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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Servindo as mulheres

Com este novo Papa, muitas pedras têm sido mandadas para o meio do pântano de águas estagnadas dos costumes. Já tinha estado em celebrações da Ceia do Senhor onde eram lavados pés a mulheres, mas estas sempre foram longe da "ribalta" das liturgias mais solenes e "oficiais". Agora chega-nos um Papa que lava os pés de duas raparigas numa prisão, sendo uma delas muçulmana...
Será que o clero e os "ritualistas" da Igreja católica portuguesa vão saber andar ao mesmo passo deste Papa? Saberão descartar-se das "rendas", folhos e bajulações e aproximarem-se da imagem deste Jesus que se dobra e se põe ao serviço?
Cito agora uma reportagem sobre a quinta feira Santa e os gestos do Papa Francisco:

Rembrandt
O Papa Francisco lavou os pés a duas raparigas e uma delas é muçulmana


Por Ana Gomes Ferreira a 28 de Março de 2013
O Papa Francisco celebrou nesta quinta-feira a cerimónia pascal do lava-pés de uma forma inédita: numa casa prisão de Roma (Itália), o Casal del Marmo, que alberga jovens delinquentes. Não foi inédita pelo acto, mas pelos escolhidos: lavou e beijou os pés de dez rapazes e, pela primeira vez, de duas raparigas, uma muçulmana de origem sérvia, relatou a Rádio Vaticano que disse que se tratou de um momento “muito emocionante”

A cerimónia da lavagem dos pés relembra o momento em que Jesus, num gesto de humildade, lavou os pés dos seus 12 discípulos depois da última ceia, antes de ser preso e, mais tarde, crucificado.
Na capela da prisão, Francisco, o Papa argentino eleito a 13 de Março — depois da renuncia de Bento XVI —, celebrou uma missa, que improvisou, e na qual usou uma linguagem acessível, simples e calorosa, diz a agência noticiosa francesa AFP.

Lavar os pés, explicou Francisco, é “um gesto que simboliza um carinho de Jesus”, é um “gesto que vem do coração” e que disse fazer “como padre e como bispo” — não se identificou como Papa, este Francisco que já renunciara aos adornos vermelhos, que manteve a cruz de ferro que usava como arcebispo de Buenos Aires, que não quis a viatura oficial e que não dorme nos aposentos oficiais.

“Jesus veio para nos servir, para nos ajudar. Pensemos bem: estamos mesmo dispostos a servir os outros?”, perguntou o Papa aos jovens deste Instituto Penal para Menores. “O Senhor deu o exemplo. Não se trata aqui de lavar os pés dos outros todos os dias, mas de sabermos que temos de nos ajudar. Se estivermos em cólera uns contra os outros, perdemo-nos”, disse, usando uma expressão popular junto dos jovens italianos, “lascia perdere”. Houve cantos e música de guitarra a acompanhar toda a cerimónia.

O Papa foi à Casal del Marmo, não foram os jovens que viajaram até à sua presença — a cerimónia costuma acontecer na imensa e fria (descrição da AFP) basílica de São João Latrão, a catedral do bispo de Roma (o Papa é bispo de Roma, por isso as primeiras palavras de Francisco foram para os romanos, pedindo-lhes a bênção).


"A fé, dentro de uma prisão, é muito importante. É um sinal de esperança. Eles são activos durante o dia, mas chega sempre o momento em que a porta se fecha e ficam sozinhos”, disse aos jornais italianos uma voluntária do Casal del Marmo, Annalisa Marra. Falou na surpresa que foi o anúncio da visita do Papa e na importância que tem para os 50 jovens em reabilitação que lá vivem saberem que “alguém acredita neles”, que “alguém pensa neles e lhes dá o perdão”.
O lavar e o beijar dos pés e a missa que o acompanha são uma tradição da Igreja Católica na Quinta-Feira Santa, que antecede a Páscoa — quando terá acontecido a última ceia de Cristo e dos 12 apóstolos. Francisco quis que esta celebração fosse uma continuidade de discurso desde que foi eleito: uma chamada de atenção sobre os mais desprotegidos, os mais necessitados e vulneráveis; antes falou dos mais pobres, agora dos jovens em sofrimento.

“Não deixem que vos roubem a esperança — ouviram?”, disse-lhes, à despedida.

Na Argentina, o então cardeal Jorge Bergoglio visitava com frequência instituições de jovens em recuperação. No Casal del Marmo informaram-se sobre o novo Papa e propuseram que, entre os menores, houvesse rapazes de fés diferentes, representando toda a comunidade de 50 (católicos, ortodoxos, muçulmanos), e também raparigas, e que uma delas não fosse católica. “Do Vaticano não houve resistência, aceitaram”, explicou ao jornal italiano La Repubblica o padre Gaetano Greco, capelão em Marmo.
O diálogo entre religiões também está entre as prioridades deste Papa, o primeiro que se chama Francisco, em referência a São Francisco de Assis e do seu trabalho evangélico e social entre os mais pobres e desprotegidos. A missa foi à porta fechada, mas a popularidade do Papa levou centenas de pessoas às portas da Marmo, nos arredores de Roma.

In Público

O carisma do Papa Francisco

Ainda não tinha tido oportunidade de escrever nada sobre o novo Papa. Conhecemos Francisco há poucos dias, mas os seus gestos e acções inspiram confiança e alimentam uma esperança numa Igreja mais aberta e mais próxima. Benvindo Francisco!
Vou agora transcrever uma repostagem do Público:

As palavras que tornaram Jorge Bergoglio no Papa Francisco


"Quando a Igreja não sai de si própria, torna-se auto-referencial e fica doente", disse o cardeal argentino aos seus pares na fase pré-conclave. No dia em que aceitou ser Papa respondeu começando por dizer: "Sou um grande pecador".
A defesa de uma Igreja Católica que saia de “si própria” para ir até às periferias, não apenas geográficas mas também existenciais, foi uma ideia central da intervenção do cardeal argentino Jorge Maria Bergoglio nas congregações gerais, as reuniões preparatórias do conclave, que terá sido determinante para a escolha como Papa.
As intervenções são normalmente secretas, mas a de Bergoglio foi esta semana revelada pelo cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, que assim pretendeu revelar aos fiéis cubanos o pensamento do Papa Francisco. Lido por Ortega, o texto foi entregue pelo ainda cardeal ao colega, após ter sido proferido em Roma. Foi divulgado com autorização do líder católico e está publicado no site da Igreja cubana (iglesiacubana.org).
Também são já conhecidas as palavras usadas pelo cardeal argentino, no dia em que foi escolhido, 13 de Março, quando lhe foi perguntado, na Capela Sistina, se aceitava a escolha. "Eu sou um grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento, aceito", disse, segundo a agência especializada em assuntos do Vaticano I-Media (http://www.imedia-info.org/depeches/).
A revelação foi feita pelo arcipreste da basílica de São Pedro, cardeal Angelo Comastri, que participou no conclave, num documentário sobre a transição papal realizado pelo Centro Televisivo do Vaticano, que é lançado na terça-feira em Itália, em formato DVD.

Transcrição do manuscrito lido pelo Jorge Bergoglio aos outros cardeais:
1.Evangelizar supõe zelo apostólico. Evangelizar supõe para a Igreja a audácia de sair de si própria. A Igreja é chamada a sair de si própria para ir até às periferias, não apenas geográficas, mas também das periferias existenciais: as do mistério do pecado, as da dor, as da injustiça, as da ignorância e da abstenção religiosa, as do pensamento, as de toda a miséria.

2.Quando a Igreja não sai de si própria para evangelizar, torna-se auto-referencial e fica doente (cfr. A mulher curvada sobre si própria do Evangelho). Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiásticas têm raiz de auto-referencialidade, uma espécie de narcisismo teológico.
No Apocalipse, Jesus diz que está à porta e chama. Evidentemente, o texto refere-se ao que chama desde fora para entrar. Mas penso nas vezes em que Jesus bate desde o interior para que o deixemos sair. A Igreja auto-referencial pretende Jesus Cristo dentro de si e não o deixa sair.

3. A Igreja, quando é auto-referencial, sem se dar conta, crê que tem luz própria. Ela deixa de ser o mysterium lunae, e da lugar a esse mal tão grave que é a mundanidade espiritual (segundo Lubac [Henri de Lubac, cardeal jesuíta francês], o pior mal que pode acontecer à Igreja). É viver para glorificar uns aos outros.
Simplificando, há duas imagens da Igreja: a Igreja evangelizadora que sai de si própria, a Dei verbum religiose audiens et fidenter proclamans; ou a Igreja mundana que vive em si própria, de si própria e para si própria.
Isto deve dar luz aos possíveis caminhos e reformas que já que fazer para a salvação das almas.

4. Pensado no próximo Papa: um homem que, a partir da contemplação de Jesus Cristo e da adoração de Jesus Cristo ajude a Igreja a sair de si própria para as periferias existenciais, que a ajude a ser a mão fecunda que vive “da doce e reconfortante alegria da evangelização”.

