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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Moradas de Deus

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Moçambique e decisões de quaresma

Perdoa-nos, pois não sabemos o que fazemos

Estas semanas as imagens do rasto de morte e devastação do ciclone Idai em África deixam-nos completamente sem palavras e com dificuldade de voltar à rotina do quotidiano. Para as Nações Unidas, trata-se “possivelmente do pior desastre natural de sempre a atingir o hemisfério sul”.

Não podemos permanecer na apatia e passividade de nos sentirmos impotentes. Como arregaçar as mangas? Algo se poderá fazer. Fiz um levantamento de algumas acções que à distância poderão fazer diferença. No site do Observador encontrei um resumo de algumas instituições que estão a trabalhar no terreno. Divulgo aqui.

E haverá algo a fazer para evitar catástrofes semelhantes? Penso que é inegável que as alterações climáticas existem. Será difícil remediar o que se estragou... Mas parece-me essencial que cada um tome medidas concretas na sua vida para evitar que a humanidade continue a calcar uma herança como se não estivesse a fazer nada de mal. O tempo desta quaresma poderia também ser usado para cada um tomar medidas concretas e decisões que diminuam a sua pegada ecológica neste mundo que é de todos.

Lançamento de livro de Jean Vanier em Portugal

Novo livro de Jean Vanier

É depois de amanhã, dia 27 de Março às 21h na Capela do Rato, o lançamento do livro de Jean Vanier "Verdadeiramente Humanos". Jean Vanier é um teólogo canadiano, autor de numerosos livros, e fundador da L'Arche, uma organização internacional dedicada à criação de desenvolvimento de lares, programas e redes de apoio a pessoas com deficiência mental. Haverá uma conversa por esta ocasião. Para mais informações clicar no link acima.

O Franciscano à frente do Banco

Pobreza e Poder

Partilho o artigo do Observador, intitulado "De onde vem a influência de Vitor Melícias, o padre "malandreco" que manda no Montepio". Ao contrário do que o título sugere, não se trata de um artigo sensacionalista ou difamatório. Partilho-o com os meus leitores por me parecer interessante e por levantar algumas questões ligadas à presença e acção de um cristão no mundo e, neste caso concreto, a acção pública, social e mediática de um sacerdote e de um religioso em meios políticos, sociais, empresariais e económicos. Demito-me de opiniões e deixo que cada um formule as suas.


Morreu Manuel Graça Dias, um arquitecto que não tinha medo da cor

Aos 66 anos, morreu um arquitecto que marcou a década de 1990 da arquitectura portuguesa

Manuel Graça Dias é um nome bem conhecido para quem se interessa pela arquitectura. Trabalhou muito com o arquitecto Egas José Vieira no ateliê Contemporânea. Responsável pelo pavilhão de Portugal na expo de Sevilha em 1992, foi também da sua autoria a reconversão da torre da Galp criando a entrada Sul da expo' 98 em Lisboa. Outras das suas obras mais conhecidas são a sede da Ordem dos Arquitectos em Lisboa, os cinemas Monumental, o Teatro Azul em Almada... Outros projectos mais arrojados não escaparam da polémica, como o edifício Golfinho em Chaves ou projectos utópicos como o elevador para o Castelo de São Jorge em Lisboa - que nunca saiu do papel.  Foi professor universitário de muitas gerações de arquitectos e também ficou conhecido pelos programas na RTP 2 ou os livros que escreveu, com uma linguagem muito acessível ao grande público.

Proponho o artigo do Observador sobre este tema.


sábado, 23 de junho de 2018

Um chamamento de Deus

"Aquarius": Cardeal Ravasi evoca Evangelho sobre acolhimento e desencadeia onda de reações

Uma evocação do Evangelho publicada esta segunda-feira no Twitter pelo presidente do Conselho Pontifício da Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi, a propósito do drama vivido pelas pessoas a bordo do barco "Aquarius", no Mediterrâneo, desencadeou uma onda de reações dirigidas ao prelado italiano e à Igreja.

«Era estrangeiro e não me acolhestes», foi a passagem mencionada, extraída do capítulo 25, versículo 43, do Evangelho segundo S. Mateus, que numa tradução em português europeu se lê: «Era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me».

Gianfranco Ravasi, biblista, aludia ao barco fretado pela organização não governamental SOS Mediterrané, onde se encontram 629 migrantes recolhidos no mar, e que ontem a Itália e Malta recusaram receber, tendo mais tarde recebido ofertas de acolhimento por parte de Espanha e, mais recentemente, da Córsega.

«Eminência, não podemos acolher todos. Como diz a minha velha mamã: primeiro tu, depois os teus, depois os outros, se puder ser...» é o primeiro dos mais de 1600 comentários ao "tweet" do cardeal.

Entre as respostas menos vulgares incluem-se «Que cuide deles o cardeal no Vaticano», «Eram pedófilos e não os prendestes», «O dinheiro do IOR [entidade bancária da Santa Sé] investi-o todo em África», «Vim para traficar, para violar, para islamizar, para viver à borla e não me acolhestes», «Jesus disse que a verdade vos tornará livres. Basta de negros e árabes que comem de borla».

«Abri as portas do Vaticano e colocai lá todos os clandestinos que quiserdes» e «Cardeal vós possuís riquezas imobiliárias superiores à dívida pública italiano, vendei alguns imóveis e ide para África e Médio Oriente para ajudar os pobres; devia estar na primeira linha para cessar o tráfico de escravos», são outros exemplos de comentários.

Há duas horas, o cardeal Ravasi voltou à Bíblia, citando desta vez a primeira carta de S. João (4, 16): «Deus é amor; quem está no amor permanece em Deus e Deus nele», depois de, ontem, ter evocado um autor cristão, Georges Bernanos: «Para encontrar a esperança é preciso ir para lá de todo o desespero. Quando se vai até ao fim da noite, encontra-se uma nova aurora».

«Tempo virá/ em que, exultante,/ te saudarás a ti mesmo chegado/ à tua porta, no teu próprio espelho/ e cada qual sorrirá ante a saudação do outro,/ e dirá: Senta-te aqui. Come./ Amarás de novo o estrangeiro que era o teu Eu./ Dá vinho. Dá pão. Devolve o coração/ a ele próprio, ao estrangeiro que te amou/ toda a tua vida, que ignoraste».

Na coluna que assinava diariamente no jornal italiano "Avvenire", o P. Ravasi, ainda não criado cardal, citou versos da poesia “Amor após amor”, de Derek Walcott, «o cantor dos mestiços, nascido numa ilha das Caraíbas, Santa Lúcia, em 1939».

«Como se intui, unem-se e sobrepõem-se duas fisionomias diversas, a minha e a do outro, o estrangeiro. Se ao espelho olhamos o nosso rosto, descobrimos nele os traços da humanidade, porque a ela todos pertencemos, para além das diferenças étnicas, culturais, religiosas.

"Amarás o estrangeiro que era o teu Eu", diz o poeta. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", diz a Bíblia. Neste paralelo há dois amores que se fundem, o espontâneo por si próprio e aquele que o é para os outros, muitas vezes conquistado com algum esforço mas que deverá ser, da mesma maneira, intenso.

Devemos tentar reconduzir o nosso coração "a si mesmo", isto é, à sua consciência profunda, e aí descobriremos que há o estrangeiro dentro de nós porque ele é semelhante a nós por causa do próprio Deus que o criou, do próprio Cristo que o redimiu, do próprio amor que foi deposto nele e em nós, e do próprio pecado que obscurece a nós e a ele», observou Ravasi.

Numa das múltiplas ocasiões em que se referiu aos migrantes, o papa Francisco lembrou que «tragicamente, no mundo há hoje mais de 65 milhões de pessoas que foram obrigadas a abandonar os seus locais de residência. Este número sem precedentes vai além de toda a imaginação».

«Se formos além da mera estatística, descobriremos que os refugiados são mulheres e homens, rapazes e raparigas que não são diferentes dos membros das nossas famílias e dos nossos amigos. Cada um deles tem um nome, um rosto e uma história, como o inalienável direito de viver em paz e de aspirar a um futuro melhor para os seus filhos», sublinhou em setembro de 2016.

Depois de encorajar «a dar as boas-vindas aos refugiados» nas casas e comunidades, «de maneira que a sua primeira experiência da Europa não seja a traumática de dormir ao frio nas estradas, mas a de um acolhimento quente e humano», Francisco lembrou as palavras evocadas agora pelo cardeal Ravasi, «tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era estrangeiro e acolhestes-me», e lançou um desafio: «Levai estas palavras e os gestos convosco, hoje. Que possam servir de encorajamento e de consolação».

Na segunda-feira, o arcebispo de Madrid, cardeal Carlos Osoro Sierra, também se exprimiu no Twitter: «O mandato é claro: "Fui forasteiro e hospedastes-me". Para além de considerações políticas e legais, ao ler a vida desde o Evangelho, um vai em busca do outro. #Aquarius é um chamamento de Cristo à Europa».

Imagem: D.R.
Publicado por SNPC em 12 de junho 2018

Um náufrago acolhido

Em mês de festas populares da cidade de Lisboa, onde a figura de Santo António não passa despercebida, não deixa de ser actual reflectir sobre a história deste grande santo da cidade...

Santo António

Uma vida aventurosa no rasto do Evangelho e em grande sintonia com Francisco de Assis, que conheceu pessoalmente. Infinitas viagens pela Europa, da natal Lisboa até à última etapa em Pádua. E encontros, muito estudo, meditações, orações, pregações (nas quais era um verdadeiro mestre), caridade.

Santo António (Lisboa, 1195 - Pádua, 1231) é certamente uma das figuras mais veneradas do catolicismo. Em cada canto da Europa e em numerosas localidades do mundo surgem igrejas e santuários dedicadas ao frade franciscano, a ele se elevam súplicas, contam-se os seus milagres.

Hoje, em Pádua, um cortejo histórico com mais de 150 figurantes, que remonta a 1931, sétimo centenário da morte, recorda as últimas horas de vida do santo, culminando com o concerto dos sinos que anuncia o início das celebrações solenes do 13 de junho.

É reconhecido como protetor dos pobres, dos oprimidos, das grávidas, dos prisioneiros, dos viajantes e dos náufragos, e também dos animais. A festa litúrgica de 13 de junho é ocasião para dirigir orações e pedidos de ajuda ao "lírio-cândido", um dos seus múltiplos símbolos. Entrevista ao diretor editorial das Edições Messaggero Padova, Fabio Scarsato, frade menor conventual.

Quais são hoje, em síntese, os contornos e as particularidades da devoção a Santo António?
Creio que a devoção de muitas pessoas que ainda encontram em António um ponto de referência pode definir-se como uma espécie de milagre, porque foi capaz de evoluir no tempo. Passou-se de uma devoção baseada apenas nos milagres a uma em que as pessoas veem em António um estilo de vida, a ideia de que é possível para cada um de nós encontrar o caminho para uma santidade quotidiana.
Outra coisa que me toca, e que pode parecer paradoxal, é que António foi um apurado exegeta e um grande teólogo, mas o seu público de referência, chamando-o assim, foi sempre, e continua a ser hoje, formado sobretudo por gente simples.

