrevia, o depósito escolhido como dormitório), a sequência irradia os pensamentos do monge «viandante de reinos» nascido há cem anos. Tão distante e tão próximo.

Marco Roncalli In "Avvenire"
Tradução e edição de Rui Jorge Martins, publicado em 28 de janeiro de 2015 in SNPC

domingo, 8 de abril de 2018

Umberto Eco

Mais do que O Nome da Rosa

O presidente do Conselho Pontifício da Cultura considera que o traço mais distintivo do escritor e pensador italiano Umberto Eco, que morreu esta sexta-feira *, aos 84 anos, em Milão, foi a «curiosidade».

Eco era uma pessoa «convicta da complexidade do real e queria sempre olhar para lá das próprias fronteiras», afirmou Gianfranco Ravasi em entrevista publicada este domingo no jornal "Avvenire", diário da Igreja católica em Itália.

Ravasi sublinha que as raízes etimológicas do termo "curiosidade" apontam para o «cuidado, paixão, preocupação com alguma coisa: não é simplesmente andar às voltas da realidade como uma borboleta, mas também procura de envolvimento».

O cardeal recorda que Umberto Eco «tinha uma verdadeira paixão pelos estudos bíblicos, ainda que dissesse que nunca os tinha podido praticar» e sabia-se como não compreendia o motivo por que os alunos das escolas deveriam «saber tudo dos deuses homéricos e quase nada de Moisés, tudo da Divina Comédia e não do Cântico dos Cânticos e doutros textos bíblicos».

«Estando a par da minha prática exegética, estava sempre pronto a dialogar comigo; entre os textos que mais o fascinavam destacava por exemplo o Qohélet [Eclesiastes]», acrescentou.

Além da Bíblia, a amizade entre Ravasi e Eco centrava-se também na «literatura medieval», que recorda o romance "O nome da rosa", a que acrescenta a «paixão» por S. Tomás de Aquino, cuja estética esteve na base da sua formação universitária.

«Recordo a sua emoção quando lhe mostrei um texto autógrafo do santo, escrito com uma grafia quase incompreensível, obscura, nos antípodas da sua lucidez lógica», lembrou Ravasi, que dirigiu uma das mais importantes bibliotecas cristãs do mundo, a Ambrosiana, em Milão.

O amor comum ao livro completava a convergência de interesses entre ambos, relatou o cardeal, lembrando que a Biblioteca Ambrosiana «fascinava tanto» Umberto Eco, que ele a frequentava «quando estava fechada, para poder andar entre as salas em liberdade».

O prelado sublinhou também que a «experiência religiosa juvenil» de Umberto Eco foi «uma matriz que nunca quis esquecer, não obstante o seu espírito profundamente laico; havia nele o desejo de ver como se poderia viver a experiência de fé sem renunciar a toda a curiosidade cultural. Sempre com grande respeito pelos temas teológicos e de espiritualidade».

Também no domingo, o jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", realçou a «grande, inexausta paixão pelo conhecimento» que marcou a «vastíssima e multiforme produção literária» do autor.

Umberto Eco caracterizou-se por um «desejo voraz, incessante, bulímico de conhecer, ler, aprofundar», escreve Silvia Guidi, acrescentando que a fixação em S. Tomás de Aquino continuaria após o doutoramento, ao estudar «com a mesma paixão e o mesmo empenho o significado de "integritas", "consonantia" e "claritas" no pensamento do "Doutor Angélico".

Da atração do autor pelos «florilégios e pastiches mais ou menos mascarados (e mais ou menos assinalados explicitamente nas notas de rodapé) nasce o celebérrimo romance "O nome da rosa", uma centena de textos medievais traduzidos, reelaborados e voltados a juntar em torno a um cativante drama negro que foi um "best seller" traduzido em todo o mundo».

Para a autora, «o grande brilho intelectual» do «inventor da semiótica» tem, todavia, um lado sombrio, quando repetia que «tudo é falsificável», que «os instrumentos da comunicação servem só para mentir e a própria vida é um jogo sem importância», posição «aparentemente descontraída e irónica, mas talvez imbuída pela amargura».

Depois de referir que nem toda a «imensa» bibliografia do professor é assinalada de sucessos, o artigo recorda que a militância católica de Umberto Eco nos anos juvenis se foi desvanecendo com o tempo, e termina com uma citação apropriada para esta hora, em que «a sua vida terrena se concluiu».

«Se um dia chegar ao paraíso e puder encontrar Deus, tenho duas possibilidades. Se é aquele vingativo do Antigo Testamento, volto as costas e vou para o inferno. Se, em vez disso, é aquele do Novo Testamento, então lemos os mesmos livros e falamos a mesma língua. Entender-nos-emos.»

texto de Rui Jorge Martins
* Publicado em 22 de fevereiro de 2016 In SNPC

sábado, 7 de abril de 2018

Palavras de um monge

Irmão Luc, monge e médico de Tibhirine: «Não tive muito na vida, mas sou feliz»

Paul Dochier, que se tornará irmão Luc, nasceu a 31 de janeiro de 1914, em França. Após os estudos em Medicina, entra, em dezembro de 1941, no mosteiro trapista (Ordem Cisterciense de Estrita Observância) de Aiguebelle.

Em 1946 parte para Tibhirine, na Argélia, onde durante 50 anos, até à sua morte, será responsável por um posto médico daquela região pobre e interior, realizando até 100 consultas por dia.

De 26 para 27 de março de 1996, Luc e os restantes seis membros da comunidade foram raptados, tendo sido encontrados mortos em maio desse ano.

