Rothko e a arte comunicável
"Em “Écrits sur l’art, 1934-1969” (2007), Mark Rothko escreve que a satisfação do impulso criador é uma necessidade biológica de base, essencial para o homem. O homem absorve e naturalmente exprime. Os sentidos do homem colecionam e acumulam emoções, o pensamento transforma e ordena, e por intermediário da arte essas emoções são emitidas de modo a fazer parte de um novo fluxo da vida – e, por sua vez, irão estimular a ação de outros homens. E a arte não é somente expressiva, ela é igualmente comunicável, e esta comunicabilidade determina a sua função social.
Rothko defende uma visão inata e natural no ato de pintar: uma linguagem tão natural como a da palavra ou do canto. Ao aplicar a palavra para contar histórias, narrar eventos,o homem não o faz depender do conhecimento da gramática, da sintaxe ou das regras da retórica – fá-lo naturalmente, simplesmente fala. Da mesma maneira, o homem canta melodias e improvisa refrães muitas vezes sem conhecer nem a colocação correta da voz nem a harmonia. Por isso afirma que a pintura também deve ser uma linguagem tão natural como o canto e a palavra. É um processo que existe para registar uma experiência, visual ou imaginária, enriquecida com sentimentos e reações humanas.
Rothko relembra que já as crianças assim o fazem: «Vede estas crianças trabalhar e vereis como elas juntam formas, figuras e vistas em disposições pictóricas, empregando por necessidade a maior parte das leis da perspetiva ótica e da geometria, mas sem o saber. Eles agem assim da mesma maneira como falam, sem ter consciência de utilizar as regras gramaticais».Para Rothko, as crianças, por necessidade interior de um enunciado que deve imediatamente ser realizado, produzem as representações mais instintivas por meio de símbolos muito expressivos e primitivos.
Rothko explica por isso, que no decorrer do seu trabalho desenvolve-se uma necessidade de evocar mitos da Antiguidade, que por serem, a seu ver, símbolos intemporais, podem assim exprimir ideias psicológicas básicas: «São os símbolos dos medos e das motivações primitivas do homem, pouco importando o país ou a época».
Carl Gustav Jung inclui o conceito de mito no conceito de arquétipo. Segundo Jung, o arquétipo é uma imagem-padrão primordial, original, património comum a toda a humanidade e, portanto, universal. É uma forma onde todas as qualidades humanas podem tomar lugar. É um conjunto de ideias elementares, presentes no inconsciente. O arquétipo não depende de influências exteriores. Em toda a psique existem formas que inconscientemente são ativas – pré-formam e continuamente influenciam pensamentos, sentimentos e ações. O arquétipo é determinado segundo a forma e não o conteúdo - conteúdo é aqui entendido como experiência consciente. A forma corresponde ao instinto. O arquétipo é uma representação não herdada, é dada “a priori”. Carl Jung propôs o termo, arquétipo, para ser um sistema de prontidão para a acção e, ao mesmo tempo, para imagens e emoções. (...)."
Ana Ruepp, publicado em SNPC a 30 de dezembro de 2014