In Público 28 de Março 2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Carlo Maria Martini: palavras de um homem de escuta

Carlo Maria Martini


Por António Marujo, 1 de Setembro de 2012

O cardeal Carlo Maria Martini, o ex-arcebispo de Milão que durante vários anos foi um dos nomes mais fortes como "candidato" à sucessão de João Paulo II e que morreu esta sexta-feira, disse na sua última entrevista que a Igreja Católica está "200 anos atrasada" em relação ao tempo presente.


A edição deste sábado do jornal Corriere della Sera divulga aquela que foi a última entrevista do cardeal, que há dez anos sofria de Parkinson. Na conversa, gravada no mês de Agosto, o cardeal diz que "a Igreja está cansada... e os nossos lugares de oração estão vazios". E acrescenta, de acordo com a BBC, que a Igreja deve reconhecer os seus erros e escolher um caminho de mudança, a começar pelo Papa.

Martini morreu esta sexta-feira ao princípio da tarde, horas depois de a diocese de Milão ter anunciado o agravamento do seu estado de saúde. Foi o actual arcebispo de Milão, o cardeal Angelo Scola, quem deu a notícia da morte do eminente intelectual e especialista da Bíblia, que defendia uma atitude da Igreja mais aberta e compreensiva do mundo contemporâneo.

O cardeal escreveu dezenas de livros e textos, traduzidos em muitas línguas (vários deles em português), entre os quais "Em Que Crê Quem Não Crê" (ed. Gráfica de Coimbra), um diálogo com o filósofo Umberto Eco. Num dos últimos, "Colóquios Nocturnos em Jerusalém" (ed. Gráfica de Coimbra), diz: “"Sim, desejo uma Igreja aberta, uma Igreja cujas portas estejam abertas à juventude, uma Igreja com horizontes vastos. A Igreja não se tornará atraente por adaptações ou por ofertas tíbias. Eu confio na palavra radical de Jesus, nessa palavra que temos que traduzir para o nosso mundo como ajuda para a vida, como Boa Nova que Jesus quer trazer."


Na entrevista publicada pelo Corriere della Sera, Martini – cujo funeral se realiza segunda-feira – dizia, referindo-se ao catolicismo: "A nossa cultura envelheceu, as nossas igrejas são grandes e estão vazias e a burocracia aumenta, os nossos ritos religiosos e as vestes que usamos são pomposos."

Apesar de ter sido sempre crítico de várias posições oficiais da Igreja, Martini era muito respeitado na instituição católica. A sua inteligência e brilhantismo, a que aliava a forma subtil de manifestar as suas posições, não seriam estranhos a esse facto. Quer João Paulo II, que o nomeou para Milão em 1980, quer o actual Papa, com quem se encontrou em Junho, sempre confessaram a sua admiração pelo cardeal.


A Rádio Vaticana, conta a agência Ecclesia, recordou esse último encontro entre o Papa e o seu "amigo jesuíta" – Martini integrava esta ordem. O cardeal admitiu, já nessa altura, que se vive "um momento muito difícil para a Igreja".

Nesta manhã de sábado, Bento XVI enviou um telegrama ao cardeal Scola, manifestando a sua tristeza pela notícia da morte e acrescentando que Martini realizou um "competente e fervoroso serviço" à divulgação da Bíblia, "abrindo cada vez mais a comunidade eclesial aos tesouros da Sagrada Escritura".

Afastamento das pessoas

Outra das críticas que Martini fazia era a aspectos da encíclica Humanae Vitae, sobre a regulação dos nascimentos, na qual se fixa a ideia de que a Igreja não admite o uso do preservativo. Esse documento, de Julho de 1968, levara "ao afastamento de muitas pessoas", dizia Martini, que defendia que o preservativo pode ser usado como um "mal menor".


Na entrevista agora publicada pelo jornal italiano, dada a um padre jesuíta, o cardeal disse ainda que, a menos que a Igreja adopte uma atitude mais acolhedora em relação às pessoas divorciadas, ela perderá as futuras gerações. A questão, acrescentava ainda, segundo a BBC, não é se os casais divorciados podem receber a comunhão na missa, mas como é que a Igreja pode ajudar as pessoas em situações familiares complexas.

Desde a manhã de hoje, milhares de pessoas passam diante do corpo do cardeal, na catedral de Milão, onde Martini foi arcebispo mais de duas décadas.

No seu último livro, sobre a figura do bispo, o cardeal diz que aquele deve ser antes de mais "íntegro, honesto, leal, capaz de não mentir nunca, paciente, misericordioso, pronto a oferecer esperança a quem sofre, mas, acima de tudo, um homem verdadeiro, capaz de ouvir a todos, mesmo não crentes, separados, divorciados e homossexuais".


O bispo, acrescenta ainda, deve estar "atento aos pobres, aos encarcerados, aos doentes, aos estrangeiros", mas também a quem é obrigado a viver fora da Igreja "como os separados, os divorciados e os homossexuais". Citado pelo La Repubblica, o cardeal acrescenta no livro: "Mesmo salvaguardando o princípio de que o matrimónio é único e indissolúvel, muitos separados e divorciados têm um novo companheiro e uma nova família com filhos. Eles devem ser ouvidos, merecem atenção, porque é como estar diante dos náufragos aos quais é preciso fazer todo o possível para que não se afoguem."

Acolhimento de homossexuais

A AFP recorda outras posições de Carlo Maria Martini, como a denúncia da "tentação" de alguns católicos em refugiar-se em novos movimentos católicos que se tomam como "valor absoluto", transformando-os em "verdadeiras ideologias".


O cardeal Martini considerava "desejável" uma "evolução" em relação ao celibato dos padres, sem que a Igreja Católica tivesse de renunciar completamente a essa disciplina. Martini foi também dos primeiros a falar da importância de um novo concílio – a magna assembleia de todos os bispos do mundo. Martini considerava que o Vaticano II, cujos 50 anos se completam este ano, estava já ultrapassado em vários aspectos.

A falta "dramática" de padres, o papel da mulher na Igreja e na sociedade, a sexualidade, as relações com os ortodoxos e o ecumenismo em geral, bem como a relação entre a democracia e as leis morais, eram temas para os quais Martini propunha novas abordagens da Igreja e a necessidade de debate num novo concílio.

Nascido em Turim, em 15 de Fevereiro de 1927, Carlo Martini era membro da Companhia de Jesus. Biblista de formação, foi designado pelo Papa Paulo VI como reitor do Instituto Bíblico, onde esteve até 1978. Desempenhou depois as mesmas funções na Universidade Pontifícia Gregoriana, até ser momeado arcebispo de Milão, a maior diocese da Europa, onde esteve durante 22 anos. Entre 1986 e 1993, foi também presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa. Em 2000, recebeu o prémio Príncipe das Astúrias em Ciências Sociais.


Em Milão, entre muitas outras coisas, incentivou iniciativas de diálogo com não-crentes e de acolhimento de homossexuais. Em 2002, quando completou 75 anos e deixou a diocese, foi viver para Jerusalém. Acabou por voltar a Milão em 2008, por causa do agravamento das suas condições de saúde.

Um padre idoso citado pela AFP mas que quis manter o anonimato, anunciara também a morte de Martini aos jornalistas diante da casa dos jesuítas onde o cardeal residia, afirmando: "Era um grande homem, um grande erudito que nos deixou muitos ensinamentos e um homem de Deus."

In Público

O casamento homossexual liberta a Igreja

Casamento gay e Igreja livre

Um artigo de opinião de um ensaísta católico francês para o Le Monde. Nele o autor aborda a actualidade política do país (direito ao casamento e à adopção por parte dos casais homossexuais) e critica a hierarquia da Igreja por se interessar mais pelas histórias do foro privado do que pela espiritualidade. Sendo a maioria dos franceses a favor do casamento homossexual, os moralistas enveredam pelo ataque à homoparentalidade alegando a falta de referências masculino-feminino. O autor relembra que 2,8 milhões de crianças vivem em famílias monoparentais - sem haver sequer a alteridade de haver 2 referências distintas e que 40.000 crianças vivem já com um casal homossexual, sem nelas se ter notado qualquer perturbação ou trauma derivados especificamente desse factor. Mas o "incómodo" da homoparentalidade vem de medos irracionais, ignorância: hereditariedade ou contágio da homossexualidade. O autor afirma que quando se é crente, se é Igreja, e quando um se diz católico, deve ser testemunha de Cristo e do Evangelho e não se contentar com a repetição cega e obcessiva das opiniões da hierarquia: tem de se saber dialogar com tudo e com todos e passar a mensagem do Evangelho, não alimentar preconceitos sem sentido crítico e construtivo.

Desde o nascimento de Cristo sabemos que a filiação importante não é nem a sexual nem a reprodutiva, mas a adoptiva. José e Maria receberam Jesus sem o conceberem, O mesmo teria acontecido se José fosse uma mulher. O mesmo acontece quando uma criança nasce: ela é declarada ao Estado Civil e os seus pais são os que ficam responsáveis pela sua criação e educação; a criança é adoptada pelos seus pais. Com o Evangelho a família alarga-se a uma família universal. Não interessa se se é órfão, bebé-proveta, filho bastardo, filho de pai gay ou de barriga de aluguer ou se se vem da Assistência Social: todos somos irmãos em Cristo e filhos de Deus. Em termos laicos importa assegurar uma parentalidade colectiva, consensual, integrativa e democrática, ou seja, uma socioparentalidade. Os jovens devem ser associados o mais cedo possível à vida na sua cidade como futuros cidadãos.

