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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Sexta-feira Santa vista por Frederico Lourenço

Sexta-feira Santa

Apesar de, no plano racional, me considerar ex-católico e profundamente céptico em relação a todas as religiões, a sexta-feira santa nunca será para mim um dia como outro qualquer.

De manhã à noite o meu pensamento está involuntariamente dominado pela imagem do homem pregado na cruz, esse homem singular portador de três identidades (Filho de Deus; ou apenas um nazareno histórico chamado Jesus; ou somente personagem da narrativa dos evangelistas). A ideia depregar alguém numa cruz, depois de se lhe ter cuspido em cima e chicoteado de forma cruel, é persistentemente perturbadora, talvez porque nela conseguimos focar a indignação que o conhecimento da história humana nos obriga a repartir por tantas realidades análogas.

Torturas e execuções são o pão quotidiano da humanidade desde que ela deixou de ser constituída por caçadores-recolectores e passou a organizar-se em torno de um modo de vida sedentário. A civilização (não esquecer a ligação etimológica com «civitas») que nasceu da descoberta da agricultura há 12000 anos trouxe no seu encalço a escravatura, a guerra, as hierarquias sociais e a vocação das ideologias políticas e religiosas para cercear a liberdade de pensamento.

Desde então, muitos seres humanos foram torturados e executados (por vezes com crueldades ainda piores do que as sofridas pelo Nazareno); a própria crucificação já era coisa banal no mundo antigo quando Jesus foi crucificado. Basta dar este exemplo: na mesma Jerusalém, no século anterior, 800 judeus sofreram no mesmo dia a crucificação enquanto as mulheres e os filhos eram degolados à vista dos crucificados.

De alguma forma, a imagem da crucificação de Jesus propõe à nossa consideração uma espécie de sinédoque visual do sofrimento humano: é a parte abarcável que nos põe em confronto com um todo inabarcável – pois desse todo fazem parte as masmorras da Inquisição, da Gestapo e da KGB; dele fazem parte genocídios de povos inteiros; dele fazem parte as tragédias de hoje na Síria e no Iraque; dele fazem parte toda a fealdade hedionda do ser humano.

Pensarmos, pois, com toda a nossa compaixão no homem de Nazaré pregado na cruz é, assim, uma pequena tentativa de abarcarmos o inabarcável. É darmos um nome a um sofrimento que é global, milenar e anónimo.

publicação de Frederico Lourenço no Facebook

Três géneros na Alemanha

Alemanha vai reconhecer legalmente um ‘terceiro género’

A Alemanha pode vir a ser o primeiro país da Europa a reconhecer legalmente uma terceira categoria de género desde o nascimento. Uma medida que pode abrir as portas à mesma decisão em mais países.
A Alemanha pode vir a ser o primeiro país da Europa a reconhecer legalmente uma terceira categoria de género desde o nascimento. Este ‘terceiro género’ – que poderá ser chamado de inter ou diverso – diz respeito às pessoas intersexuais, ou seja, pessoas que nascem com características que não se encaixam na definição típica de sexo feminino ou sexo masculino.

Nesta quarta-feira, o Tribunal Constitucional Federal alemãodecidiu que deverá ser aprovada uma lei que reconheça legalmente um ‘terceiro género’ até final de 2018, afirmando que o sistema atual “não prevê uma terceira opção – além de feminino ou masculino“, e que isso é inconstitucional.

Johannes Dimroth, porta-voz do Ministério do Interior da Alemanha, disse, em resposta, que “Nós respeitamos plenamente a decisão do Tribunal Constitucional Federal e o governo está totalmente disposto a implementar a decisão”.

A decisão foi levada a cabo depois de uma pessoa intersexual, que pretendia ser designada como inter ou diverso, ter formulado um pedido nesse sentido. A requerente apresentou uma análise dos seus cromossomas que concluía precisamente que estes não correspondiam a homem ou mulher. O pedido, que tinha até agora sido rejeitado em todas as instâncias, incluindo o Supremo Tribunal Federal, criou agora um precedente e uma obrigação legislativa.

Em 2013, a Alemanha foi o primeiro país europeu a permitir legalmente que crianças intersexuais deixassem a caixa de género em branco na certidão de nascimento, a pedido do Conselho Alemão de Ética, segundo o qual as pessoas não deveriam ser forçadas a escolher uma das duas opções.

(...)

Maja Liebing, especialista em direitos LGBTI na Amnistia Internacional, na Alemanha, disse à CNN que este é um passo muito importante e que é necessário que as pessoas comecem a perceber que “há mais que dois géneros”.

De acordo com as Nações Unidas, entre 0,5% e 1,7% da população global nasce com traços de intersexualidade. Por vezes, algumas destas características são visivelmente evidentes, como nascer com os dois genitais ou com características físicas dos dois sexos; mas pode também ter que ver com diferenças genéticas ou hormonais. Até há pouco tempo utilizava-se o nome hermafroditas para designar estas variações.

A Amnistia Internacional publicou, em maio deste ano, um relatório no qual dava conta de que na Alemanha muitos bebés que nascem com estas variações visíveis sofrem cirurgias dolorosas e irreversíveispara que fiquem com uma aparência convencional. Em 2016, um grupo de especialistas em direitos humanos da ONU pediu “um fim urgente” a estas violações dos direitos humanos, instando os governos a proibirem práticas médicas nocivas e a proteger as pessoas intersexuais contra a discriminação.

Como o Observador explicou, a intersexualidade nada tem que ver com a orientação sexual da pessoa ou com a identidade de género, é sim uma condição inata (apesar de muitas vezes só ser descoberta mais tarde) que reflete variações biológicas reais.

in Observador em 9 de novembro de 2017

Mudança de sexo aos 16 anos

Nova lei da identidade de género vai permitir mudança nome e sexo aos 16 anos

A proposta de lei do Governo prevê que os jovens de 16 anos possam mudar de nome e de género. Documento vai ser votado a 6 de abril e PSD deverá dar liberdade de voto aos deputados.
A proposta de lei do Governo para a identidade de género prevê que os jovens possam mudar o nome e o género no cartão de cidadão aos 16 anos (ao contrário dos atuais 18), com autorização dos pais, avança a edição desta sexta-feira do Expresso. Além da descida do limiar da idade, o documento prevê o fim da necessidade de um relatório clínico para esta mudança, que sejam proibidas as cirurgias a bebés intersexo ( não ser que estejam em causa motivos de saúde) e que as escolas passem a tratar as crianças e jovens pelo género com que se identificam.

O documento vai ser votado no Parlamento a 6 de abril e conta com os votos favoráveis do PS, Bloco de Esquerda, PEV, PAN e com a abstenção do PCP. Neste cenário, a aprovação da lei fica dependente de apenas um voto, avança o Expresso. Ao contrário do que era esperado, é provável que o PSD não imponha disciplina de voto contra a proposta e que dê liberdade de voto aos deputados. Neste caso, replicando o que aconteceu com a lei da procriação medicamente assistida, é possível que 20 sociais-democratas votem a favor.

A socialista Isabel Moreira disse ao Expresso que esta lei “é uma lei limpa e clara, que nada tem que ver com tratamentos e processos cirúrgicos”. Já Vânia Dias Silva, do CDS defende que “ao 16 anos, os jovens não têm capacidade de decisão definitiva”.

Nuno Monteiro Pereira, presidente da competência de Sexologia da Ordem dos Médicos, disse ao mesmo jornal que “o problema dos transexuais é viverem numa sociedade que os rejeita” e deu um parecer positivo à proposta do Governo. Explica que em 2017 cerca de 50 pessoas pediram para fazer a cirurgia de redesignação sexual — a maioria eram pessoas que tinham nascido com o género feminino e que queriam passar para o género masculino. Entre 2012 e 2016, foram feitas 38 cirurgias destas em hospitais públicos. Mas entre 2011 e 2017, houve 375 pessoas que mudaram de género no cartão de cidadão.

Por Ana Pimentel in Observador

Município do Oeste lusitano dá exemplo de sustentabilidade

Torres Vedras assume-se como um dos destinos mais sustentáveis do mundo

Torres Vedras destaca-se enquanto um concelho cada vez mais sustentável e assume um papel de destaque no quadro dos ‘Green Destinations’

As preocupações em torno do ambiente e da sustentabilidade têm vindo a ganhar cada vez mais importância na agenda dos municípios. A sustentabilidade e o turismo andam de “braço dado”, com as preocupações ambientais a pesarem cada vez mais na hora da escolha do destino de férias de turistas de todo o mundo. Em Portugal, Torres Vedras destaca-se enquanto um concelho cada vez mais sustentável e assume um papel de destaque no quadro dos ‘Green Destinations’.
Foi no início de março que o município foi distinguido com o 1º lugar na categoria ‘Best of Cities, Communities & Culture’ no âmbito da ITB Berlin, uma das mais importantes feiras de viagem a nível internacional. A distinção, que também integrou a região Oeste de Portugal, foi atribuída na capital alemã numa cerimónia onde os destinos turísticos mais sustentáveis do mundo foram os protagonistas.
A ‘Green Destinations’ organização sem fins lucrativos, tem como finalidade a promoção do turismo sustentável, com preocupações que abrangem valores transversais às restantes esferas da sociedade que regem a ação dos territórios que a integram. É nesse sentido que Torres Vedras também teve de cumprir vários critérios de modo a obter a classificação de ‘Green Destination’, como a promoção de emprego ligado à economia verde, o uso de recursos locais e a promoção e utilização de produtos locais.