Qual é a geografia desta devoção?
Há muitos lugares ligados à figura de António: a partir de Lisboa, onde nasceu, ou Coimbra, sempre em Portugal, onde se fez monge agostinho; mas há também um santuário em França ou o de Samposampiero, próximo de Pádua. Mas o que é impressionante, e digo-o por experiência direta, é que para além destes lugares históricos é difícil encontrar no mundo uma igreja onde não haja uma estátua, um ex-voto ou uma imagem de António ou quaisquer tradições ligadas a ele, por exemplo com referência à caridade e ao famoso "pão de Santo António".

Pela sua biografia, António foi um verdadeiro "santo europeu": o que é que diz hoje a um Velho Continente algo perdido?
Seria quase demasiado fácil ou retórico fazer atualizações. Mas é assim, é inútil negá-lo. António fala-nos de uma Europa que seguramente tinha fronteiras diferentes das nossas, mas era um continente que podia ser "caminhado" de um lado ao outro e que se misturava. António parte de Portugal, chega a Itália, depois passa um período em França...
Era uma Europa em que, de certa forma, onde quer que estivesses, sentias-te em casa, sentias-te cidadão. Sentias que havia um espaço para ti. António, por exemplo, trouxe para a Itália uma importante cultura teológica e enriqueceu o franciscanismo. É nesta mistura que, de certa maneira, todos ganham e todos podem dar passos em frente. Parece-me ser esta a bela ideia de cidadania que António nos dá. Depois há um episódio muito significativo.

Qual?
O naufrágio nas costas da Sicília, no regresso de Marrocos. É um facto que há contornos históricos que não são precisos, mas não há dúvida de que aconteceu, e é um facto que tem uma atualidade fortíssima. António, a certo ponto da sua vida, é um náufrago, mas vive a experiência do acolhimento dos seus confrades. A mim agrada-me a ideia de que se possa naufragar em qualquer lado onde não se conhece pessoalmente ninguém, sabendo que haverá alguém que te acolherá. E hoje esta experiência é cada vez mais rara.

Gianni Borsa/SIR
Trad./edição: SNPC Publicado em 12 de junho de 2018

Petição ao Papa Francisco para mudar a linguagem LGBTQI da Igreja

Partilho uma petição enviada pela GNRC (Rede Global de Católicos Arco-Íris) e criada pela "Nós somos Igreja" da Irlanda. Passo a divulgar o comunicado de imprensa:

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PRESS RELEASE 7 June 2018
PETITION TO POPE FRANCIS:
CHANGE CHURCH LGBTQI LANGUAGE

Today, Thursday 7th June We Are Church Ireland is launching a petition calling on Pope Francis to change Vatican theological language that is gravely insulting to LGBTQI people.

Words like 'objectively disordered ' and ' intrinsically evil' to describe any human being is wrong but for an institution like the Catholic Church to teach that these words are an expression of the mind of God to describe her image in LGBTQI persons is not alone scandalous but blasphemous.

The petition is being launched by Ursula Halligan of WAC Ireland, Senator David Norris and Pádraig Ó Tuama of the Corrymeela Community.

Find the petition on Change.org at:

https://www.change.org/p/info-dublindiocese-ie-pope-francis-change-church-lgbtqi-language?recruiter=16658031&utm_source=share_petition&utm_medium=copylink&utm_campaign=share_petition

'We Are Church Ireland encourages every Catholic who continues to be enraged by this Vatican Un-Christian language to sign the petition demanding the withdrawal of this offensive language to describe our LGBTQI sisters and brothers' stated Brendan Butler.

Brendan Butler, We are Church spokesperson.

Ir directamente para a PETIÇÃO

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Relendo a história Javista da Criação

Este artigo é de autoria de Carlos Osma, teólogo protestante catalão. Foi gentilmente traduzido e enviado por um leitor do blogue moradasdedeus, elemento do grupo CADIV:

Relendo a história Javista da Criação

No livro do Génesis encontramos duas histórias diferentes que explicam a criação do ser humano. A primeira encontramo-la no capítulo um[1], e faz parte do que se denomina tradição sacerdotal[2] (fonte P); enquanto que a segunda aparece nos capítulos dois e três, e provem da tradição javista[3] (fonte J). Muitas pessoas fazem uma leitura literal destas histórias, ou pelo menos isso é o que dizem, porque relendo esta tarde a segunda, que relata o ocorrido no jardim do Éden, assaltava-me um mar de dúvidas e perguntas.

Para começar, pareceu-me irónico que, se para muitas pessoas o Éden é um lugar paradisíaco onde o ser humano vivia sem responsabilidade alguma, o texto o que diz é que o homem foi criado com a intenção de o trabalhar e dele cuidar. Depois senti-me um pouco incomodado ao ler que a mulher foi criada por Deus com a única intenção de que a sua primeira criação, o homem, não estivesse só. Mas em seguida disse a mim próprio… Vejamos, vejamos… É evidente que os autores desta história têm uma ideia clara do que e quem eram Adão e Eva… Mas: Como se compreendiam a si próprios Eva e Adão segundo o texto javista?

“Então Deus formou o homem do pó da terra[4]”… Que significava para Adão ser um homem se era o primeiro e nunca tinha visto um? Ser ligeiramente diferente da terra? Não ser Deus? Ser o jardineiro do Éden? Estar aborrecido? Como se deve comportar um ser humano para ser um homem se ninguém o ensinou a sê-lo? Adão imitava Deus? É Deus um homem? E se o que tornava um homem a Adão era algo físico… Como sabia que o pedaço de carne que tinha entre as pernas era mais determinante do que a sua orelha para o classificar dentro da categoria humana como um homem? E se fosse a sua orientação sexual… Se não tinha mais seres humanos, quando foi criado: Adão via-se como heterossexual? … Porquê? Talvez porque não tinha nenhum tipo de atração pelos animais aos quais depois deu nome? Tinha algum tipo de atração sexual?

“Da costela que Deus tinha tirado do homem formou uma mulher…[5]”. Ser criada a partir de um osso e não do barro, converteu-a em mulher? Ou foi o não saber-se única no mundo? Ser mulher para Eva era não receber o nome diretamente de Deus mas de outro ser humano? Somos portanto todos mulheres depois de Adão? E se a categoria mulher tinha que ver com o seu corpo… Ser mulher significava não ser homem? Poder-se-ia ser as duas coisas ao mesmo tempo? A única diferença entre o seu corpo e o de Adão eram os genitais? Porque ser mais alta ou mais baixa, mais gorda ou mais magra, importava menos que ter mais peitos que Adão para ser nomeada “mulher”? E sim, ser mulher é sentir-se exclusivamente atraída sexualmente por um homem… Eva estava atraída por Adão? Como podia saber que não lhe atraíam também (ou exclusivamente) outras mulheresse não tinha visto nenhuma? Ou é que ser heterossexual é o que ocorre a milhões de mulheres no mundo que não podem escolher elas próprias quem as atrai? Pensando um pouco, se eu tivesse sido o segundo ser humano e me tivessem chamado “mulher”, creio que pensaria que ser mulher significava ser companheira de outro ser humano, formar comunidade (unicamente a partir de Eva existe a comunidade humana), ser capaz de ver, conviver, ajudar e ser ajudada por outro ser humano…

Depois de nos detalhar a criação do homem e da mulher, o javista diz-nos aquelas palavras tão conhecidas: “Por esse motivo o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne[6]”. Surpreende, lido milhares de anos depois, que a história contada anteriormente se utilize como a justificação do matrimónio heteronormativo. De facto, nem Adão nem Eva abandonaram pais ou mães, mais ainda, no povo Israelita os homens não abandonavam a casa familiar para se casar (não seriam homens?), mas as mulheres. Mas a história não acaba aqui… se não que continua a explicar-nos como Adão e Eva desobedeceram a Deus e comeram do fruto proibido. E de repente, após este facto: “abriram-se os olhos a ambos e aperceberam-se que estavam nus[7]”. E eu interrogo-me, se Adão e Eva não se tinham apercebido de como era o seu corpo ou o do seu par: Como podem ser a justificação do matrimónio heteronormativo? Segundo o libro dos Génesis, a Adão não lhe interessavam os genitais de Eva para se unir em “uma só carne”e nem a esta os de Adão. É evidente que a quem interessa os seus genitais são aos leitores homófobos de esta lenda, mas a Adão e Eva, não.

Se lemos literalmente a história javista da criação, é difícil ver nela homens e mulheres, ou machos e fêmeas. Pelo menos se estes conceitos são os que utilizamos atualmente. Por outra parte, muito debateram, os literalistas, sobre se houve ou não houve sexo no paraíso, mas o que é claro é que sexo heterossexual só houve nas suas mentes, porque seria difícil catalogar dessa maneira uma relação sexual entre dois seres humanos que são incapazes de se verem como homens ou mulheres e que não podem ver o corpo nu do outro. Se Adão e Eva fossem uma só carne no Éden do literalismo, tê-lo-iam feito sem que essa carne tivesse necessariamente uma forma determinada. De facto, a primeira confirmação clara de sexo na Bíblia, encontramo-la fora do Éden: “Adão conheceu Eva, sua mulher, Ela concebeu e deu à luz Caim[8]”… Forçando um pouco alguns conceitos poderíamos catalogar esta prática sexual como heterossexual… Mas é impossível fazê-lo dentro do Éden. Só depois do pecado, da caída, há heterossexualidade. Antes, em todo o caso, houve dois seres humanos que se relacionavam livremente sem nenhum tipo de tabu nem condicionante. Não havia categorias, nem identidades. Só dois seres humanos que se encontravam e se complementavam mutuamente. Todo o mais virá depois, depois da queda, depois do pecado, depois da expulsão do Éden.

A heteronormatividade e o binarismo de género, tentam voltar a entrar todos os dias naquele paraíso longínquo para se apoderar do conhecimento do bem e do mal… Eles dizem que aquele lugar lhes pertence. Que aquele é o seu lugar e de ninguém mais. Mas não há que dar-lhes demasiada importância, aquele jardim não é de ninguém, e aqueles que tentem apropriar-se dele encontrarão à entrada querubins e a chama de uma espada zigzagueante que os impedirão de entrar. Melhor seria para eles e elas, mas também para nós, dirigirmo-nos para a cruz em vez de para o Éden. Ali está realmente a medida de qualquer identidade que pretenda ser verdadeiramente humana e essencialmente cristã.

Carlos Osma
(Tradução de Aníbal Liberal Neves)

NOTAS:
[1] Concretamente até ao capítulo 2 e versículo 3.
[2] Os autores seriam os sacerdotes. Composta no exílio da Babilónia por volta de 450 a.C.
[3] Provem do Reino de Judá. É a mais antiga e foi composta cerca de 950 a.C.
[4] Gn 2,7
[5] 2,22
[6] 2,24
[7] 3,7
[8] 4,1

Ler em: https://homoprotestantes.blogspot.com/2018/06/releyendo-la-historia-yahvista-de-la.html#more


Encontro para cristãos LGBTI em Espanha

No próximo mês de Outubro haverá um encontro em Chipiona (Cádiz). Aqui segue o convite:

Buenas tardes amigas y amigos,
Una vez confirmados el/la ponente, os enviamos un primer correo informativo sobre el encuentro de Chipiona que tendrá lugar del 12 al 14 de Octubre de 2018.

