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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.
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quarta-feira, 28 de março de 2018

Prece de Vitorino Nemésio, com ecos da Paixão

PRECE

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.

Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco de teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.

Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é beberei. Não faças caso.

Vitorino Nemésio 

sexta-feira, 23 de março de 2018

Sobre oração e discernimento

Rezar é superar o isolamento

O que significa hoje rezar e como exercitar a arte do «discernimento», questão escolhida pelo papa Francisco para o próximo Sínodo dos Bispos, que em outubro vai debater a relação da Igreja com os jovens? Entrevista ao padre, teólogo e artista esloveno Marko Ivan Rupnik, que entre outras obras de arte concebeu o painel de mosaicos situado atrás do altar da basílica da Santíssima Trindade, em Fátima.

A oração é a primeira das três práticas que o cristão é chamado a redescobrir na Quaresma [a par do jejum e da esmola]. O homem de hoje ainda tem espaço para rezar, ou a oração arrisca-se tornar-se uma prática fora de uso?
Se a oração é entendida como um exercício requerido por uma religião, é normal que se torne difícil e árdua, e que muitas vezes não se consiga ver nela o sentido. Sobretudo se a religião se baseia na educação, fazendo da oração uma obrigação, um dever. Rezando deste modo o homem contemporâneo, tirando alguns efeitos muito superficiais e psíquicos de uma certa pacificação ou algo de semelhante, não pode entrever. Mas para nós, cristãos, a oração não é absolutamente isso. A oração dos cristãos é expressão de uma vida que se recebe em dom no Batismo.

A oração é perceber-se a si próprio unido a Cristo, ou melhor, como parte dele. Rezar quer dizer viver a própria vida em relação com o Pai, por meio de Cristo, no Espírito Santo, que continuamente plasma a nossa mentalidade de filhos.

É um estado dialógico, uma superação do isolamento. No Batismo somos enxertados no Corpo de Cristo e no Espírito Santo é nos dada a vida filial. Segundo a nossa fé, toda a nossa humanidade, do Batismo em diante, é fundada na humanidade de Cristo, e isto não acontece através de um exercício individual e subjetivo mediante um esforço de concentração ou de auto-sugestão, mas através de uma realidade verdadeiramente objetiva como são os sacramentos. Daqui se conclui que também a oração pessoal, como a eclesial, cresce desta realidade sacramental da nossa humanidade em Cristo. É uma expressão da nossa vida em Cristo. Antes de se encontrar em Cristo, a oração é sobretudo a súplica e o pedido pela misericórdia.

Na última oração do Angelus, o papa definiu a oração como uma ocasião para exercitar um combate contra o diabo. Como operar, não só na Quaresma, o discernimento?
Uma vez que Deus se fez homem em Cristo, comunica com o homem numa linguagem humana. Tal como a Palavra de Deus é comunicada por meio da palavra humana e em Cristo todo o universo de Deus, tudo o que é a comunhão das Pessoas divinas comunica-se na humanidade do Filho. Isto quer dizer que o discernimento é a arte de como entender-se com Deus, e como Deus fala através dos nossos pensamentos e sentimentos, é uma questão de descobrir quais são.

Os pensamentos podem chegar-me de muitas fontes, mas é preciso ver, como dizem os grandes mestres espirituais, que espírito sopra através deles. Tudo depende da orientação fundamental do coração. Se o coração é filial e está orientado para o Pai, o inimigo da salvação do ser humano procurará corrompê-lo com um ataque pelas costas, sugerindo dúvidas, aumentando as dificuldades no caminho, esvaziando de sentido as ações, os pensamentos, os passos, as relações, concentrando assim aos poucos o ser humano em si próprio.

Os sentimentos e os pensamentos ligam-se na ótica da direção na qual nos impelem e levam: se nos movem para uma comunhão cada vez mais real ou se nos fecham em nós. O combate espiritual significa saber ler-se a si próprio no que respeita à comunhão ou ao isolamento, o individualismo ou a abertura. O medo por si ou o dom de si. Isto é, ver o sentido da própria Páscoa.

Quando fala de oração, o papa Francisco exorta muitas vezes a chamar Deus com o nome de «Pai». Que necessidade há de paternidade, naquela que o pontífice define frequentemente como uma «sociedade de órfãos»?
Os últimos séculos tornaram a vida espiritual muito problemática, porque Deus foi maioritariamente abordado em chave filosófica e Cristo em chave de homem perfeito, modelo da humanidade. Mas o próprio Cristo, no Evangelho segundo João (8, 19), diz: «Vós não conheceis nem a mim nem o meu Pai; se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai». Isto quer dizer que o lugar do conhecimento é a relação e a inteligência é a do ágape, do amor. Se Deus não é experimentado como o Pai, que tem um amor louco pelo Filho, é difícil também a oração do Pai-nosso.

Uma pessoa sente-se filho quando está à mesa a falar com o pai. Sente-se filho quando sabe a origem e a meta. Quando o amor não é a meta a atingir mas o ponto de partida, as coordenadas da existência e a festa do cumprimento. O Pai é o garante do amor livre, é o porto que espera, é a segurança ontológica e, portanto, existencial. São tudo realidades de que hoje se ouve o grito da necessidade.

O discernimento é também o tema do próximo sínodo dos bispos. Para os jovens é uma arte talvez ainda mais difícil do que para os adultos; encontram eles mestres capazes de os ensinar a exercitá-lo?
Parece-me que os jovens procuram a vida e nós ainda nos deixamos ofuscar pelos métodos, pelas aproximações pastorais que tentam captar o seu interesse, para nos fazer próximos deles, mas creio que eles percebem imediatamente que essa é uma metodologia; ao contrário, o amor não é metodologia mas é o nosso modo de existência que revela também o conteúdo da fé.

Os jovens são particularmente sensíveis ao discernimento, mas como isso significa entender-se com Deus, é necessário fazer com que eles se encontrem com Deus, com Cristo, descubram que existe o Espírito Santo, que é dom de uma vida particular, que move como o vento faz à vela, isto é, toda a humanidade.

Não acredito que seja possível conhecer Cristo se não na misericórdia, no sacramento da amnistia, num abraço forte que, aquecendo o coração, abre novos horizontes.

M. Michela Nicolais In SIR
Traduzido e publicado por SNPC

segunda-feira, 12 de março de 2018

Regressar a Deus

Quaresma: Regressar de todo o coração ao coração de Deus

"A Palavra de Deus, no início do caminho quaresmal, dirige à Igreja e a cada um de nós dois convites.

O primeiro é o de S. Paulo: «Deixai-vos reconciliar com Deus». Não é simplesmente um bom conselho paterno, nem sequer uma sugestão; é uma autêntica e própria súplica em nome de Cristo: «Suplicamo-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus».

Porquê um apelo tão solene e fervoroso? Porque Cristo sabe o quanto somos frágeis e pecadores, conhece a fragilidade do nosso coração; vê-lo ferido pelo mal que cometemos e sofremos; sabe quanta necessidade temos de perdão, sabe que nos é necessário sentirmo-nos amados para fazer o bem. Sozinhos não somos capazes: por isso o apóstolo não nos diz para fazermos alguma coisa, mas para nos deixarmos reconciliar por Deus, permitir-lhe perdoar-nos, com confiança, porque «Deus é maior que o nosso coração». Ele vence o pecado e ergue-nos das misérias, se lhas confiarmos. Cabe a nós reconhecermo-nos necessitados de misericórdia: é o primeiro passo do caminho cristão; trata-se de entrar através da porta aberta que é Cristo, onde nos aguarda Ele próprio, o Salvador, e nos oferece uma vida nova e feliz.

Pode haver alguns obstáculos, que fecham a porta do coração. Há a tentação de blindar as portas, ou seja, de conviver com o próprio pecado, minimizando-o, justificando-se sempre, pensando que não se é pior do que os outros; desta maneira, porém, trancam-se as fechaduras da alma e permanece-se encerrado por dentro, prisioneiro do mal.

Um outro obstáculo é a vergonha de abrir a porta secreta do coração. A vergonha, na realidade, é um bom sintoma, porque indica que queremos distanciar-nos do mal; todavia nunca deve transformar-se em temor ou medo.

E há uma terceira insídia, a de nos distanciarmos da porta: acontece quando nos fechamos nas nossas misérias, quando nelas ruminamos continuamente, ligando entre elas as coisas negativas, até nos afundarmos nas profundezas mais negras da alma. Chegamos então até a sermos familiares da tristeza que não desejamos, desencorajamo-nos e ficamos mais frágeis diante das tentações. Isto acontece porque permanecemos sós com nós próprios, fechando-nos e fugindo da luz, enquanto apenas a graça do Senhor nos liberta. Deixemo-nos então reconciliar, escutemos Jesus que diz a quem está cansado e oprimido: «Vem até mim». Não permanecer em si próprio, mas ir até Ele. Nele há alívio e paz.

(...)
Há um segundo convite de Deus, que diz, por meio do profeta Joel: «Regressai a mim de todo o coração». Se é preciso regressar é porque nos afastámos. É o mistério do pecado: afastámo-nos de Deus, dos outros, de nós próprios. Não é difícil darmo-nos conta: todos vemos como nos custa ter verdadeiramente confiança em Deus, confiarmo-nos a Ele como Pai, sem medo; como é árduo amar os outros, em vez de pensar mal deles; como nos custa fazer o nosso verdadeiro bem, enquanto somos atraídos e seduzidos por tantas realidades materiais, que se desvanecem e no fim nos deixam pobres. Junto a esta história de pecado, Jesus inaugurou uma história de salvação. O Evangelho que abre a Quaresma [Mateus 6, 1-6. 16-18] convida-nos a sermos seus protagonistas, abraçando três remédios, três tratamentos que curam o pecado.

Em primeiro lugar, a oração, expressão de abertura e de confiança no Senhor: é o encontro pessoal com Ele, que encurta as distâncias criadas pelo pecado. Orar significa dizer: «Não sou autossuficiente, preciso de ti, Tu és a minha vida e a minha salvação».

Em segundo lugar, a caridade, para ultrapassar a estranheza em relação aos outros. Com efeito, o amor verdadeiro não é um ato exterior, não é dar alguma coisa de forma paternalista para sossegar a consciência, mas aceitar quem precisa do nosso tempo, da nossa amizade, da nossa ajuda. É viver o serviço, vencendo a tentação de se satisfazer.

Em terceiro lugar, o jejum, a penitência, para nos libertarmos das dependências em relação àquilo que passa e exercitarmo-nos para sermos mais sensíveis e misericordiosos. É um convite à simplicidade e à partilha: tirar alguma coisa da nossa mesa e dos nossos bens para reencontrar o bem verdadeiro da liberdade.

«Regressai a mim – diz o Senhor -, regressai de todo o coração»: não só com algum ato externo, mas da profundidade de nós próprios. De facto, Jesus chama-nos a viver a oração, a caridade e a penitência com coerência e autenticidade, vencendo a hipocrisia. A Quaresma seja um tempo de benéfica “poda” da falsidade, da mundanidade, da indiferença: para não se pensar que tudo vai bem se eu estou bem; para compreender que o que conta não é a aprovação, a procura do sucesso ou do consenso, mas a limpeza do coração e da vida; para reencontrar identidade cristã, isto é, o amor que serve, não o egoísmo que se serve.