Na história a Igreja teve o papel de consolidar o matrimónio que, entre outras coisas, assegurava às crianças que nasceriam um quadro educativo de fundo. As sociedades modernas e democráticas ocupam-se disso actualmente. A abertura do direito ao casamento e à adopção aos casais homossexuais é a última etapa desta lenta evolução. No séc. IX a Igreja ocupava-se com o estado civil e a regulação matrimonial e hoje vê chegar ao fim o seu papel administrativo e civil. O casamento homossexual não põe em causa o matrimónio e a filiação, mas antes liberta a Igreja das suas preocupações de gestão quotidiana da sociedade e dá-lhe espaço para se concentrar na difusão da sua mensagem espiritual. Para isso, os baptizados não devem ser eternamente crianças de colo do nosso Pai que está nos céus, mas tornar-se adultos que, desde a mais tenra juventude, como Jesus, tomam a palavra no Templo e na cidade.

Aqui segue o artigo na íntegra em francês:


Le mariage homosexuel libère l'Eglise


Par Thierry Jaillet, essayiste catholique

Dans quelques semaines ou quelques mois, le gouvernement va mettre en œuvre l'un des engagements du candidat Hollande : l'ouverture du "droit au mariage et à l'adoption aux couples homosexuels". Ce n'est que justice. Mais, je le regrette en tant que catholique pratiquant et engagé, mon Eglise, ou du moins sa partie institutionnelle, va se prononcer contre cette mesure d'équité et de sagesse. En effet, depuis 1968 et l'encyclique Humanae Vitae, fustigeant l'interruption volontaire de grossesse (IVG) et la contraception, nous sommes habitués à ce que notre haut clergé se mêle plus de nos histoires de cul que de spiritualité.


Comme la majorité des Français sont pour le mariage homosexuel, l'angle d'attaque des opposants moralisateurs et plus ou moins homophobes sera l'homoparentalité. Vous rendez-vous compte, ces pauvres enfants, est-ce bien raisonnable qu'ils grandissent sans référent maternel ou paternel ? Réveille-toi, mon frère, ma sœur, 2,8 millions d'enfants vivent dans une famille monoparentale, et leur seul parent, une femme, en général, est, dans la plupart des cas, hétérosexuelle. D'autre part, 40 000 enfants vivent d'ores et déjà avec deux parents homosexuels, et l'on n'a pas détecté chez eux le moindre traumatisme psychologique particulier. Tous les éducateurs sérieux le savent : les difficultés des enfants ne proviennent pas de l'orientation sexuelle de leurs parents, mais de leurs moyens financiers, de leur niveau d'études et de leur intégration dans la société. Mais ce n'est pas avec des arguments de simple raison que l'on peut convaincre sur ce point. L'homoparentalité dérange, on craint faussement qu'elle soit héréditaire, contagieuse, et délétère pour l'espèce humaine. Comment sortir de cette peur irrationnelle qui fait que même des citoyens assez ouverts se disent qu'il faut procéder par paliers, ménager des transitions, distinguer mariage (hétéro) et union civile (homo), de crainte d'encourager l'homophobie, alors qu'il n'y a rien de pire que faire des distinctions pour renforcer les discriminations et l'exclusion ?


Quand on est l'Eglise et que l'on se dit catholique, on doit dialoguer avec tous, se faire le témoin du message du Christ et des Ecritures et ne pas se contenter de répéter les éventuelles âneries des successeurs de Pierre, lequel Pierre, selon l'Evangile et les Actes des Apôtres, sortit quelques énormes sottises que ses frères ne suivirent pas. Alors, plutôt que de l'entretenir, faisons donc reculer la peur de l'homoparentalité.

Depuis la naissance du Christ, nous savons que la seule filiation qui compte n'est ni sexuelle ni reproductrice, mais adoptive. Joseph et Marie deviennent les parents du Christ parce qu'ils l'acceptent comme enfant, alors que leur relation sexuelle ne l'a pas conçu. Joseph eût été une femme que le Christ eût été tout de même incarné. Nous aussi parents, nous déclarons nos enfants à l'état civil, nous les adoptons aux yeux de la loi et de la société, et nous nous engageons dans leur éducation. Mais avec l'Evangile, nous allons plus loin que jouer au papa et à la maman. Nous agrandissons la famille à l'humanité toute entière. Nous reconnaissons Jésus Christ fils du Dieu Vivant (Mt 16, 16), et nous nous disons fils de Dieu et frères en Jésus-Christ, que nous sortions des bourses d'un père homosexuel, de l'utérus d'une mère porteuse, d'une éprouvette, ou de l'Assistance. Et l'important pour nous n'est pas de sacraliser la famille traditionnelle, car la "Sainte Famille" est tout sauf cela, mais de laisser le Christ, dès l'âge de 12 ans, et nos enfants avec lui, "s'occuper des affaires de son Père" (Luc 2, 49). En termes laïques, cela veut dire que ce qui compte, c'est que la société tout entière s'occupe bien des enfants, les éduque, et les considère pour eux-mêmes, pas seulement en tant que fils et filles de leurs parents, hétérosexuels ou pas. Toujours en termes laïques, cela veut dire aussi que les jeunes doivent être associés au plus tôt à la vie de la cité, en tant que futurs citoyens. Dans cette perspective, l'homoparentalité n'est plus un problème, le vrai défi, c'est d'assurer ensemble une parentalité collective, consensuelle, intégrative et démocratique, une socioparentalité.


Au cours des siècles, l'Eglise a construit sa vision du sacrement du mariage, certes pour asseoir son pouvoir sur la société, mais aussi pour assurer le consentement éclairé des époux, empêcher les mariages forcés pour raisons patrimoniales, limiter la traite des femmes, abolir la répudiation et assurer aux enfants un cadre éducatif minimal. Les sociétés modernes et démocratiques se chargent aujourd'hui de ces protections et sauvegardes. L'ouverture du droit au mariage et à l'adoption aux couples homosexuels est la dernière étape de cette lente évolution. L'Eglise qui prit en charge, aux temps barbares du IXe siècle, état civil et régulation matrimoniale, voit aujourd'hui la toute fin de son rôle administratif et civil. Le mariage homosexuel, loin de remettre en cause mariage et filiation, libère définitivement l'Eglise de ses préoccupations de gestion quotidienne de la société et lui donne tout loisir de se concentrer sur la diffusion de son message spirituel. Mais pour cela, les croyants ne doivent pas rester les petits enfants mineurs de Notre Père qui est aux cieux et de notre Très Saint-Père le Pape qui est à Rome (tiens, deux pères dans cette famille ?). Non, les baptisés se doivent d'être des adultes majeurs qui, dès leur plus jeune âge, comme Jésus, prennent la parole dans le Temple et dans la ville.

Thierry Jaillet est l'auteur de L'Evangile de Michel Onfray (Golias Editions).

In Le Monde de 5 de Junho 2012

Luzes de lucidez na hierarquia da Igreja católica

Cardeal de Berlim apela à igualidade na forma de tratamento entre casais heterossexuais e homossexuais

Nota e resumo da mensagem: este é um post em inglês de uma das amigas da página de facebook do moradasdedeus, em que o cardeal de Berlim alerta que se devia olhar para relações duradoiras homossexuais como se olha para as heterossexuais, quando são vividas na fidelidade. A Igreja devia ver e pensar mais longe. A sua voz juntou-se à do Arcebispo de Londres, que apoiou a união civil entre gays e lésbicas no Reino Unido, e à do bispo de Ragusa (Itália) que fez o mesmo no seu país. O bispo Robinson de Austrália, num sínodo, também ergueu a voz no sentido de reexaminar a ética sexual na Igreja, aprovando moralmente, entre outros, as relações entre pessoas do mesmo sexo. O bispo de Portland (Maine) anunciara igualmente que a diocese não teria um papel activo de oposição ao referendo do estado para a igualdade de acesso ao casamento. Carlo Maria Martini, o antigo bispo de Milão, no seu livro Credere e Cognoscere diz que não concorda que, na Igreja, se tomem posições relativas às uniões civis.

Passo a citar a notícia:

Cardinal Rainer Maria Woelki

So far I’ve only seen one news report in English about this item, but there are several in German that are floating around the web. It is too good not to report, even though the information is rather sparse.
Berlin’s Cardinal Rainer Maria Woelki told a major Catholic conference in Germany that relationships of same-gender couples should be treated equally with heterosexual couples. An article in The Local, an English news source in Germany reports:

“He told a crowd on Thursday that the church should view long-term, faithful homosexual relationships as they do heterosexual ones.

