inscrição no túmulo de Niankhknum e Khnumhotep, em 2430 a.C.
Muitos séculos, muitas vidas, muitas formas de pensar e perceber o Homem e a sociedade, nos separam do Antigo Egipto em que a homossexualidade era socialmente aceite e integrada e a “modernidade” deste século XXI... apesar de desde 1974, a Associação Americana de Psiquiatria não categorizar a homossexualidade como doença mental (apesar de continuar presente como distúrbio minor), tendo sido definitivamente abandonada de qualquer tipo de categoria de diagnóstico em 1987, muitos continuam a querer convencer ou convencer-se de que a homossexualidade é um desvio. E se não é “doença” é uma escolha, um capricho de alguns homens e mulheres que escolhem esta “forma de estar”, vivendo a sua sexualidade de forma pervertida para escandalizar e trazer problemas a tantas famílias e instituições de “bem”. O reconhecimento pela comunidade psiquiátrica de que a orientação sexual não é uma “doença” foi um passo muito importante para a compreensão da orientação sexual – é que se não é uma doença, não tem cura... mas muitos continuam a achar que é uma escolha, mas nós sabemos que não é...e penso que este pode ser o ponto de partida para a nossa reflexão: ser e pensar/opinar são coisas muito diferentes!
Somos homossexuais e somos católicos... somos! E tal como não escolhi ser homossexual, acredito que também não escolhi ter fé e insistir em querer relacionar-me com Deus nesta Igreja que é a minha... foi-me concedido de graça e pela Graça! Estamos a falar da nossa identidade – conjunto de aspectos conscientes e inconscientes que nos habitam e nos diferenciam– que está intrinsecamente marcada por estes dois aspectos tão importantes: o desejo de Deus e o desejo erótico por pessoas do mesmo sexo que o meu, tendo esta forma de ser reflexo naquilo sou, acredito, aspiro e faço. São infinitas as possibilidades de conjunção de todas estas (e outras) variáveis, por isso devemos falar de “identidades” e não de “identidade”, assim como de “homossexualidades” e não de “homossexualidade”.
Outra verdade de ser humano é a necessidade de pertença, por isso pertencemos a vários grupos (ou precisamos pertencer) – sociedade civil, grupo religioso, família – grupos que tantas vezes me levam a dividir naquele(a) que sou e naquele(a) que os outros esperam que eu seja. Esta dissociação que pode ser necessária por uma questão de sobrevivência, gera conflito(s) interiores que afecta(m) os meus pensamentos, emoções, sensações e intuições (a minha psique), e estes conflitos expressam-se sobre a forma de sintomas, linguagem das perturbações do humor, da ansiedade, somatoformes, do sono ou outras, conforme as minhas fragilidades e características mais profundas.
É para partilhar estes conflitos que este espaço pode servir... a abordagem desta “secção de psicologia” é aquela que tentei apresentar: sou o conjunto de tudo aquilo que em mim é verdade, não sendo possível ignorar uma parte de mim, sem experimentar consequências...
Este espaço não será um “consultório on-line” pois estou convicto que só a relação cura – e eu, pelos grupos a que pertenço (ou preciso pertencer) também aqui me “escondo” atrás de uma máscara que se chama LaioeCrisipo. Mais do que tratar conceitos teoricamente, sinto que este espaço poderá ser um encontro de vidas que experimentam o difícil e o belo de ser homossexual, olhando o significado que isso tem na minha psique e consequentemente na minha vida de todos os dias.
Poderão sempre deixar os vossos comentários/questões publicamente, ou escrever-me directamente para o mail laioecrisipo@gmail.com.
Não fazia ideia que a homossexualidade era aceite no Antigo Egipto... mas aceite como? Havia casais homossexuais?
ResponderEliminarQueria também agradecer o teu contributo no blogue e partilhar uma dificuldade: parece-me difícil falar da (minha) homossexualidade... falta-me vocabulário, falta-me "normalidade" e fluência no discurso. Nunca sei se escolho as melhores palavras, os termos mais correctos. Claro que posso explicar isto por ser um assunto recente na minha vida, por ser uma questão pouco abordada na normalidade das conversas. Parece-me importante o teu contributo mais esclarecido no campo da psicologia também para desmistificar a linguagem
Acredito que este espaço deva servir à partilha dos nossos conflitos, embora à cura seja essencial a relação pessoal. Contudo, a partilha das nossas histórias, ou da história dos nossos conflitos, pode ajudar a "curá-los" e a dar-lhes um sentido cristão.
ResponderEliminarSe cada um puder contar uma historia sua, creio que poderá ajudar, ajudar-se e ser ajudado.
Se pudermos contar, outros poderão saber que há outras histórias diferentes, mais ou menos duras, próximas, concluivas ... que a sua. E aí o sentimento de solidão - de si e da sua história - poderá tornar-se menos pesado, menos dramático, mais humanizado. E aí, talvez o "vocabulário" e a "normalidade" falte menos, como se queixa o nosso amigo do anterior comentário. O meu parabem ao R. que teve a generosidade de criar este blog. Que ele possa servir a apaziguar os conflitos, os nossos e os dos outros para connosco.
Caros amigos, concordo com os dois...vou tentar ir publicando alguns pequenos apontamentos mais "informativos" e ir dando "respostas" às questões que possam surjir...prometo ser mais assíduo a partir da próxima semana
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