Coloquemo-nos juntos a caminho, como Igreja (...) e tendo fixo o olhar no Crucificado. Ele, amando-nos, convida-nos a deixarmo-nos reconciliar com Deus e a regressar a Ele, para nos encontrarmos a nós próprios."

Papa Francisco, Missa de Quarta-feira de Cinzas de 2016
Tradução de Rui Jorge Martins para SNPC

domingo, 11 de março de 2018

Oportunidade e prática: a Quaresma

O tempo da Quaresma é um tempo prático

"Começamos hoje o tempo da Quaresma. São 40 dias que representam uma oportunidade especial, de preparação para a grande celebração, para o grande acontecimento da Páscoa de Jesus, nas nossas vidas. São 40 dias que recordam os 40 anos que o povo de Deus fez na travessia do deserto até entrar na Terra Prometida, e representam também esses 40 dias em que o próprio Jesus se preparou no deserto para a Sua vida pública. Isso quer dizer: os grandes encontros de Deus na nossa vida são encontros preparados. É claro: tantas vezes encontramos Deus de surpresa, e isso é muito bom. Mas encontramos Deus, também, por um ato de preparação, por uma abertura sincera de coração, por uma conversão interior, que nos aproxima de Deus, que nos abre à Sua presença e nos faz viver de uma forma mais sincera, mais objetiva, o “sim” que, como discípulos do Senhor, nós dizemos a Jesus.

Há uma frase de Kafka, que nos impressiona muito e descreve, em grande medida, o que é a nossa cultura contemporânea, o que é a nossa experiência, de mulheres e de homens, que atravessam este tempo: “Existe a meta, mas não há um caminho.” Existe a meta. Nós somos cristãos, batizados há sete ou há setenta anos, sabemos que há uma meta, olhamos para Jesus, ouvimos a Sua Palavra dominicalmente ou diariamente, alimentamo-nos dela e sabemos que sim, há uma meta, um ideal, sabemos aquilo a que somos chamados. E, contudo, como Kafka, também dizemos: “Mas não vemos um caminho. Não há um caminho.” E o que acontece quando há uma meta mas não há um caminho? Acontece um divórcio muito grande, entre o ideal e o real, entre a teoria e a prática, entre o que sabemos ser a vontade de Deus e, depois, a forma quotidiana, concreta, como vivemos ou deixamos de viver segundo essa vontade de Deus.

O tempo da Quaresma é um tempo prático, não é um tempo teórico. A Igreja, nestes 40 dias, entra para retiro, entra para exercícios, entra para manobras, para reconstrução, entra para conversão. E é assim que nos devemos sentir nestes 40 dias. Há uma expressão, um entendimento da vida que hoje está um bocado fora de moda, mas que ouvíamos em parte atravessando as leituras da Palavra de Deus, que hoje lemos, e que é o combate espiritual. Isto é: não há cristão sem combate espiritual. A fé é um dom, claro, mas também é um trabalho, uma fadiga, um compromisso, também é uma conquista, também é uma luta. E a divisão entre o bem e o mal, entre Deus e a sombra, não acontece apenas no mundo, acontece antes de tudo dentro de nós. Por isso mesmo, um cristão vive em luta, vive num desassossego, vive numa inquietação, porque sabe que é dentro de si que a verdade do reino começa por se construir. Não é fora de nós, é dentro de nós. Nesse sentido, toda a Palavra de Jesus é muito clara. Ele dizia tantas vezes: “Não é o que entra de fora do homem que o atinge, mas é do interior do homem que sai todo o mal.” Há no nosso interior tantas contradições, tantos paradoxos, tanta indecisão, tanta sombra que nós temos de olhar. Nós cristãos não temos nenhuma superioridade moral em relação aos outros homens e mulheres, nós somos pecadores. Nós estamos aqui porque somos pecadores chamados à santidade, tocados, feridos pela santidade de Deus, iluminados pela santidade de Deus, mas na vulnerabilidade, na fragilidade das nossas histórias.

Aquilo que diz S. Paulo, na Carta aos Romanos, é tantas vezes o que sentimos: “Quem me livrará deste corpo de morte? Que não faço o bem que quero, mas faço o mal que odeio.” Tantas vezes a nossa vida é assim, não fazemos o bem, que sabemos que é bem, mas fazemos o mal, as coisas mesquinhas, vivemos uma vida banal, recebemos tesouros que não pomos a render, adiamos, continuamente, a nossa vida para depois, achamos que é para o outro, que não é para nós. E este tempo da Quaresma é um tempo que pede de nós um cristianismo sério, uma adesão profunda de coração. Exige de nós este combate, esta luta, porque a conversão não é apenas uma palavra bonita, a conversão é um osso duro de roer. A conversão é uma fadiga, é um trabalho que precisamos de abraçar, sabendo que não há outra maneira de expormos a nossa vida no caminho pascal.

A Igreja, neste tempo santo da Quaresma, pede-nos três caminhos ascéticos, três caminhos de subida.
O primeiro deles é a oração. Um cristão, uma cristã, são mulheres e homens de oração, e nós precisamos de redescobrir a oração na nossa vida. A coisa mais urgente que cada um de nós tem para descobrir é o lugar da oração, o sentido da oração, a experiência de oração nas nossas vidas. Na mensagem do Santo Padre para esta Quaresma, o Papa Francisco diz: “Cristãos, deixem-se servir por Cristo, deixem-se tocar por Cristo.” A oração é isso: expor a minha vida a Cristo, dar tempo a Cristo, dar lugar a Cristo. Oração é estabelecer uma relação, não é apenas tratar Deus como uma ideia, como alguém distante, como um princípio filosófico, que nós até aceitamos. Não, na oração nós tratamos a Deus por “tu” ou por “vós”, mas tratamos a Deus numa segunda pessoa. Porquê? Porque Ele é um interlocutor da nossa vida, mantemos com Ele um diálogo vivo e esse diálogo anima-nos. Nós expomos a nossa vida, rezamo-nos, não apenas rezamos, nós rezamo-nos e Deus acolhe-nos, Deus ouve-nos. Há quanto tempo não falamos com Deus? – é a pergunta. Há quanto tempo não O ouvimos? Há quanto tempo não lhe damos um espaço real, um espaço concreto nas nossas vidas? Este tempo da Quaresma é um desafio muito grande à nossa oração pessoal, à nossa oração familiar, à nossa oração comunitária. Precisamos redescobrir a oração nas nossas vidas, porque às vezes a nossa vida é seca, seca. Cheia de tantas coisas, mas, no fundo, vazia, deste fio condutor que a oração representa nas nossas vidas. Por isso, que a Quaresma seja para nós, um grande laboratório de oração, e que no dia a dia nós privilegiemos também um tempo de oração.

“- Ah, mas eu gostava de rezar melhor.”
“- Começa por rezar, começa por rezar.”
“- O que é a bela oração?”
“- Não. Reza muito, reza muito. Porque no meio das coisas que a gente diz ou não diz, Deus é que escolhe, Deus é que escolhe a parte.”

Lembro-me sempre de um diálogo com um jovem – penso que já o contei aqui. Ele tinha descoberto, tinha-se convertido, tinha exposto o seu coração a Deus. E dizia: “Padre Tolentino, tenho rezado como um porco.” E, para mim, é das mais belas definições de oração, nunca ninguém me disse uma coisa tão bela sobre a oração. Porque o porco não escolhe, reza tudo, come tudo, devora tudo. Se a gente escolhe “vou rezar isto, ou vou rezar aquilo”, verdadeiramente não reza. Nós temos de rezar tudo, o importante e o banal, o próximo e o distante, o que é meu e o que é dos outros, o que está perto e o que está longe, temos de rezar tudo. Isto é: A capacidade de fazer de tudo oração, isso é que nos torna uns verdadeiros orantes. Há um poeta contemporâneo, Armando de Silva de Carvalho, que tem um livro chamado: O Cão de Deus. A oração dele é um ganir. Pode acontecer que a nossa oração não seja bem oração. A gente não tem palavras, só tem dores, só tem coisas que queria dizer e não consegue. Então, é a oração do cão, é a oração do ganir. Mas seja, é essa. Que o tempo de Quaresma seja, de facto, um tempo de exposição da nossa vida a Deus.

A outra via é o jejum. E o jejum é um meio muito importante no meio espiritual, que também é usado por outras tradições religiosas. Mas, no fundo, o jejum é a renúncia de uma coisa a que eu tenho direito e que eu posso. Mas renuncio a isso para relativizar o meu próprio eu. Nós temos um sentido crítico apurado em relação a tudo e a todos, exceto a nós próprios. Sem darmos conta, podemos até ser muito adultos, mas vivemos como miúdos caprichosos e mimados e, pior, conseguimos ter tudo o que queremos ou desejamos ou nos dá na gana. E, de repente, somos pequenos tiranos. O nosso eu é tirânico, tirânico em relação aos outros, tirânico em relação aos que vivem mais perto de nós, aos que vivem longe. Só nós existimos, só nós contamos, só nós sabemos, só nós podemos, só nós temos o direito. O jejum é o exercício de morrer para si próprio, dizer: “É meu” mas abdicar, isto de uma forma concreta na alimentação, sermos capazes de transformar a nossa dieta alimentar tornando-a muito mais sóbria do que é. Viver estes 40 dias com sobriedade, sobriedade. Claro que temos direito a isto e aquilo, mas dizemos que não. E, nas sextas-feiras desta Quaresma, nós não apenas vamos intensificar a sobriedade, porque é o dia desta prática ascética. É toda a Quaresma, mas as sextas-feiras são um dia especial. Nesse dia não vamos comer carne, não vamos derramar sangue. É um sinal, é um símbolo, mas a verdade é que nós alimentamo-nos dos outros e matar mais isto ou matar mais aquilo, para nós é completamente indiferente. Ora, vamos não derramar sangue, não dizer “a minha vida é mais importante que a tua”. Não. Vamos calar, calar a vida, morrer um pouco para nós próprios. E isso, claro que é um gesto simbólico mas é um gesto com muito significado. Não vamos dizer “eu quero comer carne, não posso pagar uma taxa?” “- Não, não vais pagar taxa nenhuma. Não vais comer carne.”

Fazer esse esforço para nos unir a uma tradição cristã, que tem séculos e séculos é, no fundo, perceber também o que é a carne, o que é o sangue, perceber o que é a vida, perceber que todas as vidas têm valor – mesmo a vida da vaca ou do frango que compramos no supermercado. Essa vida que alimenta a minha vida tem um valor e isso para nós é uma espécie de pedagogia: se eu dou atenção a esta pequena coisa ou vou dar maior valor às vidas daqueles que me rodeiam e não vou ser tão intolerante, não vou ser tão cheio de mim, ocupando o espaço que devo dar aos outros. Mas o jejum não é apenas esta contenção, esta moderação alimentar. O jejum é tudo aquilo que serve para relativizar o meu eu.