El horario sería el siguiente

Viernes 12 de Octubre
Entre las 12:00 y las 16:30 se realizará la acogida en la casa
14:00 Comida
17:00 Presentación del encuentro
17:30 -19:30 Dinámica de presentación de grupos
20:00 Danza contemplativa
21:00 Cena
22:30 Oración

Sábado 13 de Octubre
9:00 Oración.
9:30 Desayuno
10:15 Emma Martínez Ocaña. “El escandaloso modo con que Jesús trato a la mujer y su papel fundamental en la Iglesia primitiva.”
12:30 Foto del encuentro. Convivencia
14:00 Comida
16:00 Dinámica del despertar
16:15 José María R. Olaizola sj. “La soledad en clave LGBT"
18:30 Merienda
19:15 Celebración ecuménica
21:00 Cena
22:30 Paseo nocturno

Domingo 14 de Octubre
09:30 Desayuno y despedida

Para quiénes quieran y puedan quedarse realizaremos una visita cultural por Chipiona, que incluye el disfrute de la playa y la gastronomía típica de la zona.

También es posible comer en el santuario por 10€.

A mediados de julio os enviaremos un correo con un formulario de inscripción y todas la indicaciones oportunas para reservar vuestra plaza. Recordamos que este año habrá una preinscipción previa de 30€ que se ingresará en cuenta bancaria y en el Santuario se abonarán a la llegada los 80€ correspondientes al alojamiento y pensión.

Besabrazos
Raquel (Ichthys Sevilla)

        El Señor te bendiga            
                      y te guarde                           
       Te muestre su rostro            
y tenga misericordia de ti      
     Te mire benignamente               
         y  te conceda la Paz              
 
 

terça-feira, 10 de abril de 2018

Thomas Merton

Do ermitério fez um púlpito sem fronteiras: solidão e comunhão, contemplação e ação

«No último dia de janeiro de 1915, sob o signo de Aquário, num ano de uma grande guerra, na fronteira com a Espanha, à sombra dos montes franceses, vim ao mundo. Feito à imagem de Deus, e por isso livre por natureza, fui todavia escravo da violência e do egoísmo, à imagem do mundo em que nasci. Aquele mundo era o quadro do inferno, cheio de homens como eu, que amavam Deus e contudo o odiavam, e, nascidos para o amar, viviam no temor e no desespero de apetites contrários.» Assim escreveu Thomas Merton no início daquele que é, talvez, o seu trabalho mais conhecido, “A montanha dos sete patamares”, de 1948, evocando o dia do seu nascimento, em Prades, de Owen, neozelandês, e de Ruth Jenkins, norte-americana, pintores “globe-trotter”.

Um aniversário a assinalar por vários motivos que encheram uma vida de apenas 53 anos mas que foi intensa e original, como a sua espiritualidade. Escritor que evoca o visionário William Blake, Merton foi protagonista de um corajoso compromisso pela paz (fonte de diatribes com os superiores, depois valorizado por João XXIII e Paulo VI, com quem trocou correspondência), e também ponto de referência para o movimento não violento pelos direitos civis, preconizando uma paz fundada em argumentos evangélicos e confiada ao testemunho («uma parte essencial da Boa Nova é que as medidas não violentas são mais fortes do que as armas: com armas espirituais a Igreja primitiva conquistou todo o mundo romano»), que permanece hoje com toda a atualidade, como mostra o seu ensaio “Paz na era pós-cristã”.

Antes, ainda, Merton foi sobretudo um monge inquieto, mas que transformou o eremitério, com a pena, num púlpito sem fronteiras, e, com a oração, num tabernáculo onde guardava, juntamente com a Eucaristia, cada irmão; um trapista defensor da vida monástica eremítica e comunitária, convicto de «ter viva no mundo moderno a experiência contemplativa e manter aberta para o homem tecnológico dos nossos dias a possibilidade de recuperar a integridade da sua interioridade mais profunda». Até transformar a sua própria parábola numa narrativa incessante da procura de Deus, vivendo-a entre solidão e comunhão, contemplação e ação.

Além disso, Merton é recordado como homem do ecumenismo e do diálogo, respeitador das diferenças e concentrado no essencial. No diálogo inter-religioso, mais explorativo que funcional, foi pronto a abrir-se a hinduístas, budistas, judeus, islâmicos, a procurar as fontes vitais das outras religiões («se me afirmo como católico apenas negando tudo que é muçulmano, judeu, protestante, hindu, budista, no fim descobrirei que me não resta muita coisa com que me possa afirmar como católico. Certamente não terei o sopro do Espírito com o qual possa afirmá-lo»), e com uma forte atenção às expressões orientais: vejam-se as suas reflexões reunidas por William H. Shannon (“A experiência interior”), ou a recolha em que reinterpreta um dos pais do taoismo (“A via de Chuang-Tzu”).

Merton distingue-se também pelo diálogo com os não crentes, declinado na capacidade de ver sinais de «fé inconsciente» nos ateus, ou de «ateísmo inconsciente» nos crentes («o grande problema é a salvação daqueles que, sendo bons, pensam que já não têm necessidade de serem salvos e imaginam que a sua tarefa é tornar os outros bons como eles»). Uma vida contemplativa, a sua, nunca isolada da realidade. E uma vida consagrada concebida como porta aberta ao amor.

Ficando órfão ainda criança, com o irmão John Paul (perde a mãe em 1921 e o pai dez anos depois), Thomas passa parte da infância nos EUA, e da sua formação na França e na Inglaterra passa a Nova Iorque em 1934, completando os estudos na Universidade de Columbia. Chegado ao catolicismo em 1938, deixando para trás a busca de prazer («a minha conversão foi ajuda de Deus, como cada conversão, e da minha parte foi estudo e procura»), três anos depois, durante a Segunda Guerra Mundial, entra na abadia de Nossa Senhora do Getsémani, no estado do Kentucky, entre os Cistercienses de Estrita Observância. Em 1949 é ordenado padre.

Uma “meta” após um percurso marcado por estudos, viagens, desorientações, encontros, pelo contínuo interrogar-se sobre o sentido da vida, até à atração pelo claustro. Um percurso cujas etapas se refletem em muitas páginas, por vezes atormentadas, mas orientadas na direção da Graça, espalhadas entre “Nenhum homem é uma ilha” (1953), “O sinal de Jonas” (1952), “Sementes de destruição” (1966), sem esquecer “Sementes de contemplação” (1949), e outros escritos, onde a vida contemplativa nunca é fuga do mundo, mas entrada num diálogo profundo com o ser humano.

Enquanto se aguarda que um editor se disponibilize a publicar a versão integral dos seus diários, poder-se-á ler “Merton na intimidade: sua vida em seus diários”, organizado pelos irmãos Patrick Hart e Jonathan Montaldo, síntese que segue o percurso traçado pelo diário que Merton escreveu desde os 16 anos até à morte.

Desde o apartamento no n.º 35 de Perry Street, em Manhattan, e das câmaras de abrigo em Miami e Cuba, até ao “bungalow” de Banguecoque, onde um ventilador o fulminou, a 10 de dezembro de 1968 (encontrava-se lá para um congresso sobre monaquismo, e, como documenta o “Diário da Ásia”, estava bem preparado), passando pelos espaços a ele familiares na abadia do Getsémani (a enfermaria, a cripta dos livros raros, onde escrevia, o depósito escolhido como dormitório), a sequência irradia os pensamentos do monge «viandante de reinos» nascido há cem anos. Tão distante e tão próximo.

Marco Roncalli In "Avvenire"
Tradução e edição de Rui Jorge Martins, publicado em 28 de janeiro de 2015 in SNPC

Deus é mãe

Deus pai e mãe

João Paulo I dizia que Deus é mãe. As feministas suprimem da Bíblia as formas "machistas". Por outro lado, a Bíblia não será talvez tão radical na sua supremacia masculina, e João Paulo II falava de «reciprocidade e complementaridade» dos sexos, apoiando-se nas Sagradas Escrituras. Então porque se há de ter medo de dizer que Deus é pai e mãe?

Num ensaio de título evocador, "Gott - Vater und Mutter" ("Deus, pai e mãe"), Hanna-Barbara Gerl, intelectual alemã, elenca uma vintena de representações femininas de Deus na Bíblia, face a quatro vezes vinte imagens masculinas.

Tomemos dois exemplos do livro de Isaías: «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria» (49, 15); «Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei» (66, 13). O Antigo Testamento atribui regularmente a Deus «entranhas maternais», sinal de amor espontâneo, instintivo, absoluto.

Pode legitimamente falar-se de uma dimensão maternal de Deus, não esquecendo que se trata sempre de um antropomorfismo, de um símbolo, como a dimensão paternal, para exprimir o mistério divino inefável e representar a realidade do Incognoscível.

Palavra de Deus incarnada, a Bíblia privilegia o rosto paternal de Deus aos olhos dos condicionalismos culturais onde se manifestou. É por isso lícito retomar determinadas leituras demasiado literais do machismo de Deus sem negar os valores que Ele exprime, como é necessário voltar a situar Jesus na sua época histórica sem negar a sua masculinidade, como é devido ajustar certa linguagem eclesiástica exclusivamente ligada a modelos e formas machistas.

O mundo moderno, sensível «à reciprocidade e à complementaridade» dos sexos, mencionadas várias vezes pelo papa João Paulo II, encorajou esta interpretação dos textos bíblicos. Inevitavelmente surgiram excessos, especialmente nos países anglo-saxónicos, onde se desenvolveu um feminismo cristão bastante agressivo.

Chegou-se ao ponto da recusa total da Bíblia sob o pretexto de "falocratismo"; outros seguiram o caminho de um desalinho total, chegando a banalidades como a transcrição da Trindade em «Mãe-Filho-Sobrinho» (!); outros, ainda, introduziram um processo, nem sempre sereno, de "despatriarcalização" da tradição judaico-cristã. A obra "Em memória dela", da teóloga Elisabeth Schüssler Fiorenza (publicada em 1983), é significativa. Em 1895 já tinha aparecido nos EUA "A Bíblia da mulher", um livro polémico.

No que diz respeito à feminilidade, o Antigo Testamento oferece um ensinamento muito mais aberto do que se pensa. É evidente que a incarnação da Palavra de Deus deixa aparecer o contexto sociocultural do antigo Israel que leva Sirácida, um sábio do séc. II a.C., a escrever que «menos dano te causará a malvadez de um homem do que a bondade de uma mulher» (42, 14).

Mas pensemos na intervenção de figuras femininas como Sara, Raquel, Débora, Rute, Ana, Judite, Ester, a mulher do capítulo 31 dos Provérbios, a extraordinária protagonista do Cântico dos Cânticos, ou ainda Maria e a Mulher do Apocalipse, do Novo Testamento.