Sustentabilidade além-fronteiras

Carlos Bernardes, presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, assume o cargo de presidente da comunidade de Embaixadores Europeus da ‘Green Destinations’, transportando para a agenda do concelho aqueles que são os valores fundamentais daquela plataforma, como o apoio à cultura e à tradição local, a luta contra a violação dos direitos humanos e a promoção de condições para a acessibilidade e mobilidade de todos os cidadãos, a garantia da saúde pública, da segurança e da boa gestão ambiental e a proteção de paisagens, habitats e vida selvagem.
Torres Vedras ergue, desta forma, a bandeira da sustentabilidade, tendo recebido o Encontro Europeu de Embaixadores ‘Green Destinations’. O Encontro, que decorreu em março do ano passado, levou ao concelho os representantes de uma comunidade exclusiva de profissionais comprometidos com o bem-estar dos destinos e o desenvolvimento do turismo responsável. Sublinhe-se que a reunião decorreu no âmbito do Greenfest, o maior evento de sustentabilidade realizado em Portugal, onde se partilham testemunhos sobre o que se faz no âmbito da sustentabilidade nas mais variadas vertentes.
Se os fatores económico, social e ambiental se apresentam, geralmente, como os pilares da sustentabilidade, o certo é que o presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras não descura a importância do modelo de governança para uma efetiva política de sustentabilidade. Neste sentido, sublinhe-se a existência de documentos como o primeiro Relatório de Sustentabilidade do Município, publicado em 2016, e o Plano Estratégico de Turismo Sustentável para o Concelho de Torres Vedras.

Terra de vinho, mar e história

Com mais de 7 mil hectares de vinha, a produção vinícola no concelho de Torres Vedras remonta, pelo menos, ao tempo da colonização romana e conhece, aos dias de hoje, reconhecimento internacional. Afinal, os concelhos de Torres Vedras e Alenquer são “Cidade Europeia do Vinho 2018”, distinção atribuída pela Rede Europeia das Cidades do Vinho – RECEVIN.
A distinção conta com um programa de mais de 80 atividades dedicadas à vinha e ao vinho na região que, além de levarem a população a conhecer o património de quintas e adegas, também se dedicam à cultura, ao desporto e à ciência.
Mas nem só de vinha se faz o concelho, que conta com 20 km de costa banhada pelo Atlântico e com 11 praias com Bandeira Azul (2017). Uma costa que conquistou o galardão ‘Quality Coast’, que comprova que toda a área costeira concelhia apresenta um desempenho sustentável excelente, sendo uma referência no domínio do turismo sustentável. O concelho de Torres Vedras foi mesmo um dos primeiros territórios nacionais a exibir este galardão de abrangência europeia, hasteando a bandeira desde 2009.
Também a Área de Paisagem Protegida Local das Serras do Socorro e da Archeira mereceu a certificação internacional para o turismo sustentável de natureza em zonas costeiras da ‘Quality Coast’. Os 1223 hectares que compõem aquela Área distribuem-se por três freguesias e contam com uma diversidade de espécies que vai de pequenos mamíferos a borboletas e aves. Este é um local onde a natureza, a história, a cultura e a paisagem são elementos de valor patrimonial reconhecidos pelo galardão.
Ao território de extensas vinhas, com uma costa Atlântica tão vasta e uma natureza protegida, alia-se a importância história. Com o objetivo de travar a terceira invasão Napoleónica, o General Wellington mandou construir as Linhas de Torres Vedras em 1809. O sistema defensivo visava proteger a capital, contando, para isso, com três linhas que se compunham de 152 obras militares e 600 peças de artilharia. As Linhas de Torres Vedras foram defendidas por 36.000 portugueses, 35.000 britânicos, 8.000 espanhóis e cerca de 60.000 homens de tropas portuguesas não-regulares, ao longo de mais de 88 km.

Do papel para o dia-a-dia

Se as grandes linhas orientadoras que pautam o trabalho pela sustentabilidade podiam ficar no papel, a verdade é que o Município passou de uma certificação básica da Green Destinations, em 2009, para a conquista da platina, em 2016. Um reconhecimento do trabalho que tem vindo a ser feito e que se complementa com a ação contínua de promoção e desenvolvimento da consciência ambiental da população através de polos como o Centro de Educação Ambiental.
O trabalho em busca da sustentabilidade nas suas mais variadas formas conheceu mais um dos seus frutos este mês, com o Município a subir para o 21º lugar no ranking nacional de atratividade, subindo duas posições relativamente ao ano passado. Ainda no âmbito do ‘Portugal City Brand Ranking’, que avalia a atratividade dos concelhos portugueses para viver, visitar ou investir, Torres Vedras subiu 6 posições no ‘Ranking Nacional de Visitar’ – passando para o 30º lugar da lista dos municípios com melhor desempenho nesta dimensão -, a que se junta o 18º lugar na dimensão “Viver” e o 23º na dimensão “Negócios”. Um território carregado de história, que planeia o futuro nas medidas que toma no presente: é assim que Torres Vedras faz da sustentabilidade uma realidade.

28 de março de 2018

quinta-feira, 29 de março de 2018

Paróquias LGBT friendly em Lisboa

Igrejas em Lisboa que acolhem católicos homossexuais

Há uns dias uma leitora e amiga do blogue moradasdedeus perguntava se não se devia criar uma espécie de roteiro, onde católicos LGBT pudessem descobrir paróquias onde se sentissem bem acolhidos, para irem à missa regularmente ou para celebrar o tríduo Pascal. Acolhi a sugestão e sugiro algumas igrejas em Lisboa onde sei que, enquanto cristãos e católicos de condição homossexual, não se sentirão postos de lado nem irão ouvir palavras ou homílias que vos façam sentir excluídos. 

É certo que cada comunidade acolhe uma variedade de sensibilidades e de pessoas que diferem entre si, mas a escolha reside na abertura e sensibilidade dos priores e celebrantes. Este post conta com a contribuição dos nossos leitores que, através de comentários,  poderão sugerir outras comunidades nas quais também se sintam bem recebidos e integrados.

Seria bom que leitores de outras partes do país, e com experiências positivas de acolhimento, pudessem também partilhar sobre essas comunidades.

Aqui segue uma lista de algumas comunidades que sabem acolher a diversidade:
  • Capela do Rato
  • Colégio de São João de Brito, Lumiar (Jesuítas)
  • Convento de São Domingos, Alto dos Moinhos (Dominicanos)
  • Igreja de Santa Isabel
  • Igreja de São Tomás de Aquino, Laranjeiras
  • Mosteiro de Santa Maria, Lumiar (Dominicanas)



Quero dar sepultura a Jesus

Da paixão segundo São Mateus composta por J. S. Bach, a ária de Baixo, que nos faz refletir sobre a personagem de José de Arimateia, que pede o corpo de Jesus a Pilatos a fim de o sepultar. Canta o seguinte: "Purifica-te meu coração, quero dar sepultura a Jesus. Porque doravante, e para sempre, poderá em mim repousar. Mundo, sai, deixa que Jesus entre em mim.

Sexta-feira Santa

A dor como mestra

«O homem é um aprendiz, a dor o seu mestre:/ ninguém se conhece a si próprio até que sofra.» Dia de dor, a Sexta-feira Santa parece reassumir em si todo o sofrimento do mundo.

O Cristo crucificado é o emblema de um tormento universal que faz olhar para Ele crentes e ateus, como dizia o escritor italiano Alfredo Oriani (1852-1909): «Crentes ou incrédulos, ninguém sabe subtrair-se ao encanto dessa figura, nenhuma dor renunciou sinceramente ao fascínio da sua promessa».

Voltemo-nos, também nós, para essa realidade que tememos e da qual procuramos evadir-nos. Na verdade, a dor não é só maldição, e é isso que nos recorda o poeta romântico francês Alfred de Musset (1810-1857) na sua poesia "A noite d'outubro", composta precisamente quanto estava doente e provado pelos excessos de uma vida atormentada.

A dor é uma espécie de mestre que nos purifica da banalidade, da estupidez, da superficialidade, reenviando-nos para a interioridade, para as realidades que verdadeiramente contam, para a consciência, para o sentido da vida.

Esopo, o célebre contador de fábulas grego, cunhou um jogo de palavras, "pathèmata-mathèmata", «os sofrimentos são ensinamentos». Reencontremos, então, a capacidade de atravessar o território tenebroso da provação não com o desespero no coração, mas com a expetativa de uma aurora.

Também Cristo, apesar de gritar a sua extrema desolação («meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»), no fim aplaca-se na confiança: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito». Será ainda o mesmo Musset a escrever: «Nada nos torna tão grandes como uma grande dor».

P. (Card.) Gianfranco Ravasi In Avvenire
Tradução SNPC

quarta-feira, 28 de março de 2018

Arte na favela

Um belíssimo projecto feito numa favela em São Paulo, Brasil, onde a arte serve toda uma comunidade

Vê o vídeo Luz nas Vielas

Prece de Vitorino Nemésio, com ecos da Paixão

PRECE

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.

Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco de teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.

Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é beberei. Não faças caso.

Vitorino Nemésio 

segunda-feira, 26 de março de 2018

Homenagem a Pina Bausch em imagens


Pina Bausch: a imperfeição do amor

PINA BAUSCH (1940-2009): o método e o amor

Viktor. 1986

Em 1982, algum tempo antes de Dezembro, no estúdio de Wuppertal onde concebia as suas obras, é certo que Pina Bausch se sentou com os seus colaboradores e bailarinos e lhes perguntou: digam ou façam ”qualquer coisa sobre o primeiro amor”; “como imaginavam o amor quando eram crianças?”; “duas frases sobre o amor”; “como imaginam o amor?”; “se alguém vos quer obrigar a fazer amor, como reagem?”; destas questões saíram os gestos, movimentos, cenas, situações, narrativas ou micronarrativas de Nelken, como de muitas outras questões nasceram muitas outras obras.
Trata-se, ou tratava-se, como se sabe, do método de trabalho criativo coreográfico de Pina Bausch. Para cada obra, tinha a autora um sortido de palavras, palavras soltas, que depois se combinavam em expressões, questões, frases – por exemplo, se se partia da palavra “ternura”, podia-se ir parar à necessidade de “seres terno contigo mesmo”, e daí para uma sucessão de ocorrências que geravam uma obra de teatro ou de dança ou de teatro-dança.