A vida dos monges esteve na base do multipremiado filme “Dos homens e dos deuses”, realizado em 2010 pelo cineasta francês Xavier Beauvois.

Organizada por François Buet, a obra “Frère Luc – Moine et médecin à Tibhirine” (128 pp.), lançada em 2014 pela editora francesa Nouvelle Cité, permite ao leitor conhecer a fecundidade de uma vida aberta ao infinito e fraterna com a comunidade religiosa e a população muçulmana.

Apresentamos um excerto das 15 meditações incluídas no livro, extraído da tradução italiana.

Irmão Luc – Monge e médico em Tibhirine
Ed. Gribaudi (Itália)


Diante de Deus permanecemos na posição de mendigo. Os seus dons são perfeitamente gratuitos. Nenhum esforço e nenhum trabalho exigem uma retribuição da sua parte a título de justiça. Deus não nos deve nada. O mendigo de Deus abandona-se a este arbítrio divino, do qual depende inteiramente. O cristão assumirá a atitude do homem que, «tendo consciência da sua impotência para satisfazer as suas aspirações ao Reino de Deus», fica à procura de Deus em todos os encontros. A vida cristã não é posta em causa por causa de uma prestação bem conseguida. Depende da iniciativa divina. O mendigo de Deus nunca terá a sensação de ter chegado. Incessantemente, avança à procura de Deus. Assim aceitará sem rebelião os seus fracassos espirituais ou outros insucessos. Sem amargura nem adjetivações das suas falhas, o desencorajamento dificilmente o constrangerá. Compreende que a vida espiritual não é apropriar-se da virtude mas abrir-se ao enriquecimento divino. Nenhum método, nenhuma técnica e nenhuma arte nos trazem Deus se não aceitarmos ir com Ele, mendigando-o, e merecer a bem-aventurança «daqueles que têm uma alma de pobre».

A salvação vem-nos dos outros, que são para nós a presença de Deus que chama à vida. Se a fé salva é porque ela desvia o nosso olhar para um outro, e assim cria uma relação que nos arranca da nossa solidão mortal... Cada vez que deixamos a preocupação por nós próprios, substituindo-a pelas preocupações por outro, vivemos esta fé que é, talvez sem o sabermos, fé em Deus: «Perder a própria vida por Cristo»... Recebendo a vida dos outros, reencontramos a nossa verdade originária: não nos demos a nossa vida, querer poupá-la coloca-nos em contradição com a nossa criação. Se se quer ser feliz, vai-se direito à desilusão, à infelicidade. «Se queres ser feliz, torna alguém feliz!» O retorno do dom não depende de nós, e é aqui que se joga a fé, o salto no vazio... Não se trata de acreditar que o outro nos restituirá alguma coisa, que teremos uma recompensa – seria querer salvar a própria vida. Se o outro não responde, não tem nenhuma importância, é no próprio ato de dar que encontramos «a vida». Perder a própria vida: Cristo não existe para si próprio, e é por isto que nós encontramos a nossa salvação existindo para Ele; isto é, para os seus irmãos que são também os nossos.

Alegremo-nos por sermos pecadores, mas pecadores perpetuamente perdoados, perpetuamente levantados para lá do nosso pecado. O que descobrimos nas nossas confissões válidas é que errámos o pecado. A nossa verdadeira culpa não foram estes atos insípidos que nos eram servidos como passatempo; era preciso que enganássemos a nossa fome. A nossa verdadeira culpa foi não termos acreditado verdadeiramente na existência de alguém capaz de aplacar para sempre esta fome, de não ter ousado acreditar num amor que nos dispensasse de todas estas contrafações.

O monge não é alguém que converte – é uma testemunha: testemunha diante de Deus em nome do mundo do qual ele é como que a décima oferenda em holocausto ao Deus soberano, testemunha diante dos homens do primado das obrigações para Deus, da procura de Deus e da vida nele dentro de si. O seu testemunho é eficaz, mas desta eficácia ele não se preocupa, não a procura. Não testemunha, é testemunha pelo próprio facto de ser aquilo que é. O mundo é o que as grandes almas nele fazem, aquelas que, no fundo de si, chegaram até Deus. É realizando a paz em si que se realiza a paz no mundo.   dentro de si que se vencem os poderes das trevas que percorrem o mundo e o dominam.

Deus acompanha-nos para onde quer que vamos, mesmo no nosso vaguear, para nos fazer encontrar o caminho de saída. Deus não é contra nós mas connosco. Deus mesclado em nós para nos conduzir à nossa verdade (Espírito e Verbo) e ao nosso cumprimento. O Espírito é aquele que nos conduz à nossa forma definitiva... O essencial não é ter sucesso segundo os critérios da Terra, mas tornar-se um homem verdadeiro, um homem que sofre, mas repleto de alegria, criador de alegria. Não tive muito na vida, mas sou feliz. Tive a revelação da misericórdia de Deus e da amizade dos homens.

Tradução de Rui Jorge Martins para SNPC

sábado, 17 de março de 2018

Padre Tolentino Mendonça orientou a reflexão quaresmal do Papa

Marc Chagall
Tolentino Mendonça. A vida do padre-poeta que orientou o retiro do Papa

por João Francisco Gomes, a 24 de fevereiro de 2018, in Observador

Padre, poeta, cronista. Tolentino Mendonça foi chamado pelo Papa para orientar o seu retiro espiritual. Quem é o português que o Vaticano considera "das vozes mais autorizadas da cultura do seu país"?