” ‘When two homosexuals take responsibility for one another, if they deal with each other in a faithful and long-term way, then you have to see it in the same way as heterosexual relationships,’ Woelki told an astonished crowd, according to a story in the Tagesspiegel newspaper.

“Woekli acknowledged that the church saw the relationship between a man and a woman as the basis for creation, but added that it was time to think further about the church’s attitude toward same sex relationships.”

Speaking at the 98th Katholikentag (Catholic), a conference of 60,000 Catholics in Mannheim, Woelki joins a growing chorus of episcopal voices who are calling for change in the hierarchy’s traditionally absolutist refusal to acknowledge the moral goodness of lesbian and gay relationships.

Last December, London’s Archbishop Vincent Nichols made headlines by supporting civil partnerships for lesbian and gay couples in the U.K. That same month, Fr. Frank Brennan, a Jesuit legal scholar in Australia, also called for similar recognition of same-sex relationships. In January, Bishop Paolo Urso of Ragusa, Italy, also called for recognition of civil partnerships in his country.

March of 2012 saw an explosion of questioning from prelates of the hierarchy’s ban on marriage equality. At New Ways Ministry’s Seventh National Symposium,Bishop Geoffrey Robinson of Australia called for a total re-examination of Catholic sexual ethics to allow for, among other things, moral approval of same-sex relationships. The Diocese of Manchester, New Hampshire, supported a bill that would legalize civil unions (albeit as a stopgap measure to prevent marriage equality). Bishop Richard Malone of Portland, Maine, announced that the diocese would not take an active role in opposing the state’s upcoming referendum on marriage equality, as it had in 2009. In Italy, Cardinal Carlo Maria Martini of Milan stated in his book, Credere e Cognoscere (Faith and Understanding), that “I do not agree with the positions of those in the Church who takes issue with civil unions.” You can read excerpts, in Italian, from the book here. An English translation of a different set of excerpts, thanks to the Queering the Church blog, can be found here.
While opposition to marriage equality from the hierarchy, especially in the United States, is still massive and strong, it is significant that these recent statements are all developing a similar theme of at least some recognition of the intrinsic value of lesbian and gay relationships, as well as the need for civil protection of them. May this trend continue and grow.

Francis DeBernardo, New Ways Ministry

In http://newwaysministryblog.wordpress.com/2012/05/20/cardinal-calls-for-equality-of-heterosexual-and-homosexual-relationships/

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Reis com Sophia

A estrela


Eu caminhei na noite
E entre o silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava.

Grandes perigos na noite me apareceram:
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
Duma cidade a néon enfeitada.

A minha solidão me pareceu coroa.
Sinal de perfeição em minha fronte.
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era dum ferro
Tão pesado, que toda me dobrava.

Do frio das montanhas eu pensei:
“Minha pureza me cerca e me rodeia”.
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza as coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu.

E a fraqueza da carne e a miragem do espírito

Em monstruosa voz se transformaram:
Pedi às pedras do monte que falassem
Mas elas como pedras se calaram.
Sozinha me vi, delirante e perdida.

E eu caminhei na noite; minha sombra
De gestos desmedidos me cercava
Silêncio e medo
Nos confins dos desertos caminhavam:
Então vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava
E assim me disseram: “Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela”.
Então soube que a estrela me seguia.

Era real e não imaginada.
Grandes e humanas miragens nos mostraram
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava.
E eu espantada vi que aquela estrela
Para cidade dos homens nos guiava.

E a estrela do céu parou em cima
duma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha o mesmo tom que a cinza
Longe do verde-azul da Natureza.

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água.
Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais negra e mais sem luz
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado.

Nesse lugar pensei: Quando deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens tão perto.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Uma oração e um desenho para o 4º Domingo do Advento

desenho de Rui Aleixo
Manjedoura

Vais nascer aqui, neste turvo centro
entre a sede e a escassez que os dias levantam
Vais nascer no silêncio rasante das nossas paisagens
no seu tempo que por vezes parece só guardar
o peso de ser tarde
mas ninguém te pode alcançar sem cair em si mesmo
sem descer a teu lado os degraus invisíveis
por caminhos que fazemos sem pés
Vais nascer entre os redemoinhos que nos sorvem
nesta muda passagem
quando com a idade nos cremos não a embarcação
mas os remos que se afundam
A verdade é que ninguém te pode alcançar sem nascer de novo
sem habitar a esperança desdobrada pela Tua palavra

José Tolentino Mendonça

publicado pela Capela do Rato



Uma oração e um desenho para o 3º Domingo do Advento

desenho de Rui Aleixo
Estrela


Que a Tua estrela nos encontre disponíveis
para a viagem
mesmo sem que percebamos tudo

Que o seu brilho nos torne pacientes
com as coisas não resolvidas do nosso coração
e nos ajude a amar as difíceis questões
que por vezes a noite, por vezes o dia
segredam pelo tempo fora

Que a Tua estrela nos faça reconhecer
que nunca é tarde
para que se tornem de novo ágeis e sonhadores
os nossos passos cansados
pois nós próproios nos tornamos em estrelas
quando arriscamos perpetuar
a Tua luz multiplicada


José Tolentino Mendonça

publicado pela Capela do Rato e pelo SNPC

sábado, 15 de dezembro de 2012

Até que a morte nos separe

Um filme a não perder, que certamente não deixará ninguém indiferente. Passo a publicar a crítica de Margarida Ataíde.

"Amor": incómodo e imensamente belo


Três anos após conquistar uma vasta gama de prémios pelo seu “O Laço Branco”, profunda e perturbante meditação sobre a condição humana, Michael Haneke voltou a arrebatar a mente e o coração de júris, crítica e público com o seu mais recente filme: "Amor".

Georges e Anne Laurent, casal octogenário, vivem confortavelmente a sua reforma na cidade de Paris, na sequência de uma vida dedicada à música. O carinho que nutrem um pelo outro é notório. Um dia, são surpreendidos pela doença de Anne. Um grave problema de natureza vascular, evidenciado por um súbito estado de ausência, limitará, num brevíssimo espaço de tempo, a sua mobilidade. Primeiro confinada a uma cadeira de rodas e mais tarde a uma cama, o estado de Anne agrava-se de dia para dia.

Ao longo deste processo Georges não hesita em assumir, com recurso mínimo à ajuda de terceiros, os cuidados necessários a Anne, sejam de ordem física ou afetiva. Indiferente à sua própria debilidade física e relegando para segundo plano a dor provocada pela degradação humana da mulher da sua vida, é o amor que prevalece, a cada dia, ante a perspetiva de uma morte anunciada...

Com a questão da doença e da morte em solidão a afligir uma envelhecida Europa em tempos de crise e de dúvida, entre tantos outros problemas que apelam à reflexão e à ‘inflexão’ urgente de modelo social e afetivo, “Amor” é uma muito pertinente meditação sobre nós. Todos nós.

Magnificamente interpretado por Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, os dois atores que em tempos atraíram uma geração às salas de cinema pela sua sedutora vitalidade física e emocional, emprestam os mesmíssimos dons artísticos à encarnação de duas personagens no final das suas vidas.

Incómodo e imensamente belo, eis um filme que trata, de modo igualmente notável e delicado, a questão do amor e da morte, em intimíssima relação e definindo claramente o que na nossa natureza prevalece.

Mais uma meditação que Haneke séria e generosamente nos entrega, em que as soluções dificilmente podem ser consideradas ou debatidas sem se olhar aos caminhos que a umas ou outras conduzam...

Margarida Ataíde

Grupo de Cinema do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
In Agência Ecclesia / SNPC
06.12.12

O Natal de cada dia

Cada dia pode e deve ser Natal


Diante da manjedoura de Belém — como depois diante da cruz no Gólgota — a humanidade faz já uma sua opção de fundo em relação a Jesus; uma opção que, em última análise, é a que o homem deve fazer sem o adiar, dia após dia, em relação a Deus, Criador e Pai. E isto realiza-se, antes de tudo e sobretudo, no âmbito do íntimo da consciência pessoal. É aqui que se verifica o encontro entre Deus e o homem. (…)

Para nós cristãos cada dia pode e deve ser Advento; pode e deve ser Natal! Porque, quanto mais purificarmos as nossas almas, quanto mais dermos espaço ao amor de Deus no nosso coração, tanto mais Cristo poderá vir e nascer em nós. (…)

Não podemos portanto transformar e degradar o Natal numa festa de inútil desperdício, numa manifestação assinalada pelo fácil consumismo: o Natal é a festa da humildade, da pobreza, do despojamento (...) do Filho de Deus, que vem para nos dar o seu infinito Amor; deve portanto ser celebrada com autêntico espírito de partilha, de comparticipação com os irmãos, que têm necessidade da nossa ajuda afetuosa.
Deve ser uma etapa fundamental para a meditação sobre o nosso comportamento para com o "Deus que vem"; e este Deus que vem podemos encontrá-lo numa criança indefesa que chora; num doente que sente faltarem-lhe inexoravelmente as forças do próprio corpo; num ancião, que depois de ter trabalhado durante toda a vida, se encontra de facto marginalizado e tolerado na nossa sociedade moderna, baseada sobre a produtividade e sobre o êxito. (…)
A Igreja eleva a Cristo esta esplêndida oração: (…) Ó Cristo, Rei das nações, esperado e desejado durante séculos pela humanidade ferida e dividida pelo pecado; tu que és a pedra angular sobre a qual a humanidade pode reconstruir-se e receber uma definitiva e iluminadora guia para o seu caminho na história; tu que uniste, mediante a tua doação sacrificial ao Pai, os povos divididos; vem e salva o homem, miserável e grande, feito por ti "com o pó da terra" e que traz em si a tua imagem e semelhança!
João Paulo II

Uma oração e um desenho para o 2º Domingo do Advento


Rui Aleixo
 José

Estás em mim, ó Deus
Brilhas nas obscuras margens do meu nome
Ouves a canção dos meus anos,
que por vezes é pedra, por vezes acorde iluminado.