Todas as obras de Pina Bausch assim começavam: na relação entre questões e improvisação, das questões e a partir das questões, era necessário fazer dezenas, centenas, milhares (como a autora referia) de perguntas aos bailarinos, era, consequentemente, necessário em absoluto ficar suspenso naquele impressivo fio da navalha e naquela angústia de estar “dependente” dos outros para fazer nascer a obra própria, os movimentos despegados da coesão clássica do próprio movimento (e da sua narratividade), chegar à história para aportar ao fragmento. Ora, a angústia resultava do facto de, “por vezes, não sair nada”. Inevitavelmente.

Nunca é pois demais sublinhar que em Bausch a palavra antecedia o movimento, a conversa, o diálogo, aquela estranha comunhão autoral colectiva (sim, porque não?), antecedia a decisão autoral individual que aproximava, quando aproximava, a obra daquilo que ainda, apesar de tudo se chamava “Dança” (e note-se que todos os seus bailarinos tinham – têm – rigorosa formação clássica). Este método é interessantíssimo no actual contexto da produção e da valorização, digamos, capitalista, pois daqui não só poderia sair “nada” (uma “improdução” absoluta e estética), como, a sair, saía muito lentamente, Bausch falava sempre do tempo largo que necessitava para criar (juntamente com os “seus”). Temos, portanto, primeiro o nada, depois o fragmento, depois a pergunta, a resposta, a frase e a arte de uma cerzideira de restos ou “totalidades” que embatiam noutras “totalidades” sem formar UMA “totalidade”.

É extremamente interessante também ler relatos de alguns bailarinos(as) de formação clássica que precisavam de trabalhar o corpo em exercícios regulares técnicos e, em vez disso, tinham de se sujeitar a estes jogos de perguntas/respostas ou, acima de tudo, creio-o bem, sessões de contenção corporal, de, como diria Alain Badiou noutro contexto, gestos de “negação da obediência imediata a impulsos”. A dança era uma espécie de negação de si mesma, isto se entendêssemos a dança como a arte de “obedecer ao impulso”, que aqui era banida, pois tratava-se antes de “guardar”, “esperar”, habitar o tempo sem limite de tempo (se fosse caso disso).

Maurice Nadeau, em 1958, falava do surrealismo como de um cruzamento entre o maravilhoso, o inconsciente, o sonho e a loucura, e os estados alucinatórios. Será este o contexto da obra de Pina Bausch? Muitos ligam-na ao surrealismo, outros ao dadaísmo, outros a ambos (o Routledge Companion to Theatre and Performance), recordando não apenas o contexto da dança expressionista, mas também autores como Alfred Jarry ou Artaud.

Quanto a mim, recordo-me de me ter “zangado” com este universo ao ver, pela primeira vez (depois de ter visto várias peças), a obra Viktor, realizada a partir de uma estadia em Roma (que inauguraria uma série de obras que resultavam das famosas relações entre a companhia de Bausch e cidades em particular, por onde passaria também Lisboa, na obra Mazurca Fogo). Porque vi ali um registo de pessimismo e de incomunicabilidade que se me afigurava demasiado insistente. Mas, pouco depois, li correctamente tudo ao contrário, e, em Café Müller, de 1978, tornara-se claro que um dos temas da autora era o amor. Neste lúgubre café há um inesquecível “encontro” entre o bailarino eleito de Bausch, Dominique Mercy, e uma mulher: ela sobe para o colo de Mercy, abraça-o, ele aparentemente nada faz (apesar de ser “ensinado” por um terceiro) e ela cai ao chão – tudo se repete infinitas vezes. Pode não parecer, mas Mercy é o paradigma ou símbolo do amor, nesta situação aflitiva. Porque o amor não é um contrato fechado, completo e pelo menos desde S. Paulo sabemos que só o ser incompleto pode amar. Mercy, assim, nunca se “completa” com a mulher que se lança infindas vezes aos seus braços – por isso, o infinito pode repetir-se até ao infinito. É este o retrato da infinitude e da imperfeição do amor.

Casais gays e monogamia

A nova geração gay é monogâmica e quer casar-se

Um estudo interessante afirma que cerca de 92% dos homens gays jovens quer vir a casar-se e cerca de 90% deles procura encontrar um parceiro monogâmico.

Ainda que exista a crença falsa e generalizada de que os homens gays somente desfrutam permanecendo solteiros e avidamente consumindo as aplicações de namoro - e que o poliamor e as relações abertas são o futuro que desejam -, nada mais longe da realidade: a monogamia continua a triunfar.

Recentemente investigou-se as novas tendências das relações dos jovens gays entre os 18 e os 39 anos de idade por parte de Lanz Lowen e Blake Spears, dois investigadores da Universidade de São Francisco. Inquiriu-se um elevado número de homens, dos quais cerca de 42% eram solteiros e os outros 58% estavam numa relação. Neste estudo, no qual participaram 832 homens gays, chegou-se ao resultado assombroso de que cerca de 92% deles queria casar-se algum dia e que cerca de 90% dos mesmos somente procurava relações monogâmicas.

Ainda que estudos anteriores tenham constatado que dois terços dos casais que continuam juntos por mais do que cinco anos se envolvem em relações abertas, este estudo faz luz sobre o que a maioria dos jovens gays preferem: a monogamia.

O estudo chega à mesma conclusão de que as relações entre homens, tanto monogâmicas como não monogâmicas, parecem estar mais saudáveis do que nunca, já que a maioria dos homens gays que vivem em casal (cerca de 90%) vê a sua relação como sã e estável; estão felizes e satisfeitos com ela e afirmam que provavelmente continuarão durante, pelo menos, mais cinco anos com os seus companheiros atuais.

Artigo original em espanhol in Shangai.com

Balanço de 5 anos de pontificado do papa Francisco

“A grande revolução foi a resignação de Bento XVI; foi como um choque elétrico”

O académico do Vaticano Sergio Tapia-Velasco afirma que a Igreja precisava de um Papa como Francisco "para reagir" à verdadeira revolução que foi a resignação de Bento XVI. Foi há 5 anos.

Um mês foi quanto durou uma das maiores reviravoltas da história recente da Igreja Católica. A 11 de fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI anunciava a inédita decisão de abdicar do pontificado (o último Papa a resignar havia sido Gregório XII, em 1415); a 13 de março, o mundo via assomar à varanda na praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco, um aparente oposto do seu antecessor. Completam-se esta terça-feira cinco anos desde que foi eleito o primeiro Papa jesuíta, que surpreendeu o mundo desde o primeiro dia com gestos de simplicidade: o seu primeiro ato foi deslocar-se pessoalmente à residência onde tinha dormido durante o Conclave que o elegeu, para pagar a conta.

Para o padre e professor mexicano Sergio Tapia-Velasco, professor de comunicação da Pontifícia Universidade de Santa Cruz, em Roma, aquele mês foi o início de uma revolução na Igreja Católica. Numa entrevista ao Observador em Lisboa, em que fez um balanço dos cinco anos do papa Francisco, o académico do Vaticano e comentador de assuntos relacionados com a Igreja em meios de comunicação social internacionais como a CNN ou a RAI explica que a resignação de Bento XVI foi “a grande revolução”, comparando o momento a um “choque elétrico” que transformou radicalmente uma Igreja a precisar de ser agitada e de mudar. Francisco, explica o sacerdote, foi o “fisioterapeuta” que veio colocar a Igreja em movimento novamente depois desse choque.

O que mudou na Igreja nestes cinco anos?A primeira revolução nos últimos cinco anos foi a resignação do Papa Bento XVI. De facto, ninguém esperava que um Papa resignasse. Não houve uma resignação de um Papa durante mais de 400 anos, e quando o Papa Bento XVI resignou foi um choque para todos nós, especialmente para nós, que vivíamos em Roma. Não estávamos mesmo à espera.

A Igreja não estava preparada para a resignação de um Papa?Penso que a Igreja estava preparada. Agora, passados cinco anos, quando olhamos para trás e analisamos o último ano do Papa Bento XVI, podemos encontrar diferentes gestos, ou diferentes sinais, que nos fazem pensar que, de facto, o Papa estava a preparar tudo. Mesmo que não estivéssemos a reparar.

Por exemplo?Tanto quanto sabemos, o Papa Bento XVI tomou a decisão de resignar no dia em que caiu, na viagem ao México, em 2012, e percebeu que no ano seguinte teria de enfrentar uma nova viagem à América, para as Jornadas Mundiais da Juventude, no Rio de Janeiro. Ele pensou: “Se caí aqui e magoei a cabeça, o que irá acontecer no próximo ano?” Ele já sentia as pernas muito fracas, e hoje vemos que é verdade, ele está muito fraco.

Outro sinal foi que na viagem de regresso a Roma, depois da visita ao México, ele decidiu dar imediatamente início ao restauro do mosteiro onde vive hoje. Ainda demorou seis meses a fazer os preparativos da casa, mas já estava a pensar em mudar-se para lá. Depois, quando começamos a ler os últimos discursos, a partir de julho de 2012, começamos a ver que ele fazia várias referências que indicavam que estava de saída, que a Igreja está nas mãos de Deus. Como que a preparar as pessoas para a decisão que ele estava a tomar.
E é por isso que no dia em que se marcam os cinco anos do papado de Francisco, a primeira parte desta entrevista é exactamente sobre o homem que o antecedeu.