A bipolaridade sexual é celebrada na sua plenitude especialmente no Génesis. O famoso «lado» de Adão não é o sinal de uma dependência mas de uma identidade de natureza, ao ponto de os sumérios empregarem uma mesma palavra, "ti", para designar o lado e a feminilidade, sem esquecer o canto final de Adão: «É o osso dos meus ossos e a carne da minha carne, [...] ambos serão uma só carne», manifestando precisamente a identidade estrutural.

Não é anódino ter-se recorrido a um jogo etimológico para explicar os dois termos hebraicos que significam «homem» e «mulher»: "'ish" e "'isshah", a mesma palavra no masculino e no feminino (Génesis 2, 23-24).

A outra célebre afirmação do Génesis é igualmente significativa. «Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou» (1, 27). A constituição do texto segundo as regras estilísticas hebraicas identifica a imagem divina em nós com o ser «homem e mulher»; não que Deus seja sexuado, mas em virtude do valor simbólico da sexualidade, a capacidade de amar e de procriar (a geração) através da comunhão entre homem e mulher, capacidade que oferece uma analogia com o Deus criador.

João Paulo II afirmava na carta "Mulieris dignitatem" ("A dignidade da mulher"), de 1988: «A imagem e semelhança de Deus no homem, criado como homem e mulher (pela analogia que se pode presumir entre o Criador e a criatura), exprime portanto também a "unidade dos dois" na comum humanidade. Esta "unidade dos dois", que é sinal da comunhão interpessoal, indica que na criação do homem foi inscrita também uma certa semelhança com a comunhão divina».

Pode por isso reconhecer-se a legitimidade de uma nova interpretação da Bíblia e da Tradição que simplifica os elementos socioculturais ao mesmo tempo que conserva o valor teológico da paternidade e da maternidade de Deus, da masculinidade e da feminilidade humanas e das suas unidade e diversidade. Goethe afirmava muito acertadamente que «nós podemos falar de Deus de forma antropomórfica (sobre o modo humano) porque somos teomórficos (em forma divina)».

Card. Gianfranco Ravasi
Biblista, presidente do Pontifício Conselho da Cultura
In "150 questions à la foi", ed. Mame
Tradução e edição de Rui Jorge Martins para SNPC

Figura e papel do pai

Papa Francisco fala da ausência da figura paterna na sociedade ocidental

O papa Francisco alertou hoje, no Vaticano, para os danos profundos que a ausência do pai pode causar na infância e adolescência dos filhos, e chamou a atenção para os perigos de se negligenciar a educação dos mais novos através do exemplo, das palavras e da transmissão de valores.

«Quero dizer a toda a comunidade cristã que devemos estar muito mais atentos: a ausência da figura paterna na vida das crianças e dos jovens produz lacunas e feridas que podem ser também muito graves», afirmou na audiência geral semanal.

Prosseguindo as catequeses dedicadas à família, Francisco sublinhou que os comportamentos desviantes na infância e juventude podem «em boa parte» ser referidos à «falta de exemplos e de guias autorizados» na vida diária.

A palavra “pai” ‘indica uma relação fundamental» que é «tão antiga como a história do homem», mas hoje chega-se ao ponto de afirmar que se está numa «sociedade sem pais»: «Em particular na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, desaparecida, eliminada».

«Num primeiro momento, isso foi percecionado como uma libertação» do pai enquanto chefe, ou «representante da lei que se impõe do exterior», ou, ainda, «do pai como censor da felicidade dos filhos e obstáculo à emancipação e à autonomia dos jovens», apontou.

Por vezes, prosseguiu Francisco, «reinava no passado o autoritarismo», com os pais «que tratavam os filhos como criados, não respeitando as exigências pessoais do seu crescimento» e que «não os ajudavam a empreender o seu caminho com liberdade, a assumir as próprias responsabilidades para construir o seu futuro e do da sociedade».

Hoje, a situação inverteu-se: «Como acontece frequentemente, passámos de um extremo ao outro. O problema dos nossos dias parece ter deixado de ser a presença invasora dos pais, mas sobretudo a sua ausência».

«Os pais estão por vezes tão concentrados sobre si mesmos e sobre o próprio trabalho, e sobre a sua própria realização individual, que esquecem até a família. E deixam sós as crianças e os jovens. Já quando era bispo de Buenos Aires me apercebia do sentido de orfandade que vivem hoje os jovens», assinalou.

Os filhos são órfãos porque, segundo Francisco, «os pais estão muitas vezes ausentes de casa, mesmo fisicamente, mas sobretudo porque quando lá estão não se comportam como pais, não cumprem a sua tarefa educativa, não dão aos filhos, com o seu exemplo acompanhado por palavras, aqueles princípios, aqueles valores, aquelas regras de vida de que precisam como pão».

«A qualidade educativa da presença paterna é tanto mais necessária quanto mais o pai é obrigado, pelo trabalho, a estar longe de casa. Às vezes parece que os pais não sabem bem que lugar ocupar na família e como educar os filhos. E então, na dúvida, abstêm-se, retiram-se e negligenciam as suas responsabilidades», referiu.

A tarefa de acompanhar o crescimento não pertence exclusivamente à família, acentuou o papa: «Também a comunidade civil, com as suas instituições, tem uma responsabilidade – podemos dizer paterna – com os jovens, uma responsabilidade que às vezes ignora ou exercita mal».

«Os jovens permanecem, assim, órfãos de caminhos seguros a percorrer, órfãos de mestres em quem se confiar, órfãos de ideais que aquecem o coração, órfãos de valores e de esperanças que os sustenham quotidianamente», apontou.

Este desamparo implica consequências na vida dos jovens, que «estão provavelmente repletos de ídolos mas rouba-se-lhes o coração; são levados a sonhar divertimentos e prazeres mas não se lhes dá o trabalho; são iludidos com o deus dinheiro e negam-se-lhes as verdadeiras riquezas».

«Fará bem a todos, aos pais e aos filhos, tornar a escutar a promessa que Jesus fez aos seus discípulos: “Não vos deixarei órfãos”. É Ele, com efeito, o caminho a percorrer, o mestre a escutar, a esperança de que o mundo pode mudar, que o amor vence o ódio, que pode haver um futuro de fraternidade e de paz para todos», disse Francisco.

Na audiência geral da próxima quarta-feira o papa destacará «a beleza da paternidade e da maternidade, a beleza de ser pais».
(...)

texto de Rui Jorge Martins, publicado em 28 de janeiro de 2015 in SNPC

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Consequências da pornodependência

Como complemento do post anterior, publico uma notícia que faz reflectir sobre alguns efeitos que a dependência da pornografia podem ter na vida sexual de um homem

Pornografia pode estar a deixar os homens impotentes

A disfunção erétil causada pelo excesso de pornografia é cada vez mais frequente, diz um estudo citado pelo The Independent.

O estudo refere que um em cada dez jovens sofre de disfunção erétil devido à pornografia em excesso.

O Dr. Andrew Smiler, responsável por esta investigação, refere que o hábito de consumir pornografia em excesso é mais preocupante devido à maioria dos utilizadores serem jovens.

A investigação revela que, devido ao excesso de pornografia que os jovens consomem na internet, há o perigo de os jovens ficarem dependentes da pornografia para alcançar o orgasmo.

Pelo contrário, há também homens que, com a pornografia, desenvolvem uma hipersexualidade, estando constantemente excitados.

In SOL

Masturbação faz bem à saúde?

Habituados a ver a masturbação catalogada como um pecado mortal desde que nos deparamos com as transformações operadas durante a adolescência, importa abrir horizontes e conhecer outros pontos de vista sobre o suporto delito. Cito um artigo em português e o original (mais extenso) em inglês

Os benefícios da masturbação

Masturbação. Só a palavra deixa muitas pessoas coradas. Mas a verdade é que segundo um inquérito realizado nos EUA, 94% dos homens masturbam-se, bem como 85% das mulheres.

Mesmo assim, ainda existem muitos mitos sobre a masturbação: Há quem diga que pode provocar cegueira ou insanidade, ‘estragar’ os órgãos sexuais ou causar infertilidade.

A verdade é que a masturbação traz muitos benefícios, tanto para os homens como as mulheres.

No caso das mulheres, esta prática pode ajudar a prevenir infecções cervicais e urinárias através da dilatação do colo do útero. Esta dilatação acaba também por fortalecer o colo do útero, melhorando a circulação e fazendo com que as bactérias sejam mais rapidamente expelidas pelo organismo, lê-se no site britânico Independent.

Para além disso, a masturbação diminui o risco de desenvolver diabetes tipo 2, reduz as insónias e aumenta a resistência do pavimento pélvico (através das contracções que ocorrem durante o orgasmo), explica o mesmo site.

A masturbação é uma das formas mais ‘fáceis’ de atingir o orgasmo, que, só por si, traz muitos benefícios para a nossa saúde: Ajuda a reduzir o stress e a pressão arterial, aumenta a a auto-estima e reduz a sensibilidade à dor.

Para além disso, a masturbação é uma forma muito segura de se satisfazer sexualmente – “não existe o risco de engravidar ou de apanhar doenças sexualmente transmissíveis; não existe o risco de desapontar o parceiro ou de sofrer com a ansiedade que antecipa a ‘performance’ e não existe uma ‘bagagem emocional’”, descreve o Independent.

In SOL 


Masturbation: the health benefits

94% of men and 85% of women admit to masturbating
Conduct an internet search for “masturbation,” and you will find hundreds, if not thousands, of slang phrases for the act. This proliferation of slang phrases suggests people want to talk about masturbation, but are uncomfortable about doing so directly. Using comedic terms provides a more socially acceptable way to express themselves.

So before we talk any more about it, let’s normalise it a bit. Masturbation, or touching one’s own genitals for pleasure, is something that babies do from the time they are in the womb. It’s a natural and normal part of healthy sexual development. According to a nationally representative US sample, 94% of men admit to masturbating, as do 85% of women. But societal perspectives of masturbation still vary greatly, and there’s even some stigma around engaging in the act.

Related to this stigma are the many myths about masturbation, myths so ridiculous it’s a wonder anyone believes them. They include: masturbation causes blindness and insanity; masturbation can make sexual organs fall off; and masturbation causes infertility.

In actual fact, masturbation has many health benefits.

For women, masturbation can help prevent cervical infections and urinary tract infections through the process of “tenting,” or the opening of the cervix that occurs as part of the arousal process. Tenting stretches the cervix, and thus the cervical mucous. This enables fluid circulation, allowing cervical fluids full of bacteria to be flushed out. Masturbation can lower risk of type-2 diabetes (though this association may also be explained by greater overall health), reduce insomnia through hormonal and tension release, and increase pelvic floor strength through the contractions that happen during orgasm.

For men, masturbation helps reduce risk of prostate cancer, probably by giving the prostate a chance to flush out potential cancer-causing agents. Masturbation also improves immune functioning by increasing cortisol levels, which can regulate immune functioning in small doses. It can also reduce depression by increasing the amount of endorphins in the bloodstream. Masturbation can also indirectly prevent infertility by protecting peoplefrom sexually transmitted infections (STIs) that can lead to infertility – you can’t give yourself one of these infections! There is one final benefit to masturbation: it’s the most convenient method for maximising orgasms.