No início da década de 90, pouco depois de ter sido ordenado padre e de ter concluído um mestrado em Roma, José Tolentino Mendonça regressou a Lisboa. Foi nomeado capelão da Universidade Católica, onde começou a dar aulas. Foi lá que Pedro Mexia, na altura estudante de Direito, conheceu o jovem sacerdote. Ele e os colegas descobriram um padre diferente do habitual. “Lembro-me de as pessoas ficarem muito cativadas com o estilo dele. Houve até pessoas que passaram a ir à missa para o ouvir”, recorda o poeta português, 25 anos depois. “Nós dizíamos uns aos outros que achávamos que aquele tipo ia longe. Agora, o Papa também acha.”

Foi longe. No final do mês passado, o L’Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano, anunciava que o padre e poeta português tinha sido escolhido para orientar o retiro anual de Quaresma do Papa Francisco e dos restantes membros da Cúria Romana (os órgãos de governo da Igreja Católica). “Teólogo e poeta, é uma das vozes mais autorizadas da cultura do seu país“, lê-se no artigo, que anunciava que Tolentino Mendonça iria passar uma semana na Casa do Divino Mestre, nos arredores de Roma, a orientar o Papa nas dez meditações do retiro, dedicadas ao “elogio da sede”.

Tolentino Mendonça aceitou de imediato, “com muita humildade”, o desafio de se tornar no primeiro português a orientar a reflexão do Papa. “Sou um simples padre, e acolho [o pedido] com um sentido de serviço à Igreja e ao Santo Padre”, disse ao portal Vatican News. Porém, as crónicas que assina semanalmente na revista do Expresso e a sua vasta obra literária levam a uma conclusão diferente. Tolentino Mendonça não é só um simples padre. É um professor, poeta e ensaísta dono de perspetivas muito próprias sobre a fé, que podem surpreender os mais distraídos.

“Quando ele escreve um texto no Expresso sobre o Bruce Springsteencomo se estivesse a falar de São Francisco de Assis, a primeira reação é de perplexidade. De facto, não há razão nenhuma para essa perplexidade. Ele consegue encontrar pontos de contacto com a dimensão religiosa, mesmo naquilo que, numa cultura, podia parecer hostil ou alheado dessas questões. São fórmulas inesperadas“, resume Pedro Mexia ao Observador.

As fórmulas que usa na sua obra literária são as mesmas a que recorre nas salas da Universidade Católica, onde hoje é vice-reitor. O padre Miguel Vasconcelos, jovem sacerdote que não esconde a alegria de hoje ser sucessor de Tolentino Mendonça no cargo de capelão daquela universidade, lembra as aulas com o poeta. “Uma das coisas que marcam a ação dele é a capacidade de olhar para os Evangelhos com a sensibilidade dos artistas. É uma teologia contemplativa, com a lupa da estética. E isso é próprio dele, por ele ser poeta, não é uma fabricação”, conta o sacerdote.

De facto, esta análise da fé pelos olhos da arte marcou a semana de retiro do Papa, que terminou na sexta-feira. Logo no domingo, na primeira meditação, que dedicou ao tema “Aprendizes do espanto”, Tolentino Mendonça colocou a literatura ao lado da Bíblia, para sugerir ao Papa Francisco e aos participantes dos exercícios espirituais uma leitura do episódio da Samaritana, do Evangelho de João, a partir de citações de Fernando Pessoa e de Lev Tolstoi.

“Não há uma distinção clara entre o padre e o poeta“, explica o crítico literário João Pedro Vala, admirador convicto da obra de Tolentino Mendonça. “Quando se ouve um sermão do padre Tolentino, ou se lê um poema ou uma crónica, não existe uma distinção. Os sermões são poéticos, e os poemas, não sendo pregações, vêm da mesma pessoa, têm a mesma doçura. Trata o leitor como um membro da sua paróquia.” Por isso foi escolhido como pregador para o Papa, assume sem dúvidas quem o conhece.

Em todas as dimensões da sua vida — poeta, escritor, professor e padre especialista em estudos bíblicos — as palavras ocupam um lugar de destaque. “A palavra é o grande lugar para o conhecimento que faço de mim próprio“, disse Tolentino Mendonça numa entrevista à RTP. A paixão pelas palavras nasceu durante a infância passada entre a ilha da Madeira, onde nasceu e para onde regressou aos nove anos, e Angola, para onde se mudou com a família ainda bebé e onde viveu os primeiros anos da sua vida.

Madeira, Angola, a avó e o amor a Herberto Hélder

José Tolentino Mendonça nasceu em Machico, na ilha da Madeira, a 15 de dezembro de 1965. Com apenas um ano de idade, deixou a terra natal para se mudar para o Lobito, em Angola, onde o seu pai e os seus tios, uma família de pescadores, já viviam. Numa longa entrevista que deu ao Público em 2012, Tolentino Mendonça recordava esses momentos. “Lembro-me de uma viagem que fiz com o meu pai. Na minha cabeça ia também pescar. Dei comigo, para lá dos enjoos típicos de um iniciante pelo mar fora, na borda do barco, a olhar as paisagens. Praias que ainda não tinham sido exploradas, rochedos, o azul do mar, o fundo do mar”, contou.

“Essa contemplação despertava em mim uma emoção enorme, enorme. Ficava boquiaberto. Como se aquela vida intacta, da paisagem do mundo, tivesse em mim um impacto que não sabia expressa”, continuava o padre, lembrando que foi na infância que as portas da literatura se abriram para si. Particularmente no difícil regresso à Madeira, depois do 25 de Abril, que viveu com nove anos. A melhor palavra talvez nem seja regresso, uma vez que Tolentino Mendonça tinha vivido toda a sua infância, até ali, em Angola.