Mas posso dizer que, de facto, ninguém estava à espera. Até podemos lembrar quando ele visitou Áquila, quando houve lá um grande terramoto. Um dos edifícios que ruiu foi a catedral da cidade, onde estava sepultado São Celestino. O papa Bento XVI, nesse dia, deixou a sua estola no túmulo de São Celestino. Hoje, associamos o gesto, porque Celestino foi um dos papas que resignaram. Ou seja, há pequenos sinais, para os quais não temos uma leitura formal, mas que nos podem indicar isso.

Há quem diga que ele já estava a pensar nisso desde a eleição. Se lermos a entrevista que ele deu a Peter Seewald, The Light of the World, o Papa Bento XVI responde explicitamente que ele tinha estado a pensar em resignar.

Como avalia o papado de Bento XVI, a uma distância de cinco anos?Bom, obviamente eu sou um crente. Sou um padre, sou verdadeiramente convicto de que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo. Acredito que Deus inspirou o Papa Bento XVI a resignar e inspirou os cardeais a eleger o Papa Francisco. Nunca duvidei disso. A resignação foi um ato providencial. Deus previu-o e usou-o para agitar a Igreja e para nos fazer mudar, para nos fazer refletir na necessidade de mudarmos.

A verdade é que o Papa Bento XVI foi muito criticado pelos seus pontos de vista mais tradicionais. Mas, ao mesmo tempo, muitos teólogos consideram o seu trabalho um dos contributos mais importantes para a evolução da teologia nas últimas décadas.Penso que, na maioria das vezes, as críticas são preconceitos com origem na má informação sobre alguém. Quando entramos em contacto com a pessoa, a maioria dos nossos preconceitos desfazem-se. O que aconteceu com o Papa Bento XVI? Ele é provavelmente o melhor teólogo do século XX. A Igreja teve grandes teólogos no último século, certamente, mas quando pensamos, por exemplo, no diálogo entre Joseph Ratzinger e Jürgen Habermas e vemos duas grandes mentes a debaterem sobre todos os assuntos, é como assistir a dois grandes fogos de artifício. É surpreendente. O que aconteceu foi que, devido ao trabalho que tinha enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, foi rotulado com o cliché de “grande inquisidor”.

Estereótipos, na maioria das vezes?Sim, penso que foram sobretudo estereótipos. Na verdade, qualquer pessoa — e posso garantir isto — que tenha conhecido diretamente o papa Bento XVI derretia imediatamente. Ele é uma pessoa muito gentil. Não apenas gentil, mas também com uma forma de falar que é verdadeiramente convincente. Eu sou professor de retórica e fazemos muita investigação sobre a retórica do papa Bento XVI. Certamente, também o faremos no caso do papa Francisco, mas no caso do papa Bento XVI conseguimos ver uma forma de pensar muito profunda.

Nós hoje temos acesso à Internet com facilidade, por isso, sugiro a qualquer pessoa que ainda tenha preconceitos sobre o papa Bento XVI que vá ouvir a gravação original da última audiência geral, na última quarta-feira antes do dia 28 de fevereiro de 2013, quando ele deixou o governo da Igreja. É um discurso adorável e mostra bem como ele se sentia e como ele pensava.

Nas ‘Conversas Finais’, quando o jornalista Peter Seewald pergunta ao Papa Bento XVI como é que ele olhava para as críticas que lhe dirigiam sobre a abertura da Igreja a outras religiões e culturas, dá alguns exemplos interessantes: tinha sido o próprio Bento XVI a nomear um protestante para o Conselho Pontifício para a Ciência, a colocar um professor muçulmano na Pontifícia Universidade Gregoriana, a abrir a tradição católica aos anglicanos, e por aí fora. Na sua opinião, as críticas eram injustas?Hoje, ao fim de cinco anos, acho que muita gente foi injusta para Bento XVI. Vivo em Roma há 24 anos. Estive lá com João Paulo II, com Bento XVI e com Francisco, e acredito genuinamente que os três foram dons do Espírito Santo. Mas quando penso em Bento XVI, sinto uma simpatia particular por causa disso. Ele foi maltratado por muita gente, sem perceberem o peso que tinha aos ombros e a luz que ele espalhou pela Igreja, naquela dia e no futuro.

Muitas pessoas criticaram-no, por exemplo, apenas por ser simpático, por não gritar. Diziam que ele não governava a Igreja. Mas se olharmos para os números e tentarmos perceber, por exemplo, quantos bispos ele obrigou a resignar durante os oito anos do seu pontificado, foram cerca de 80 bispos. Isso significa pedir a um bispo que resigne, por razões graves, quase todos os meses. Se isso não é governar, então o que é governar?

Um dos principais problemas que emergiram durante o pontificado de Bento XVI foi o escândalo dos abusos sexuais. Ele lidou bem com esse escândalo?Novamente, acho que ele foi providencial. Se hoje temos este programa de tolerância zero para com os abusos sexuais, é devido ao Papa Bento XVI.

Porquê?É um processo longo. Ainda no tempo do papa João Paulo II, quando o cardeal Ratzinger estava à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, era ele quem estava encarregado dos julgamentos deste tipo de crimes. Só para dar um exemplo, foi Bento XVI quem exigiu que se fosse até ao fim no caso do padre Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, [que em 2006 foi obrigado por Bento XVI a renunciar ao ministério por ter cometido abusos sexuais contra jovens seminaristas durante as décadas de 50 e 60].

Mas não foi apenas esse caso. Como estava a dizer há pouco, durante a sua governação, o papa Bento XVI não apenas seguiu os casos de abusos como também expulsou da liderança da Igreja 80 bispos, que ele pensou que não estavam a governar de forma justa ou que estavam a obstruir.

Muitas críticas vieram precisamente de bispos e cardeais. Recordo, por exemplo, quando ele escreveu a carta aos católicos da Irlanda, no início do escândalo da pedofilia, a defender que estes casos deviam ser entregues às autoridades civis. Na altura houve bispos a defender que os casos não deviam ser expostos dessa forma.Houve muitas críticas dentro da Igreja. Enquanto crente, defendo sempre que a Igreja é uma instituição sobrenatural, na medida em que é de Deus e existe para nos guiar para a salvação, mas ao mesmo tempo a Igreja é uma sociedade humana, e sempre houve conflito entre as duas dimensões. Lembro-me de um antigo professor de Filosofia que eu adorava, o Leonardo Polo. Na sua introdução à filosofia, ele começava por referir que o livro se chama “Quem é Homem?” para responder: “O Homem é o animal que problematiza”. Essa é a sua categoria de entender o Homem. Quando um leão tem um problema com outro leão, mata-o. Não está pronto para argumentar. Pelo contrário, nós argumentamos, e num certo sentido é bom que muita dessa discussão venha do interior da Igreja, porque isso faz a Igreja crescer.

Como estava a dizer antes, acho que muita gente foi injusta para Bento XVI. Mesmo alguns bispos foram injustos. Por exemplo, quando o papa Bento XVI levantou a excomunhão de quatro bispos que foram ordenados à revelia da Santa Sé pela Fraternidade São Pio X, do arcebispo Marcel Lefebvre, houve um enorme escândalo, porque um dos bispos, Richard Williamson, era negacionista do Holocausto. [Os bispos ordenados naquela fraternidade tradicionalista entram automaticamente em excomunhão com a Igreja Católica, porque a fraternidade não é reconhecida canonicamente pelo Vaticano. A fraternidade defende que a Igreja devia tornar a ser como era antes do Concílio Vaticano II, sendo a favor, por exemplo, das missas em latim de costas para o povo.]

Houve vários grandes escândalos que se criaram à volta dele. Como é que é possível que ninguém o tenha avisado de aquilo podia acontecer? Vemos que, em alguns casos, as pessoas não estavam a remar na mesma direção, e isso causou sofrimento na Igreja.

As críticas contra o Papa Bento XVI contribuíram para a decisão de resignar?Certamente, tiveram um peso, porque todos somos humanos e quando sentimos o peso das tarefas difíceis que nos pedem, podemos pensar que não somos a pessoa indicada ou que aquilo é demasiado difícil. Estou certo de que estes pensamentos passaram pela cabeça dele. Mas, ao mesmo tempo, acredito que ele disse a verdade quando disse que tomou a decisão porque sentiu que não tinha a força física para continuar e que provavelmente um homem mais novo podia fazê-lo melhor. É um grande exemplo de humildade e um grande exemplo de fé dizer: “Eu não sou indispensável”. De facto, depois da resignação, pelo menos na Itália, muita gente disse que aquele era um bom exemplo para alguns políticos (risos).

Há um conjunto de decisões do papa Bento XVI que deram origem a polémicas. Já nos últimos dias do pontificado, em resposta ao escândalo do primeiro Vatileaks, sobre os problemas na gestão financeira da Santa Sé, Bento XVI nomeou o alemão Ernst von Freyberg para presidente do banco do Vaticano. Mais tarde veio a descobrir-se que era alguém ligado à indústria militar. Terá sido mau timing?Penso que muitos dos problemas que apareceram no Vaticano, nomeadamente nesta área, estão muito relacionados com a maneira italiana de fazer as coisas. Eu adoro a Itália, mas ao mesmo tempo vejo que em alguns casos as coisas não são completamente claras. Talvez não tenha sido o melhor timing, nessa e noutras decisões. Mas aquilo de que tenho completamente a certeza é que o primeiro Vatileaks — tal como o segundo, que já afetou o papa Francisco –, quando aconteceu, mesmo tendo produzido dor, também produziu uma reação. Fez-nos pensar sobre como podemos fazer as coisas melhor. Sempre que somos feridos, sempre que um cão nos morde, todos aprendemos, crescemos em experiência, e pensamos no que podemos fazer para não tornar a falhar.