Que nunca o mundo me pareça um lugar indiferente.
Que a chama da Tua presença ilumine tudo por dentro
e eu não queira, não possa dizer outra coisa
senão a maravilhosa transparência onde Te contemplo

Ao irmos e virmos, somos o Teu mapa
desfalecendo, mas retomando a marcha,
pois sabemos que no fundo desta massa informe
colocastes, Senhor, o irresistível desejo
que a todos faz gritar: “Vem!”


José Tolentino Mendonça

Capela do Rato, 2012, publicado in SNPC

sábado, 8 de dezembro de 2012

Imagens da Anunciação na Arte

Não pretendendo ser uma mostra exaustiva do tema, e não querendo repetir imagens já utilizadas no blogue, publico um pequeno mosaico de imagens do mundo da arte dedicadas ao tema da Anunciação.
 

um poema de Hildegarda

Philippe de Champaigne
Ave, generosa, gloriosa e intacta virgem.
Tu pupila de castidade,
tu matéria santa,
que agradou a Deus.

Pois celeste graça
em ti foi infusa,
o Verbo celeste
fez-se carne em ti.

Tu cândido lírio,
que Deus mais que qualquer criatura
contemplou.

Ó belíssima e cheia de doçura,
quanto em ti Deus se deleitava,
quando te possuía
na amplidão do seu calor,
seu filho seria amamentado por ti.

Teu ventre provou grande alegria,

quando toda a sinfonia celeste
de ti ressoou,
pois, ó Virgem, transportaste o Filho de Deus,
enquanto em Deus tua castidade resplandecia.

Tuas vísceras provaram a alegria,
erva sobre a qual cai o orvalho,
e se lhe reaviva o vigor.
Assim também em ti se operou,
ó Mãe de toda a alegria.

Agora toda a Igreja esplenda de alegria
e cante em sinfonia
pela dulcíssima e louvável Virgem
Maria, Mãe de Deus. Amen.
Santa Hildegarda de Bingen

publicado in SNPC

Uma oração e um desenho para Maria

Rui Aleixo
Oração à Senhora do Advento

Avé Maria, Senhora do Advento
A misericórdia de Deus esplende em ti
Bendita és tu entre as mulheres
Em teu seio amadurece a manhã

Ó Mãe propícia
leve, magnífica e atenta
aos amplos pátios da nossa solidão
És aquela que melhor apascenta
a turbulenta forma da nossa sede:

Roga por nós que atravessamos o mundo agora
roga por nós que atravessamos esta hora

José Tolentino Mendonça

Capela do Rato
publicado in SNPC

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Somos únicos?

Vittorio Carvelli
Cada um de nós é uma parcela de infinito

Não é possível propôr para todos uma palavra única sobre o amor, sobre a felicidade, sobre a procura do sentido da vida ou sobre a espiritualidade. É evidente que certas palavras podem pôr em comunicação as experiências ou os itinerários de todos. Poder-se-ia mesmo supôr que, para os crentes, a palavra Deus bastaria, tão grande ela é, para os reunir numa visão unificante de todas as suas aspirações e percursos espirituais. E contudo, esta palavra imensa tanto é fonte de contradições e conflitos como também pode anunciar em cada ser aquilo que o constitui e o habita para a consumação nele de um destino que o transfigura e funda a sua liberdade.

Quando, entre os homens, o mistério de Deus está em causa – e seria possível que o não esteja na confrontação das religiões – eu quereria entregar-me ao olhar sem limite da relação contemplativa. Sejamos único uns para os outros, não banalmente porque somos diferentes, mas porque cada um de nós é habitado por uma parcela de infinito e o seu ser próprio é a parte singular do divino que não pertence senão a ele e de que ninguém pode apropriar-se nem julgar. Ninguém é herético no seu mistério.

Àquele que fixa em mim um olhar contemplativo, eu diria: «Quereria revelar-me a ti para te deixar vislumbrar o segredo que me habita sem destruir aquele que dá à tua vida essa luz que mais ninguém possui. E se me tiver acontecido querer ensinar-te aquilo que não se ensina, esquece esses discursos indevidos que não são senão expressão da fragilidade. Também eu, na minha noite, avanço para a luz, e se procuro a tua presença não é para te convencer, mas porque desejo que te mantenhas ao meu lado. Em ti reconheço um companheiro cuja fé e oração são a oferenda do teu ser a esse Deus não revelado para o qual o nosso comum desejo inventou as religiões como um caminho inacabado

Como seria belo que entre os homens o mistério de Deus não os opusesse. Que a palavra pronunciada por cada um sobre a sua própria fé seja investida pela escuta da fé do outro. Que toda a humanidade esteja à escuta do silêncio de Deus, acompanhada por esse murmúrio que a atravessa, esse murmúrio da fé e da oração que revelaria a comum expectativa. Que todo o rito e toda a palavra possam nascer dessa vibração de infinito. Que ninguém impeça a passagem a fim de que os céus permaneçam abertos à consciência de todos.

Apreender o instante desta vibração, um instante próximo da surpresa. Nada dizer, nada explicar, conservando a memória, e sorrir diante do não-saber.

Que todo o homem seja uma sugestão do infinito.

Bernard Feillet in "L’arbre dans la mer" tradução de José Mendonça

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Abraçados podemos voar

Partilho este belíssimo texto sobre o amor e o casamento

Abraçados podemos voar


(...) Tenho tido nestes anos, como padre, a gratíssima alegria de casar dezenas de amigos. Sei por eles, e da forma mais pura, a verdade daquele verso de Dante que diz: «o amor move o sol e as outras estrelas». Ao olhar para o interior das suas vidas, para dentro dos seus sonhos e até dos seus temores é esse incomparável mistério que se deteta: o modo como o amor, como a frágil força do amor é capaz de mover, de transfigurar e de unir, até ao fim, cada fragmento do corpo e cada filamento da alma.

Um outro autor italiano escreveu: «Somos anjos de uma asa apenas. Só permanecendo abraçados podemos voar». O casamento é a serena e criativa conjugação destes dois sentimentos que, fora dele, pareciam destinados a existir unicamente em contraste: a solidão e a comunhão. O amor agudiza a consciência de sermos um; descobre, aos nossos próprios olhos, a irresolúvel incompletude que individualmente nos caracteriza, a nossa insuperável carência; e ensina-nos o sabor de uma, até aí desconhecida, solidão: aquela que se sente por estar privados do ser amado. No bíblico livro de Rute isso vem assim explicitado: «a vida tratar-me-á com duros rigores se outra coisa, a não ser a morte, me impedir de olhar diariamente o teu rosto» (Rt 1,17). A solidão incandescente com que o amor fere os que se amam é, porém, o que faz dele uma prática de desejo e de caminho, um exercício de mendicância (na verdade, o amor é sempre uma conversa entre mendigos) e de busca, uma forma de entrega e de súplica. Por alguma razão a experiência religiosa da mística recorre a uma linguagem próxima desta amorosa. Os enamorados percebem o estado dos grandes orantes e vice-versa, creio.

Mas o amor é sobretudo milagre da comunhão. Uma comunhão construída também com esforço, é claro, conquistada continuamente ao território muito defendido do egoísmo, traduzida em decisões quotidianas e vigilantes. Porém, não é propiamente de uma conquista que se trata, mas do arrebatamento comum pelo dom, do espanto inesgotável, de uma hospitalidade radical. «Se me tapares os olhos: ainda poderei ver-te. Se me tapares os ouvidos: ainda poderei ouvir-te. E mesmo sem pés poderei ir para ti. E mesmo sem boca poderei invocar-te». O fundamental é vislumbrado e servido em completa dádiva, acontece sem porquês, no âmbito de uma gratuidade infatigável, numa geografia sem condições nem reservas. O amor não se explica: implica-se. É uma voluntária hipoteca, um sigilo de sangue, entrelaçamento vital. Os enamorados conspiram com o milagre e, por isso, tornam-se, de forma tão íntima, cúmplices de Deus.

