O sacerdote José de Jesús Aguilar, subdirector da Radio e Televisão da Arquidiocese do México, pronunciou-se a favor da adopção de crianças entre pessoas do mesmo sexo – contrário à posição dos cardeais Norberto Rivera e Juan Sandoval Íñiguez – e disse que a "Igreja Católica está cheia de homossexuais" que participam no trabalho pastoral.
A reportagem é de Eugenia Jiménez, publicada no jornal Milenio, 23-08-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Há catequistas (homossexuais) que ajudam no apostolado e em grupos juvenis, porque, quando se trata do trabalho do apostolado, eles são reconhecidos e, em outro momento determinado, volta-se à má imagem...".
O clérigo afirmou conhecer gays que educaram crianças, e que os menores estão bem.
A sociedade, argumentou, deve valorizar os gays que trabalham. Além disso, "nem todos os homossexuais vão adoptar. Nele, há uma consciência, e Deus lhes diz em que momento vão adoptar, estabelece capacidade afetiva e outros elementos que devem exigir".
No programa noturno Frente a Frente, de Lolita de la Vega, no Canal 13 – no qual analisou a questão das adopções entre casais do mesmo sexo, ao lado de especialistas e activistas do movimento gay –, o ex-sacristão da Catedral Metropolitana questionou as afirmações de membros da Igreja Católica que asseguram que é negado o direito de meninos e meninas de ter um pai e uma mãe. E ironizou: "Onde estão esses pais?".
O padre indicou que existe muito desconhecimento: "Realmente, o que conhecem as pessoas sobre os homossexuais? Às vezes, conhece só o que acontece nos programas, onde se debocha deles, onde são apresentados como cabeleireiros, medrosos ou louquinhos".
"Esses programas apresentam um homossexual sobre o qual as pessoas dizem: esse modelo vai ser mãe ou pai, essa pessoa frágil que não tem caráter, que não tem uma vida respeitável, que anda com este, com aquele. Grande parte desses programas e a pouca informação fizeram com que existam preconceitos", comentou.
Aguilar acrescentou que "não marcaria as pessoas como homossexuais ou heterossexuais, mas falaria de pessoas que são capazes de amar, porque o amor implica em respeito, continuidade, acompanhamento... e não a imposição. Conheço pessoas heterossexuais e homossexuais. De ambos os lados, vejo pessoas muito más e muito boas".
"Não posso dizer em nome pessoal ou da Igreja que uma pessoa, por ter uma atracção diferente, é má", detalhou.
O padre referiu que um documento do Papa João Paulo II assinala que a homossexualidade "não tem uma origem clara, e isso vai contra aqueles que pensam que a homossexualidade é uma conduta e, portanto, uma aberração. Se uma pessoa nascesse, deveria estar dentro do plano de Deus, se fosse tomada depois, seria outra coisa diferente".
Actualmente, defendeu, as leis não exigem que sejam casados para adoptar. Uma pessoa solteira pode fazê-lo e educar uma criança, e não se questiona se é homossexual ou lésbica.
"Conheço pessoas que são homossexuais e que educaram uma criança, e que os filhos, inclusive, não sabem que são homossexuais. Compreendo que a Igreja eleve o casamento como sacramento e leve em conta que ele ocorra entre um homem e uma mulher, porque, naturalmente, estão abertos à vida", disse.
Alguns personagens da Igreja, comentou, "dizem que não se deve tirar o direito do filho de um pai e de uma mãe. Então, pergunto, onde estão esses pais?". Como cidadãos, insistiu, os gays têm direitos e não podem ser negados.
Enquanto isso, a Arquidiocese do México, por meio de seu jornal Desde la Fe, felicitou os ministros da SCJN, Guillermo Ortiz Mayagoitia e Salvador Aguirre Anguiano, pela "firmeza heroica" e pela defesa jurídica que fizeram ao casamento heterossexual e ao direito das crianças de ter um pai e uma mãe.