Penso que o processo de reforma económica que foi iniciado pelo papa Bento XVI — foi ele que começou tudo, depois o papa Francisco continuou, com a secretaria para a Economia — é um dom para a Igreja. Não é perfeito, porque somos humanos e temos falhas, mas penso que é um bom processo. Hoje, vemos que o Banco do Vaticano já não está na lista negra, mas já passou para a lista branca dos bancos europeus, e está a seguir todas as normas para evitar o branqueamento de capitais e a lavagem de dinheiro. Aliás, é esse o nome oficial: Instituto para as Obras Religiosas. Quando se diz que é um banco, atenção, não é um banco. É um instituto para ajuda económica. Imagine a Igreja na China. Não se pode mandar dinheiro para lá de forma normal através de um banco, porque provavelmente não o iriam receber. Precisamos de encontrar canais para ajudar os cristãos que precisam. Seguindo a lei, claro, mas encontrar uma forma de ajudar as pessoas.
Para o papa Francisco, “a Igreja não é uma alfândega, não coloca barreiras à entrada”

Isto leva-nos a março de 2013, à eleição do papa Francisco. Nos primeiros tempos, falava-se muito dos pequenos gestos: a recusa do apartamento papal, os telefonemas de surpresa… O Papa estava a mandar uma mensagem sobre o que viria a ser o seu pontificado?Sim e não. Muito do encantamento das pessoas pelo papa Francisco foi por ele ser transparente, autêntico. Todos nos lembramos das primeiras fotografias que vimos dele, quando ele era bispo na Argentina e viajava de metro. Depois vimo-lo, já após ser eleito Papa, a ir pagar a residência onde tinha ficado quando foi a Roma para o conclave, ou quando disse que não podia mudar de sapatos porque tem uma perna maior do que a outra e precisa dos seus sapatos ortopédicos…

Quebrava o protocolo…Acho que ele não mudou a sua forma de ser, a sua humanidade. Isso é fascinante. Ele é um homem que é completamente coerente com a sua forma de ser e de estar. Talvez não estivesse intencionalmente a querer mandar uma mensagem, mas certamente que o Espírito Santo ajudou a elegê-lo para nos mandar essa mensagem. Precisamos de pastores que não sejam príncipes, que estejam ao lado das pessoas, que preguem com palavras simples e normais que todos possamos entender, mas que ao mesmo tempo sejam profundos, que nos façam pensar e rezar, e até que nos façam sofrer. Porque muitas vezes o papa Francisco dá uns murros. Atinge-nos para nos provocar reações, para nos fazer crescer na nossa vida espiritual. Precisávamos de um Papa assim, para reagirmos.

Esta forma simples do papa Francisco criou uma onda de apoio generalizada, até vinda de fora da Igreja, que Bento XVI não tinha. Fala-se de uma abertura da Igreja, até em temas historicamente sensíveis como o divórcio ou a homossexualidade. Mas alguma coisa mudou concretamente na doutrina católica?Penso que para tentarmos entender o papa Francisco temos de entender Jorge Bergoglio. São o mesmo homem. Temos de perceber o que ele defendia antes de se tornar Papa. Da mesma forma que vemos que ele é coerente na vida quotidiana — antes andava de metro, hoje recusa um Mercedes –, vemos a mesma forma de pensar nas diferentes doutrinas que ele tem pregado.

Para mim, no início, há duas fontes principais que me ajudaram a entender o papa Francisco. Em primeiro lugar, há o documento de Aparecida, de 2007. Ele foi o redator principal, escolhido pela conferência dos bispos da América Latina, para escrever as conclusões da conferência, e vemos que o documento é como uma espécie de rascunho do que viria a ser a Evangelii Gaudium [primeira exortação apostólica do papa Francisco]. Se analisarmos os dois documentos, encontramos muitas coisas na Evangelii Gaudium que já apareciam no documento de Aparecida. Depois, há um outro livro muito interessante, que são os diálogos que ele teve, quando ainda era arcebispo de Buenos Aires, com o rabino Abraham Skorka. Chama-se “Sobre o Céu e a Terra” e era baseado num programa regular que ele tinha na rádio a conversar com este rabino. Aí, vemos que ele já dizia muita das coisas que diz hoje.

O que é que o papa Francisco propõe? De novo temos de entender o homem. Ele é um jesuíta, e os jesuítas têm sido, ao longo dos anos, diretores espirituais preocupados com a salvação pessoal de cada um, e não com toda a gente no geral. O dom do papa Francisco é que ele diz: “Não façam programas pastorais em massa. Vão alma a alma, e cada alma é importante”. E nesse sentido, o que ele nos diz é que, quando falamos com alguém que se divorciou ou alguém que é homossexual, não devemos ter nenhum preconceito. Cristo morreu por toda a gente.

Ou seja, ele está a tentar acabar com a ideia de que a Igreja exclui algumas pessoas?Sim, esse é um dos objetivos dele. Ele repete constantemente que a Igreja não é uma alfândega, não coloca barreiras à entrada. Para ele, a Igreja é um barco que traz a salvação a quem se está a afogar no mar. É essa a imagem da Igreja, um barco salvador que atira bóias para salvar as pessoas. Eu pelo menos, na minha experiência pastoral enquanto padre e não apenas como professor em Roma, recebi muito dele e agradeço a Deus porque ele mudou a minha forma de pensar. Ele diz: “Não podem estar só preocupados com doutrinas gerais ou grandes filosofias. Não. Tomem conta da pessoa que têm em frente a vocês”.

Mas ele não mudou a doutrina base da Igreja sobre esses assuntos.Não, não a mudou.

E não o vai fazer?Não. Penso que devemos analisar e interpretar o que o papa Francisco diz pelas suas palavras originais. Quando lemos a Evangelii Gaudium, quando lemos a Amoris Laetitia, ou quando lemos qualquer discurso do papa Francisco, o que descobrimos é um pastor muito exigente, que diz que não quer mudar a doutrina. Ele diz isso de forma explícita na Amoris Laetitia, por exemplo. O que ele quer é uma conversão pastoral da Igreja. O que ele quer é que nós, sacerdotes, não façamos juízos de valor, porque somos ministros de Cristo e temos de ajudar as pessoas a entrarem em contacto com as feridas de Cristo e a encontrarem a salvação. Penso que esse é um grande dom e toda a gente se devia sentir tocada por ele.

Começou por dizer, no início da entrevista que a mudança do papa Bento XVI para o papa Francisco foi uma grande revolução. Em que sentido, então?Penso que a grande revolução foi a resignação do papa Bento XVI. Isso foi como um choque elétrico.

Mas esse foi um sinal de que a Igreja precisava de uma mudança?Penso que o Concílio Vaticano II já tinha notado que precisávamos de entrar mais em diálogo com o mundo moderno. Eu sempre sugeri às pessoas que lessem a convocatória do Concílio, escrita por João XXIII, a dizer porque é que ele queria um concílio, e depois que lessem a Lumen Gentium ou a Gaudium et spes, e vissem que de facto a Igreja mudou. Aquele foi um grande momento.

Agora, cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II e vejo que os quatro papas — tivemos cinco, se contarmos com João Paulo I –, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco, são diferentes encarnações do espírito do Concílio Vaticano II. Cada um deles, com a sua própria humanidade, ajudou-nos a crescer. Paulo VI era um ótimo sociólogo, muito preocupado com a dimensão económica e social da sociedade, e escreveu tantos documentos sobre o caminho do pensamento da Igreja moderna. Depois, João Paulo II era um grande filósofo, e todos crescemos no sentido antropológico durante o seu pontificado. Já Bento XVI foi um grande teólogo, e todos nós crescemos na dimensão da liturgia e da teologia dogmática por causa do seu dom. Hoje, temos o papa Francisco e vejo novamente que ele é um dom do Concílio Vaticano II. Pensamos: “É muito bom ser um sociólogo, é muito bom ser um filósofo, é muito bom ser um teólogo. Mas temos de voltar os nossos olhos para aqueles que temos junto a nós”.

Para mim, a revolução começou com a resignação. O que o papa Francisco está a fazer é, depois de a resignação ter agitado a Igreja como um choque elétrico, é preciso ajudar toda a gente a recomeçar a mexer novamente. O papa Francisco é como um fisioterapeuta que está a ajudar alguém que tem estado muito quieto a mexer-se novamente.

Devido àquilo a que se está a referir, a essa diferença entre Francisco e os seus antecessores, o Vaticano enfrenta uma onda de críticas internas, que se opõe ao apoio que vem de fora. Uma divisão que talvez possamos simplificar em tradicionalistas contra o Papa versus progressistas a favor do Papa. Que impacto é que esta divisão tem na Igreja de hoje?Faz-me sofrer. Todos os dias, quando celebramos a missa, há diferentes momentos em que rezamos pela unidade da Igreja. Quando pensamos no último discurso de Jesus na última ceia, uma das principais ideias foi a oração de Jesus, virado para Deus, pedindo-lhe: “Pai, faz com que eles sejam um”. Provavelmente, Jesus já estava a prever este perigo de desagregação constante. Volto ao que estava a dizer: nós problematizamos tudo, somos humanos, discutimos, temos pontos de vista diferentes. É o típico caso do copo de água que pode estar meio cheio ou meio vazio. Há formas diferentes de entender um problema, mas a ideia central é que estas divisões me fazem sofrer.

Por outro lado, não classificaria todos os que criticam Francisco como tradicionalistas, porque quando pensamos em pessoas como os Lefebvrianos, a maioria deles têm a esperança de finalmente encontrar a união com a Igreja novamente. Lembro-me sempre de que tem sido o papa Francisco a fazer pressão para concretizar esse sonho do papa Bento XVI, de chegar à comunhão com eles. Ele está a destruir barreiras e dizer que se quer aproximar deles.