Muitas vezes, o jejum que nós precisamos é da língua. A facilidade com que falamos, com que julgamos, com que dizemos, com que matamos os outros com a nossa língua – no fundo, ser um tempo de silêncio, um tempo de contenção, um tempo para não falar, um tempo para não dizer. E como isso pode ser purificador da nossa vida, e como nós precisamos disso! Mas o jejum pode ser também de um pensamento, de um hábito, de um vício, de um costume que tenho, de uma coisa que me dá muito prazer fazer e que não tem mal nenhum, mas, precisamente neste tempo, vou abdicar disso para ser mais livre. O jejum custa, não há jejum que não custe, mas o jejum é uma máquina de criar liberdade. Porque, sem darmos conta, andamos cheios de chocalhos e de amarras, de algemas, disto e daquilo, prisioneiros, dependentes, ancorados, a achar que precisamos de uma lista enorme de coisas para ser feliz ou para estar em nós próprios. E, de repente, o jejum é cortar um bocadinho esses pesos e isso dá-nos uma liberdade muito grande, liberdade para ser, liberdade para viver, liberdade para acreditar.

Tudo isto culmina na terceira via, que a Igreja nos aponta nesta Quaresma, que é a via da esmola. Nós somos chamados, à imagem de Jesus na Eucaristia, a fazer da nossa vida um dom. A nossa vida só se realiza quando se torna dom, quando se torna Eucaristia. Isto é: quando se torna serviço, quando se dá aos outros. Então a esmola, antes de tudo, é um dar-se. Dar-se mais aos outros, dar mais tempo, ir falar a um amigo que não vejo há muito tempo, ir visitar uma pessoa a um lar, um parente a um lar, ir visitar um doente. Gastar do tempo da minha vida para os outros, dar-me, dar-me, repartir-me aos outros. E, depois, também dar das coisas que possuo, repartir o que ganho, ter isso em atenção, dar uma esmola, pensar numa instituição, juntar-me à renúncia diocesana, que a Igreja toda neste tempo faz em vista de uma obra comum. É muito importante que nos privemos de pequenas coisas para podermos ajudar, para podermos perceber o que significa a caridade. A caridade – que Deus tem tanta para connosco e, por vezes, nós temos tão pouca para com o nosso próximo. No fundo, é no dom, é na esmola, que pode ser uma coisa um bocadinho difícil de entender culturalmente, mas a esmola tem um sentido espiritual muito forte. Quer dizer: Não é dar uma coisa do alto do meu porta-moedas ou da minha conta bancária, mas é partilhar daquilo que eu vivo, partilhar do meu trabalho, partilhar do que eu tenho, e ter esse sentido muito profundo da comunhão. Porque os bens escravizam-nos e, se a gente fecha a nossa mão sobre o que julga possuir, somos possuídos por isso. O dinheiro é um brinquedo muito complicado num caminho espiritual, porque é uma barreira dificílima de vencer. E nós, cristãos, temos de ganhar uma liberdade muito grande face aos bens, porque a verdade é que os bens têm de ser simplesmente instrumentais, têm de servir – e isso de uma forma clara.

Queridos irmãs e irmãos, este tempo da Quaresma é, assim, um tempo que nos coloca perante o Deus que vê no segredo. Não podemos viver uma vida só de aparente virtude, de quem olha para nós e diz “sim, senhor, fulana de tal, muito boa pessoa; sim senhor, fulano de tal uma pessoa muito respeitável” – mas, depois, dentro de nós é uma confusão, é um embaraço, um desnorte.

A Quaresma é uma bússola para afinar a nossa vida pela vida de Jesus, por aquilo que recebemos Dele. Vamos pedir ao Senhor que nos dê este espírito de conversão. É importante que cada um de nós faça o seu programa de Quaresma, que defina: “Nesta Quaresma decidi fazer isto, isto e aquilo.” Não tem de ser muitas coisas. Pode ser uma, duas, três, mais não, senão depois ficamos irreconhecíveis e isso também Deus não quer. Mas fazer aquilo que é pequeno, coisas pequenas, porque as coisas grandes depois não as conseguimos fazer. Fazer coisas pequenas e fazer coisas pessoais. Isto é: A Quaresma não é para os outros. Eu não posso decretar: “A partir de agora só se come batatas lá em casa.” E os outros, que não gostam de batatas? Não, é para mim, não é para o outro. É para mim, vou dizer o que é para mim e deixar a liberdade para o outro ser. E serem coisas possíveis, porque às vezes entusiasmamo-nos e queremos coisas impossíveis. Não, há uma arte dos pequenos passos, das pequenas coisas, a arte dos possíveis – e isso é também fundamental numa vida espiritual. Vamos por isso, com este espírito, pedir ao Senhor que desça sobre nós, que seja o Seu Espírito a transformar-nos, a abrir o nosso coração, e a tornar-nos discípulos autênticos do Senhor."

Pe. José Tolentino Mendonça, Quarta-feira de Cinzas de 2015, homilia na Capela do Rato

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Quando o silêncio ganha voz

Pequeno Tratado da Oração Silenciosa

«O silêncio e a interioridade não são apanágio exclusivo das tradições religiosas do Oriente, como comumente se pensa, pois existe também uma forma cristã muito simples de orar em silêncio. Na longa história da prática orante dos cristãos, desde os seus primórdios, é usada a repetição continuada do Nome de Deus, como forma de se recentrar a atenção na presença divina.»

É desta constatação que parte o novo livro "Pequeno tratado da oração silenciosa", de Jean-Marie Gueullette, OP, que a Paulinas Editora acaba de publicar, realçando aquele método de oração «que, no Ocidente, passou por períodos de difusão e de esquecimento».

«No entanto, a aproximação recente às tradições ortodoxas, onde se manteve sempre viva e particularmente incentivada pelas comunidades monásticas, está a reavivar, agora, de forma progressiva essa edificante prática entre nós», refere o texto de apresentação do volume, de que apresentamos um excerto.

Uma oração simples
In "Pequeno tratado da oração silenciosa"de Jean-Marie Gueullette

O gosto pela complexidade
A maneira de rezar de que falamos é extremamente simples, e muitas vezes, por essa mesma razão, pode parecer difícil. Nós temos uma vida complicada, incessantemente confrontada com dificuldades de todo o tipo. A simplicidade não nos é natural, nem sequer na vida espiritual. Aquele para quem a oração parece uma realidade ausente da própria vida terá tendência para pensar que é por falta de tempo e de competência. «Se eu não rezo, é certamente porque isso toma muito tempo, mas, de qualquer forma, eu não sei como hei de rezar.»

Na Bíblia, há uma história que nos permite refletir sobre essa necessidade que sentimos de olhar para a relação com Deus como uma coisa complicada, sendo preferível renunciar a ela: 2Reis 5. O sírio Naaman era leproso e veio visitar o profeta Eliseu na esperança de obter dele a sua própria cura. Este recomenda-lhe que faça uma coisa muito simples: que se lave sete vezes seguidas no rio. Naaman sente-se despeitado. Esperava que o profeta fizesse gestos muito estranhos, pronunciando palavras misteriosas; ele, pelo contrário, manda-o lavar-se. Começa a matutar dizendo que na sua terra também se poderia lavar e que não havia necessidade de fazer uma viagem daquelas para ouvir uma prescrição terapêutica daquele tipo. O seu servo, cheio de sabedoria, diz-lhe: «Se o profeta te tivesse mandado fazer alguma coisa extraordinária, tu não a terias feito?» Também hoje, constatamos um interesse crescente por métodos terapêuticos estranhos, recorrendo a substâncias exóticas ou a exercícios complicados; muitos apaixonam-se por conceções antropológicas complexas, persuadidos de que têm três ou quatro corpos, dos quais um é luminoso, etc. Frente a semelhante arsenal, pode parecer muito pobre dizer que, para rezar, devemos assumir a posição conveniente e colocar-nos na presença de Deus com todo o nosso ser. Contudo, esse é um ensinamento muitíssimo presente na tradição cristã. Muitíssimo presente e, no entanto, ignorado, talvez por ser demasiado simples.

Quando contrapomos conhecimento e amor, é porque, com frequência, colocamos uma distância excessiva no ato do conhecimento – como no caso do conhecimento científico –, ou porque colocamos demasiado sentimento no amor, bem como na experiência amorosa. No entanto, é possível articular os dois movimentos interiores

Entregar-se, pura e simplesmente, a Deus 
A tradição cristã atribuiu um lugar importante à inteligência humana na vida espiritual: colocando no âmago da sua fé o acolhimento da Palavra de Deus, suscita um movimento em que a palavra e a relação com o texto são essenciais. Escutar uma palavra, ler um texto, requer não só que se procure entender, mas também que se aspire a conhecer aquele que é o seu autor. Assim, estamos habituados a utilizar a nossa inteligência para tentar conhecer Deus, compreender a sua Palavra e conhecermo-nos a nós mesmos. Nós estamos bem cientes de que uma busca assim nunca está terminada, mas, pelo menos, temos a impressão de saber como empreendê-la. Há que ler vários textos, que refletir e, eventualmente, que falar deles com outras pessoas.

Amar a Deus, porém, como poderemos chegar a fazê-lo? Como amar Aquele que não vemos? Fala-se muito de amor no cristianismo, mas será que o amor de Deus tem alguma coisa de comparável com as várias formas do amor humano? Ao colocarmos estas interrogações, retomamos novamente e reflexão, e deste modo, portanto, deixamos de estar no amor.

A proposta que fazemos aqui é a de que se tomem as coisas de outra forma. Com efeito, não é muito fecundo distinguir de forma demasiado radical conhecer e amar, como se o esforço para conhecer Deus fosse um obstáculo à relação com Ele; ou como se o amor que o crente nutre por Ele não tivesse nada a ver com aquela inteligência que é própria do ser humano. Quando contrapomos conhecimento e amor, é porque, com frequência, colocamos uma distância excessiva no ato do conhecimento – como no caso do conhecimento científico –, ou porque colocamos demasiado sentimento no amor, bem como na experiência amorosa. No entanto, é possível articular os dois movimentos interiores, de modo a que aquilo que conhecemos de Deus alimente o amor que temos por Ele, e que esse amor nos aproxime dele de uma forma que ajude a descobri-lo por aquilo que Ele é.

Limitemo-nos, portanto, a fazer atos de amor a Deus, com todo o nosso coração. Voltemo-nos para Ele com todo o nosso ser, incluindo a inteligência, num movimento que implica, ao mesmo tempo, adoração, veneração, confiança, afeto filial, amizade, esperança, todo o tipo de harmonia, diferente, consoante as pessoas e os momentos. O essencial é entregarmo-nos completamente a Ele. Porquê? Porque essa é a única maneira de entrarmos em relação com Ele em modo de igualdade. Ele dá-se completamente àquele que está disposto a acolhê-lo. Ele está presente, de forma incondicional, ao lado daqueles que criou e que considera seus filhos. Tudo o que nós podemos fazer, é fazer como Ele: dar-mo-nos completamente, mantermo-nos presentes. Sabendo apenas que a sua autodoação precederá sempre a nossa.

O ser humano tem a característica de não poder manter-se por muito tempo no mesmo ato interior. Muito depressa, as preocupações devidas ao trabalho e às preocupações quotidianas invadem o espírito e desviam-no do seu movimento para Deus. A meditação contemplativa repousa, pura e simplesmente, sobre a divisão do tempo em pequenas unidades: nós não somos capazes de amar a Deus, de nos entregarmos a Ele durante muito tempo, de maneira uniforme, mas podemos fazê-lo numa sucessão de momentos muito breves. Em cada um desses momentos é possível querer amar a Deus; querermos manter-nos na sua presença com tudo aquilo que somos.