Compreendo o aviso meio irónico que Auden faz contra as festas de casamento. Ele diz que os noivos deviam ser humildes e não fazer logo no primeiro do seu casamento uma festa colossal, quando, no fundo, está ainda tudo por construir. Mas também acho impossível não celebrar a alegria do casamento, e fazê-lo com uma simbólica desmesura. Poucos momentos dão a ver assim a vida na sua transparência.
José Tolentino Mendonça
In Diário de Notícias da Madeira, 14.09.11
Publicado em SNPC

Hora de almoço com Deus

"Abre um parêntesis no teu dia": 20 minutos de oração para encontrar Deus à hora de almoço

A Comunidade de Vida Cristã (CVX) propõe às quartas-feiras vinte minutos de oração em Lisboa, onde não havia a oferta «de um ponto de encontro com Deus à hora do almoço, no meio da rotina e do trabalho».
«Sentimos falta de um momento de paragem, silêncio e espiritualidade», contou à Agência Ecclesia a presidente da Comunidade Regional Sul da CVX, Ana Melo, ao referir-se à origem do projeto "Oração na Cidade – Abre um parêntesis no teu dia".

O encontro começa com música ambiente, antecedendo a leitura de um dos textos bíblicos proclamados nas missas do dia, seguindo-se a apresentação de três propostas de oração baseadas no trecho escutado, intercaladas com espaços de silêncio.
A oração começa às 13h10 na Capela de Santo António das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, ao Campo Pequeno, e termina às 13h30, depois da recitação do Pai-nosso.
Os organizadores desejam alargar a iniciativa a todas «as pessoas que queiram aproximar-se de Deus», e ao mesmo tempo envolver outros organismos católicos, para que a oração seja «uma experiência de Igreja e comunhão».
A CVX é uma comunidade mundial de leigos baseada na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola (1491-1556), fundador dos Jesuítas.
Rui Jorge Martins
In Agência Ecclesia
publicado no SNPC

Onde é?
capela de Santo António das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria
R. Chaby Pinheiro 12A

Uma oração e um desenho para o 1º Domingo do Advento

Rui Aleixo
O Anjo do Advento


Venha o teu anjo abrir de novo estas portas
ao anúncio da vida pura e repentina
que eleva os nossos dias mesmo baços
à altura da promessa

Venha o teu anjo restabelecer o alfabeto censurado
ensaiar a dança que os gestos ignoram
Venha apontar o dia límpido, só pelo azul esclarecido
desprender-nos da cinza do desânimo e do sono
guiar-nos para lá das fronteiras

Venha o teu anjo nomear o que trazemos
e passa de um dia para outro sempre adiado
Venha redizer o corpo inacabado
Este reticente modo de habitação
ainda à espera do seu nascer verdadeiro

José Tolentino Mendonça
Capela do Rato, publicado por SNPC

A Visita

Advento: tempo para acolher a presença


O significado da expressão "advento" inclui também o de visitatio que, simples e propriamente, quer dizer "visita"; neste caso, trata-se de uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer dirigir-se a mim.

Na existência quotidiana, todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e pouco tempo também para nós. Terminamos por ser absorvidos pelo "fazer". Não é porventura verdade que com frequência é precisamente a atividade que nos possui, a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa atenção? Não é talvez verdade que dedicamos muito tempo à diversão e a distrações de vários tipos? Às vezes, a realidade "arrebata-nos".

O Advento, este tempo litúrgico forte que estamos a começar, convida-nos a refletir silenciosamente para compreender uma presença. Trata-se de um convite a compreender que cada um dos acontecimentos do dia é um sinal que Deus nos faz, um vestígio da atenção que Ele tem por cada um de nós.

Quantas vezes Deus nos faz sentir algo do seu amor! Manter, por assim dizer, um "diário interior" deste amor seria uma tarefa bonita e saudável para a nossa vida! O Advento convida-nos e estimula-nos a contemplar o Senhor que está presente. Não deveria porventura a certeza da sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria acaso ajudar-nos a considerar toda a nossa existência como uma "visita", um modo como Ele pode vir ter connosco e estar ao nosso lado em cada situação?

Outro elemento fundamental do Advento é a espera, expectativa que é ao mesmo tempo esperança. O Advento leva-nos a compreender o sentido do tempo e da história como "kairós",como ocasião favorável para a nossa salvação. Jesus explicou esta realidade misteriosa mediante muitas parábolas: na narração dos servos convidados a esperar o retorno do dono; na parábola das virgens que esperam o esposo; ou naquelas da sementeira e da colheita.

Na sua vida, o homem está constantemente à espera: quando é menino, deseja crescer; quando é adulto, tende para a realização e o sucesso; na idade avançada, aspira ao merecido descanso. Mas chega a hora em que ele descobre que esperou demasiado pouco se, para além da profissão ou da posição social, nada mais lhe resta para esperar. A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos ela é animada por uma certeza: o Senhor está presente no fluxo da nossa vida, acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz.

No entanto, existem modos muito diferentes de esperar. Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso.

Queridos irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, em que já nos são concedidos os dons do Senhor, vivamo-lo projetados para o futuro, um porvir repleto de esperança. Deste modo, o Advento cristão torna-se ocasião para despertar em nós o autêntico sentido da espera, voltando ao coração da nossa fé que é o mistério de Cristo, o Messias esperado durante longos séculos e nascido na pobreza de Belém.

Quando veio ao meio de nós, trouxe-nos e continua a oferecer-nos o dom do seu amor e da sua salvação. Presente entre nós, fala-nos de muitas maneiras: na Sagrada Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana e em toda a criação, que muda de aspeto se Ele se encontra por detrás dela, ou se a mesma está ofuscada pela neblina de uma origem incerta ou de um futuro inseguro.

Por nossa vez, podemos dirigir-lhe a palavra, apresentar-lhe os sofrimentos que nos afligem, a impaciência e as interrogações que brotam do nosso coração. Estamos persuadidos de que nos ouve sempre! E se Jesus está presente, já não existe tempo algum sem sentido e vazio. Se Ele está presente, podemos continuar a esperar mesmo quando os outros já não conseguem garantir-nos qualquer apoio, até quando o presente se torna cansativo.

Queridos amigos, o Advento é o tempo da presença e da espera eterna. Precisamente por esta razão é, de modo particular, o tempo da alegria, de um júbilo interiorizado, que nenhum sofrimento pode anular. A alegria pelo facto de que Deus se fez Menino. Esta alegria, invisivelmente presente em nós, encoraja-nos a caminhar com confiança. Modelo e ajuda deste íntimo júbilo é a Virgem Maria, por meio da qual nos foi oferecido o Menino Jesus. Que Ela, discípula fiel do seu Filho, nos conceda a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e diligentes na esperança.

Bento XVI
publicado in SNPC

domingo, 2 de dezembro de 2012

Uma jornalista no convento de clausura

As coisas do mundo dizem-nos tão pouco...


A vida de 27 Clarissas do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real, cruzou-se “por vontade de Deus”. A mais nova tem 22 anos; a mais velha 86. Em comum têm um mesmo desejo: seguir Jesus da forma mais radical que a Igreja prevê – a clausura.

Lurdes

Tem 28 anos, mas parece que o rosto parou de envelhecer aos 17, quando decidiu sair de casa para se tornar Clarissa.
Deixou a família na Guarda a braços com as perguntas dos amigos e conhecidos. “Que se passou com a Lurdes? Sofreu algum desgosto?” Dez anos depois abre as mãos, conservadas brancas pela quietude da clausura, e garante-nos que seguram o mundo. “Redondo, a girar.” Lurdes vigia-o, reza por ele.

“É feliz?” Responde, quase sem pensar, com outra pergunta: “Não se nota?” Quebrámos a hora do silêncio maior entre as 14 e as 15 horas, para conversar, a sós, na horta. “Claro que tenho saudades lá de fora. De quando ia passear. Gostava de ir à serra da Estrela. Sentia Deus naquela imensidão de terra. Mas cá dentro o mundo é maior.”

Ao jantar, Lurdes é a mais atenta de todas. Observa-nos, sorri quando cruzamos o olhar com o dela. Parece divertida com o ar deslocado e de aflição permanente típico de quem acabou de chegar.
No refeitório só há um objecto de decoração – um quadro da Última Ceia de proporções consideráveis. As mesas e as cadeiras, dispostas em rectângulo, ocupam quase toda a sala.

A encabeçar o desenho está Maria Clara, a abadessa, que, minutos depois do início da refeição, abre uma gaveta pequenina por debaixo da mesa e, surpreendentemente, retira o comando da televisão. Ao jantar assiste-se aos primeiros 15 minutos do telejornal. “As únicas notícias que interessam”, justifica. Mas afinal vêem televisão? Todas se riem da pergunta. “Claro. Para podermos rezar pelo mundo precisamos de saber o que se passa.”

Donzília

Dizem que se afastaram do mundo por tanto o amarem. Rezam, trabalham e vivem numa comunidade silenciosa, longe dos olhares e dos vícios da sociedade. Vinte e quatro horas por dia, prestam adoração ao Santíssimo Sacramento na igreja do mosteiro. Acordam a meio da noite para se revezarem em turnos que duram uma hora. Levantam-se, vestem o hábito, lutam contra o sono e percorrem os enormes corredores sem luz natural que ligam as celas à igreja.
Conhecem a geometria da casa e por isso não precisam de acender as luzes. Enquanto o resto do mundo dorme, as Clarissas caminham, silenciosas, no meio da escuridão. Na igreja, em frente ao baldaquino, ajoelham e ficam em contemplação.