Há casos extremos de bispos a acusar o Papa de ser herege.Bom, não penso que haja um bispo que diga “o Papa é um herege”. Mas, de facto, há bispos, muitos bispos, que estão preocupados sobretudo com a confusão. Não porque estejam preocupados com a possibilidade de a doutrina mudar ou algo do género. Estão preocupados com ideias como quando o papa Francisco diz, na Amoris Laetitia, que precisamos de um caminho de discernimento. Há quem diga que isso abre as portas do Inferno (risos), que abre uma grande confusão. Afinal, o que é o discernimento? Qual é o protocolo? O que temos de fazer? A minha posição é que o que devemos fazer, se não queremos essa confusão, é investir na boa formação dos padres. Precisamos de diretores espirituais que ajudem as pessoas.

E a resposta do papa Francisco a estas críticas internas tem sido adequada?Para dar um exemplo: há uns meses, o papa Francisco visitou o novo dicastério para a família, os leigos e a vida e esteve com os trabalhadores desse novo departamento do Vaticano. Tenho vários amigos que trabalham lá e pelo menos dois deles disseram-me o mesmo. O Papa estava cansado de ouvir estas críticas e a única coisa que lhes disse foi: “Por favor, onde quer que vão, digam às pessoas que o capítulo importante é o capítulo IV, e não o capítulo VIII”.

Ele estava a referir-se à Amoris Laetitia, a dizer que o propósito daquele documento é ajudar as pessoas a viver melhor o seu matrimónio. O capítulo IV é, de facto, extremamente belo, é um comentário muito profundo sobre o casamento e é uma joia que ninguém teve em consideração. Temos estado constantemente a discutir em torno das situações irregulares ou o que quer que lhes queiramos chamar, em torno dos problemas, e provavelmente estamos a falhar a parte principal do documento, que é a alegria do amor.

Eu, pelo menos, tento apoiar o papa Francisco nessa ideia. Por favor, estou cansado de discutir sobre esse assunto. Aquilo de que preciso é ajudar os meus irmãos padres a terem uma boa formação que lhes permita serem bons diretores espirituais e ajudar as pessoas a discernir, a tomar as decisões corretas. O que quero é ajudar tantos jovens que não estão a casar a pensar novamente que o casamento é uma boa opção. É uma grande vocação. Infelizmente, em alguns círculos de discussão só estão a argumentar sobre situações hipotéticas que na verdade não acontecem.

Ou seja, o problema é a discussão estar a ser colocada num nível geral, abstrato, de proibição ou autorização.Exatamente. Para mim, o grande dom do papa Francisco é dizer para cuidarmos de cada pessoa que temos à nossa frente. Se me encontro com alguém que esteve casado e cujo casamento falhou, como é que eu posso ajudar essa pessoa a descobrir novamente a alegria de estar perto de Deus.

Uma das frases mais famosas dele é mesmo a tal “quem sou eu para julgar?”, referindo-se aos homossexuais.Sim, na primeira viagem, no regresso do Rio de Janeiro para Roma.

Porque é que a frase não foi muito bem recebida dentro da Igreja?Bom, em alguns círculos da Igreja não foi bem recebida. Novamente, eu digo às pessoas que leiam a resposta completa, que não se fiquem pela frase. Algumas pessoas, infelizmente até alguns lóbis, estão a criar esse estereótipo em torno do papa Francisco, como se ele não estivesse a governar porque aceita tudo sem discutir, e usam essa frase: “Então mas ele diz ‘quem sou eu para julgar’!”. Não é verdade. Novamente, se há alguém que está a governar a Igreja é o Papa. Ele tomou muitas decisões fortes. Ele julga! Dizer que é um relativista, que não julga, não é verdade.

Leiam a resposta completa. Ele nessa entrevista diz algo como: “Eu nunca recebi no Vaticano alguém com um cartão a dizer ‘eu pertenço ao lóbi gay’, mas se eu receber alguém que me diz que é homossexual, quem sou eu para julgar? Devo lembrar-me apenas do que o Catecismo da Igreja Católica diz e ajudá-lo a viver de acordo com essa proposta”. Ele não está a mudar a doutrina. Isso acontece com muitos padres. Se eu receber alguém em confissão que me diz algo, eu devo ouvir e tentar fazer o melhor para ajudar a pessoa.

Falou aí do lóbi gay. Existe no Vaticano?Bom (risos), tal como o papa Francisco disse, eu nunca estive com ninguém com um cartão a dizer que pertence ao lóbi gay. Acredito verdadeiramente que existe um lóbi gay internacional, mas isso seria uma outra grande entrevista só a discutir todas as dimensões em que se manifesta. O papa Francisco, em várias ocasiões, tem falado sobre a colonização ideológica que alguns grupos praticam no mundo moderno. Explicitamente, em alguns casos, ele faz denúncias fortes à ideologia do género, dizendo que não a pode aceitar. O problema, em muitos casos, é que as pessoas não estão a ler o que ele diz efetivamente. Temos acesso à Internet e é uma pena não lermos em primeira mão o que ele diz.

Para levar a cabo esta revolução, o papa Francisco tem chamado para cargos importantes várias pessoas, com o objetivo de, de alguma forma, purificar a instituição. Mas para o C9, o seu conselho consultivo mais próximo, chamou pelo menos três cardeais (George Pell, Óscar Maradiaga e Francisco Errázuris) que estão ligados à ocultação de casos de pedofilia, como notava o jornalista italiano Emiliano Fittipaldi. O cardeal Pell até teve de voltar à Austrália para ser julgado. Não acha que o Papa se pode estar a rodear das pessoas erradas?Antes de me tornar padre, trabalhei como advogado durante vários anos e trabalhei em casos relacionados com acusações a piratas mexicanos — lá, infelizmente, muitos negócios dependem da pirataria (risos). Mesmo assim, dentro dessa atmosfera complicada, sempre acreditei que toda a gente é inocente até ser provado o contrário. Acredito que esse princípio da lei é válido para toda a sociedade, incluindo para a Igreja. Há muitos casos. Por exemplo, mencionou o cardeal Pell. Admito que não conheço as outras duas acusações diretamente, mas quando olhamos para a vida do cardeal Pell e para a forma como ele tem enfrentado estes julgamentos, podemos ver que em muitos casos têm sido muito injustos. Não há provas, e infelizmente mesmo que os tribunais ainda não tenham chegado a uma decisão final, a imprensa já fez o julgamento. Assim que um padre ou um bispo tem alguma acusação, toda a gente lhe salta em cima. Talvez estejamos a esquecer-nos que, em teoria, toda a gente é inocente até ser provado o contrário.

Se me pergunta se esses são os melhores conselheiros para o papa Francisco, eu acho que o C9 é um excelente grupo. Cada um deles vem de diferentes perspetivas. Tento sempre lembrar quem se lembrou de criar aquele conselho de cardeais. Não foi o papa Francisco, foi o papa Bento XVI. É parte do seu legado, foi uma das coisas que ele sugeriu, e um dos assuntos que foram tratados nas congregações gerais antes da eleição foi que o Papa não deve governar sozinho, deve ter um conselho de cardeais que não trabalhem na Cúria e que o ajudem a ter uma visão mais alargada. Cada um deles vem de um país diferente, todos têm as suas experiências humanas próprias. Penso que são bons conselheiros. Se podíamos encontrar alguém melhor? Podemos sempre encontrar alguém melhor, claro. Não somos super-heróis, mas todos somos chamamos à perfeição. Por outro lado, quando uma pessoa chama alguém para seu conselheiro, chama os seus amigos, os que estão mais próximos, como é o caso do cardeal Maradiaga, ou então pessoas que foram sugeridos por outros, como o cardeal Pell. Até o cardeal Pell, nos anos que ele passou em Roma a tentar pôr em ordem a secretaria para a Economia, fez muito bem à economia da Igreja.

Já vimos que a doutrina não mudou, mudou a abordagem. O senhor é especialista em comunicação na Igreja. Podemos dizer que a mudança de Papa mudou a forma como a Igreja comunica com o mundo exterior?Há uma coisa interessante que eu digo muitas vezes às pessoas: vão ao site do Vaticano e façam download das homilias diárias do Papa na capela de Santa Marta. Podem ajudar muito na oração pessoal de cada um e podem ajudar os padres a preparar as suas próprias reflexões junto das comunidades. O papa Francisco trouxe esta proximidade com as pessoas. Diz-nos que não devemos fazer homilias abstratas e distantes, mas sim concretas e fáceis de perceber. Homilias para toda a gente. Fáceis de entender não significa não serem profundas, sublinho sempre isso. Significa apenas fáceis de entender. De novo, alguns preconceitos dizem que se comunicamos de forma simples somos maus comunicadores, mas é o oposto. Os melhores comunicadores são os que usam a linguagem mais simples e transmitem as melhores ideias.

Os padres e bispos estão a seguir esse exemplo?Devíamos seguir o exemplo (risos). Teria muito a dizer sobre isso. Esse é o meu trabalho, eu tento treinar pessoas para melhorarem a sua forma de falar em público, de pregar. Há muito espaço ainda para melhorar. Há contextos diferentes, mas se entendermos a comunicação enquanto oração, há muito espaço para melhorar. Já no que toca à comunicação da Igreja enquanto instituição, acho que o que temos hoje é um grande esforço para simplificar a comunicação. O novo portal, o Vatican News, por exemplo, que apenas numa página mostra toda a comunicação do Vaticano. Eles estão a fazer um ótimo trabalho. É um projeto muito ambicioso, há muitos bons amigos meus que trabalham lá, e estão a dar o seu melhor.

O Papa Francisco mudou definitivamente a ideia que a sociedade tem de um Papa?Cada Papa é um dom para a sua era. Mas se pesquisarmos no Youtube os primeiros filmes de Leão XIII, a primeira vez que chegaram ao Vaticano com câmaras de filmar, para fazer umas imagens do Papa. Foi em 1890 ou por volta dessa altura. É engraçado porque já nessa altura, no final do século XIX, víamos o Papa a tentar usar os novos media para comunicar. Tem havido um esforço, há mais de um século, de estar próximo das pessoas. Há vários exemplos. Até Pio IX, ainda no século XIX, a cumprimentar os jardineiros do Vaticano. São realidades que talvez desconheçamos, por sermos muito novos, por não estudarmos a fundo a biografia de cada Papa, mas a proximidade é algo da modernidade. E hoje o Papa Francisco pede-nos precisamente isso: que não estejamos longe das pessoas, tal como Jesus não esteve longe das pessoas.