A mudança de vida, lembrava o sacerdote na mesma entrevista, “teve um dramatismo mais literário do que literal”. “Senti que me estava a despedir daqueles lugares. Fui com o meu cão, sozinho. Digo que foi literário porque quis chorar, abraçado ao cão, sentindo que era a última vez que estava ali“, contou, detalhando como encarou aquele momento como “uma aventura no porão de um barco, numa cidade desconhecida”.

Com apenas nove anos, viveu o regresso à Madeira de forma diferente dos seus pais, que sofreram uma “ansiedade enorme” com a mudança de vida. “A Madeira, como os lugares da infância, não são lugares de desencantamento. Uma pequena ilha, a terra dos meus pais, dos meus avós, em condições muito difíceis. Mas a infância não sofreu uma fractura, nem sobressaltos. Essa capacidade de transformar as dificuldades em possibilidades — no fundo, uma enorme capacidade de sobrevivência que a vida da infância tem — protegeu-me. Quando penso na infância nem por uma vez me lembro de medo, de ansiedade”, disse na entrevista ao Público.

Da vida na Madeira, Tolentino Mendonça recorda sobretudo a relação com a natureza e com o mar. “Vivia no Machico, num mundo ainda rural, muito próximo do mar, com grandes espaços em que dava para me deitar na terra e olhar as estrelas. Tinha um caderno em que apontava os barcos que passavam, observava as árvores. O meu pai, que era pescador, quando ia às Ilhas Selvagens trazia-me de presente uma cagarra. É um mundo próximo da natureza, tutelado pelas profissões artesanais, atravessado pela poesia, pelos elementos”, lembrava, numa entrevista ao Sol, em 2013.

Com 11 anos, entrou no seminário. “A questão vocacional colocou-se muito cedo. Era uma questão relevante para mim desde miúdo”, recordou na mesma entrevista, destacando o papel da família crente na descoberta da fé. Personagem fundamental na definição do seu percurso foi João Henrique Silva, até 2015 diretor regional dos Assuntos Culturais na Madeira, que na altura era professor no seminário. “Era um homem que gostava muito de cinema. Mostrou-me que era possível viver a fé e escolher uma vocação religiosa em relação com o mundo da cultura.”

Entrar no seminário foi também a oportunidade de entrar numa biblioteca pela primeira vez. Antes, o seu contacto com a literatura era exclusivamente através da sua avó materna. “A minha avó foi a minha primeira biblioteca“, dizia na entrevista ao Público, lembrando que a senhora, que não sabia ler nem escrever, conhecia vários romances e histórias orais de cor. “Numa recolha recente que se fez do romanceiro oral da Madeira uma das pessoas que está lá é a minha avó”, contou Tolentino Mendonça, dizendo-se comovido com essa recordação da avó.

Um outro episódio marcou a sua entrada no mundo literário: uma senhora, também ela analfabeta, zeladora da igreja que frequentava, citava muitas vezes de cor o Cântico dos Cânticos. “Uma vez disse-me aquele poema e fiquei aturdido, extasiado, aquelas palavras apoderaram-se de mim”, contou o padre, garantindo que “há um antes e um depois daquele momento“. Viria a estudá-lo e a traduzi-lo para português durante os seus estudos teológicos.

Finalmente, aos 16 anos, escreveu o primeiro poema, A Infância de Herberto Hélder, poeta com quem partilhava a naturalidade madeirense e que admirava profundamente. “Aos 16 anos não sabia nada. Só sabia que amava o Herberto Hélder”, admitia ao Público, lembrando que aquele poema era sobre a sua própria infância, “uma infância que podia ter sido a de Herberto Hélder“, também “no contexto insular”. Logo no primeiro verso do primeiro poema, Tolentino Mendonça definiu com clareza aquilo que viria a ser o seu percurso literário: “No princípio era a ilha“. Um verso que dizia estar “embebido da palavra divina” ao mesmo tempo que representa o seu “princípio biográfico”, antevendo uma obra em que fé e poesia se confundem.

Em 1982 começou a estudar teologia e em 1990 foi ordenado padre — no mesmo ano em que lançou o primeiro livro de poemas, Os Dias Contados. Depois da ordenação, mudou-se para Roma para fazer um mestrado em Ciências Bíblicas, formação que viria a completar com um doutoramento em Teologia Bíblica, em Portugal, na Universidade Católica de Lisboa. Tornou-se capelão da universidade, professor na Faculdade de Teologia e continuou a publicar com frequência livros de poesia — até hoje publicou mais de três dezenas.

Padre ou poeta?

Pintado numa grande fachada de um prédio em Machico, o poema “Caminho do Forte, Machico“, publicado em 2006 na colectânea A noite abre meus olhos, é a homenagem daquele município madeirense ao poeta da terra. O poema não é propriamente um texto religioso — mas também não é esse o ponto fundamental da obra de Tolentino Mendonça. O crítico literário João Pedro Vala destaca que, mesmo havendo cada vez mais padres católicos com preocupações literárias, poéticas, “a grande novidade do padre Tolentino é que ele não parece obcecado ou centrado na necessidade de usar a literatura para passar uma mensagem religiosa“. “Não me parece que ele procure fazer da literatura um palco para os seus sermões, e isso é diferente de muitos outros padres que também são poetas, que usam a literatura para passar a mensagem do Cristianismo”, diz o crítico ao Observador.