Donzília é, aos 73 anos, a irmã sacristã. Toma conta da igreja quando, às seis da tarde, os fiéis começam a chegar para assistir à missa. É a única que dá a cara. O resto da comunidade habita no coro, na parte de cima da igreja, escondida dos olhares curiosos. Donzília é uma das mais antigas da casa e interpela os fiéis pedindo-lhes que façam as leituras. Rodopia à volta do padre André Batista, que é capelão da base aérea de Monte Real, prepara as hóstias, acende os candelabros.

No final da celebração apaga as velas e recolhe ao coro. As Clarissas esperam que a igreja fique vazia e, até às oito da noite, a hora do jantar, concentram-se nos breviários e desdobram-se em orações e cânticos.

Ana

É pequenina e não parece ter mais de 20 anos. Mas Ana Maria já conta 38 e chegou a Monte Real há nove. Não sabe explicar porquê. “É Ele quem nos escolhe”, diz. Nem sequer era baptizada quando, aos 23 anos, se aproximou da Igreja.

Terminou o curso de Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Aveiro e quis ser baptizada. Ainda deu aulas de Português e Latim. Passou por Cascais, Serpa, Beja e Santiago do Cacém. No espaço de um mês tomou a decisão que lhe mudou a vida. E começou a procura pelas várias ordens religiosas em Portugal.

Quando encontrou o nome do Mosteiro de Santa Clara na lista, estremeceu. “Anos antes, tinha ligado para as informações à procura de um número de um amigo e, por engano, deram-me o do mosteiro.” Ligou, atendeu a irmã Maria Clara, pediu desculpa pelo engano e o episódio caiu no esquecimento. Nessa altura a vida religiosa era coisa que não lhe passava pela cabeça.

Entretanto, um colega de Latim apaixonou-se por ela. Nunca conseguiu corresponder-lhe. Um dia conheceu um advogado que lhe disse: “Ana, gosto de ti, mas não consigo tocar-te e não sei porquê.” Nunca mais se viram. Agora não tem dúvidas de que “foram sinais de Deus” a indicar-lhe o caminho.

No início queria ser missionária. “Mas quantas pessoas iria ajudar? Na clausura, pela oração, consigo interceder pela humanidade inteira”, acredita. Pouco antes de chegar a Monte Real ganhou uma bolsa para uma pós-graduação na Grécia. Mas nem isso a convenceu.

“As vocações não são nenhum bicho-de-sete-cabeças nem são histórias místicas”, explica a abadessa, Maria Clara. “São escolhas racionais e dolorosas, porque as famílias não aceitam, especialmente no primeiro momento.”

Quando Maria Fernanda decidiu abandonar a carreira do ensino, aos 22 anos, a mãe telefonou para todos os mosteiros para saber onde estava. Quando conseguiu a morada do de Monte Real, “apareceu cá, arreliada”, mas acabou por aceitar a escolha da filha. “E fui eu que lhe vali quando ela morreu”, recorda Maria Clara.

Maria Clara

A abadessa, eleita por voto secreto pela comunidade, faz parte do grupo inicial de quatro mulheres que acompanharam Maria Teresa, a fundadora, quando se mudou do Mosteiro do Louriçal para abrir uma nova casa em Monte Real. Tinha 19 anos e um namorado. Décadas mais tarde reencontraram-se. Ele casado, ela de hábito. “Disse-me que não me tinha esquecido, mas eu disse-lhe que não pensava voltar atrás.” Perguntou-lhe se era feliz. Ela disse que sim. “Eu sei. Percebi assim que te vi passar.” Foi a última vez que se encontraram.

Arriscamos a pergunta: e viver sem sexo, como é? “Tentamos elevar o lado espiritual. Nenhum caminho na vida é perfeito e completo. Mas aqui há uma relação espiritual com Deus que suplanta todas as dificuldades. Aliás, toda a relação de amor entre um casal suplanta a ligação física, e é isso que há com o meu marido, que é Deus”, responde. “Dizem que vivemos em clausura, mas lá fora é que se vive enclausurado. É-se escravo do trabalho, do dinheiro, de preocupações que aos nossos olhos não significam nada.”

E o próprio recolhimento tem limites. As Clarissas podem sair em caso de doença grave de um familiar e estão autorizadas a receber visitas no locutório, uma sala à entrada do mosteiro, dividida a meio por um pequeno muro. É aí que recebem também pedidos particulares de orações. Ultimamente, a maioria chega pela internet. E nenhum é recusado.

Nos 37 anos de história do mosteiro, as Clarissas deram abrigo a mulheres vítimas de violência doméstica, atenderam pedidos de ajuda desesperados a meio da noite. “Como uma mulher que se preparava para se suicidar na praia da Vieira”, recorda Maria Fernanda. Não negam esmola a quem lhes bate à porta e chegaram a dar guarida, durante nove anos, a um homem que aparentemente não tinha nada, logo a seguir ao 25 de Abril.

Quando morreu descobriu-se que era dono de vários prédios em Lisboa. Deixou-lhos em testamento, mas repudiaram o documento. Apesar disso, a comunidade não recebe qualquer subsídio da Igreja, por isso têm de trabalhar. Venderam os trabalhos de costura, até há bem pouco tempo, a uma loja em Lisboa. “Mas a crise chega a todo o lado e o acordo caiu por terra”, explica a abadessa.

A principal fonte de rendimento é a pequena hospedaria, contígua ao mosteiro. Mas o negócio é sazonal – os turistas só chegam a Monte Real no Verão, para a praia ou para as termas. Todos os meses há despesas. “Só para a Segurança Social vão mais de mil euros.”

Para poderem tratar destes assuntos, e apesar de viverem em clausura, quatro Clarissas têm autorização do Vaticano para sair quando for necessário. E gostam? A resposta é categórica: não. “Quando saio só quero voltar para casa o mais depressa possível. As coisas do mundo dizem-nos tão pouco...”

Rosa Ramos (i) / SNPC
Para saber mais sobre as clarissas:
http://www.clarissasmontereal.com/
http://clarissasmontereal.blogspot.pt/

Palavras de uma monja de clausura

Uma atracção irresistível


Muitas pessoas têm dificuldade em compreender a nossa opção pela vida contemplativa – pela vida de clausura, portanto –, que é sem dúvida a mais radical. Mas uma das causas dessa incompreensão é o desconhecimento, que dá origem a ideias erradas.

Pensa-se que levamos uma vida melancólica e apagada, metidas numa casa sombria, entre grades, a rezar o dia todo... Quase que nos imaginam seres anormais.
É claro que dedicamos a nossa vida à oração, mas o dia tem muitos momentos: os da oração, os do trabalho, e até os de convívio e lazer...
(...)
A ideia de que a nossa vida é inútil é das mais comuns. O meu padrinho, por exemplo, precisamente por estar convencido disso, ainda hoje se recusa a visitar-me no mosteiro e só consente em falar comigo por telefone. Diz o mesmo que o meu pai dizia: “Ainda se ajudasses crianças, velhinhos ou doentes, via-se bem o que fazias!”

De facto, humanamente falando, ser consagrado a Deus não faz sentido. Se se tem a Deus como um simples conceito, é um absurdo; se se tem a Deus como inexistente, é uma ingénua ilusão. Mas não é absurdo nem ilusão, é a resposta a um chamamento concreto de Deus. Responde-se com a entrega pessoal, por amor, e aceita-se a investidura de uma missão. Mas mesmo para quem acredita Deus é difícil entender a vida em clausura, o sentido da nossa entrega a Deus. Entende-se uma vida com atividades concretas de assistência prática a pessoas nas mais diferentes situações de necessidade. Mas uma vida dedicada à oração... (...)

A clausura

Só a palavra “clausura” já faz arrepiar muita gente. É uma palavra que assusta, talvez por evocar a ideia de uma prisão.
Mas a clausura monástica nada tem de prisão, de reclusão forçada, de contrário não seríamos tão felizes aqui dentro.

O silêncio dentro de um espaço delimitado, longe de ser acabrunhador, é uma dádiva que nos permite viver a nossa vida de oração e recolhimento. Não sair livremente, como qualquer pessoa sai de sua casa, impressiona muita gente. Mas para mim o contrário é que seria um suplício. E digo o mesmo a respeito do silêncio: se pudesse conversar á vontade durante o dia tirar-me-iam o que tenho de mais precioso, pois é no silêncio que Deus fala. O silêncio é que nos torna próximos de Deus.
Ir. Raquel Silva
In Uma Atracção Irresistível, ed. Tenacitas, 2009
Preço 12,00 €
ISBN 978-972-8758-64-6

publicado em SNPC

Rezemos o presépio

Para rezar enquanto se constrói o presépio

Primeiro Andamento
Visite-nos, Senhor, a Tua alegria.
Seja ela o dom que sustém esta hora da nossa vida.
Tenha o poder de reedificar, em nós, o caído,
de aclarar a tenda que a noite atribulou,
de unir aquilo que a pressa ou o cansaço interromperam.