Regressar, mediante uma palavra, à presença de Deus
Esta maneira de rezar é muito simples, consistindo em dizer interiormente uma palavra, enquanto nos mantemos calmamente sentados.

A oração do Nome
Nesta etapa, a oração apoiar-se-á numa única palavra. O ideal é utilizar o nome pelo qual, na oração, nos dirigimos es pontaneamente a Deus: Pai, Abba, Jesus, Senhor, Deus, Kyrie eleison, Adonai... Não é necessário interrogarmo-nos muito sobre a escolha dessa palavra. Como é óbvio, não existe uma palavra melhor nem mais eficaz do que outra. Basta tomar o nome que se atribui, natural e espontaneamente a Deus. Todavia, é importante que seja um nome de Deus, e não uma ideia sobre Deus nem um qualificativo de Deus, como «amor» ou «bondade».

Aquele que reza assim empenha todo o seu ser num movimento de fé e de amor para com Deus, enquanto profere interiormente o Nome. Depois, recomeça. Não é mais complicado do que isso. O sentido da palavra não tem muita importância, visto que não a devemos meditar intelectualmente. Não se deve tentar saborear todos os seus significados, todas as suas harmonias. O essencial é voltarmo-nos para Deus através desse nome, apoiando-nos nesse nome, como diz o Catecismo da Igreja Católica a propósito da oração baseada no nome de Jesus: «Muitas vezes repetida por um coração humildemente atento, a invocação do santo Nome de Jesus é o caminho mais simples da oração contínua » (CIC, n. 2668).

Se não sabemos que palavra devemos escolher, podemos rezar ao Espírito Santo, que reza em nós e que murmura no nosso coração «Abba, Pai», como diz São Paulo (Rm 8,15-26). Não é complicado, basta voltarmos a nossa atenção para Deus e deixar brotar do nosso coração um nome pelo qual o invocamos. Por vezes começa por escolher-se, de forma um pouco intelectual, uma palavra que parece acertada e cheia de sentido, mas depois, rapidamente, passado pouco tempo de oração, outra palavra se impõe, substituindo a primeira. Não se deve fazer isso com demasiada frequência, mas, por vezes, ao princípio, há um pequeno período de adaptação.

Depois de se ter começado a rezar repetindo esse nome, continua-se a repercutir sempre o mesmo, não só durante o tempo da oração, mas durante vários anos. Há aqui uma diferença notável em relação a outra forma de contemplação repetitiva próxima, de que já falava João Cassiano no século V, que consiste em repetir, ao longo do dia, um versículo ou uma expressão extraídos da leitura da Bíblia ou da oração do Saltério. Essa meditação é uma forma de prolongar, de maneira quase física, a leitura, de continuarmos a alimentar-nos de um texto no meio das nossas atividades. Como se trata de uma meditação – o que significa, aqui, que se saboreia o sentido ou os sentidos dessa palavra escolhida –, é normal que esta mude em cada dia, visto que essa prática é uma forma de ressonância da oração à leitura. Aqui, porém, o nome de Deus não está presente para alimentar a reflexão, para fazer descer ao fundo do coração determinado aspeto do mistério contemplado na palavra. A sua função é ser um ponto de apoio para permanecermos tranquilos na presença de Deus, para nos voltarmos para Ele. Quando se tem dificuldade em caminhar, não se muda de bengala em cada caminhada; neste caso, não se muda de nome.

Ao longo da vida, a oração silenciosa apoiar-se-á nesse nome, sempre o mesmo. Isso tem um efeito simplificador: mal pronunciamos o Nome interiormente, entramos em oração, sem termos de nos interrogar sobre a forma como fazê-lo hoje. Mais misteriosamente ainda, esse Nome torna-se no caminho da interioridade, permitindo manter-nos no fundo, eliminar toda a agitação em que estamos superficialmente mergulhados. É difícil de explicar, mas todos aqueles que fazem essa experiência confirmam esta ideia: o Nome permite-nos ter mais rapidamente acesso àquele lugar de silêncio, àquele lugar santo que trazemos em nós, santuário onde Deus reside. Como se, através do Nome, conhecêssemos o caminho desse santuário.

O nome de Deus 
Se cada um tiver sempre a liberdade de usar a palavra que lhe for mais natural, só podemos recomendar a oração apoiada numa palavra que seja um nome de Deus. Dizer o nome de alguém é, ao mesmo tempo, designá-lo a ele, e não a outra pessoa, fazer referência àquilo que ele é, mas sem por isso o definir. Quando falamos de alguém, ou a alguém, utilizando um diminutivo, um título ou uma qualidade psicológica ou profissional, apoderamo-nos muito mais daquele a quem designamos, delimitando o ponto de vista a partir do qual o vemos, e que nos interessa. Se eu vou «ao médico», a vida afetiva deste ou o seu gosto pela pintura não me interessam, só espero dele que seja médico, e um bom médico. Se designamos alguém por um diminutivo, como «o Luisinho», isso torna muito difícil termos sempre presente que o Luís é grande sob outros aspetos da sua pessoa, mesmo que seja baixinho.

Quando falamos de Deus como «o Salvador» ou «o Criador», aquilo que dizemos é verdade, mas limita, de igual modo, a nossa perceção de Deus. Nós escolhemos um aspeto do mistério que nos toca ou que nos interessa, correndo sempre o risco de pensar que esse aspeto revela o Mistério, revela Deus na sua globalidade. Pelo contrário, se dizemos «Deus» ou «Jesus», não os abordamos por aquilo que Eles fazem por nós, mas por aquilo que Eles são, e que nos escapa. Quando dizemos o nome de alguém, colocamo-nos em relação com ele e, ao mesmo tempo, não dizemos nada dele, não temos a ilusão de o definir.

O conhecimento que nós temos de Deus não é da ordem da definição, da descrição. Um monge ortodoxo do fim da Idade Média escrevia: «Com efeito, desde que o pensamento não cesse de proferir o nome do Senhor, e que a inteligência esteja claramente atenta à invocação do nome divino, a luz do conhecimento de Deus cobre com a sua sombra toda a alma como uma nuvem resplandecente. A recordação exata de Deus gera o amor e a alegria».

Encontramos com frequência textos espirituais que designam Jesus Cristo como «meu Esposo», ou «meu Irmão», ou «o Bom Pastor»; tudo isso é possível, tem a sua parte de verdade, mas corre-se o risco de encerrar a relação com Cristo num registo simbólico, esquecendo-se de que Aquele de quem se fala se situa para lá de todas essas fórmulas. Nenhuma delas é adequada para dizer plenamente quem Ele é. Para não o encerrarmos numa maneira de dizer que é verdadeira, mas limitada, tentaremos enunciar todas as palavras possíveis, como se pode fazer nas litanias, ou limitar-nos-emos a uma palavra que contém todas as outras, porque não designa uma qualidade, um ato ou uma função, mas Alguém. Dizer o nome de Deus significa colocarmo-nos na presença daquele que é santo, para lá de toda a medida humana, como São Pedro Crisólogo ensinava, no século V, a propósito do Pai-nosso: «Nós [...] pedimos para merecermos ter nos nossos costumes tanta santidade, quanto é santo o nome de Deus».

Invocar o nome do Senhor: eis uma definição muito antiga da oração, segundo o versículo do profeta Joel, retomado por São Paulo: «Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo» (Jl 3,5; Rm 10,13). Invocar o nome do Senhor é voltarmo-nos para Ele, abandonarmo-nos a Ele, sem lhe apresentarmos qualquer pedido particular. Se a salvação está ligada a essa invocação, não será porque o ser humano se coloca por ela no seu justo estatuto de criatura, incapaz de se salvar por si mesmo?

Num dia 1 de janeiro, Francisco de Sales enviou uma peque na carta a Joana de Chantal, antes de esta ter fundado a Visitação. À laia de desejos de bom ano, animou-a a proferir o nome de Jesus interiormente, com amor, a fim de que a sua presença marcasse toda a sua vida e todo o seu ser:

«Minha filha, a minha pressa é tanta, que só tenho para vos escrever a grande palavra da nossa salvação: Jesus. Sim, minha filha, que nós possamos, pelo menos uma vez, pronunciar esse nome sagrado do fundo do coração. Ó, que bálsamo ele espalharia sobre todas as potências do nosso espírito! Como ficaríamos felizes, minha filha, se tivéssemos apenas Jesus no entendimento, Jesus na memória, Jesus na vontade, Jesus na imaginação! Jesus estaria em toda a parte em nós, e nós em toda a parte nele. Treinemo-nos nisso, minha queridíssima filha, pronunciemo-lo, muitas vezes só o conseguiremos balbuciar, no fim, porém, conseguiremos pronunciá-lo bem. Mas que significa pronunciar bem esse nome sagrado? De facto, pedis-me que eu vos fale claramente. Infelizmente, minha filha, não sei; sei apenas que, para pronunciá-lo bem, há que ter uma língua toda de fogo, ou seja, devemos pronunciá-lo só por amor divino que, sem mais, exprime Jesus na nossa vida, gravando-o no fundo do nosso coração. Coragem, porém, minha filha, sem dúvida amaremos a Deus, porque Ele nos ama. Pensai nisto com alegria e não permitais que a vossa alma se perturbe com coisa alguma».

Deixar aquilo que não é Deus 
Proferindo interiormente esta simples palavra, o espírito volta-se para Deus, da forma mais radical possível. É-nos difícil, ou até impossível, estarmos completamente voltados para Deus sem nos distrairmos durante meia hora ou uma hora, mas será que não nos conseguimos empenhar o mais completamente possível apenas o tempo necessário para dizer uma palavra? Em seguida, só teremos de recomeçar. Esse movimento para Deus requer duas coisas: que deixemos tudo o que nos ocupa e que mobilizemos a nossa atenção, voltando-nos para Deus com fé. Escrevia Dom Chapman, monge inglês que viveu no início do século XX: «O caminho mais simples para fazer um ato de atenção a Deus é fazer um ato de inatenção a tudo o resto».

Esta forma de rezar baseia-se, com efeito, num movimento de desapego em relação a tudo o que não seja Deus. Devemos, portanto, desligar-nos de qualquer preocupação, de qualquer ideia, de qualquer recordação, boa ou má. Desligarmo-nos não é rejeitar ou esquecer, mas largar, pelo menos temporariamente, para nos podermos dar a Deus. Pôr de lado, para nos recentrarmos na presença de Deus. Na verdade, tudo isso nos pode encher a cabeça, mesmo que sejam ideias muito piedosas ou a solicitude cheia de caridade para com o nosso próximo. Mesmo que seja bom, a oração não é o momento para isso.

Se quisermos prestar atenção às confidências de um amigo, tentaremos desligar-nos dos ruídos da rua, que, noutras circunstâncias, nos poderiam fazer olhar pela janela. Deixaremos também as recordações, boas ou más, que temos das suas outras visitas, pois elas impedem-nos de o receber tal como esse amigo se encontra hoje. Todo o tipo de ideias ou de imagens atravessar-nos-ão a mente, mas nós deixá-las-emos passar, para nos mantermos atentos àquilo que ele nos diz hoje. E essa atenção não será apenas a concentração do cientista debruçado sobre a sua experiência, mas a manifestação do amor que nos habita."

