O encontro foi aberto pelas palavras de D. Manuel Clemente que se sucederam à entrada do Papa e ao aplauso da plateia. Momentos musicais interpretados por um grupo de câmara do Coro Gulbenkian trouxeram a obra polifónica de compositores portugueses. Manoel de Oliveira proferiu um pequeno e lúcido discurso e recebeu uma calorosa aclamação do público.
Bento XVI falou em português. O seu discurso não foi uma revolução nem uma lição de moral. Foi sóbrio, directo, limpo e foi bem acolhido. Mais do que as palavras - que puseram uma tónica sobre a busca da Verdade na Beleza e no Bem (tanto na cultura como na vida) - foi o gesto que marcou. Muito oportuno um Papa querer trazer a Cultura para a ribalta... Do ponto de vista político e de construção da Europa, a cultura é uma ferramenta a não descurar. Do ponto de vista nacional, a cultura nem sempre tem sido bem tratada: é sempre relegada para um último plano, quase supérfluo, quase um luxo. Os artífices da cultura continuam a trabalhar com uma grande medida de gratuidade, dedicação e sacrifício pessoal, muitas vezes sem qualquer recompensa visível (facto que só uma verdadeira vocação pode explicar). Bento XVI disse o quão importante é essa missão, e encorajou à perseverança e fidelidade nesse campo.
Do ponto de vista prático, todos sabemos que ninguém vive do ar e, quem dedica à arte a sua vida, tem de poder viver dela. Seria uma boa oportunidade para a sociedade, Governo e Igreja portuguesa se inteirarem dessa realidade. Seria bom que a cultura e a arte voltassem a ser uma verdadeira preocupação na consciência global da sociedade, que deixassem de ser vistas como uma extravagância e um esbanjamento e passassem a ser vistas como uma fonte de riqueza inestimável que, a longo prazo, vai responder também às preocupações economicistas dos nossos dirigentes.
Uma palavra à Igreja portuguesa: a religião usa o símbolo e a imagem. Quem melhor do que os artistas para revelarem nestes símbolos o rosto de Deus? Não basta trabalhar sempre com a "prata da casa" e as "boas-vontades", movidos por uma preocupação algo comodista e forreta. Não será uma espécie de heresia e omissão não se usarem os meios que se têm ao dispôr, o savoir faire? Os melhores exemplos da arte sacra que nos chegaram até hoje são as obras de arte (escultura, pintura, arquitectura, música) dos maiores artistas de cada época. Que mau seria se o Miguel Ângelo tivesse sido preterido com base em julgamentos de comportamentos morais.
É também certo que algum caminho se vai fazendo, que já se faz mais do que já se fez. Mas este tem de ser o modus operandi transversal a toda a Igreja e não apenas o de um par de indivíduos, comunidades, grupos ou ordens "bem-pensantes" e "iluminados".
http://www.snpcultura.org/pcm_cultura_portuguesa_ouve_bento_xvi.html (outras informações sobre o encontro)
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