Também Francisco José Viegas, o diretor da editora Quetzal, que publicou o mais recente livro do poeta, sublinha que o âmbito da obra de Tolentino Mendonça extravasa os limites da mensagem religiosa. “Ele é um omnívoro, como eu costumo dizer. Um homem que lê tudo, que cita vários autores, de origem muito diversa. Isso é uma coisa nova no discurso de alguém da hierarquia da Igreja. Deixa contaminar o discurso religioso com uma marca poética“, afirma o editor.

Para o poeta Pedro Mexia, a dimensão literária e a dimensão religiosa de Tolentino Mendonça não devem ser encaradas “como se fossem facetas diferentes ou opostas”. Mexia destaca a “capacidade de chegar às pessoas” do padre Tolentino Mendonça, que “sempre se interessou pelas coisas mais diversas, até ao ponto de as pessoas poderem ficar um bocadinho perplexas”.

“As pessoas estão à espera de que um padre tenha um certo tipo de referências e ele às vezes tem referências muito diferentes”, continua Pedro Mexia, sublinhando como Tolentino Mendonça, padre e poeta, mas também cronista, tem “vontade de procurar a linguagem do nosso tempo, porque a linguagem religiosa tem uma dimensão que não é do nosso tempo“.

Francisco José Viegas considera que esta “contaminação” positiva entre a linguagem artística e a linguagem religiosa “era algo que fazia falta à Igreja Católica”. “Uma das coisas que mais me fascinam no Tolentino Mendonça é a forma como ele pode trazer alguma beleza ao discurso da Igreja”, explica o editor.

“A Igreja procura um novo discurso, um discurso que diga mais às pessoas do nosso tempo, que possa absorver um pouco mais das sensibilidades contemporâneas, mas, mais do que isso, que fale para as pessoas do nosso tempo. As pessoas estão muito recetivas a um discurso que venha contaminado pela beleza, em vez de ser um discurso mais seco, mais tradicional“, destaca Francisco José Viegas, acrescentando que é essa a novidade que Tolentino Mendonça representa.

“Acho que hoje nós não temos a noção do que é um intelectual católico, porque os católicos perderam muitos dos seus intelectuais. Houve um tempo em que a Igreja produzia intelectuais, como George Bernanos, de que assinalamos agora os 120 anos do nascimento, mas também nomes como Alçada Baptista ou Moreira das Neves. Durante muito tempo faltou à Igreja a capacidade de falar para o mundo dos intelectuais. No caso do Tolentino Mendonça, há esta mistura de perspetivas”, defende Francisco José Viegas.

Exemplo deste discurso “contaminado pela beleza” é a forma como vê a Bíblia Sagrada. Biblista de formação, Tolentino Mendonça olha para os escritos fundamentais da Igreja como uma obra de arte. “A Bíblia é um grande poema. Tem uma dimensão literária. Isso também lhe dá uma grande carga revelatória. Torna-a um livro intemporal. A Bíblia não é um catecismo”, defendia Tolentino Mendonça na entrevista ao Público. “Não acho que se deva entender literalmente a Bíblia. A Bíblia precisa de interpretação.

A esta reconhecida capacidade artística, junta-se um “enorme conhecimento dos estudos bíblicos que faz dele um ótimo professor”, diz o padre Miguel Vasconcelos, que não só foi aluno de Tolentino Mendonça em três cadeiras do seu curso de teologia — Evangelhos Sinópticos, Escritos de São Paulo, e Estética e Teologia — como foi seu colaborador na edição portuguesa de uma coletânea de poemas da poetisa brasileira Adélia Prado.

“Ele tem uma capacidade de traduzir a Tradição da Igreja para a linguagem atual, para que a possamos entender hoje, que poucos têm. Ou seja, o conteúdo da Tradição é a verdade que a Igreja acredita ter sido revelada por Deus. Mas a formulação não pode ser sempre igual, muda consoante o destinatário, e o padre Tolentino é um fator de tradução importante, diz as coisas de sempre numa linguagem que é a nossa. E para isso é preciso ter uma vontade de se dedicar ao diálogo, de conhecer os seus destinatários e de estar diante do resto do mundo“, diz o capelão da Universidade Católica de Lisboa.

Esta abertura ao resto do mundo é outra das característica fundamentais de Tolentino Mendonça, que tem um discurso fundamentalmente dedicado aos não crentes. “Interessa-me a religião expressa de forma não-religiosa. Aprendo muito com os não-religiosos, ateus e indiferentes, pois os que não creem fazem perguntas aos que creem e é importante que estes as escutem e aprendam”, dizia o padre, numa entrevista ao Diário de Notícias em 2017.

“Acredito que a crença é um laboratório de descrença e que dentro de um crente há sempre um não crente. Mesmo quem vê Deus por todo o lado faz a experiência de que Ele não está em sítio algum e o contrário também é verdade”, afirmava na mesma entrevista. Antes, na entrevista ao Público, tinha mesmo assumido: “Não tenho um discurso para crentes“.

O poeta Pedro Mexia destaca esta dimensão do sacerdote, notando que “sempre foi claro que Tolentino Mendonça era uma pessoa particularmente cativante, que congregava pessoas que não eram muito obviamente interessadas em questões religiosas lato sensu, e que com ele as ouviam de outra maneira”. “Já tive oportunidade de apresentar dois livros dele e nas apresentações vi gente de todas as estirpes, do ponto de vista social e político“, recorda Mexia.