João Francisco Gomes, 13 de Março de 2018 in Observador

domingo, 25 de março de 2018

Mensagem do Papa Francisco para a quaresma, 2018

 Penitência sim, tristeza não

[No] primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho recorda os temas da tentação, da conversão e da Boa Notícia. Escreve o evangelista Marcos: «O Espírito impeliu Jesus para o deserto e no deserto permaneceu 40 dias, tentado por Satanás» (1, 12-13).

Jesus vai para o deserto para se preparar para a sua missão no mundo. Ele não precisa de conversão mas, enquanto homem, tem de passar através desta provação, seja por si próprio, para obedecer à vontade do Pai, seja por nós, para nos dar a graça de vencer as tentações. Esta preparação consiste no combate contra o espírito do mal, isto é, contra o diabo.

Também para nós a Quaresma é um tempo de “competição” espiritual, de luta espiritual: somos chamados a enfrentar o maligno com a oração para sermos capazes, com a ajuda de Deus, de o vencer na nossa vida diária. Sabemo-lo, o mal atua, infelizmente, na nossa existência e à nossa volta, onde se manifestam violências, recusa do outro, fechamentos, guerras, injustiças. Todas estas são obras do maligno, do mal.

Logo depois das tentações no deserto, Jesus começa a pregar o Evangelho, isto é, a Boa Notícia, a segunda palavra. A primeira era «tentação»; a segunda, «Boa Notícia». E esta Boa Notícia exige do homem conversão – terceira palavra – e fé.

Anuncia Ele: «O tempo cumpriu-se e o reino de Deus está próximo»; depois exorta: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (v. 15), ou seja, acreditai nesta Boa Notícia de que o reino de Deus está próximo.

Na nossa vida temos sempre necessidade de conversão – todos os dias! –, e a Igreja faz-nos rezar por isso. Com efeito, nunca estamos suficientemente orientados para Deus e temos de dirigir continuamente a nossa mente e o nosso coração para Ele.

Para fazer isto, é preciso ter a coragem de rejeitar tudo o que nos põe fora do caminho, os falsos valores que nos enganam atraindo de forma subtil o nosso egoísmo. Em vez disso, devemos confiar no Senhor, na sua bondade e no seu projeto de amor por cada um de nós.

A Quaresma é um tempo de penitência, sim, mas não é um tempo triste! É um tempo de penitência, mas não é um tempo triste, de luto. É um compromisso alegre e sério para nos despojarmos do nosso egoísmo, do nosso homem velho, e renovarmo-nos segundo a graça do nosso Batismo.

Só Deus nos pode dar a verdadeira felicidade: é inútil perdermos o nosso tempo a procurá-la noutros lugares, nas riquezas, nos prazeres, no poder, na carreira… O reino de Deus é a realização de todas as nossas aspirações porque é, ao mesmo tempo, salvação do homem e glória de Deus.

Neste primeiro domingo da Quaresma somos convidados a escutar com atenção e recolher este apelo de Jesus a convertermo-nos e a acreditar no Evangelho. Somos exortados a iniciar com empenho o caminho para a Páscoa, para acolher sempre mais a graça de Deus, que quer transformar o mundo num reino de justiça, de paz, de fraternidade.

Maria Santíssima nos ajude a viver esta Quaresma com fidelidade à Palavra de Deus e com uma oração incessante, com fez Jesus no deserto. Não é impossível! Trata-se de viver os dias com o desejo de acolher o amor que vem de Deus e que quer transformar a nossa vida e o mundo inteiro.

Papa Francisco
Vaticano, Angelus, 18 de fevereiro 2018
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Tradução: SNPC

Felizes os pacificadores

Com amor desinteressado

«Estou firmemente convencido de que a verdade desarmada e o amor desinteressado terão a última palavra. É mais do que nunca necessário tornar a escutar agora (e sempre) a voz dos pacificadores, já “beatificados” por Jesus no Discurso da Montanha.»

Proponho hoje uma frase do discurso pronunciado a 11 de dezembro de 1964 por Martin Luther King no momento de receber o prémio Nobel da paz.

É uma palavra de esperança e de otimismo que deve expandir-se – com esforço e dificuldade – no meio da cizânia da guerra, da prevaricação, da opressão, da injustiça, uma densa e luxuriante vegetação maligna que cobre o mundo e que tem as raízes nos corações dos seres humanos.

A tentação do desencorajamento é forte mas não é cristã, como também não o é do crente no sentido mais universal do termo. Porque as religiões, no seu espírito mais íntimo, são fontes de vida e de paz; só a maneira com que os seus seguidores as incarnam é que as tornam ofensivas, agressivas, exclusivistas.

Para ter confiança no secreto poder da «verdade desarmada» e do «amor desinteressado» é preciso ser autenticamente religioso e, portanto, corajoso e otimista, certo de que Deus nunca está alinhado com as armas e a força bruta.

Gandhi, que desta certeza foi uma testemunha inabalável, declarava que «para praticar a não violência é preciso ser intrépido e ter uma coragem a toda a prova». Mas a meta, sempre luminosa e feliz, é a das Bem-aventuranças: «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus».

P. (Card.) Gianfranco Ravasi In Avvenire
Tradução: SNPC

A pobreza no âmago do Evangelho

Dia mundial dos pobres

Diz o Papa Francisco, no penúltimo parágrafo da sua Carta Apostólica, Misericordia et misera. Na conclusão do Jubileu extraordinário da misericórdia, a propósito do «Dia mundial dos pobres», que:

«Será um dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21).».

Trata-se do Lázaro, pedinte, coberto de úlceras e faminto ao ponto de se contentar com comer das migalhas que caíssem da mesa do dono da casa junto da qual estava.

O migrante é sempre uma qualquer forma de Lázaro, não por ser necessariamente pobre em sentido material do termo, mas porque, como Lázaro, está realmente distante dos bens de que necessita, pois a eles não tem acesso, mesmo que esteja fisicamente próximo deles, como é, também, o caso deste Lázaro.

Ora, a sua condição primeira de excluído não é económica, ética ou política, mas antropológica, pois o seu estado – esse sim, económico e político, de origem ética – deve-se a uma desclassificação da sua realidade como propriamente humana, isto é, o seu ser não é julgado como um ser propriamente humano – por isto, está do lado de fora da casa: quem está dentro da casa são os que se consideram a si próprios como verdadeiramente humanos e, por tal, dignos do banquete.

O primeiro dado, que coincide com o primeiro momento do drama e eventual tragédia do migrante deve-se à redução que sobre ele é imposta em termos onto-antropológicos, isto é, relativos ao seu ser.

No fundo, esse que tem de migrar fá-lo porque a sua humanidade não é própria e devidamente reconhecida.

É considerado menos-humano ou mesmo não-humano. Como tal, não é considerado como merecedor de partilhar o bem disponível para os verdadeiros seres humanos – assim, autoproclamados –, sendo, como Lázaro, mantido afastado desses mesmos bens, ainda que estando na sua proximidade física.

Nada do que existe no problema das migrações de origem não-natural, quer dizer, de origem cultural, necessariamente humana, é devido a questões estritamente físicas, mas, é sempre devido a motivações éticas e políticas, com efeitos mais ou menos diretos, mais ou menos imediatos, sobre a dimensão onto-antropológica, sobre o que cada pessoa e todas as pessoas são como ser e em seu ser próprio e irredutível, humanamente impassível de qualquer forma de redução ou avaliação, enquanto propriamente humanos.

No exemplo do Lázaro citado, não é qualquer razão natural ou económica que justifica o afastamento deste ser humano relativamente ao bem disponível – este bem existe realmente –, mas o facto de já anteriormente ter migrado do comum da sociedade, por alguma razão que não propriamente natural ou económica. Não se diz qual, mas tal não interessa, interessa apenas que há alguém, que é um ser humano, que foi posto distante do comum.

Mesmo que tal migração se devesse a algo que Lázaro tivesse feito, mais propriamente «agido», a recompensa que passasse pela sua erradicação do seio do comum ontológico dos seres humanos seria sempre excessiva, pois a nenhum ser humano compete negar a comum humanidade a qualquer outro. É no seio da mesma comum humanidade que os problemas humanos individuais ou trans-individuais devem ser resolvidos.

No limite, a migração de um qualquer ser humano acaba sempre por ser uma forma de negação da sua comum humanidade com esses que o forçam a migrar.

Lembre-se que, no limite, a morte de alguém por razões políticas é uma forma extrema e irremível de migração: como diz o povo, «vai para o outro mundo», migração com a qual todas as outras migrações têm de ser comparadas, pois, de facto, estas últimas são formas de morte em vidade esses que são levados a migrar. E tal é válido mesmo quando, após algum tempo, isto é, algum movimento de ação integrativa no «novo mundo», se consegue ganhar uma forma própria de integração no bem aí presente. No entanto, a violência que originou a migração sempre matou algo do que era o mundo anterior próprio da pessoa forçada a migrar; e tal não tem remédio possível.

Não há, aqui, reescritas cor-de-rosa do passado, porque a migração não é confundível com algo como a «volta ao mundo em oitenta dias», de Verne, ou com qualquer outra forma de turismo ou de aventura: é sempre uma resposta necessária a um ato de violência ética e política que tem como alvo a antropologia do diferente.

Aquele que é antropologicamente o nosso próximo, relativamente a nós, não migra, viaja.

Com o próximo, partilha-se o pão, quando há e na quantidade que há.