In SNPC

sábado, 2 de dezembro de 2017

Tempo de Cura

Natal, tempo para curar feridas

«Permiti-me que vos exorte a transformar este Santo Natal numa verdadeira ocasião para curar cada ferida e para curar-se de cada falta. »

«Por isso exorto-vos a curar a vossa vida espiritual, a vossa relação com Deus, porque ela é a coluna vertebral de tudo o que fazermos e de tudo o que somos. Um cristão que não se alimenta com a oração, os sacramentos e a Palavra de Deus, inevitavelmente vai desfalecendo e seca.»

«Curar a vossa vida familiar, dando aos vossos filhos e aos vossos queridos não apenas dinheiro, mas sobretudo tempo, atenção e amor.»

«Curar as vossas relações com os outros, transformando a fé em vida e as palavras em boas obras, especialmente para os mais necessitados.»

«Curar o vosso falar, purificando a língua das palavras ofensivas, da vulgaridade e do léxico da decadência mundana.»

«Curar as feridas do coração com o óleo do perdão, perdoando as pessoas que nos feriram e tratando as feridas que infligimos aos outros.»

«Curar o vosso trabalho, fazendo-o com entusiasmo, com humildade, com competência, com paixão, com alma que sabe agradecer a Deus.»

«Curar-se da inveja, da concupiscência, do ódio e dos sentimentos negativos que devoram a nossa paz interior e nos transformam em pessoas destruídas e destrutivas.»

«Curar-se do rancor que nos conduz à vingança e da indolência que nos conduz à eutanásia essencial, do apontar o dedo que nos conduz à soberba, e do lamentar-se continuamente que nos conduz ao desespero.»

«Eu sei que algumas vezes, para conservar o trabalho, fala-se mal de alguém para defesa própria; entendo estas situações, mas o caminho não acaba bem – no fim seremos todos destruídos entre nós e isso não serve.»

«Pedir a Deus a sabedoria de morder a língua a tempo para não dizer palavras injuriosas que mais tarde te deixam a boca amarga.»

«Curar os irmãos frágeis (...), os idosos, os doentes, os esfomeados, os sem-abrigo e os estrangeiros, porque por isto seremos julgados.»

«Curar o santo Natal, para que ele não seja nunca uma festa do consumismo comercial, da aparência ou dos presentes inúteis, ou dos gastos supérfluos, mas da alegria de acolher o Senhor no presépio do coração».

Imaginemos como o nosso mundo mudaria se cada um de nós começasse agora, e aqui, a curar-se seriamente e a curar generosamente a sua relação com Deus e com o próximo. Cada um de nós pode pensar: qual é a coisa que precisa mais de cura? E curá-la.»

«Mas sobretudo a família, a família é um tesouro, os filhos são um tesouro. Uma pergunta que os jovens pais podem fazer-se: tenho tempo para brincar com os meus filhos, ou estou sempre comprometido, comprometida, e não tenho tempo para eles? Deixo a perguntar. Brincar com os filhos é semear o futuro.»

Papa Francisco no Encontro natalício com os colaboradores da Santa Sé
Vaticano, 22 de dezembro de 2014
Tradução e adaptação de Rui Jorge Martins , publicado em SNPC

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Os católicos LGBT devem orar pela Igreja e usar a linguagem do amor

Precisamos construir uma ponte entre a comunidade LGBT e a Igreja Católica. 
(Parte III)

por James Martin, S.J
tradução de José Leote (Rumos Novos)

A SEGUNDA FAIXA

Vamos agora dar uma volta na outra via da ponte: aquela que conduz desde a comunidade LGBT à igreja institucional. O que significaria para a comunidade LGBT tratar a igreja institucional com «respeito, compaixão e delicadeza»?

Neste momento, na igreja é a hierarquia que possui o poder institucional. Tem o poder de autorizar alguém a receber os sacramentos; autorizar ou proibir os padres de celebrarem os sacramentos; abrir ou encerrar ministérios diocesanos ou paroquiais; permitir que as pessoas mantenham os seus cargos nas instituições católicas e por aí em diante. Porém, a comunidade LGBT também tem poder. Cada vez mais, por exemplo, os media ocidentais são cada vez mais favoráveis à comunidade LGBT do que à hierarquia. Este é um tipo de poder. Mesmo assim, na igreja institucional, a hierarquia detém a posição de poder.

Os católicos LGBT são chamados a tratar os que se encontram no poder com «respeito, delicadeza e compaixão.» Porquê? Porque, como referido, é uma ponte de duas vias. Mais do que isso, porque os católicos LGBT são cristãos e essas virtudes expressam o amor cristão. Essas virtudes também constroem toda a comunidade.

1) Respeito. O que é que significaria para a comunidade LGBT mostrar «respeito» pela igreja? Também aqui, falo especificamente em relação ao Papa e aos bispos, ou seja, a hierarquia e, de forma mais abrangente, o magistério, a autoridade de ensino da igreja.

Os católicos acreditam que os bispos, padres e os diáconos recebem nas respetivas ordenações a graça de um ministério especial de liderança dentro da igreja. Acreditamos igualmente que os bispos em particular têm uma autoridade que lhes advém dos apóstolos. É isto que queremos dizer, em parte, quando professamos a nossa crença aos domingos na Missa: a igreja é «apostólica». Acreditamos igualmente que o Espírito Santo inspira e guia a igreja. Certo está que isso acontece através do povo de Deus que, conforme o Concílio do Vaticano II afirma, estão embuídos com o Espírito; mas isso também acontece através do papa, dos bispos e do clero em virtude da sua ordenação e das suas funções.

Portanto a igreja institucional – papas e conselhos, arcebispos e bispos – fala com autoridade no seu papel de professores. Nem todos falam com o mesmo nível de autoridade (já falamos disso depois), mas todos os católicos devem em oração considerar aquilo que eles ensinam. Para fazer isso, somos chamados a escutar. O seu ensinamento merece o nosso respeito.

Portanto, antes de mais escutar. Em todos os assuntos, não somente sobre os assuntos LGBT. O episcopado fala com autoridade, que lhe advém de uma longa caminhada da tradição. Quando os bispos falam sobre assuntos como, mas não exclusivamente; amor, perdão, misericórdia e cuidado dos pobres e marginalizados, os nascituros, os sem-abrigo, os prisioneiros, os refugiados e por aí adiante, eles estão inspirados não somente nos Evangelhos, mas também no tesouro espiritual da tradição da igreja. Frequentemente, particularmente em questões de justiça social, podemos facilmente concluir que eles nos desafiarão com uma sabedoria que não ouviremos em mais parte nenhuma do mundo.

E quando eles falam sobre temáticas LGBT de uma forma com a qual não estamos de acordo, ou que nos irrita ou ofende, mesmo assim devemos escutar. Pergunta: «O que é que eles estão a dizer? Porquê é que o dizem? O que é que está por detrás das suas palavras?» Escuta, considera mesmo orar e, claro, usa a tua consciência.

Para além daquilo que podemos chamar de respeito eclesial, a hierarquia merece um mero respeito humano. Frequentemente fico destroçado pelas coisas que oiço alguns católicos LGBT e seus aliados dizerem sobre alguns bispos. Oiço estas coisas em privado e em público. Recentemente um grupo LGBT, em resposta a uma declaração dos bispos referente ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, disse que os bispos deviam parar de estar «trancados nas suas torres de marfim.» Eu pensei: «Francamente?! Também dizem isso sobre os bispos das dioceses pobres? Que eles vivem em «torres de marfim»? A bispos que pessoalmente ministram aos pobres e que supervisionam paróquias em bairros degradados, apoiam escolas que educam os pobres desses bairros e gerem serviços da Caritas?» Pode não se estar de acordo com os bispos, mas esse tipo de linguagem é, não só desrespeituosa, é imprecisa.

Agora mais seriamente, os católicos LGBT e os seus aliados, algumas vezes com falta de misericórdia, gozam com os bispos devido às suas promesses de celibato, os locais onde vivem e, particularmente, as vestes que usam. A implicação mal disfarçada de colocar online fotografias de bispos vestindo indumentárias litúrgicas elaboradas é a de que eles são efeminados, hipócritas ou que são gays reprimidos. Será que a comunidade LGBT quer verdadeiramente continuar por esse caminho? Querem os homossexuais gozar com os bispos porque são efeminados, quando muitos homossexuais foram provavelmente provocados precisamente sobre essas coisas quando eram jovens? Isso não é simplesmente perpetuar o ódio? Como é que pode alguém castigar um bispo por não respeitar a comunidade LGBT ao mesmo tempo em que não o respeita também? Querem criticar as pessoas pelas suas supostas atitudes não-cristãs, sendo eles mesmos não-cristãos?

Isto pode ser difícil de ouvir por parte de pessoas que se sentem vergastadas pela igreja. Porém, ser respeitador das pessoas com as quais discordamos não é somente a maneira de ser cristão. Mesmo do ponto de vista humano é uma boa estratégia. Se pretendemos influenciar a perspetiva da igreja sobre assuntos LGBT ajuda ganhar a confiança da hierarquia. E um modo de o conseguir é respeitando-os. Portanto quer a abordagem cristã quer a sabedoria simples dizem: respeitem-nos.

2) Compaixão. O que é que significaria ter compaixão pela hierarquia?

Primeiro, recordemo-nos da definição de compaixão: «experimentar com, ou sofrer com.» Parte disso, como mencionei, é conhecer com é a vida dessa pessoa. Então, parte da compaixão em relação à igreja institucional é uma compreensão real, sentida da vida daqueles no poder.

Durante a minha vida de padre jesuíta, conheci muitos cardeais, arcebispos e bispos. Alguns considero mesmo meus amigos. Todos os que conheci são bondosos, trabalhadores e homens de oração, muitos dos quais foram muito gentis para mim pessoalmente e são filhos leais da igreja tentando levar a bom porto os ministérios para os quais foram ordenados.

Nos tempos que correm, para além do normal «triplo ministério» de «ensinar, governar e santificar» (ou seja, ensinar o Evangelho, gerir a diocese e celebrar sacramentos), os bispos têm ainda de fazer o seguinte: (a) lidar com os efeitos colaterais – financeiros, legais e emocionais – dos casos de abuso sexual por parte do clero, normalmente casos com os quais nada têm que ver; (b) arranjar pessoal para as paróquias perante o rápido declínio das vocações para o sacerdócio e para as ordens religiosas; (c) decidir que paróquias e escolas encerrar ou consolidar face a apelos emocionais e protestos irados, piquetes e manifestações de paroquianos, vizinhos, estudantes e alunos; (d) ajudar a angariar dinheiro para quase todas as instituições na diocese, incluindo escolas, hospitais, comunidades para retiro de padres e agências de serviços sociais; e (e) responder a queixas por parte de católicos enfurecidos que chovem nas suas chancelarias, acerca de tudo e mais alguma coisa, incluindo supostos abusos litúrgicos durante a missa, comentários inapropriados que um padre proferiu durante uma homilia, um artigo de que não gostaram no jornal de diocese, ou mesmo um católico que recebeu um prémio de um grupo do qual não gostam.