Seja ela o sinal da leveza com que nos vês,
a carícia que nos estendes no tempo,
o assobio do Pastor que inaugura as tréguas.

Dá-nos Senhor, neste tempo,
a alegria como alento revitalizador:
inscreva ela em nós o sabor da vida abundante e multiplicada;
perfume cada um dos nossos gestos;
traga às nossas palavras a luz daquela estrela
que o Teu Nascimento para sempre acendeu.

Que o Teu Nascimento inspire cada um dos nossos renascimentos
Que a Tua presença, nos ensine o que significa tornar-se presente
E o dom que fazes de Ti, nos ajude a tecer a vida
como quem entretece uma história de amor.


Segundo Andamento

Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos.
Nascemos dentro de nós e no coração de Deus.

José Tolentino Mendonça
In Diário de Notícias (Madeira)
publicado em SNPC

Hierarquia da Igreja Anglicana: a homossexualidade não põe em causa o celibato

in DN, 20 de Junho 2011
Igreja anglicana autoriza ordenação de bispos homossexuais


O documento intitulado "ordenar bispos, a lei sobre a igualdade de 2010" defende que a orientação sexual não deverá ser tida em consideração na promoção de um padre a bispo e recomenda que a hierarquia da Igreja possa bloquear uma nomeação se ela "causar divisão e desunião na diocese" em causa.
A Igreja Anglicana foi pressionada a esclarecer a sua posição sobre a ordenação de bispos homossexuais depois de Jeffrey John, padre celibatário e homossexual que vive com outro religioso, ter sido forçado a renunciar ao cargo de arcebispo de Reading em 2003. A Igreja Anglicana de Inglaterra voltou a rejeitar em Julho de 2010 a candidatura de Jeffrey John a bispo da diocese londrina de Southwark. Em setembro, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, líder da Igreja Anglicana, disse "não ter problemas" com o facto de os bispos serem homossexuais desde que sejam celibatários.
  A Igreja Anglicana de Inglaterra autoriza a ordenação de bispos homossexuais desde o Sínodo da igreja em Julho do ano passado (2011).   Quando chegará o momento em que a Igreja Católica vai compreender que uma coisa é orientação sexual, e outra é vocação para o celibato?

A ONU e a violação dos direitos humanos baseada na orientação sexual e na identidade de género

Foi no ano passado que pela primeira vez a ONU incluiu a orientação sexual e a identidade de género na lista dos direitos humanos a respeitar, mostrando a preocupação com os actos de violência e de discriminação praticados baseados nestes dois factores. Aqui poderás ler em inglês o comunicado de imprensa que resultou da reunião.

UN Human Rights Council Passes First-Ever Resolution on Sexual Orientation and Gender Identity


17/06/2011

Today’s resolution is the first UN resolution ever to bring specific focus to human rights violations based on sexual orientation and gender identity, and follows a joint statement on these issues delivered at the March session of the council. It affirms the universality of human rights, and notes concern about acts of violence and discrimination based on sexual orientation and gender identity. This commitment of the Human Rights Council sends an important signal of support to human rights defenders working on these issues...
Geneva, June 17, 2011 - In a groundbreaking achievement for upholding the principles of the Universal Declaration of Human Rights (UDHR), the United Nations Human Rights Council has passed a resolution on human rights violations based on sexual orientation and gender identity (L9/rev1).
The resolution, presented by South Africa along with Brasil and 39 additional co-sponsors from all regions of the world, was passed by a vote of 23 in favour, 19 against, and 3 abstentions. A list of how States voted is attached. In its presentation to Council, South Africa recalled the UDHR noting that “everyone is entitled to all rights and freedoms without distinction of any kind” and Brasil called on the Council to “open the long closed doors of dialogue”.
Today’s resolution is the first UN resolution ever to bring specific focus to human rights violations based on sexual orientation and gender identity, and follows a joint statement on these issues delivered at the March session of the council. It affirms the universality of human rights, and notes concern about acts of violence and discrimination based on sexual orientation and gender identity. This commitment of the Human Rights Council sends an important signal of support to human rights defenders working on these issues, and recognizes the legitimacy of their work.
“The South African government has now offered progressive leadership, after years of troubling and inconsistent positions on the issue of sexual orientation and gender identity. Simultaneously, the government has set a standard for themselves in international spaces. We look forward to contributing to and supporting sustained progressive leadership by this government and seeing the end of the violations we face daily”, said Dawn Cavanagh, of the Coalition of African Lesbians
The resolution requests the High Commissioner for Human Rights to prepare a study on violence and discrimination on the basis of sexual orientation and gender identity, and calls for a panel discussion to be held at the Human Rights Council to discuss the findings of the study in a constructive and transparent manner, and to consider appropriate follow-up.
“That we are celebrating the passage of a UN resolution about human rights violations on the basis of sexual orientation is remarkable, however the fact that gender identity is explicitly named truly makes this pivotal moment one to rejoice in,” added Justus Eisfeld, Co-Director of GATE. “The Human Rights Council has taken a step forward in history by acknowledging that both sexual and gender non-conformity make lesbian, gay, trans* and bi people among those most vulnerable and indicated decisively that states have an obligation to protect us from violence.”
"As treaty bodies, UN special procedures, and national courts have repeatedly recognized, international human rights law prohibits discrimination on the grounds of sexual orientation and gender identity.”, declared Alli Jernow, of the International Commission of Jurists.
The resolution is consistent with other regional and national jurisprudence, and just this week, the 2011 United Nations Political Declaration on HIV and AIDS recognised the need to address the human rights of men who have sex with men, and the Organization of American States adopted by consensus a resolution condemning violence and discrimination on the basis of sexual orientation and gender identity.
Earlier in this 17th session of the Human Rights Council, the UN Special Rapporteur on violence against women, its causes and consequences, Rashida Manjoo, reported to the Council that:
“Contributory factors for risk of violence include individual aspects of women’s bodily attributes such as race, skin colour, intellectual and physical abilities, age, language skills and fluency, ethnic identity and sexual orientation.”
The report also detailed a number of violations committed against lesbian, bisexual and trans women, including cases of rape, attacks and murders. It is therefore regrettable that a reference to "women who face sexuality-related violence" was removed from the final version of another resolution focused on the elimination of violence against women during the same session.
"Despite this inconsistency, we trust the UN resolution on sexual orientation and gender identity will facilitate the integration of the full range of sexual rights throughout the work of the UN.", said Meghan Doherty, of the Sexual Rights Initiative.
A powerful civil society statement was delivered at the end of the session, welcoming the resolution and affirming civil society’s commitment to continuing to engage with the United Nations with a view to ensuring that all persons are treated as free and equal in dignity and rights, including on the grounds of sexual orientation and gender identity.
“Now, our work is just beginning”, said Kim Vance of ARC International. “We look forward to the High Commissioner’s report and the plenary panel next March, as well as to further dialogue with, and support from, those States which did not yet feel able to support the resolution, but which share the concern of the international community at these systemic human rights abuses.”

[Quem votou o quê]

Records of Vote and Co-Sponsorship

Council member States supporting the resolution: Argentina, Belgium, Brazil, Chile, Cuba, Ecuador, France, Guatemala, Hungary, Japan, Mauritius, Mexico, Norway, Poland, Republic of Korea, Slovakia, Spain, Switzerland, Ukraine, Thailand, UK, USA, Uruguay
Council member States against the resolution: Angola, Bahrain, Bangladesh, Cameroon, Djibouti, Gabon, Ghana, Jordan, Malaysia, Maldives, Mauritania, Nigeria, Pakistan, Qatar, Moldova, Russian Federation, Saudi Arabia, Senegal, Uganda.
Abstentions: Burkina Faso, China, Zambia

Absent: Kyrgyzstan, Libya (suspended)
Co-Sponsors of the resolution: Albania, Argentina, Australia, Austria, Belgium, Bolivia, Brazil, Canada, Chile, Colombia, Croatia, Cyprus, Czech Republic, Denmark, Estonia, Finland, France, Germany, Greece, Honduras, Iceland, Ireland, Israel, Italy, Luxembourg, Netherlands, New Zealand, Norway, Poland, Portugal, Romania, Serbia, Slovenia, South Africa, Spain, Sweden, Switzerland, Timor-Leste, United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland, United States of America, and Uruguay.

In ILGA Europa

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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As imagens que ilustram as mensagens são retiradas da Internet. Quando se conhece a sua autoria, esta é referida. Quando não se conhece não aparece nenhuma referência. Caso detectem alguma fotografia não identificada e conheçam a sua autoria, pedimos que nos informem da mesma.

As imagens são ilustrativas e não são sempre directamente associáveis ao conteúdo da mensagem. É uma escolha pessoal do autor do blogue. Há um critério de estética e de temática ligado ao teor do blogue. Espero, por isso, que nenhum leitor se sinta ofendido com as associações livres entre imagem e conteúdo.

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