And there are plenty of additional benefits from orgasms generally, including reduced stress, reduced blood pressure, increased self-esteem, and reduced pain.

From a sexual health point of view, masturbation is one of the safest sexual behaviours. There’s no risk of pregnancy or transmission of sexually transmitted infections; there’s no risk of disappointing a partner or of performance anxiety; and there’s no emotional baggage. And, only an arm’s length away, is mutual masturbation. Mutual masturbation (two partners who are pleasuring themselves in the company of the other) is a great (and safe) activity to incorporate into other partnered sexual activities. It can be especially good to begin to learn more about what your partner likes and to demonstrate to your partner what you like. Open communication with a partner will improve your sex life and relationship, but is also important for modelling communication skills for younger generations.

Talking about masturbation also has benefits. Promoting sex-positive views in our own homes and in society, including around masturbation, allows us to teach young people healthy behaviours and attitudes without stigma and shame. Parents and guardians who feel embarrassed or need extra guidance to do this should seek out sex-positive sources of information, like ones from respected universities.

Spring Chenoa Cooper & Anthony Santella, Friday 15 May 2015
Spring Chenoa Cooper is Senior Lecturer at University of Sydney. Anthony Santella is Lecturer of HIV, STIs and Sexual Health at University of Sydney.

This article was originally published on The Conversation. Read the original article.
In Independent

Bispo sai do armário

Bispo da igreja anglicana assume homossexualidade

Nicholas Chamberlain, bispo de Grantham, admitiu publicamente estar numa relação com outro homem depois de uma publicação britânica ter ameaçado revelar detalhes da sua vida privada
Um bispo britânico tornou-se (...) no primeiro clérigo da Igreja Anglicana em Inglaterra a anunciar publicamente a sua homossexualidade, em entrevista publicada no diário inglês The Guardian, adiantou a Agência France Presse.

Nicholas Chamberlain, bispo de Grantham, no centro de Inglaterra, disse ao jornal inglês que mantinha uma relação de vários anos com um homem, depois de outra publicação ter dito que iria divulgar um artigo sobre a sua vida privada.

"Não foi uma decisão minha fazer alarido deste anúncio", disse, acrescentando que obedece às regras da igreja anglicana que estipulam que os clérigos homossexuais devem ser celibatários.

O bispo disse que a igreja sabia da sua homossexualidade quando assumiu este título e funções, no ano passado.

Afirmou ainda que as pessoas sabem que é gay, mas que esse facto não costuma ser a primeira coisa que diz a alguém.

"A sexualidade é parte de quem sou, mas é no meu sacerdócio que me quero concentrar", afirmou.

O arcebispo da Cantuária - líder da igreja anglicana -, Justin Welby, disse que a homossexualidade do bispo de Grantham era "completamente irrelevante". "A sua escolha teve por base as suas competência e vocação para servir a igreja na diocese de Lincoln", afirmou Welby. Um porta-voz da Igreja de Inglaterra -- a casa mãe da igreja anglicana a nível mundial -- disse que teria sido injusto não nomear Chamberlain bispo com base na sua sexualidade.

A Igreja de Inglaterra abandonou em 2013 a sua oposição a que clérigos homossexuais em uniões de facto pudessem tornar-se bispos, ainda que muitos fiéis da igreja anglicana em todo o mundo -- cerca de 80 milhões -- fossem contra.

A Igreja Anglicana do Uganda declarou em 2014 que considerava separar-se da casa mãe inglesa, se este pressionasse o país em relação à sua opressiva legislação anti-homossexualidade.

In DN, a partir de Lusa, a 3 de Setembro de 2016

Entrevista ao provincial dos jesuítas em Portugal

José Frazão Correia fala da Igreja, do Papa, dos Jesuítas...

Em entrevista, o líder dos jesuítas em Portugal, José Frazão Correia, lembra os tempos de seminário e fala da Igreja atual. Diz que a novidade do Papa Francisco não é apenas a cor dos sapatos.

Desde os tempos de infância que passou numa pequena aldeia rural a dez quilómetros do Santuário de Fátima, José Frazão Correia sabia que um dia ainda haveria de ser padre. Só não sabia bem como e onde. Por isso, acabou por seguir a tradição dos rapazes da sua aldeia e aos 12 anos mudou-se para Fátima, para o seminário da congregação dos Missionários da Consolata. Estudou naquela congregação até aos 24 anos, mas a falta de certezas levou-o a deixar a Consolata e a procurar outro lugar dentro da Igreja — a única coisa que sabia era que queria ser padre.

Acabou por descobrir os Jesuítas nuns exercícios espirituais em Coimbra para superar a inquietação e fez-se luz. Entrou na Companhia de Jesus, completou duas licenciaturas, um mestrado e um doutoramento e tornou-se professor de Teologia. Em 2014, com 43 anos, apenas dois anos depois de ter iniciado a sua carreira docente na Universidade Católica em Braga e no Porto, recebeu de Roma a notícia de que havia sido nomeado para padre provincial da Província Portuguesa da Companhia de Jesus.

A meio da Semana Santa, o líder dos jesuítas portugueses — voz influente, mas discreta, da Igreja Católica em Portugal — recebeu o Observador na Cúria Provincial, em Lisboa, para falar sobre o seu percurso de vida e de fé, os quatro anos à frente da província, o Papa Francisco e o momento atual da Igreja Católica. José Frazão Correia admite que ter ido para o seminário aos 12 anos o privou de muitas das vivências da infância e adolescência, conta como testemunhou em Roma a luta anti-máfia dos procuradores Falcone e Borsellino e comenta a polémica em torno dos divorciados, sublinhando que não se pode tentar simplificar o que é complexo.

O líder jesuíta garante que vai buscar inspiração ao Papa Francisco, outro jesuíta, e gaba-lhe a energia. Mas não lhe atraem só os pormenores. “Se a novidade do Papa fosse simplesmente ter sapatos pretos em vez de sapatos vermelhos, penso que seria uma coisa quase ridícula. Até viver numa casa em vez de outra casa é uma coisa significativa, mas confesso que acho pouco relevante”, afirma mesmo o padre português, que prefere destacar a “coerência de um estilo de vida” que o Papa mantém, numa altura em que o Cristianismo já não é a norma para a sociedade europeia.

Nasceu em Alqueidão da Serra, ao lado do Santuário de Fátima. A proximidade com Fátima foi decisiva para a sua relação com a fé?Não atribuo nenhuma relação direta. É verdade que desde criança, até pela grande proximidade física, íamos muito a Fátima. Conhecia muitas pessoas, alguns idosos, que tinham uma relação muito próxima, porque foram quase protagonistas, ou pelo menos pessoas que acompanharam o período das aparições, e que depois regularmente iam a Fátima a pé. Lembro-me de um senhor de uma aldeia da minha freguesia… Associava à proximidade, até do modo de vida, mas não posso dizer que haja uma relação assim direta pelo facto de estar tão próximo.

Esse senhor contava-lhe histórias de como foi esse tempo?
Esse senhor era muito curioso, porque tinha um barrete exatamente como o do Francisco. Ele viveu muitos anos, era de uma localidade próxima à minha aldeia e vinha sempre à missa ao domingo, e causava curiosidade pelo barrete que tinha. Sobretudo, conversava com a filha dele, uma senhora que também morreu há relativamente pouco tempo, e era mais ela que, já mais tarde, me contava as histórias desse senhor.

E que histórias eram?
Ele teria estado no famoso milagre do Sol e portanto a partir daí ele ia todos os meses a pé a Fátima. Atravessava a serra e portanto criou uma relação de grande proximidade a Nossa Senhora. Era alguém muito marcado por toda a envolvência das aparições de Fátima.

A sua família era católica?
Sim. Nós somos sete, a minha mãe já faleceu. É uma família tradicionalmente católica, que leva uma vida cristã séria. De facto, não era simplesmente uma formalidade ou uma pertença sociológica. Havia nos meus pais uma grande implicação com a fé, uma apropriação pessoal da fé, e um envolvimento com a vida da Igreja, através da Ação Católica sobretudo, que teve um peso muito significativo na formação dos meus pais e de pessoas da idade deles, e também das Conferências de São Vicente de Paulo. Por isso, nascemos com a prática de ir à missa aos domingos, às vezes à semana, de rezar o terço à noite, ao domingo ir à adoração do Santíssimo Sacramento à tarde. Além disso, penso que foi também uma formação espontânea, de coerência evangélica. Esse é o meu contexto de infância e de adolescência, marcado por uma identidade cristã muito forte, vivida dentro da família, mas depois com todas as práticas associadas a uma aldeia tradicional católica.

O que é que fazia durante a infância na aldeia?
A minha infância era muito marcada pela escola e pela ajuda aos meus pais nos trabalhos agrícolas. O meu pai era funcionário da Câmara de Porto de Mós e a minha mãe era doméstica, e eram muitos filhos. Lembro-me do ritmo da escola, a partir dos seis anos, e da ajuda nos trabalhos agrícolas, sobretudo ao sábado e às vezes à tarde durante o verão.

Onde estudou?
A primária e o ciclo preparatório fiz na minha aldeia. Depois, para o sétimo ano, fui para Fátima, para o seminário dos Missionários da Consolata, onde fiz um período de formação muito longo, até aos 24 anos. Estive 12 anos na minha aldeia e depois mais 12 anos num período de formação nos Missionários da Consolata. Deixei a minha aldeia aos 12 anos.

Quando foi para o seminário dos Missionários da Consolata já ia com a vocação para ser padre?
Dito assim, não posso dizer que seja. Mas é verdade que, desde muito pequenino, com cinco ou seis anos, já sentia um apelo muito forte a alguma coisa do género. É verdade que isso não foi suficiente para a opção adulta, para um estilo de vida, mas é verdade que esses sentimentos, essas intuições, essa memória da oração na minha infância, tiveram sempre um peso muito grande no meu percurso vocacional. Desde muito cedo havia algo muito sério que, de alguma maneira, me orientava para este caminho.

Via-se a ser padre, quando ia à missa ao domingo?
Havia um desejo de ser padre, sim. Às vezes punha-me a pensar: todos os padres têm óculos e eu também tenho óculos, todos os padres são carecas e eu agora também sou, na altura não o era (risos). Acho que, desde muito cedo, sentia algum desejo de ir por este caminho. Sentia a consciência da presença de Deus na minha vida. Enfim, como uma criança pode ter, obviamente. Mas era muito forte, e por isso lembro-me de um sentimento de intimidade com Deus do qual hoje até tenho um bocadinho de saudades, porque parece que nessa altura era mais forte e mais intensa do que hoje, afetivamente mais intensa. É evidente que isso são experiências de criança, mas sempre foram muito fortes para mim, sobretudo depois em tempos mais difíceis, menos claros, a nível espiritual.