A compaixão conduz-nos igualmente a uma certa igualdade de coração. Isso significa conseguir ver que, pelo menos, alguns em posições de liderança na nossa igreja podem eles mesmos estar a lutar. Podem ser homens homossexuais, que numa idade mais jovem foram torturados pelas mesmas atitudes de ódio que a maioria das pessoas LGBT sentiram na pele enquanto cresciam, e que entraram no mundo religioso que parecia dar-lhes alguma segurança e privacidade. Este não foi de longe a única razão que levou alguns destes homens a entrarem nos seminários diocesanos e nas casas religiosas de formação, mas pode ter sido um fator de apelo para essa vida: uma certa privacidade, um modo de servir, com sinceridade, a Deus sem ter de admitir a própria sexualidade. Alguns podem ter ficado com essa visão do mundo, mesmo se, ao longo das últimas décadas, a verdade sobre ser-se gay se tenha gradualmente tornado mais fácil de compreender e menos aterradora de viver. Isto é o que é ter-se sido queimado pelos efeitos dos gays e lésbicas que odeiam, particularmente o ódio que existia há décadas, e não ser capaz de admitir uma parte tão profunda de nós próprios. Portanto, os católicos LGBT são convidados a condoer-se com e orar por estes nossos irmãos, mesmo quando os seus passados algumas vezes os levam a comportar-se como se eles fossem nossos inimigos.

O convite é conseguirmos ver estes bispos na sua humanidade, na sua complexidade e entre o grande fardo dos seus ministérios. Há compaixão em tentar fazer isto.

Hoje, muitas pessoas LGBT sentem que a igreja institucional e alguns padres e bispos as têm perseguido. Veem estes homens como seus inimigos ou, no mínimo, como pessoas que não as compreendem. Infelizmente, alguns bispos, padres e diáconos disseram e fizeram, de facto, coisas ignorantes, dolorosas e mesmo odiosas. Porém, acredito que estas ações representam uma minoria ao nível da hierarquia, embora uma que até recentemente parecia ter alguma influência na igreja e que a maré está lentamente a mudar, pois o papado de Francisco e as ações atuais de alguns dos líderes da igreja estão a ajudar a sarar alguma dessa mágoa.

Qual é a resposta cristã quando se sente hostilidade por parte de determinados líderes católicos? Através de uma sugestão, deixem-me contar-lhes uma história. Quando tinha 27 anos, disse aos meus pais que ia entrar para os jesuítas. Atirei-lhes com a novidade sem aviso prévio; nem sequer lhes disse que estava a considerar essa possibilidade. Sem surpresa, ficaram confusos e aborrecidos. Encararam a decisão como imprudente. E isso confundiu-me e aborreceu-me. Questionei-me: como é possível que eles não vissem o que eu estava a fazer? Como é que era possível que eles não me compreendessem? Em resposta o meu diretor espiritual disse: «tu tiveste 27 anos para te habituares a isto, Jim e acabaste de lhe atirar com a notícia. Dá-lhes o dom do tempo.»

Por muito desafiador que isto possa ser ao ouvir e sem pôr de lado o sofrimento que muitas pessoas LGBT experimentaram na igreja, questiono-me se a comunidade LGBT não poderia dar à igreja institucional o dom do tempo. Tempo para vos conhecer: De um modo palpável, uma comunidade LGBT aberta e pública é algo de novo, mesmo no meu tempo de vida. De uma forma muito verdadeira o mundo só agora vos está a conhecer. Também a igreja o faz. Eu sei que é um fardo, mas talvez não seja assim tão surpreendente. É preciso tempo para se chegar a conhecer uma pessoa. Portanto, talvez a comunidade LGBT possa dar à igreja institucional o dom da paciência.

A outra resposta cristã se, mesmo depois de tudo isto, ainda encarares alguns líderes da igreja como inimigos, resta orar por eles. E não sou eu que o digo. É Jesus.

3) Delicadeza. Regressemos a esta palavra maravilhosa. Podemos voltar a utilizá-la em termos de não denegrir os bispos ou a hierarquia. De novo, isso não é simplesmente cortesia humana. É caridade cristã.

Porém, eu gostaria de usar delicadeza de outra forma. Aqui gostaria de convidar a comunidade LGBT a considerar de forma mais profunda quem fala e o modo como o faz. Como católicos acreditamos em vários níveis de autoridade para ensinar na nossa igreja. Nem todos os representantes da igreja falam com o mesmo nível de autoridade. A forma mais simples de explicar isto é a de que o que um Papa diz numa encíclica não possui o mesmo nível de autoridade que aquilo que o teu pastor local diz numa homilia. Há níveis diferentes de ensino com autoridade, que começa com os Evangelhos, depois com os conselhos da igreja e depois com os pronunciamentos papais. Mesmo os vários pronunciamentos papais têm vários níveis de autoridade. Entre os mais elevados estarão as constituições ou encíclicas dirigidas a toda a igreja, depois as cartas apostólicas e os motu proprios, depois as homilias diárias e os discursos do Papa e por aí afora. É importante ser delicado em relação a isso. Há igualmente documentos dos Sínodos e de cada uma das congregações do vaticano. Depois, ao nível local, os documentos provenientes das conferências dos bispos e dos bispos. Cada um tem um nível diferente de autoridade. Todos eles necessitam de ser lidos com espírito de oração, mas é importante saber que nem todos têm o mesmo grau de autoridade.

Claro que a hierarquia não é o único grupo que fala com autoridade. A autoridade reside igualmente na santidade. Homens e mulheres santos que não fazem parte da hierarquia, como Sta. Teresa de Calcutá, e pessoas leigas santas como Dorothy Day ou Jean Vanier, falam com autoridade.

Do mesmo modo, é preciso ter cuidado em levar à letra aquilo a que os media chamam de «ensinamento da igreja». Há algumas semanas li a parangona «Mantenham as Homilias em Oito Minutos, Ordena o Vaticano ao Clero.» E pensei «o Vaticano?» É quase certo que, quando lemos o artigo com cuidado, descobrimos outra coisa. Foi um bispo, a título individual, que deu esta sugestão. A parangona era falsa. O «Vaticano» não fez tal coisa. Portanto, novamente, deve ser-se delicado.

Para além de tudo isto, há um convite a ser-se delicado no facto de que quando alguém fala no Vaticano – seja o Papa ou uma Congregação do Vaticano – eles falam para todo o mundo, não somente para o Ocidente e certamente não somente para os Estados Unidos. Algo que possa parecer tépido nos Estados Unidos pode ser chocante na América Latina ou em África. Neste sentido, fiquei desapontado com a reação de alguns católicos LGBT, neste país, à exortação apostólica do Papa sobre a família, «Amoris Laetitia» («A Alegria do Amor»). Nesse documento ele afirma: «Gostaríamos, antes de mais, de reafirmar que cada pessoa, independentemente da sua orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e tratada com consideração, ao mesmo tempo «em que cada sinal de discriminação injusta» deve ser cuidadosamente evitado, particularmente toda a forma de agressão e violência. Tais famílias devem ser objeto de uma orientação pastoral respeitosa, de modo a que aqueles e aquelas que manifestam uma orientação homossexual possam receber a assistência que necessitam de modo a compreenderem e realizarem plenamente a vontade de Deus nas suas vidas» (N.º 250).

«Antes de mais,» afirma o Papa, as pessoas LGBT devem ser tratadas com dignidade. É uma afirmação imensa e, já agora, em parte nenhuma ele menciona o que quer que seja acerca «desordem objetiva». Apesar disso, no seio de alguns católicos LGBT [neste país] essas linhas foram postas de lado com gritos de «Não chega!»

Bom, talvez no Ocidente essas palavras pareçam insuficientes. Porém, o Papa não escreve apenas para o Ocidente, ainda muito menos para os Estados Unidos. Imaginem o que é ler isso num país onde a violência contra as pessoas LGBT é desenfreada e a igreja tem permanecido em silêncio. Aquilo que é brando nos Estados Unidos é incendiário noutras partes do mundo. Aquilo que pode ser óbvio para um bispo num país, constitui um desafio contundente, mesmo ameaçador, para outro bispo. Aquilo que parece árido para as pessoas LGBT num determinado país, pode ser, num outro, água num deserto estéril.

Portanto, de muitos modos, somos chamados a usar de delicadeza.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Eu e TU

Excerto de homilia sobre Oração e a relação com Deus

Hoje um dos temas das leituras que vamos proclamar é a oração. E a oração que nos diz que a nossa vida é uma vida escutada, o Senhor escuta-nos. Escuta o que dizemos e o que não dizemos, o que somos e o que não conseguimos ser, aquilo que são os nossos sonhos mas também as nossas dúvidas, as nossas hesitações. O Senhor escuta aquilo que nem lhe chegamos a dizer. (...)

Esta é, de facto, a grande força, a grande originalidade dos crentes. É que, para nós, (...) Deus é alguém, Deus é uma presença de amor. (...) E aquilo que nós podemos fazer é comunicar, é entrar em relação, é expormo-nos diante de Deus, é abrirmo-nos na nossa nudez, na nossa vulnerabilidade. É confiarmos tanto que nos entregamos no nosso estar, no nosso falar, no nosso calar, sentindo que Deus é o interlocutor privilegiado das nossas vidas.

O Senhor que criou o universo e os mundos, e o que vemos e o que não vemos, Ele é este “Tu” que eu posso invocar, que eu posso nomear. Por isso, fundamental na oração é o reconhecimento de que Deus é um parceiro da nossa vida, que Deus é um “Tu” a quem nos podemos dirigir. Mas, só há oração verdadeira quando também nós somos um “eu” e sentimos que a nossa vida é também a possibilidade de rezarmos, descobrirmos essa possibilidade dentro de nós.

Às vezes acontece que, sendo cristãos há muitas décadas, há muitos anos ou há pouco tempo, nós ainda não desenvolvemos em nós a capacidade de rezar, nós ainda não descobrimos que somos seres orantes, que temos em nós este dom maravilhoso que é de nos podermos abrir, nos podermos dizer, nos podermos expor em oração.

(...) A verdadeira oração nasce quando nós compreendemos isto: eu sou uma oração, a nossa vida é uma oração. (...) Porque a nossa vida (...)  é um grito, é um apelo, é uma chamada, é um estar diante de Deus. Nós somos continuamente na sua presença, e por isso nós somos uma oração. (...) Antes de tudo, a nossa oração é esta tomada de consciência profunda de que nós estamos diante de Deus e do que isso significa. Porque a nossa vida toda é chamada a exprimir-se, a expressar-se com confiança diante de Deus.

E essa relação, que necessariamente é uma relação de amizade e de amor, que é uma relação de um filho para com o Pai, que é uma relação de criatura para com o Criador, que é uma relação de enamoramento, de confiança, que é uma relação fusional e ao mesmo tempo também uma relação na diferença, porque Deus é Deus e nós somos mulheres e homens, nós somos criaturas, é esta relação fulcral que é no fundo o mistério da oração.

(...) A primeira coisa é: antes de querer aprender orações, aprende que o rezar é respirar, aprende que o rezar é estares diante de Deus, é tomares consciência de que Deus está aqui. Ao longo do nosso dia nós podemos fazer momentos de oração em qualquer lado. O que é um momento de oração que nós construímos? É um momento mais agudo, mais intenso da nossa parte, um momento de consciência, uma tomada de consciência de que nós estamos perante Deus e nessa tomada de consciência há uma qualidade de relação, há uma qualidade de comunicação espiritual que se intensifica e que torna aquele momento um momento precioso, torna aquele momento um momento de comunicação. (...)

A verdadeira oração (...) é a oração que hipoteca todo o nosso ser. (...)