Na dicotomia padre-poeta, nenhuma das dimensões tem o protagonismo, apesar de uma não viver sem a outra. Segundo conta quem o conhece, nem o sacerdócio de Tolentino Mendonça pode ser entendido sem a poesia, nem os seus escritos podem ser lidos sem ser à luz da sua vocação de padre. João Pedro Vala destaca a dimensão pessoal da sua poesia e das suas crónicas. “Uma pessoa, quando lê as crónicas do padre Tolentino, sente-se sempre em contacto com ele. Sente que está a conhecer uma pessoa boa, é isso que me fascina”, explica o crítico. A posição é partilhada por Pedro Mexia, que sublinha que o padre “está muito atento à vida das pessoas e nos seus poemas aparece muito a relação com a intimidade, com as pessoas e com o segredo”.

A literatura no retiro do Papa

Precisamente por ser um teólogo diferente, um biblista experiente e um poeta contemporâneo, o Papa Francisco acabou por convidá-lo para orientar as meditações do retiro anual que faz com os membros da Cúria Romana, no início da Quaresma. “Quando o Santo Padre quis falar comigo para que colaborasse nos Exercícios da Quaresma, disse-lhe que eu sou apenas um pobre padre, e é a verdade. Ele encorajou-me a partilhar da minha pobreza. Veio então à minha mente propor um ciclo de meditações muito simples sobre a sede, intitulado ‘Elogio da Sede'”, contou Tolentino Mendonça num artigo publicado no jornal italiano Avvenire, aqui numa tradução para português do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

“Não tenho dúvidas de que as suas qualidades artísticas, além das teológicas, contribuíram para a escolha do Papa”, diz Francisco José Viegas, garantindo que “ele é uma pessoa em ascensão na hierarquia da Igreja, a quem a hierarquia presta cada vez mais atenção”. “Ele arrasta multidões. Durante o processo de lançamento do livro anterior, que já saiu na Quetzal, percebi o interesse com que as pessoas o ouvem. O discurso dele é inovador para muita gente que não é católica, nem sequer cristã”, conta o editor.

A hierarquia da Igreja já tem, na verdade, o padre Tolentino Mendonça debaixo de olho há vários anos. O sacerdote, que hoje é o capelão da Capela do Rato, em Lisboa, foi o primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, um organismo da Conferência Episcopal Portuguesa criado em 2004, destinado a promover o diálogo entre a Igreja e a esfera cultural. Pelo meio, em 2011, foi nomeado consultor do Conselho Pontifício da Cultura, um órgão da Cúria Romana destinado a fazer a ponte entre o Papa e o mundo da cultura — nomeação que viria a ser renovada em 2016.

“Não posso imaginar os critérios que levaram à escolha do padre Tolentino, mas sei que ele é conselheiro do Conselho Pontifício para a Cultura, portanto é levado muito a sério por quem organiza estas coisas. Certamente, o percurso biográfico e teológico, em termos de estudos bíblicos, faz dele capaz do que lhe foi pedido”, diz o padre Miguel Vasconcelos.

Durante esta semana, Tolentino Mendonça presidiu a meditações diárias — uma de manhã e uma à tarde — perante o Papa e os seus colaboradores mais próximos. Nessas meditações, a literatura e a poesia estiveram sempre em cima da mesa. Logo na primeira, citou Fernando Pessoa e Lev Tolstoi para pedir aos participantes que “aprendam a desaprender”. Na segunda meditação, citou Clarice Lispector e Simone Weil para sublinhar a importância de não descurar os escritores e poetas no estudo da teologia.

Na sexta-feira, último dia do retiro, o Papa Francisco agradeceu a Tolentino Mendonça pelas meditações diferentes das tradicionais. “Obrigado, padre, por nos falar da Igreja, este pequeno rebanho. E também por nos ter avisado para não nos encolhermos no nosso mundanismo burocrático”, disse o Papa. “Obrigado por nos lembrar que a Igreja não é uma gaiola para o Espírito Santo, que o Espírito também voa e trabalha fora dela”, acrescentou, terminando: “Com as citações e com as coisas que nos contou, mostrou-nos como ele [o Espírito Santo] trabalha nos não crentes, nos pagãos e em pessoas de outras confissões religiosas: é universal, é o Espírito de Deus, e é para todos.”

domingo, 10 de dezembro de 2017

Aquilo que o amor faz, o medo jamais poderá realizá-lo

Santo Ambrósio, uma biografia

"Tinha escolhido a carreira de magistrado, seguindo os passos do pai, prefeito romano da Gália, e aos 30 anos encontrava-se já como cônsul de Milão, cidade que era então capital do império. No dia 7 de dezembro de 374, em que católicos e arianos disputavam o direito de nomear o novo bispo, cabia a ele garantir a ordem pública na cidade e impedir que se desencadeassem tumultos. O imprevisível acontece quando ele falou à multidão com tanto bom senso e autoridade, que se ergueu um grito: «Ambrósio bispo!». E pensar que ele era apenas um catecúmeno à espera do Batismo. Cede ao clamor quando compreende que aquela era também a vontade de Deus, que o queria ao seu serviço.

Começou distribuindo os seus bens aos pobres e dedicando-se a um estudo sistemático da Sagrada Escritura. Aprendeu a pregar, tornando-se um dos mais célebres oradores do seu tempo, capaz de encantar até um intelectual refinado como Agostinho, que se converte graças a ele.

De Ambrósio a Igreja de Milão que recebe um impulso que se conserva ainda hoje, inclusive no campo litúrgico e musical.

Mantem relações estreitas com o imperador, mas era capaz de lhe resistir quando necessário, recordando a todos que «o imperador está dentro da Igreja, não sobre a Igreja». Quando sabe que Teotónio o Grande tinha ordenado uma violenta e injusta repressão em Tessalónica, não teme exigir ao soberano uma expiação pública.