Se não há pão, de todo, então, nós e o próximo migramos ambos e, assim, somos ambos pacientes e agentes de um mesmo movimento, que pode ser originado pela violência de quem tem pão e não o quer partilhar connosco, porque nos reduz a não-humanos, precisamente ao recusar dar-nos o pão que existe e é partilhável. Se tal movimento for originado por algo de natural, não cabe nesta reflexão.

Este mencionado Lázaro é uma pessoa, um indivíduo humano, não é um «povo», um conjunto, mais ou menos coerente de seres humanos em interação. Poderá representar as grandes migrações, as dos «povos» ou certos tipos de «populações»?

Pode, sim. E pode, porque «povos» e «populações» existem apenas como formas abstratas de nos referirmos ao que, na realidade, existe mesmo, e que são as pessoas e estas, na sua forma realíssima, única, de ser humano individual, pessoal.

Quando surgem nas notícias relatos da morte – ou do resgate – de um determinado número de pessoas, por vezes, tal surge não-quantificado: algo como «numerosas pessoas morreram aquando do naufrágio de uma lancha sobrelotada».

Ora, na realidade, um grupo de pessoas nunca morre, porque os grupos, que são entidades de tipo lógico, nunca morrem: o que morre é a pessoa A, a pessoa B, em que A e B são nomes de humana carne, não números ou expressões lógicas que escamoteiam a ontologia própria do que acabou de ser mundanamente aniquilado e para o que, para quem, já não há humano, mundano, remédio possível; e os demais possíveis remédios, aqui, não nos interessam, pois remetem para realidades atualmente inacessíveis para problemas atuais que, esses, têm de ser atualmente resolvidos aqui e agora.

Se a mundanidade da vida humana é mesmo sem qualquer humano interesse, então que se cesse qualquer ação que promova o bem e seja substituída por uma ação, que até pode ser imediata, de aniquilação da humanidade (basta que, aos pares, os sete mil milões de seres humanos se matem num mesmo gigantesco e absurdo ato de “migração” deste mundo para “o outro”). Não é para isto que a humanidade é, não para ser assassina de si mesma, mas para ser instrumento colaborador de sua mesma salvação, mundana apenas que seja; ainda assim, digna de pessoas, não de bestas.

A ação do possuidor de pão em abundância que tem Lázaro à porta esperando pelas migalhas casuais é própria não de um ser humano, de uma pessoa, mas de um ser humano que age como se besta fora. Ao não reconhecer a humanidade do outro, de esse que está migrado para fora do sítio em que há pão, des-reconhece a sua própria humanidade, pois, de facto, são ambas a mesma, a dele e a do outro, na diferença pessoal que os constitui. Mas que os constitui diferentemente como membros de um mesma humanidade.

Ora, não reconhecer o que é humano no outro, propriamente humano no outro, é não reconhecer isso que tem em comum comigo; mas tal significa que não reconheço isso em mim próprio, pois o que me faz humano é o mesmo que faz o outro humano, e se não o reconheço no outro, não o reconheço simplesmente, pelo que não o posso reconhecer em mim próprio.

Tal significa que o que reconheço em mim como propriamente humano, ao ser diferente do que reconheço no outro, esse que é, apesar de tudo, realmente humano, não é, em mim, verdadeiramente humano, antes fruto de uma qualquer ilusão, que confundo com a realidade humana.

É a partir desta ilusão que vivo o que defino como «humanidade». É a partir desta redução antropológica, onto-antropológica, que construo o que considero ser o mundo humano, o meu mundo humano, em que incluo esses que considero como propriamente humanos e do qual excluo os que considero como impropriamente humanos ou, mesmo, como de todo não-humanos.

Todas as formas etnocêntricas radicam nesta ilusão onto-antropológica e todas as migrações cuja origem não é natural ou puramente económica por anulação de bens disponíveis, radicam nesta mesma ilusão.

A recusa do pão – nas suas várias formas, que este simboliza, isto é, a riqueza necessária e apropriada para toda e cada pessoa que queira fazer parte do bem-comum – implica sempre uma redução onto-antropológica de esse a quem o pão é recusado. Não se recusa o pão ao amigo.

A recusa do pão é o ato de formação da relação de inimizade. É esta inimizade que implica a necessidade de migração, a fim de preservar a vida ou a sua dignidade, indiscerníveis em termos humanos.

Ora, aquilo que designámos como «ilusão», de facto, não é uma realidade de tipo gnosiológico, um «erro» de visão, de inteligência, de quem olhe para o outro e não consiga ver o que lá está porque tem um problema qualquer de disfunção gnosiológica.

Trata-se de um ato propriamente ético, de uma escolha.

Escolho considerar esse que reduzo em sua humanidade por um ato meu, irredutivelmente meu: estou a ser mau, não estou a errar.

Na raiz de toda a migração cujo motor é um ato humano, há uma dimensão ética: negar o pão a alguém é um ato ético, depende do arbítrio de uma pessoa, não de um cão, não de uma máquina, por exemplo. Sou eu que te nego o acesso ao pão; ao fazê-lo estou a negar a tua humanidade porque te nego o acesso ao pão. O mais são desculpas, algumas das quais bem estudadas por quem é bem pago para as estudar.

Mas, ao passar a ato a escolha que fiz relativamente a ti de te excluir do acesso ao pão – muito ou pouco que seja, os que têm acesso são os humanos, os que não têm acesso são os não humanos e é o acesso que é o critério de humanidade, aqui – crio um ato político.

Deste modo, toda a migração, que depende de atos humanos que a provoca, tem uma finalidade onto-antropológica, tem origem ética e tem operação política.

Não haverá cessação de migrações – não confundir com atos de deslocação puramente voluntários – enquanto os seres humanos, isto é, eu, não deixarem de ver alguns dos seus reais e objetivos semelhantes como algo de dissemelhante, não deixarem de os julgar como tal e não deixarem de agir sobre eles com a finalidade de os afastar de si, da sua riqueza, do seu mundo.

O remédio é conhecido há muito tempo, chama-se ação no sentido do bem-comum, esse que não exclui pessoa alguma (que não queira voluntariamente excluir-se), tendo recebido, por parte de Cristo, a formulação prático-pragmática operacionalizante na forma do ignorado mandamento da universal caridade.

Não há desculpa. Há perdão, sim, mas passamos pela antropológica vergonha de não termos desculpa para a inanidade da nossa ação pessoal e coletiva. No entanto, nisto nos comprazemos.

Migrantes do bem que somos, dele insistimos teimosamente em fugir, quando para ele nos deveríamos encaminhar sem desfalecimento.

Américo Pereira
Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas
Publicado por SNPC em 12 de dezembro de 2017

Arquitectura: Capela da Praia, China

Uma capela junto ao mar

Imaginámos a "Seashore Chapel" (Capela da Praia) como um barco antigo que há muito tempo está à deriva no oceano. O mar, retraindo-se gradualmente, deixou uma estrutura vazia, que ainda está na praia.

O espaço é dividido verticalmente. A parte exterior coberta torna-se para todos lugar de repouso na praia. É também um espaço que liga um lugar religioso à vida mundana. Quando a maré sobe, este espaço é submerso pela água: nesse momento, a imagem do barco que desliza emerge em relação à da capela.

A atmosfera, no piso superior, é intensamente sagrada e religiosa. A experiência espacial começa num percurso de 30 metros que conduz à capela. Aproximando-se gradualmente, a partir de uma fenda de 60 cm de largura colocada no centro das grandes escadas, emerge o sinal que indica do outro lado o espaço em que o edifício parece flutuar.

Com o fundo do oceano à distância, ao aproximar-se das escadas, atravessa-se o limiar e, rodando em torno das paredes perimétricas, tem-se a visão aberta para o oceano. A relação entre este espaço e o oceano é mais próxima graças à posição mais elevada. A vista é isolada da praia e das pessoas, de modo a deixar ao olhar apenas a imensidão do oceano.

Há poucas aberturas na capela. A única grande janela horizontal com vista para o oceano está na fachada oriental. A sua altura de 2,7 m ajuda a evitar a entrada excessiva luz para o interior, mas também a enquadrar a vista do oceano.

Alguns cortes estreitos entre as paredes também difundem a luz natural. A iluminação é cuidadosamente controlada num espaço interior com 10 m de altura que reflete luz difusa.

Na fachada oriental triangular, uma abertura ilumina docemente, de baixo e de cima, uma cruz. Outro canal horizontal na parte superior do telhado permite que a luz natural seja filtrada através de um espaço de 30 cm entre a parede dobrada a norte e o teto inclinado.

Ao meio dia, na primavera, verão e outono, quando a altitude solar é quase perpendicular, a luz projeta-se diretamente na parede norte, gerando um efeito vívido de reverberação luminosa.

O espaço parece adaptar-se à pessoa com as paredes laterais que envolvem o corpo e ampliam a perceção visual em direção ao oceano longínquo. O desenho da capela reflete o estudo da ventilação natural. Para manter o aspeto uniforme e contínuo no exterior, todas as janelas estão escondidas nos vazios formados entre o invólucro principal e as diferentes aberturas deslizantes paralelas às paredes.

A capela está ao serviço da comunidade turística na parte ocidental do novo bairro de Beidaihe. Para a comunidade é o espaço construído mais perto do oceano. Na capela, além de ritos religiosos, estão previstos vários eventos públicos e comunitários. Juntamente com a biblioteca Seashore, trata-se de lugares espirituais colocados diante do oceano, onde as pessoas podem abrandar o seu passo, experimentar a natureza e examinar a sua condição interior.

Localização: Novo bairro de Beidaihe, China
Arquitetos: Gong Dong (arq. principal); Vector Architects (gabinete de arquitetura)
Projeto e construção: 2014-15

Vector Architects In Thema
Imagens: ArchDaily
Tradução e edição: SNPC

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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