Teve crises de fé?
Não posso dizer que tive assim crises de fé, de abandono, de duvidar ou não duvidar. Mas o percurso da fé, como o percurso da vida, tem altos e baixos. Há momentos onde tudo faz muito mais sentido e há momentos onde parece que as coisas parece que fazem muito menos sentido. Diria mais momentos de vazio espiritual, não propriamente de crises de fé.

Dizia que foi para o seminário com 12 anos ainda sem a vocação completamente definida. Quando se decidiu então a ser padre?
Foi um caminho em crescendo, com um misto de experiências afetivas, espirituais, relacionais. Por um lado, objetivamente, é um menino, um rapazinho de 12 anos, que sai porque quer, não foram os pais que impuseram. Foi por um conjunto de circunstâncias, mas de facto foi vontade. De alguma maneira, percebi que era um caminho natural, era por ali que tinha de ir. Por outro lado, a experiência foi marcada também por tudo o que está associado a estar fora de casa muito tempo, num seminário grande, e na altura os grupos eram muito grandes. Portanto, o que sentia era que estava a fazer o caminho que tinha de fazer, e nesse sentido estava contente, mas por outro lado tinha a perceção da distância de casa, dos amigos de infância, dos colegas da escola, e também de que aquele caminho vocacional que estava a fazer me deixava, de alguma maneira, desconfortável. Era por ali que eu queria ir, mas sentia que não era exatamente por ali, o que fez com que, já depois de um grande percurso, aos 24 anos, decidisse deixar os Missionários da Consolata. O que não significou abandonar a questão vocacional por este lado — ser religioso e ser padre –, mas havia um desconforto de fundo que me fazia não me identificar plenamente com o lugar onde estava.

Que sinais de desconforto eram esses?
Se há imagem que me vem à cabeça é a de estar a colocar uma camisa. Sabemos que temos de vestir a camisa, mas é uma camisa apertada. Isto não significa nenhuma avaliação negativa do sítio onde estava, neste caso os Missionários da Consolata. Pelo contrário, sinto muita gratidão por todo esse percurso. Mas sentia que a camisa estava apertada.

Se tivesse ficado nos Missionários da Consolata, qual teria sido o percurso natural a partir dali?
Seria ser ordenado, fazer os votos perpétuos, e seguir a vida como religioso nesse instituto.

Portanto, logo de início preferiu a vida religiosa, não quis ser um padre diocesano, ter uma paróquia.
Não sei se foi uma opção consciente, foi por um conjunto de circunstâncias. Havia um grupo de rapazes da minha terra que costumavam ir para os Missionários da Consolata em Fátima e, concretamente, quando eu estava no sexto ano, vieram uns missionários fazer promoção vocacional à escola. Isso entusiasmou-nos, e as coisas aconteceram assim. Mas é verdade que a questão do seminário, propriamente, nunca me despertou uma curiosidade tão forte.

Não ficava com pena de não poder ter uma namorada, por exemplo?
Acho que a verbalização, ou a consciência, de todas estas questões veio mais tarde. Na altura vivia as coisas com normalidade, talvez até com um certo sentido de dever, que se calhar que tenho desde muito cedo — talvez por educação familiar do lado da mãe. Portanto, sentia que tinha de estar onde devia estar. Mas a elaboração do que foi, do que não foi, das coisas boas e das coisas menos boas, já foi mais tarde e não propriamente enquanto vivia as coisas. Diria que hoje não aconselharia… Não creio que foi inibidor de coisas essenciais, mas hoje compreendo que uma criança sair do ambiente familiar, do seu contexto social de amizades, para ir para um sítio já tão marcado, tem aspetos positivos e tem aspetos negativos. Do ponto de vista afetivo, da maturação a todos os níveis, ter estado no seminário foi uma coisa muito boa, mas também teve limites. Essa elaboração veio mais tarde. Isso não significa que foi bom ou foi mau. Como todas as coisas, tem luz e tem sombras. Hoje, consigo mais claramente identificar as luzes e também as sombras.

E quais eram as sombras?
Penso que tem a ver com o facto de sair muito cedo do ambiente familiar, do ambiente de relações entre rapazes e raparigas para ir para um seminário só com rapazes, com um estilo de vida bastante austero. A sombra diria que foi essa maturação menos normal, porque fui retirado de um ambiente normal da vida de qualquer criança ou de adolescente.

Essas relações de que fala fazem parte da educação e ficou sem elas, é isso?
Sim, fazem parte. É evidente que depois, no seminário, estabelece-se um tipo de relações de grande proximidade e de grande companheirismo, que são elas mesmas muito fecundas e muito boas. Agora, se tivesse de optar — com os critérios de hoje, que são diferentes dos dos anos 80 –, diria que, até uma idade mais tardia, favorece mais um tipo de relações normais num ambiente familiar do que num ambiente separado como o de um seminário. Hoje avalio as coisas assim.

O que o levou depois aos Jesuítas?
Bem, eu estive nos Missionários da Consolata, o que fez com que eu fizesse o noviciado e ainda o primeiro ciclo de Teologia fora de Portugal. Portanto, eu deixei a Consolata já no final do primeiro ciclo de Teologia.

Ainda fez parte do percurso lá, então.
Sim. Primeiro o seminário menor, depois o início da Teologia, em Lisboa. Depois fui para Itália, onde fiz o noviciado e mais três anos. O que me fez sair foi sentir que era por aqui o caminho, mas não era, digamos assim, naquele caminho. Mas eu não sabia qual seria. Foi um tempo de grande provação interior, porque eu sentia que era por ali, mas não exatamente daquela maneira.

O que é que nos Missionários da Consolata lhe dizia que não era por ali? Falou da imagem da camisa apertada, mas em que se traduzia isso?
Não sei traduzir em concreto. Mas o que havia era uma coerência com as dúvidas interiores, que já estavam a ser forçadas para além do razoável. Quase uma espécie de inautenticidade. Pensava: “Se vou por aqui, não estou a ir bem.”

Era artificial?
Não artificial, mas talvez não suficientemente autêntico para comprometer toda a vida. Tive a necessidade de fazer um tempo de pausa. Decidi voltar a Portugal, sem saber muito bem para fazer o quê, e sem saber muito bem como é que iria, para usar a expressão, descalçar esta bota. Não havia a perceção de ter de mudar radicalmente de vida, de dizer: “Não é por aqui que eu quero ir.” Mas também não sabia muito bem o quê. Então, a Companhia de Jesus nasce aqui num tempo de grande obscuridade interior e de inquietação por não saber por onde deveria ir. De repente, umas irmãs em Leiria falaram-me que em Coimbra havia exercícios espirituais dados por Jesuítas e que me faria bem fazer uns exercícios espirituais. Foi aí. Fiz três dias em Coimbra e isso para mim foi como uma iluminação interior. Como se as perguntas que eu já andava a fazer há tanto tempo, para as quais não tinha respostas, se tivessem iluminado. Aí nasceu um percurso de aprofundamento da vocação e da possibilidade de entrar na Companhia. Curiosamente, todas as dúvidas e inquietações que eu tinha anteriormente foi como se tivessem dissipado. Nunca mais voltaram.

O que viu nos Jesuítas em concreto que o fizesse querer seguir esse caminho?
Não sei se foi nos Jesuítas em concreto. Foi na experiência dos exercícios espirituais, que foi uma experiência muito intensa, autêntica, de encontro com o Senhor. Ao mesmo tempo, tive a perceção de que a Companhia — e eu conhecia muito pouco da Companhia de Jesus — vinha ao encontro das expectativas que eu tinha, mas que ainda não tinha encontrado, porque ainda não tinha encontrado aquele caminho. Vinha ao encontro do desejo que eu tinha, mas ainda não tinha encontrado o seu objeto.

Mantinha a vontade de ser padre?
Sim, acho que essa foi a constante que se manteve sempre, mesmo nessa fase de crise vocacional.

Fez duas licenciaturas, um mestrado e um doutoramento, e depois continuou ligado à universidade como professor de Teologia em Braga. Gostava da vida académica?
Sou um rapaz… agora já sou um velho (risos), sou um homem esforçado, digamos assim. As respostas de sim ou não, gosta ou não gosta, se calhar temos de as matizar. No fundo, todo este percurso académico acabou por ser fruto de muitas circunstâncias, desde logo essa formação na Consolata que fez com que eu fizesse a licenciatura em Teologia, que na altura tinha ainda uma fase de Filosofia. Depois, a entrada na Companhia fez com que eu completasse a licenciatura em Filosofia, depois a de Teologia, e depois fizesse o mestrado e o doutoramento em Teologia. Há aqui algo de normal num percurso, mas há também um envolvimento pessoal, que por um lado veio de mim, e por outro lado foi-me pedido. Por exemplo, o doutoramento, já na Companhia. Eventualmente, eu por mim não o teria feito, porque já estava um bocadinho cansado do percurso académico e com vontade de fazer outras coisas.

Porque é que lhe pediram para estudar mais, então?
Pois, foi o provincial… Penso que a avaliação que ele fez daquilo que eu estava a fazer na Companhia, eventualmente de aptidões, de interesses, de perceções ou de feedbacks de outras pessoas, levaram-no a decidir. Depois da minha ordenação e de ter regressado de Paris, estive dois anos no centro académico de Braga, na pastoral universitária, e estava muito bem, e ele disse-me: “Bom, se calhar é melhor interromper aqui e ir para o doutoramento em Roma”. Aceitei com serenidade, mas ainda assim creio que por mim não teria dado esse passo. A minha relação à vida académica, à vida dos estudos, é algo de natural, mas esforçado. Por outro lado, nasceu mais de pedidos e de perceções externas do que de convicção própria. Se calhar, alguns outros achavam que eu tinha mais capacidades e possibilidades de ir por esse caminho, do que uma convicção própria, o que continua a ter algo de verdade. Parece que os outros acreditam mais no que eu posso dar neste campo do que eu próprio estou convencido (risos). Há sempre aqui um misto de naturalidade e também um bocadinho de drama, de custo.

Como foi esse tempo que estudou fora do país?
Foi muito bom. A minha primeira estadia em Itália, ainda no tempo da Consolata, teve um certo deslumbramento. Tudo em Itália me fascinava, ficava fascinado pela língua e pela cultura italiana, pela política, que eu seguia muito. Foram anos muito difíceis, da Cosa Nostra e da luta anti-máfia dos procuradores Falcone e Borsellino. Lembro-me perfeitamente de Roma quase em estado de sítio. Nessa altura, foi um tempo de grande adesão. O meu regresso a Roma já depois da Consolata já foi um tempo mais difícil, durante o tempo do doutoramento, até porque, pessoalmente, foi um tempo mais exigente do ponto de vista pessoal. Também era um ambiente mais intra-eclesial, menos de contacto com a cultura italiana, que era mais espontânea e mais extra-eclesial. Nesse sentido, a dimensão extra-eclesial era muito mais viva e muito mais entusiasmante do que aquela típica dos contextos eclesiais de Roma, que sentia mais pesada.

