Palavras do Papa Francisco no "encontro do mundo da cultura" na Sardenha
Setembro 2013
A intervenção do papa foi guiada pelas palavras «desilusão», «resignação», «esperança», baseadas na narrativa bíblica dos dois discípulos de Jesus que, após a sua morte, fazem o percurso de Jerusalém a Emaús; já ressuscitado, Jesus junta-se a eles no caminho mas os discípulos só o reconhecem à refeição, regressando logo depois a Jerusalém.
Excertos do discurso:
«1. Estes dois discípulos levam no coração o sofrimento e a desorientação pela morte de Jesus, estão desiludidos com o desfecho dos acontecimentos. Encontramos um sentimento análogo também na nossa situação atual: a delusão, a desilusão, devido a uma crise económico-financeira, mas também ecológica, educativa, moral, humana. É uma crise que diz respeito ao presente e ao futuro histórico, existencial do homem nesta nossa civilização ocidental, e que acaba por afetar o mundo inteiro.
E quando digo “crise”, não penso numa tragédia. Os chineses, quando querem escrever a palavra “crise”, escrevem-na com dois caracteres: o carácter do perigo e o carácter da oportunidade. Este é o sentido em que eu uso a palavra.
É verdade que cada tempo da história traz em si elementos críticos, mas, pelo menos nos últimos quatro séculos, não se viram tantos abalos nas certezas fundamentais que constituem a vida dos seres humanos como no nosso tempo. Penso na deterioração do ambiente, que é perigosa, pensemos antecipadamente na guerra da água que está a chegar; nos desequilíbrios sociais; no terrível poder das armas – falamos muito disto nestes dias; no sistema económico-financeiro, que tem no centro não o homem mas o dinheiro, o deus dinheiro; no desenvolvimento e no peso dos meios de informação, com toda a sua positividade, de comunicação, de transporte. É uma alteração que diz respeito ao próprio modo como a humanidade leva por diante a sua existência no mundo.
2. Diante desta realidade, quais são as reações? Regressemos aos dois discípulos de Emaús: desiludidos ante a morte de Jesus, mostram-se resignados e procuram fugir da realidade, deixando Jerusalém. Podemos ler as mesmas atitudes neste momento histórico.
Perante a crise pode ocorrer a resignação, o pessimismo em relação a cada possibilidade de intervenção eficaz. Num certo sentido, é um abandono da própria dinâmica da atual reviravolta histórica, denunciando os aspetos mais negativos com uma mentalidade semelhante àquele movimento espiritual e teológico do II século depois de Cristo denominado “apocalíptico”. Temos a tentação de pensar em chave apocalíptica.
Esta conceção pessimista da liberdade humana e dos processos históricos conduz a uma espécie de paralisação da inteligência e da vontade. A desilusão conduz também a uma espécie de fuga, a procurar “ilhas” ou momentos de trégua. É algo de semelhante à atitude de Pilatos, de “lavar as mãos”. Uma atitude que emerge como “pragmática”, mas que de facto ignora o grito de justiça, de humanidade e de responsabilidade social, e conduz ao individualismo, à hipocrisia, se não a uma espécie de cinismo. Esta é a tentação que temos à nossa frente, se andarmos por esta estrada da desilusão ou da delusão.
3. Chegados a este ponto, perguntamo-nos: haverá um caminho a percorrer nesta nossa situação? Devemos resignar-nos? Devemos deixar obscurecer a esperança? Devemos fugir da realidade? Devemos “lavar as mãos” e fecharmo-nos em nós próprios?
Penso não só que há uma estrada a percorrer, mas que precisamente o momento histórico que vivemos impulsiona-nos a procurar e encontrar caminhos de esperança, que abram horizontes novos à nossa sociedade. (...)
A intervenção do papa foi guiada pelas palavras «desilusão», «resignação», «esperança», baseadas na narrativa bíblica dos dois discípulos de Jesus que, após a sua morte, fazem o percurso de Jerusalém a Emaús; já ressuscitado, Jesus junta-se a eles no caminho mas os discípulos só o reconhecem à refeição, regressando logo depois a Jerusalém.
Excertos do discurso:
«1. Estes dois discípulos levam no coração o sofrimento e a desorientação pela morte de Jesus, estão desiludidos com o desfecho dos acontecimentos. Encontramos um sentimento análogo também na nossa situação atual: a delusão, a desilusão, devido a uma crise económico-financeira, mas também ecológica, educativa, moral, humana. É uma crise que diz respeito ao presente e ao futuro histórico, existencial do homem nesta nossa civilização ocidental, e que acaba por afetar o mundo inteiro.
E quando digo “crise”, não penso numa tragédia. Os chineses, quando querem escrever a palavra “crise”, escrevem-na com dois caracteres: o carácter do perigo e o carácter da oportunidade. Este é o sentido em que eu uso a palavra.
É verdade que cada tempo da história traz em si elementos críticos, mas, pelo menos nos últimos quatro séculos, não se viram tantos abalos nas certezas fundamentais que constituem a vida dos seres humanos como no nosso tempo. Penso na deterioração do ambiente, que é perigosa, pensemos antecipadamente na guerra da água que está a chegar; nos desequilíbrios sociais; no terrível poder das armas – falamos muito disto nestes dias; no sistema económico-financeiro, que tem no centro não o homem mas o dinheiro, o deus dinheiro; no desenvolvimento e no peso dos meios de informação, com toda a sua positividade, de comunicação, de transporte. É uma alteração que diz respeito ao próprio modo como a humanidade leva por diante a sua existência no mundo.
2. Diante desta realidade, quais são as reações? Regressemos aos dois discípulos de Emaús: desiludidos ante a morte de Jesus, mostram-se resignados e procuram fugir da realidade, deixando Jerusalém. Podemos ler as mesmas atitudes neste momento histórico.
Perante a crise pode ocorrer a resignação, o pessimismo em relação a cada possibilidade de intervenção eficaz. Num certo sentido, é um abandono da própria dinâmica da atual reviravolta histórica, denunciando os aspetos mais negativos com uma mentalidade semelhante àquele movimento espiritual e teológico do II século depois de Cristo denominado “apocalíptico”. Temos a tentação de pensar em chave apocalíptica.
Esta conceção pessimista da liberdade humana e dos processos históricos conduz a uma espécie de paralisação da inteligência e da vontade. A desilusão conduz também a uma espécie de fuga, a procurar “ilhas” ou momentos de trégua. É algo de semelhante à atitude de Pilatos, de “lavar as mãos”. Uma atitude que emerge como “pragmática”, mas que de facto ignora o grito de justiça, de humanidade e de responsabilidade social, e conduz ao individualismo, à hipocrisia, se não a uma espécie de cinismo. Esta é a tentação que temos à nossa frente, se andarmos por esta estrada da desilusão ou da delusão.
3. Chegados a este ponto, perguntamo-nos: haverá um caminho a percorrer nesta nossa situação? Devemos resignar-nos? Devemos deixar obscurecer a esperança? Devemos fugir da realidade? Devemos “lavar as mãos” e fecharmo-nos em nós próprios?
Penso não só que há uma estrada a percorrer, mas que precisamente o momento histórico que vivemos impulsiona-nos a procurar e encontrar caminhos de esperança, que abram horizontes novos à nossa sociedade. (...)