É claro, se nós vivermos com o nome de Jesus nos lábios, se nós vivermos a respirar o nome de Jesus isso transforma a nossa vida por completo, transforma-nos, só pode ser. Nós tornamo-nos uma cristofania, tornamo-nos uma manifestação de Cristo, porque Ele está sempre em nós, a oração é uma habitação. (...) Essa habitação não é habitar numa casa, é habitar no interior de uma relação. O Evangelho de S. João, por exemplo, explica a oração como um permanecer, é uma forma de permanecer. São tudo verbos que mostram o quê? Que a oração tem de ter uma continuidade, que a oração não são as fórmulas que nós dizemos. A oração é um estar, é a nossa vida ser aquilo, ser transformada por aquilo. (...)

Por isso, isto que diz Jesus: O que é a oração? A oração é rezar sem desanimar, oração é insistir na oração, oração é uma insistência com Deus. Quer dizer: a oração é a felicidade da repetição, a felicidade da repetição. Nós estarmos e voltarmos a estar, nós exprimirmos, nós cansarmos Deus com a nossa oração, nós cansarmo-nos a nós mesmos com a nossa oração.

(...) Não podemos fazer depender a oração das nossas sensações, se eu sinto oração, se eu não sinto oração, se eu sinto um eco, uma reverberação luminosa. Nós lemos o diário espiritual de Santa Teresa de Calcutá e ela diz que nunca sentiu nada, nunca sentiu nada. Nunca teve nenhuma experiência favorável, nunca sentiu o coração cheio, nunca sentiu a alma a transbordar de luz. Pelo contrário, seca, seca, seca como um carapau, seca, seca, seca; nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada. E às vezes a nossa oração é o nada, nada, nada, nada. Ou, como dizia Santa Teresa de Ávila, outra grande mestra da vida espiritual, ela dizia que rezou anos e anos e a oração sabia-lhe a palha – é como estar a comer palha.

(...) A oração é sobretudo uma prática e aí é que nós falhamos. Oração é concretizar oração, oração não é uma filosofia, oração é rezar. Por isso, vamos pedir ao Senhor que reze em nós e nos ajude a rezar. Nos ajude a rezar a nossa vida, nos ajude a rezar uns pelos outros, nos ajude a louvar.

Na nossa peregrinação a Assis eu fiquei muito impressionado quando me dei conta que, o Cântico das Criaturas de S. Francisco de Assis, que é aquele poema maravilhoso: “Senhor, altíssimo sempre eterno, eu te dou graças pelo sol, eu te dou graças pelo calor, pela água…”, S. Francisco de Assis o escreveu enquanto enfermo e praticamente cego. Nós pensamos que uma pessoa que faz um elogio ao mundo, à beleza do mundo, à beleza da criação é um jovem, está apaixonado, está a agradecer tudo aquilo que ele vive. Não, Francisco de Assis estava cego, estava enfermo, estava a meses da sua morte quando escreveu este que é um testamento espiritual inacreditável. Isto também é alguma coisa que só a força da oração nos permite, que é no fundo uma grande liberdade face até aos contextos adversos e uma compreensão de que nada nos falta.

Às vezes andamos com carências enormes, com fomes, com necessidades imaginárias e reais, não importa, a oração enche o nosso coração. A experiência de oração é também a experiência de que nada nos falta e que o encantamento pela vida não depende de estarmos a viver tempos cor-de-rosa, S. Francisco já não via nada e ele via tudo.

Pe. José Tolentino Mendonça, Domingo XXIX do Tempo Comum

Ler na íntegra em Capela do Rato

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Oração ecuménica pelo nosso planeta

Oração pela nossa terra

Deus Omnipotente,
que estais presente em todo o universo
e na mais pequenina das vossas criaturas,
Vós que envolveis com a vossa ternura
tudo o que existe,
derramai em nós a força do vosso amor
para cuidarmos da vida e da beleza.
Inundai-nos de paz,
para que vivamos como irmãos e irmãs
sem prejudicar ninguém.
Ó Deus dos pobres,
ajudai-nos a resgatar
os abandonados e esquecidos desta terra
que valem tanto aos vossos olhos.
Curai a nossa vida,
para que protejamos o mundo
e não o depredemos,
para que semeemos beleza
e não poluição nem destruição.
Tocai os corações
daqueles que buscam apenas benefícios
à custa dos pobres e da terra.
Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa,
a contemplar com encanto,
a reconhecer que estamos profundamente unidos
com todas as criaturas
no nosso caminho para a vossa luz infinita.
Obrigado porque estais connosco todos os dias.
Sustentai-nos, por favor, na nossa luta
pela justiça, o amor e a paz.

Papa Francisco

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Oração dos 5 dedos

Dicas para a oração de intercessão

1) O polegar, «o dedo que te é mais próximo», faz-nos pensar e rezar por quem está mais próximo de nós, «as pessoas de quem nos recordamos mais facilmente», rezar por todos os nossos entes queridos «é uma doce obrigação».

2) O indicador recorda-nos de rezar por quem tem a função de dar indicações aos outros, isto é, «aqueles que ensinam, educam e tratam», categoria que compreende «mestres, professores, médicos e sacerdotes».

3) O médio, o dedo mais alto, lembra «os nossos governantes», as pessoas «que gerem o destino da nossa pátria e orientam a opinião pública… precisam da orientação de Deus».

4) O anelar «é o nosso dedo mais fraco, como pode confirmar qualquer professor de piano»; ele «recorda-nos de rezar pelos mais fracos, por quem tem desafios a enfrentar, pelos doentes» que têm necessidade da «tua oração de dia e de noite», bem como pelos esposos.

5) Por fim, o mindinho, o dedo mais pequeno, «como pequenos nos devemos sentir diante de Deus e do próximo», convida a rezar por nós próprios: «Depois de teres rezado por todos os outros, poderás compreender melhor quais são as tuas necessidades, olhando-as na justa perspetiva».do polegar é o que está mais perto de ti.
Assim, começa por orar por aqueles que estão mais próximo de ti. São os mais fáceis de recordar. Rezar por aqueles que amamos é “uma doce tarefa”.
2. O dedo seguinte é o indicador: reza pelos que ensinam, instróiem e curam. Ele precisam de apoio e sabedoria ao conduzir outros na direcção correcta. Mantém-nos nas tuas orações.
3. A seguir é o maior. Recorda-nos dos nossos chefes, os governantes, os que têm autoridade. Eles necessitam de orientação divina.
4. O próximo dedo é o anelar. Surpreendentemente, este é o nosso dedo mais débil. Ele lembra-nos que rezemos pelos débeis, doentes ou pelos atormentados por problemas. Todos eles necessitam das tuas orações.
5. E finalmente temos o nosso dedo pequeno, o mais pequeno de todos. Este deveria lembrar-te de rezar por ti mesm@. Quando terminares de rezar pelos primeiros quatro grupos, as tuas próprias necessidades aparecer-te-ão numa perspectiva correcta e estarás preparad@ para orar por ti mesmo de uma maneira mais efectiva.


a partir das intenções sugeridas pelo Papa Francisco. Ler mais em SNPC

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A fé fora do templo


As quatro vias para a espiritualidade cristã contemporânea de Etty Hillesum
parte II


Um convite à oração

A segunda forma pela qual a vida de Etty nos interpela e desafia é sobre as pressuposições da própria religião: de que as instituições a detêm e controlam, acerca da questão que reside no cerne da mesma e a forma pela qual nós pensamos nas suas fronteiras. (...)

A sua caminhada até à fé em Deus transformou a sua vida, mas aconteceu fora de qualquer instituição religiosa. Etty é uma figura contemporânea, também neste sentido. A sua história convida-nos a reconhecer caminhadas de fé alheias a instituições religiosas, e anima-nos nessa caminhada. Também desafia aqueles que trabalham nas instituições religiosas a refletir mais profundamente sobre a razão pela qual são tão desconsiderados, e a escutar aqueles que se encontram para lá das suas fronteiras.

Grande número de pessoas do mundo ocidental, sobretudo jovens, sentindo as pressões de uma irrequieta sociedade consumista, sentem que o seu estéril secularismo não lhes oferece nada em termos das questões de significado mais profundo. Podem sentir-se num deserto espiritual... e assim, por entre as exigências, as pressões e o ritmo de vida vivido à superfície das coisas, existe uma fome profunda de «espiritualidade». Contudo, este interesse pela «espiritualidade», que se revela numa grande diversidade de maneiras, não se encaixa facilmente nas narrativas e nas expectativas das instituições religiosas preestabelecidas. Assim, na Europa (a situação nos Estados Unidos parece ser diferente), verifica-se a situação paradoxal de que um interesse crescente pela «espiritualidade» corresponde a um declínio da frequência institucional da Igreja. Isto conduz-nos ao que reside no coração da espiritualidade num mundo pós-moderno.

Num útil artigo intitulado «A crise da pós-modernidade», o escritor e teólogo Philip Sheldrake sugere que, aqui, se verifica uma confusão de interrogações. Há a interrogação em que as instituições religiosas ainda se centram com afinco, nomeadamente, «O que é ou quem é Deus?» Mas, por detrás da «busca espiritual contemporânea», há uma questão diferente (embora, na tradição mística, com ela relacionada), designadamente, «Quem sou eu?» O problema para as instituições religiosas é que, nos seus credos, liturgias e, muitas vezes, na sua pregação, exploram e expõem uma resposta para a primeira questão, que tem vindo a ser cada vez menos colocada.
(...)

A questão do ego

(...)Esta questão sobre Deus já não é o ponto em que começa a busca espiritual contemporânea. O que conduz esta busca é a questão - a surpreendente, e até misteriosa questão - do ego. Quem sou eu, no caráter único dos meus sentimentos, relações, reações e sentido de pertença ou não pertença; no contexto particularíssimo da minha vida, da minha história e do meu possível futuro?

As instituições religiosas não parecem ter apreendido toda a força desta mudança: o poder do terramoto secular a nível do entendimento que ocorreu e que alterou o centro dos interesses. Continuam a comportar-se como se a antiga visão do mundo continuasse a imperar. Não deviam estar tão surpreendidos pelo facto de os seus números continuarem a declinar.

Etty Hillesum fala ao mundo moderno porque a sua caminhada começou com a psicoterapia, com a questão que muitos outros fazem, de vários modos: «Quem sou eu?» Ela começou com o enigma desconcertante e perturbador de si própria, e a sua caminhada prosseguiu fora de qualquer instituição religiosa.

[6 pistas para a caminhada orante]

Houve cinco elementos-chave nessa caminhada: uma relação de aceitação incondicional dentro da qual ela se sentia segura para explorar a sua experiência; exploração intelectual do pensamento de alguns escritores-chave, nomeadamente Jung e Rilke; a influência do seu mentor, uma pessoa de fé, que a introduziu em textos religiosos fundamentais, nomeadamente os Salmos, o Novo Testamento e Santo Agostinho, e em vários outros, ainda; a sua própria resposta à ânsia que sentia dentro de si para rezar; e o desenvolvimento de discipli­nas particulares da vida espiritual.

O seu caminho particular constitui um estímulo e um encorajamento para aqueles para quem parece difícil pertencer às instituições religiosas. Quer uma pessoa continue a ser ou não membro de uma igreja ou sinagoga ou da instituição de qualquer outra tradição de fé, Etty convida-nos a aprofundar mais a nossa exploração pessoal.