Quando voltou dos seus estudos, passou pela pastoral universitária, deu aulas na Faculdade de Teologia de Braga e coordenou um centro de formação para Jesuítas. Preferia a educação dos outros à sua vida académica?
A vida académica no sentido estrito — carreira académica universitária, ensino, investigação e escrita –, só por si, tem muito pouco interesse para mim. Posso dizer assim com toda a honestidade. Mas interessa-me a Teologia, e nesse sentido, onde me sinto de uma maneira mais espontânea é algures entre a academia — uma reflexão centrada no método académico e dentro das quatro paredes da universidade — e a vida eclesial comum — que também sinto que muitas vezes acaba por ser pobre e um bocadinho órfã de uma capacidade de se pensar. Portanto, o meu interesse pela Teologia é entre estes dois mundos, o da academia e o da vida eclesial quotidiana. Creio que as duas se podem ajudar mutuamente. A universidade precisa de se deixar tocar — e o Papa Francisco tem falado muito disto — pela vida eclesial quotidiana, mas também pela vida social e cultural, e ao mesmo tempo a vida eclesial quotidiana tem necessidade da inteligência das coisas que a universidade lhe pode dar. É um espaço que não é fácil de habitar, porque a universidade tem regras e muitas vezes a vida eclesial não quer muito saber de reflexões um bocadinho mais aprofundadas.

Em 2014 foi nomeado para padre provincial. Porque acha que foi escolhido?
Bem, isso tem de perguntar a quem fez o processo (risos).

Como foi esse processo? Foi consultado primeiro?
Há um conjunto de consultas internas, que seguem um conjunto de procedimentos. Ouvem-se os consultores, que são os conselheiros mais próximos do provincial. Depois há uma consulta mais alargada, e chega-se à identificação de três nomes. Esses três nomes são apresentados ao padre geral e ele nomeia um. Neste caso fui eu. O que esteve por trás, não conheço. Foi-me dito: “O padre geral escolheu-te”.

Quando era professor e estava na comunidade de Braga, imaginava vir a ser provincial?
Não pensava nisso, com toda a honestidade. Se formos ver a idade dos provinciais em Portugal, houve alguns na casa dos 40, mas habitualmente associamos a um tempo um bocadinho mais tardio. É verdade que eu estava a começar a vida na Universidade Católica em Braga e no Porto. Estive quatro semestres e interromper não seria, eventualmente, a coisa mais normal. Com toda a honestidade, não pensava que isso pudesse acontecer, concretamente naquele tempo.

E o que pensou quando soube que tinha sido nomeado?
Pensei que ia ter de terminar os exames, porque estava em fevereiro, ir para Lisboa e começar uma coisa radicalmente nova. Confesso que o facto de, na altura, ser consultor do provincial fazia com que conhecesse muitos temas, muitas decisões em curso, necessidades, de uma maneira mais interna. Se viesse sem nada seria muito difícil pegar num conjunto de dossiês dos quais nada sabia. O facto de ter tido essa experiência deu-me um conhecimento das coisas que me habilitou um bocadinho mais ao início deste trabalho. Mas tive a perceção de que acabava um percurso de dois anos sem saber muito bem quando é que podia pegar nele, e ia para uma coisa completamente diferente. Portanto, foi essa perceção de que deixava Braga e ia para Lisboa, deixava a universidade e a comunidade de formação e ia para um trabalho completamente diferente. Mudei de página.

Veio já com ideias?
O facto de ser consultor ajudava-me a ter uma compreensão de temas, problemas e necessidades. Mas não tinha propriamente um programa político, até porque não tive muito tempo para pensar nele. Foi-me comunicado em janeiro e em março já estava aqui a começar, e tive de acabar a correção de exames no Porto e em Braga. Não tive muito tempo para pensar. Depois fui pensando, obviamente, mas até janeiro não pensava no que é que podia ser.

Na altura tinha acabado de ser eleito o Papa Francisco, um jesuíta. Foi uma inspiração para a sua nova missão, até pelo facto de também ele ser jesuíta?
Senti a confirmação de muitas coisas. Pode parecer presunçoso, parece que eu já antecipei o Papa Francisco e é evidente que não. Mas é verdade que senti identificação com muitos elementos que faziam parte da minha reflexão teológica e mesmo do que tinha tentado escrever numa coisa ou outra. Mais do que uma inspiração direta para ser provincial, uma inspiração direta para ser jesuíta, porque ele é de facto um bom jesuíta, para ser um bom cristão e, sim, também para ser um líder, porque de alguma maneira há aqui uma liderança apostólica e espiritual. Sem dúvida que diariamente me sinto surpreendido pela força, pela autenticidade e pela fecundidade do Papa Francisco e nesse sentido sinto-me a milhas da sua energia, tendo quase metade da idade dele.

Os jesuítas fazem um voto de não aceitar dignidades eclesiásticas nem civis. Um Papa jesuíta não é uma contradição?
Creio que não é contradição, mas não é normal. Os professos na Companhia de Jesus fazem esses votos especiais de não receber dignidades eclesiásticas. Mas o Papa pode impor… Bom, um sacramento nunca se pode impor, ninguém pode ser ordenado bispo se não o quiser. Mas o Papa pode pedir a um jesuíta que, para um serviço maior, possa exercer essa missão na Igreja. Foi o que aconteceu com o Papa quando ele era arcebispo de Buenos Aires e como há outros no mundo inteiro. Agora, a primeira resposta diante de um possível apelo desse género é dizer: “Eu fiz um voto e não posso aceitar.”

Deve tê-lo dito aos cardeais, então.
Sim, mas de qualquer maneira ele já era bispo, e nesse sentido, sendo jesuíta, já não estava sob obediência do padre geral. Uma vez nomeado bispo, continua a ser o que era, um jesuíta, mas deixa de estar a atuar apostolicamente no corpo da Companhia de Jesus, por isso já não estava sob a jurisdição do padre geral.

Que novidade é que o Papa Francisco trouxe à Igreja?
Acho que há uma coerência. Se a novidade do Papa fosse simplesmente ter sapatos pretos em vez de sapatos vermelhos, penso que seria uma coisa quase ridícula. Até viver numa casa em vez de outra casa é uma coisa significativa, mas confesso que acho pouco relevante. Acho que a novidade do Papa Francisco é um estilo diferente de compreender a própria missão, desde logo como Papa, como bispo de Roma — é interessante que ele ponha a ordem das coisas: ele é Papa porque é bispo de Roma –, e um outro modo, uma outra prática de compreender o lugar do Cristianismo, compreender um estilo cristão de ser num tempo que não se revê imediatamente, nem no modo de pensar, nem de viver, nem de sentir do Cristianismo. A grande novidade do Papa Francisco é procurar um Cristianismo que faça sentido e que seja fecundo num tempo onde a proposta cristã não decorre de si. Em tudo o resto, desde os aspetos mais anedóticos da sua indumentária até opções de fundo no campo pastoral, como a Amoris Laetitia, acho que há aqui uma grande coerência de um estilo de vida que vai para além de uma compreensão simplesmente nocional, como diria o cardeal Newman, ou teórica das coisas.

Desde a eleição do Papa Francisco parece haver na Igreja Católica uma divisão entre os mais progressistas e os conservadores que criticam o Papa, se é que podemos usar estes rótulos. A dimensão progressista do Papa tem alguma coisa a ver com ser jesuíta?
Muito da sua maneira de ser é porque é quem é. De facto, vê-se que é uma pessoa clara na palavra e no gesto, frontal, mas ao mesmo tempo próximo, com bom humor, etc. As características pessoais da sua personalidade e do seu contexto. Agora, pegando nessa questão, a própria categoria conservador e progressista creio que faz sentido — ou melhor, compreende-se. Mas não sei se é muito adequada, porque acaba por pôr as coisas em clichés quase de pólos opostos. Creio que a questão é mais complexa do que isso. Como eu entendo, o Papa Francisco vai ao coração, ao que é mais elementar no Evangelho, e a como é que essa dimensão mais elementar do Evangelho pode hoje levar a Igreja a redesenhar o modo de estar, de sentir, de pensar, de atuar, que seja fecundo num contexto global, plural, secularizado em muitos contextos. Creio que isso faz com que haja aqui uma deslocação da própria compreensão da autoridade da Igreja, até da própria tradição da Igreja, e de símbolos eclesiais, que em muitos casos são identificados quase como o coração da Igreja e da vida eclesial. Penso que é mais um conflito de perceções e de insistências, mais do que conservador e progressista. Porque acho que o Papa, nalgumas coisas, para usar essa categoria, tem muito de progressista e tem coisas em que tem muito de conservador.

Onde é que tem muito de conservador?
Numa certa linguagem espiritual, por exemplo quando fala do Diabo ou quando fala da piedade popular, que eventualmente pode ser associada a práticas espirituais mais conservadoras. Portanto, acho que são categorias que servem tanto quanto.

Disse uma vez que o Papa Francisco “não tem uma compreensão teórica, intelectualizada, do fenómeno cristão”. Era esta a compreensão que Bento XVI tinha?
O próprio Papa Bento XVI disse agora recentemente, soubemos numa carta, que dizer que ele é o teólogo e o Papa Francisco é o pastoralista — agora já são expressões minhas — é um bocadinho tonto, e acho que ele tem razão. Agora, é evidente que há aqui acentos muito diferentes. O Papa Bento XVI tinha uma compreensão muito teológica, até no melhor sentido da palavra, do Cristianismo e do modo como a Igreja hoje deve estar no mundo contemporâneo. O Papa Francisco tem uma abordagem muito mais a partir da realidade como ela se apresenta. Por isso, as abordagens não estão em contradição, pelo contrário, são complementares. Mas acho que sim, o ponto de partida e o ponto de acentuação é diferente.

Era preciso um Papa como Francisco perante o mundo atual de que falava, em que o Cristianismo já não é a norma?
Sei que a Igreja vê-se com o Papa Francisco. De alguma maneira, confrontou-se com uma renúncia inesperada do Papa Bento XVI e encontrou-se com a eleição de uma pessoa como o Papa Francisco. Hoje cabe-nos, creio eu, entrar generosamente em contacto com o modo como o Papa Francisco entende a Igreja e o modo como a Igreja deve estar no mundo contemporâneo. Essa é a força, tal como anteriormente a Igreja e cada um de nós foi chamado a confrontar-se com os acentos que o Papa Bento XVI fazia, hoje creio que nos cabe entrar numa relação fecunda com aquilo que o Papa Francisco apresenta para a Igreja. Estando ele, creio que é claramente uma bênção para o momento da Igreja.