Dizem que no termo da sua vida, confiou: «Não tenho medo de morrer porque temos um Senhor bom». À sua Igreja deixou um rico tesouro de ensinamentos, sobretudo no campo da vida moral e social. Nasceu em Tréveris, atual Alemanha, cerca do ano 340, e morreu em Milão a 4 de abril de 397, ao amanhecer de Sábado Santo. É Doutor da Igreja e padroeiro dos apicultores.

«Cristo é tudo para nós! Se queres curar uma ferida, Ele é o médico; se estás a arder de febre, Ele é a fonte; se estás oprimido pela iniquidade, Ele é a justiça; se precisas de ajuda, Ele é a força; se temes a morte, Ele é a vida; se desejas o céu, Ele é o caminho; se estás nas trevas, Ele é a luz... Saboreai e vede como o Senhor é bom: bem-aventurado é o homem que nele depõe a sua esperança» (De virginitate 16, 99). (...)

«Esteja em cada um a alma de Maria que engrandece o Senhor, esteja em todos o espírito de Maria que exulta em Deus; se, segundo a carne, uma só é a mãe de Cristo, segundo a fé todas as almas geram Cristo; de facto, cada uma acolhe em si o Verbo de Deus... A alma de Maria engrandece o Senhor, e o seu espírito exulta em Deus, porque, consagrada com a alma e com o espírito ao Pai e ao Filho, ela adora com afeto devoto um só Deus, do qual tudo provém, e um só Senhor, em virtude do qual todas as coisas existem» (Exposição do Evangelho segundo Lucas, 2, 26-27).

«Levanta-te, vem depressa à Igreja: aqui está o Pai, aqui está o Filho, aqui está o Espírito Santo. Ele vem ao teu encontro, para que te acolha enquanto estás a refletir contigo mesmo no segredo do coração. E quando ainda estás longe, vê-te e põe-se a correr. Ele vê no teu coração, acorre para que ninguém te detenha, e além disso abraça-te... Lança-se ao regaço de quem estava por terra, para o reerguer, e para fazer com que aquele que estava oprimido pelo peso dos pecados e inclinado para as coisas terrenas, dirija de novo o olhar para o céu, onde devia procurar o próprio Criador. Cristo lança-se ao teu regaço, porque quer tirar dos teus ombros o jugo da escravidão e impor sobre eles um jugo suave» (Lucam VII, 229-230). (...)

«Para o cristão, a fé antecede tudo o demais. Por isso mesmo, em Roma, são chamados “homens de fé” os que foram batizados. Também nosso Pai Abraão foi justificado pela fé, e não pelas obras. Concluiremos, pois, assim: recebestes o batismo, tendes fé. Não seria justo que eu julgasse de outro modo, pois não terias sido chamado à graça, se Cristo não te tivesse julgado digno por sua graça… Por conseguinte, tu que deves a fé a Cristo, guarda esta fé, muito mais preciosa que o dinheiro. De facto, a fé equivale a um património eterno; enquanto o dinheiro é um património temporal. Lembra-te, pois, também tu continuamente, daquilo que prometeste» (De sacramentis, I,1; II,8).

«Bem-aventurados aqueles que pensam na miséria e na pobreza de Cristo, o qual, sendo rico, se fez pobre por nós. Rico no seu Reino, pobre na carne, porque assumiu sobre si esta carne de pobres... Portanto, não sofreu na sua riqueza, mas na nossa pobreza. Não foi então a plenitude da divindade que sofreu... mas a carne... Procura, pois, penetrar o sentido da pobreza de Cristo, se queres ser rico! Procura penetrar o sentido da sua debilidade, se desejas obter a saúde! Procura penetrar o sentido da sua cruz, se não te queres envergonhar dela; o sentido da sua ferida, se queres curar as tuas; o sentido da sua morte, se desejas alcançar a vida eterna; o sentido da sua sepultura, se desejas encontrar a ressurreição» (Comentário a doze salmos). (...)

«Aquilo que o amor faz, o medo jamais poderá realizá-lo. Nada é mais útil do que fazer-se amar» (De officiis II, 29).

Biografia: Santi i beati
Tradição e edição de Rui Jorge Martins para SNPC a 7 de dezembro de 2015

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Auto-retratos de um fotógrafo homossexual



Um adolescente gay e o desporto

"Enquanto cresci, num subúrbio de Nova Jérsia, os rapazes da minha idade estavam constantemente preocupados com o desporto", disse o fotógrafo Ryan James Caruthers ao "Huffington Post". A brutalidade, o "bullying", a ansiedade e o erotismo são os principais ingredientes do projecto "Tryouts", que explora, através de auto-retratos, a relação do fotógrafo com o desporto enquanto adolescente homossexual. 

"Eu senti-me sempre desligado das demonstrações tradicionais de masculinidade, os meus interesses estavam noutras áreas." A destreza e a força inerentes à prática de exercício físico não eram uma aptidão natural de Ryan. Ser atlético era tido como sinónimo de masculinidade e Ryan interpretou o seu desinteresse pelo Desporto como uma rejeição do seu próprio género. "O meu corpo nunca me pareceu convencional, sempre fui magro e frágil."

Ryan sentia-se diferente de todos os rapazes da sua escola e de todos os homens, em geral, e acreditava que o desporto e a pressão para a prática e demonstração de força teve influência na pessoa em que se tornou. "Estou seguro de que a minha história é semelhante a muitas outras. As interacções sociais que experimentamos enquanto adolescentes têm grande influência sobre quem nos tornamos", acrescentou. "Acredito que é nessa altura que a nossa identidade está no ponto mais frágil."

