Seth (Set, Sutekh, Seteh)
Dentro da genealogia divina (...) Seth seria o bisneto do deus criador Atum. Este teria gerado o casal Shu e Tefnut, representantes respectivos do ar seco e do ar húmido, que por sua vez como prole tiveram Geb e Nut, a terra e o céu, que viviam tão próximos um do outro que deles seus rebentos não poderiam sair.
Então, Shu criou um espaço entre a terra e o céu no qual as criaturas poderiam respirar o ar que concede a vida. Nesse mesmo espaço, o sol poderia nascer pela primeira vez e expulsar as trevas primordiais. A separação de Nut e Geb tornou possível o parto de seus filhos, os deuses Osíris, Seth, Ísis e Nephthys, e segundo algumas fontes, também de Hórus de Dois Olhos.
A tradição tão antiga quanto os Textos das Pirâmides, a mais antiga das três principais coleções de textos da literatura funerária, afirma que Seth irrompeu violentamente do ventre de sua mãe. O dia de seu nascimento é dito como o momento no qual a desordem e conflito entraram pela primeira vez no mundo.
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Seth, o deus turbulento inimigo de seu irmão Osíris e rival de Hórus, era um dos quatro (ou cinco) filhos de Nut e Geb. Nephtys, sua irmã, e as deusas estrangeiras Anat e Astarte estavam entre suas consortes. Seth actua como um catalisador no mito egípcio. As suas ações inconsequentes são “más” por si próprias, mas levam a consequências “boas”, como o fato de Osíris se tornar o soberano do Além. A força bruta de Seth era necessária aos deuses para a defesa da barca solar do monstro do caos Apófis (Apophis).
(...) Seth era associado aos aspectos perigosos do deserto como enchentes repentinas e tempestades de areia. (...) Nos mitos, ele toma a forma de variados animais, tais como touros, porcos, hipopótamos, asnos selvagens, crocodilos e panteras para proporcionar actos destrutivos.
Como deus “que causa tempestades e nuvens”, Seth também era o oponente natural do falcão do céu solar Hórus o Ancião. Alternativamente, esse conflito pode ser descrito em termos de um reino e uma luta por justiça entre Seth o Usurpador e seu sobrinho, Hórus o Jovem, o filho póstumo de Osíris.
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A sua importância é evidente em muitas representações: num peitoral da XII dinastia pode-se ver o animal de Seth em justaposição com o deus Hórus como emblemas dos dois reinos. Além disso, existia uma associação íntima entre Seth e a dinastia raméssida, visível em monumentos como uma estátua do Museu Egípcio do Cairo que retrata o deus agachado envolvendo e protegendo um faraó exatamente da mesma maneira pela qual outros monarcas eram representados sob a figura de Hórus. (...)
Com o passar do tempo, Seth foi também representado de maneira semi-antropomórfica como um homem com a cabeça de animal, e esta forma é particularmente comum no Reino Novo. Imagens e amuletos mostram-no utilizando a coroa branca do Alto Egito ou a dupla coroa a qual ele clamava ser sua. A principal arma de Seth é uma maça gigante ou cetro was (“poder”) que só ele conseguiria brandir.
Ele também pode ser visto fundido com Hórus como uma divindade de duas cabeças, como um símbolo do governo sobre tanto o Alto quanto o Baixo Egito.
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Seth é fundamental para muitas das histórias que formam o complexo cultural egípcio: a primeira delas (...) é a sua luta pelo contra o irmão Osíris e o sobrinho Hórus, que resulta nas “Contendas de Hórus e Seth” e no embate do qual sai ferido nos testículos e seu rival nos olhos. Em outros momentos, como no Livro do Amduat, unem-se para proteger diariamente a barca solar da serpente Apófis, como já citado.
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Outros textos do Reino Novo descrevem Seth como autor de uma série de crimes de sacrilégios como a derrubada de árvores sagradas e a caça de pássaros, peixes e animais sagrados. Ele também é notório por quebrar tabus sexuais: a sua natureza luxuriosa o leva a encontros hétero e homossexuais inapropriados. Num mito ele é punido por ter relações com a deusa da semente, que personifica o sémen do criador. Noutro, a sua tentativa de dominar sexualmente seu rival leva-o ao nascimento não-natural do deus lunar Thoth.
Resumidamente, para os egípcios, Seth deve ter sido entendido como uma entidade ambivalente, que poderia agir em algumas ocasiões para a manutenção do ordenamento ou o bom andamento dos eventos, e em outras para a sua ruptura.
In Interações Religiosas Egípcio-canaanitas, por Bruno dos Santos Silva
ISSN: 1984 -3615
adaptado por rioazur
http://www.nea.uerj.br/publica/e-books/mediterraneo1/DOC/Bruno%20dos%20Santos%20Silva.pdf
Ler no blogue
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/11/o-que-apareceu-primeiro.html
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