Há pouco falava da exortação apostólica Amoris Laetitia e classificava-a como uma opção de fundo a nível pastoral. Relativamente à questão que mais tem dado que falar naquele documento, que são as referências às situações irregulares no casamento e ao acolhimento dos divorciados que voltaram a casar, disse numa entrevista que não há “ambiguidade no texto”. Então o que é que explica que tenha havido tanta polémica com este documento que o patriarca de Lisboa escreveu sobre o assunto?
O que é complexo é complexo, e acho que a tentativa de simplificar excessivamente as coisas corre o risco de as aplanar quando elas não são aplanáveis. São questões rugosas, digamos assim. É uma situação complexa e até complicada, e fazer de conta que não o é, penso que é tirar força à própria realidade. A vida dos casais é complexa, complicada, é exigente. A vida das pessoas, a vida afetiva, a educação dos filhos, tudo isso. Desde logo, nesta questão dos recasados, é isso que vem ao de cima. As relações entre um homem e uma mulher são muito complexas, a educação e a geração dos filhos, a fidelidade, é tudo isso. Essa é a matéria prima que está nesta questão dos recasados. Creio que aqui o mais importante, independentemente de todas as outras questões, é: o que é que a Igreja faz diante das situações concretas? O Papa Francisco parte daqui, e ele não parte sozinho. A Amoris Laetitia é o resultado de dois sínodos, de muita reflexão na Igreja Universal e depois concretamente entre os bispos e os outros peritos presentes nos sínodos. Portanto, o que se passa aqui é não deixar sem uma resposta minimamente aceitável aqueles que vivem situações não regulares pela ordem das coisas e que não querem ser considerados à margem de todo o percurso cristão. A força da Amoris Laetitia é de entender, de assumir que hoje em dia não é possível um padrão absoluto e fechado sobre si mesmo que se aplique de igual modo a todas as pessoas e em todas as circunstâncias.

É preciso ir a cada caso concreto?
Tem de se ir a cada caso. Creio que hoje a pastoral da Igreja — e o Papa Francisco tem isso muito claro — não é possível ser efetiva e fecunda se não for capaz de acompanhar ritmos diferentes de vida e de fé, e de não ter simplesmente sim ou não para as situações de vida, de pessoas, de grupos, de casais, que por algum motivo não correu como seria expectável e desejável. Se a Igreja diz que há lugares onde a Graça não pode fazer nada, a não ser que a pessoa mude radicalmente — mas nós sabemos que há situações não podem ser mudadas –, estamos a fazer uma afirmação teológica muito grave. Não há situação nenhuma onde a Graça não possa agir de alguma maneira, não possa recomeçar um caminho. Esta é a força da Amoris Laetitia, olhar para a realidade como é, tentar dar resposta concreta a “n” situações deste género que geram tanto sofrimento, e tentar fazer um percurso adulto, sério, de discernimento, de acompanhamento e de integração. Como é algo muito complexo, que toca questões muito centrais na Igreja como a questão do sacramento, a questão da fidelidade, é natural que haja debate, é natural que haja desencontro, mas isso faz parte do percurso do discernimento.

É isso que o Papa quer? Provocar debate e discussão?
Não sei se é o que ele quer, mas creio que o Papa Francisco leva a sério a questão do discernimento, que é sempre um pesar de moções diferentes, que podem ser moções mais interiores ou moções mais intelectuais. Por isso é que o Papa não quis, em nome de uma unidade da Igreja, preservar as próprias atas onde a discussão do sínodo era exposta. A discussão faz parte do discernimento, e portanto não temos de sentir que a unidade da Igreja está posta em causa quando sobre situações tão complexas há entendimentos diferentes, que não têm de se excluir, mas também não tem de se chegar a uma linha meridiana que integre tudo e não sirva para nada. Não tenho medo dessa tensão, mas o que o discernimento espiritual nos diz também, a partir dos exercícios, é que existem movimentos ordenados segundo o espírito, e há movimentos desordenados. Na linguagem de Santo Inácio, que são do mau espírito. Muitas vezes, nem são morais. São resistências, são medos, são dificuldades de ver, são fechamentos à abertura. Portanto, o discernimento pede-nos abertura à discussão e à partilha franca, mas pede-nos também uma análise pessoal e eclesial dos possíveis bloqueios que estamos a pôr à ação do Espírito Santo. Daí a exigência do discernimento.

Num futuro próximo é possível implementar ações como o fim do celibato ou a ordenação de mulheres?
São coisas diferentes, são questões mais uma vez exigentes, difíceis. Não creio que se chegue lá facilmente e de ânimo leve.

Mas há que chegar lá?
Confesso que não tenho isso como uma prioridade. Apesar de tudo, são coisas diferentes. Não sinto que seja uma prioridade, não creio que a Igreja esteja aí. Mas também quem sou eu para dizer que a Igreja não vai fazer um caminho nesse sentido, como fez um caminho em tantos outros sentidos no passado? Serão necessariamente caminhos de maturação muito lenta.

Relativamente à questão das mulheres, lembro uma notícia recente que saiu na revista do Osservatore Romano sobre situações de exploração de freiras por parte de membros do clero. Por um lado, há ali uma questão de exploração que se prende com direitos humanos e questões laborais, mas por outro lado expôs novamente a ideia de que as mulheres têm um papel inferior na Igreja — e a não ordenação de mulheres é outro exemplo. A Igreja Católica discrimina as mulheres?
Pode haver ainda casos que indiciam uma cultura machista na Igreja, como uma cultura machista fora da Igreja. Não excluo que haja situações que são expressões desse machismo, ou de uma presença de desigualdade entre o homem e a mulher. Na cultura ocidental, na cultura portuguesa, e também na Igreja ocidental — e se calhar noutros contextos ainda mais. Se existem, acho que nos cabe corrigi-las. Acho que ajuda a pôr as coisas não apenas bem ou mal, mas num contexto da sua evolução. Se existem situações deste género, onde claramente sentimos que a mulher, por ser mulher ou por ser religiosa, está ao serviço do padre ou do bispo só porque ele é homem e porque está numa posição de superioridade, como se fosse uma espécie de serviço pouco digno, há que corrigir isso, claramente.

Já está há quatro anos à frente da província dos Jesuítas em Portugal. Como avalia o que tem sido feito neste tempo?
Desde logo, até por pedido do padre geral a toda a Companhia, houve aqui um esforço de avaliação do estado em que estávamos, de cada uma das obras. No fundo, para provocar um certo distanciamento de cada um dos nossos trabalhos para perceber como é que estamos a fazer. Um diagnóstico que nos ajudasse a relançar o nosso caminho a partir do que existe. Daí nasceu o Plano Apostólico da Província, que de alguma maneira estabeleceu um conjunto de prioridades. Mas não só prioridades de coisas a fazer. Para mim foi muito importante também estabelecer um modo de fazer. São coisas que podem parecer um bocadinho abstratas, mas que para mim são muito importantes. Esse modo de fazer consistia em assumir com serenidade a consciência de que nos cabe evangelizar, anunciar o Evangelho, num contexto plural e secularizado. Esse é o ponto de partida. Olhar para a nossa realidade com o mínimo de serenidade e de tranquilidade. Nós vivemos numa sociedade plural e secularizada onde o Cristianismo, à partida, já não é a forma de pensar e de sentir comum das pessoas. A partir daqui, cabe-nos olhar para ela com uma grande empatia, isto uma capacidade de entrar em contacto com a realidade cultural, pessoal, política, social. Um verdadeiro exercício de encarnação. Temos de amar este mundo, que é o nosso. Não temos outro e não somos pessoas sem mundo, este é o nosso mundo. Ao mesmo tempo, temos de olhar para a sociedade com uma grande liberdade profética. Como cristãos, temos alguma coisa a acrescentar ou não? Podemos alargar o horizonte? Podemos ajudar a que as pessoas tenham uma vida mais fecunda? A que as relações sejam mais justas, mais verdadeiras? Esse é o lado do contributo. E depois, desejar construir pontes fecundas com outros protagonistas, com outras pessoas que não estão imediatamente no nosso contexto.

Privilegiam o diálogo com quem está fora da Igreja Católica?
Importa muito, porque o Cristianismo, se se fechar sobre si mesmo, não é nada. O Cristianismo existe para anunciar o Evangelho ao outro. Mas o outro, as outras pessoas, não são apenas destinatários da nossa mensagem. Os outros são aqueles sem os quais nós ainda não nos compreendemos plenamente como cristãos. Nós, cristãos, não nos podemos compreender sem aqueles a quem o Evangelho ainda não foi anunciado. Hoje, o modo de anunciar o Evangelho passa por querer estar em contacto com a realidade, mesmo com aquela que é exterior à Igreja — diria sobretudo com essa. Porque a Igreja não tem de aceitar acriticamente as críticas que lhe são feitas, ou não tem de aceitar a pluralidade dos contextos exteriores à própria Igreja, mas a Igreja ganha muito se aceitar ser observada, se se deixar observar e receber o feedback daqueles que estão de fora. De facto, de fora também se veem coisas que não se veem de dentro, e essas coisas penso que ajudarão muito a Igreja a compreender-se.

Que coisas são essas que se veem de fora?
Posso dar um exemplo que me é muito caro. Sigo muito um filósofo italiano, Massimo Cacciari, que foi presidente da Câmara de Veneza. Ele não se apresenta como cristão, pelo menos será agnóstico, mas é das pessoas que conheço que mais conhecem o Cristianismo. A mim ajuda-me muito ouvi-lo. Como é que ele, a partir de fora, lê o Cristianismo, as grandes dinâmicas cristãs e até personagens cristãs, como por exemplo São Francisco. Outro exemplo, este caso que citou relativo às mulheres. Acho que esse é um olhar de fora que ajuda a Igreja a tomar consciência de coisas que à partida não notaria, pela força do hábito, e que a ajuda a ser mais o que deve ser. Portanto, não significa simplesmente estar dependente da observação exterior, mas creio que esta capacidade de entrar em diálogo franco, poder dar uma palavra franca sobre as coisas e ter uma disponibilidade para ouvir uma palavra franca sobre as coisas de quem à partida não pensaria como nós pode construir algo muito fecundo.

Em Portugal, o que é que os jesuítas fazem neste sentido?
Há duas coisas muito concretas além de todas as outras que fazemos no dia a dia, nos centros universitários, nas paróquias, seja onde for. O portal Ponto SJ nasceu como a concretização de um desejo de ter vários olhares que nos interessam a todos e estabelecer pontes entre o Cristianismo, ou uma identidade cristã vivida na primeira pessoa, e olhares que estão mais na periferia ou até em zonas nada identificadas com o modo cristão de ver. Por isso, também procurámos que a abertura, no Teatro da Comuna, pondo uma irmã e a Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, a dialogar, a encontrar-se, servisse para dizer que há lugares de grande fecundidade que podem acontecer quase de modo improvável, entre pessoas que à partida não se encontrariam. Esse é um modo muito fecundo de construir a Igreja, mas também de construir uma sociedade mais justa. O que estamos a planear em redor da Brotéria, da revista e da biblioteca, mas também um centro cultural de reflexão, de pensamento, mais amplo, que possa ser uma interface, um ponto de encontro e de diálogo entre uma perspetiva cristã e as culturas urbanas contemporâneas. É um espaço na cidade de Lisboa, numa cultura mais urbana, que possa gerar encontros, talvez esses também improváveis, de maneira a que daí também possa surgir alguma fecundidade também no espaço público. São dois exemplos concretos de viver o anúncio do Evangelho, de ser presença de Igreja e de realizar este diálogo.

Por João Francisco Gomes in Observador, 1 de Abril de 2018

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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