Ver em P3
Conhecer o trabalho de Ryan James Caruthers

sábado, 26 de abril de 2014

Conhecer melhor João XXIII

São João XXIII

Amanhã João XXIII será canonizado. A Igreja está em festa e moradasdedeus alegra-se com ela. João XXIII, um homem de diálogo e de escuta, de horizontes largos e grande sensibilidade, homem verdadeiramente bom e de "boa vontade" procurou dar um novo impulso a uma Igreja entorpecida e presa ao costume e ao passado.
Sugiro um link para quem quiser aprofundar um pouco mais o conhecimento deste grande papa. O site da Pastoral da cultura publicou um trecho de uma biografia de João XXIII escrita por um dos seus grandes estudiosos, Giuseppe Alberigo: http://www.snpcultura.org/o_bom_papa_joao.html

sábado, 2 de novembro de 2013

Papa Francisco: o padre de sempre

O prólogo diz muito…

«Tive a oportunidade de entrevistar Bergoglio em diversas ocasiões e circunstâncias, mas num momento em que abundam os episódios de quem afirma que o conheceu muito bem, a minha é realmente uma contribuição mínima. Posso só dizer que uma vez o vi multiplicar os alimentos, como fez Jesus com os pães e os peixes. Foi em outubro de 2012.

Na altura eu colaborava com a Sala de Imprensa dos encontros ecuménicos de católicos e evangélicos, da qual o padre Bergoglio [papa Francisco] era um dos organizadores. No estádio no qual se realizava o encontro a administração não permitia entrar com comida; por conseguinte, durante as pausas todos os presentes deviam comprar lá a comida. A escolha não era muito variada: haviam só empadas, os típicos bolinhos recheados com carne, e além disso eram poucos. Era um dia de festa nacional e no programa não estavam previstos outros eventos. Alguém perguntou a Bergoglio se preferia ir almoçar no bairro exclusivo de Puerto Madero, perto do estádio, no qual se encontram diversos restaurantes elegantes, mas ele respondeu que queria ficar para almoçar juntamente com todos os outros.

Quando nós, jornalistas, fizemos uma pausa para o almoço, já era muito tarde e não tinha ficado quase nada. Enquanto percorríamos a sala onde se servia o almoço, Bergoglio aproximou-se, saudou-nos um por um e agradeceu o nosso trabalho. Nós sentámo-nos na última mesa. A empregada trouxe-nos um prato com cinco empanadas, mas éramos oito. Um de nós tomou a iniciativa e começou a dividi-las. Compartilhar: este era o espírito do encontro. Contudo, não tínhamos outra escolha.

Da sua mesa, do outro lado da sala, Bergoglio viu os nossos movimentos e compreendeu. Levantou-se e perguntou aos outros clientes se tinham acabado de comer. Recuperou das mãos de pastores e sacerdotes as últimas empadas, reuniu-as num prato e deu-nas. Comovidos pelo seu gesto tão atencioso, sentimo-nos lisonjeados e surpreendidos. Ele tinha multiplicado a comida.

Aquele pequeno milagre ficou-nos gravado no coração. O homem de hoje que ocupa o sólio de Pedro tinha visto e preenchido uma necessidade, enquanto ninguém se tinha dado conta.

Este é o homem que, com setenta e seis anos, tem como objectivo mudar o mundo. Será que vai conseguir?»

Este é o epílogo do livro Francesco. Il Papa della gente. Dall'infanzia all'elezione papale, una vita al servizio degli altri (Francisco. O Papa do povo. Da infância à eleição papal, uma vida ao serviço dos outros), da Rizzoli, tradução italiana da biografia de Jorge Mario Bergoglio publicada pela editora argentina Aguilar, que a autora, vaticanista do "Nación" e amiga da família Bergoglio, doou há poucos dias ao papa.

A própria Evangelina Himitian, autora da obra, narrou este encontro no seu jornal, em artigo publicado a 2 de junho: uma breve audiência privada que, devido aos numerosos compromissos de Francisco, parecia destinada a ser cancelada. Ao contrário, ao tomar conhecimento da sua presença, o papa chamou-a.

«As regras do Vaticano para as audiências papais são muito rigorosas. Com um simples gesto Francisco muda-as todas. Apressa-se, oferece um abraço, um beijo. Chama-te pelo nome e sorri. Esforça-se por demonstrar o que é claro a todos logo que o vemos: que é o mesmo padre Jorge de sempre.»

L'Osservatore Romano a 7.6.2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Imagens da Arte: Nan Goldin

A fotógrafa do "sub-mundo" gay

Nan Goldin nasceu em 1953 nos Estados Unidos da América e é uma das fotógrafas mais conhecidas do século XX.

Goldin cresceu numa familia judia de classe média alta em Boston e em 1968 teve contacto pela primeira vez com uma máquina fotográfica, quando tinha quinze anos.

A sua primeira exposição individual solo foi aos 20 anos (em 1973), em Boston e nela mostrou o seu trabalho polémico em que retrata o meio das comunidades gays e transexuais da cidade - onde foi introduzida graças ao seu amigo David Armstrong. 

Depois de se formar em 1978, Goldin mudou-se para Nova Iorque. Começou então a documentar o cenário new-wave pós-punk, em simultâneo com a subcultura gay do final da década de '70 e começo da década de '80.

Na exposição de nus masculinos em Paris, patente agora no Museu d'Orsay, há várias obras de NanGoldin.

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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