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“O aspecto mais relevante do mundo anterior ao advento da lei mosaica (as leis que Deus outorgou aos Israelitas através de Moisés, começando pelos Dez Mandamentos) é o facto de poucas culturas demonstrarem qualquer preocupação “moral” significativa com as relações entre pessoas do mesmo sexo. Como veremos, a questão, e partindo do princípio de que ela existia, tinha mais a ver com “posições” do que com “parceiros”. Isto é, a maioria das culturas parecia aceitar que os homens podiam ter relações sexuais uns com os outros mas entendia que alguém que assumisse a posição passiva (no sexo anal) tornava-se depois disso, de certa forma, menos homem. Contudo, mesmo a questão da passividade perdia significado se o parceiro passivo fosse adolescente (entre os 14 e os 20 anos). Na verdade, de uma perspectiva religiosa, o elemento mais notável é o número de religiões não monoteístas que tinham deuses e deusas que praticavam actos homossexuais (de várias maneiras) na mitologia dos cultos. Na maioria das religiões anteriores ao aparecimento do monoteísmo no Médio Oriente, os modelos (deuses/deusas) idolatrados, imitados e adorados apresentavam uma imagem de ambivalência sexual – na prática, a bissexualidade era a norma mitológica.”
Naphy, 2006, p. 11
Lendo apenas este pequeno trecho do primeiro capítulo do livro referente ao período histórico até 1300 a.C., percebemos que a homossexualidade era “normal”, isto é, não era considerada um comportamento desviante e por isso “não normal”. Devemos também ter atenção ao facto de que a moralidade está intimamente ligada aos códigos religiosos e/ou mitológicos, e por isso, temos também de compreender o olhar sobre a homossexualidade à luz do tempo histórico, cultural e mitológico. Não quero usar este espaço para “divagações teóricas”, mas não posso de deixar de dizer que a nossa relação com Deus está muitas vezes “contaminada” pelas minhas projecções em relação a Deus, pondo na sua “boca” as palavras que quero ouvir; e como Deus insiste em precisar dos homens e das mulheres para esta relação com a humanidade, a sua vontade é inevitavelmente sujeita à interpretação, aos medos e aos desejos daqueles que O escutam... isto para dizer, que podemos “compreender” a posição da hierarquia da Igreja relativamente à homossexualidade. Felizmente também temos homens e mulheres na Igreja que conseguem fazer uma leitura contextualizada (histórica, sociológica, teológica) da realidade que foi e que já não faz sentido continuar a ser. E não nos podemos esquecer que nós somos Igreja, e como Cristãos adultos e conscientes, temos a obrigação de estar na Igreja desta forma, vivendo com verdade a minha orientação sexual e o facto de ser filho amado de Deus...e acredito, tal como nos diz Santa Teresinha do Menino Jesus “que quando uma alma se eleva, eleva o mundo”...
Obrigado LaioeCrisipo por esta partilha histórica sobre a homossexualidade antes de Cristo e pelo teu comentário a esta. Em relação ao "compreender" a posição da hierarquia da Igreja, penso perceber o que queres dizer... mas não deixo de ter pena de a luz do tempo histórico e cultural ter uma velocidade a chegar à Igreja tão diferente do da luz do Sol...
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