(...)
O momento mais íntimo e talvez mais importante da caminhada de Etty foi quando ela começou a rezar. Escreveu que «deu consigo», de repente, ajoelhada no tapete castanho de fibra de coco na casa de banho. Parece ter ocorrido de forma involuntária, como reação a «uma grande necessidade» proveniente mais de uma parte profunda de si própria do que da sua mente. Sentiu-se profundamente embaraçada com isso, e a «porção ateia racional e crítica» da sua pessoa fitou-a, estupefacta, chamando-lhe louca. Eis um momento-chave da sua caminhada de fé: um momento em que temos de nos libertar de todo o nosso «palavreado», de nos libertar do desapego da mente inquisitiva, e de responder a alguma necessidade primitiva do coração, e - ignorando o embaraço e qualquer sentido de insensatez - atrever-se a dizer «Sim».

Uma vez atravessada esta barreira - embora o embaraço volte a surgir e a parte racional e crítica das nossas pessoas, que tem uma importância profunda, certamente volte a afirmar-se - a oração poderá, lentamente, começar a ser habitual, e até, como Etty descobriu, muito necessária. Em determinado ponto do seu diário, Etty escreve: «Continuo a dar comigo em oração.»

Se quisermos entrar realmente neste potencial - para descobrir aonde o mesmo nos pode conduzir - as disciplinas desta vida têm de ser praticadas. Tal como aprender a pintar, ou a tocar um instrumento musical, é um trabalho difícil e não pode ser aprendido de um dia para o outro. Para Etty, a sua espiritualidade e a sua oração significava aprender «a viver artisticamente», uma expressão que ela foi buscar a Rilke. Para o conseguir, ela sabia que «a paciência é tudo» (fazendo ressoar mais uma vez as palavras de Rilke); a paciência e a prática de certas disciplinas. E quais são essas disciplinas?

- silêncio - «há um vasto silêncio em mim que continua a crescer»
- solidão - «no profundo de nós mesmos, todos nós carregamos uma vasta e frutífera solidão»
- atenção, na tomada de consciência e na abordagem dos «rebanhos selvagens» dos pensamentos e sentimentos
- uso de imagens, aprendendo a conhecer tanto o seu poder como os seus perigos
- ler os Salmos, extraindo deles apenas uma frase e plantando-a nas profundezas do coração, onde o seu significado pode crescer.
E (o mais importante para Etty):
- aprender a escutar «tudo o que nos chega de fora... e... tudo o que brota de dentro» - o desenvolvimento de uma consciência intuitiva daquilo que é «mais essencial e mais profundo» em nós próprios, nos outros, na interligação da vida.

Tudo isto e mais ainda fazia parte da caminhada de Etty, que, sobretudo depois de ter deixado os seus amigos em Amesterdão e de Spier ter morrido, se tornou solitária. Na sua carta dirigida a Henny Tideman vislumbramos a sua solidão. Para este trabalho de espiritualidade se manter, precisamos de amizades e de comunidades. Também precisamos, depois de termos confiança suficiente para nos confrontarmos com ele, do desafio, ajuda e correção mais vastos que a instituição religiosa competente pode oferecer à nossa caminhada pessoal. Sejam quais forem as nossas reservas, é isso que dá vida à nossa tradição: o lugar onde a nossa história é publicamente assumida e celebrada. Nós pertencemos-lhe... e precisamos de participar da sua vida e de contribuir para ela.

E assim, além de encorajar os que não pertencem a instituições religiosas, a história de Etty desafia aqueles que têm a responsabilidade de moldar tais instituições, mediante uma interrogação profunda. Como podemos garantir que as nossas liturgias, rituais e cerimónias respiram com o tipo de espírito contemplativo que atrairá os de fora da instituição além de seduzir mais profundamente aqueles que se possam manter hesitantes nas suas margens?

Nota: Esta transcrição omite as notas de rodapé.
por Patrick Woodhouse, In Etty Hillesum - Uma vida transformada, ed. Paulinas
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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Não há UMA forma de rezar

17 maneiras de rezar

1. Caminhar
Caminhar ao longo de todo o comprimento
numa igreja românica, bela, bastante grande
Saint Philibert de Tournus, por exemplo,
ou numa igreja gótica,
Chartres, Reims, Bourges
ou barroca, como Wieskirche
e não pensar em nada,
absolutamente nada,
deixar vaguear o olhar
deixar cantar a pedra,
deixar que o lugar fale,
e partir, algum tempo depois e sem nenhuma pressa.


2. Ler um livro
Ler um livro de pensamento exigente
com um forte desejo da verdade
sem avidez em saber
sem pretensão de disputar
mas por gosto, por amor da verdade
Abrir a porta profunda
a todo o pensamento que emerge
e deixá-lo permanecer em paz
de modo que ele venha a dar o seu fruto.


3. Abrir a Sagrada Escritura

Abrir a Sagrada Escritura
abrir o Livro somente
e partir em devaneio
imaginar o seu próprio livro
contar histórias a si mesmo
remexer nos seus velhos mitos
de crueldade, de triunfo, de sensualidade, de desespero,
de amor, de caridade, com o normal narcisismo dessas coisas
e ler, no texto,
duas palavras.


4. Exprimir um pedido do Pai Nosso
Exprimir um pedido do Pai Nosso
só um,
uma só vez.


5. Angustiar-se profundamente por não rezar
Angustiar-se profundamente por não rezar
gemer interiormente todo o dia por ser incapaz
da mais pequena invocação
da mais pequena leitura
mesmo do Evangelho
de se sentir frio, seco, ausente
e feliz num outro lugar
sem Deus, sem Cristo, sem tudo isso
e sofrer justamente por isso
e finalmente decidir entregar-se assim a Deus
e esperar, sem qualquer pensamento.


6. Dormir
Dormir
e deixar o coração de vigia.


7. Como uma criança, dizer coisas a Deus
Como uma criança, dizer coisas a Deus
oração, súplica, raiva ou ternura
pesar ou júbilo
isso escapa
nem nos apercebemos disso
senão mais tarde, algumas vezes.
Aquele que assim fala em nós é a criança
sempre na aurora da vida
ingénua como a vontade divina.


8. Conversar disto e daquilo

Conversar disto e daquilo
e de repente
sem Deus ou sem eu o prever
acontece que nos pomos a falar do essencial
da vida, da morte, do futuro da humanidade
do amor, da verdade
talvez de Deus ou talvez não,
da religião cristã, dos grandes caminhos do homem.
Alargamos a conversa a outros, sem ódio,
sem controvérsia, sem baixa paixão, mas porque isso importa mais [que tudo o resto
e porque falamos disso tão poucas vezes
na conversa aquele que em Jesus Cristo
deixa passar algo do Anúncio
não porque se crê obrigado
mas porque ele é como é, ele está nele,
a sua palavra transporta a Palavra
e pode acontecer que alguém escute
pois o fundo do coração está aberto.


9. Abrir a Sagrada Escritura
Abrir a Sagrada Escritura
e aí está!
Não é um livro, não é o Livro,
é o lugar da Palavra que se estende para além das palavras
sonho sem sonho à margem do texto
ressonância através de todas as espessuras da vida
fonte cuja nascente é invisível,
pensamentos, imagens, palavras
movimentos sóbrios do coração
a Letra é necessária
o espírito vai
porque o sentido da Escritura é a vida salva.


10. Desejar, desejar desesperadamente
Desejar, desejar desesperadamente
desejar até à dor e à angústia
até ao grande vazio amargo
desejar que seja de outro jeito
desejar o fim das crueldades
das loucuras, da estupidez, do abjecto,
desejar a satisfação, a luz, a ternura
ter muita fome, ter muita sede
do mundo diferente
e de si-mesmo diferente.


11. Escrever
Escrever
por prazer, por gosto, para ver
escrever para escutar o que o barulho comum encobre ou confunde
incluindo o barulho das palavras
Lavar as palavras até que elas fiquem
completamente puras e redondas e lisas
ou então ir pelos caminhos abundantes
ou então refazer, refazer indefinidamente
para abordar um pouco mais o que falta e insistir
escrever para chegar àquele ponto
que comunica com o que está para além e aquém de toda a palavra.


12. Ouvir música
Ouvir música
A Missa em Si menor de Bach, por exemplo,
especialmente Incarnatus, Crucifixus, Resurrexit
ou então outra coisa
não necessariamente música religiosa
mas escutar na profundidade
escutar o canto do novo Orfeu presente
em toda a música humana
incarnação, crucifixão, jubilação
Se pudermos cantar nós mesmos e tocar um instrumento,
é ainda melhor!


13. Permanecer em paz
Permanecer em paz
que é a harmonia dos poderes
para lá (certamente) do turbilhão
para lá da abstenção serena
para lá do abandono voluntário dos heróis
na harmonia dos poderes
coincidindo com a mais humilde humildade
isto, na mediocridade dos dias
sem altivez, sem saber e algumas vezes sem graça.


14. Sair da igreja
Sair da igreja
deixar a celebração
porque não se aguenta mais
porque não podemos continuar
por causa do excesso de intensidade e de sobranceria
do que é considerado dever aí ser feito
em contraste com o desaire aflitivo do que de facto se passa
deixar sem escândalo, sem contestação, com tristeza
e o desejo resistente que de novo se eleve
como? como?
a luz do grande poema onde se inauguram todas as coisas.


15. Duvidar, duvidar de Deus intensamente
Duvidar, duvidar de Deus intensamente
o quê, haverá um Deus bom e todo poderoso
com toda esta crueldade na natureza
com a infernal crueldade humana
as crianças morrendo de fome, os explorados,
os nevróticos, os embrutecidos, os alcoólicos, todos os [resíduos humanos?
É bela, a imagem de Deus!
E o que é Deus
senão pobre pequena ideia elaborada
no planeta em que somos
nada, no seio do universo brilhando
para dimensões inimagináveis
Objecções, objecções, agonia de Deus
no coração do homem de fé.
Ele respondeu cem vezes, mas trata-se de ausência
Pobre Deus em agonia
como o Verbo idêntico a Si no jardim das oliveiras
enquanto os seus melhores amigos dormiam…
Não é realmente nada pouco vigiar. Na sua agonia.


16. Nem as imagens nem o texto
Nem as imagens, nem o texto,
nem o lugar, nem a hora
nem a palavra que brota do coração
nem a repetição aborrecida e atenta
nem mesmo o silêncio
mas simplesmente o real
terrivelmente real e chão, as coisas, a superfície
a conversação sem finalidade
as tarefas, os lazeres,
comer, sonhar, dormir
e o sofrimento intolerável, indizível
de tal modo sofredor que nem sofremos
a espera nua do que deve vir ao mundo
para que a terra seja como o céu.


17. Trabalhar com as próprias mãos
Trabalhar com as próprias mãos
em tarefas caseiras, na costura,
no seu ofício, na bricolagem
e fechar o rádio e todo o zunzum interior
escutar o que fala sem palavras
enquanto as mãos se ocupam
e ocupam a superfície da alma.
Ou então, conduzir um automóvel
muito distendido, atento, delicado
uma vez que essa ocupação deixa livre
um pensamento sem pensamento
que amadurece algures.


Maurice Bellet
In Cahiers pour croire aujourd'hui, Novembro 1993)
Trad.: MLPV/JTM
publicado in SNPC

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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