Pélope, o renascido amante de Poseidon
Se por um lado Pélope opôs-se ao amor entre Laio e o filho, Crisipo, no passado ele próprio vivera uma paixão com o poderoso Poseidon. A lenda de Pélope começa com a tragédia da sua morte. Filho do ambicioso e cruel Tântalo, rei de Sípilo, na Lídia. O soberano ofereceu um banquete aos deuses, e para testar a percepção de cada um, serviu como prato principal a carne cozida do próprio filho, Pélope, cortada em pedaços. Os deuses olímpicos perceberam o ardil. Indignados, recusaram o alimento, condenando Tântalo a viver atormentado no Érebo. Depois ferveram o alimento servido em um caldeirão, fazendo Pélope renascer.
Dos cortes ferozes, surgiu um príncipe ainda mais belo. O renascido Pélope chamou a atenção de deuses e mortais, que suspiraram pelo seu amor. De todos, Poseidon, o senhor dos mares, foi o mais audacioso, declarando-se ao renascido, tornando-o o seu amante. Com a proteção do amado, Pélope tornou-se um soberano poderoso e sábio, aprendendo com o deus todas as virtudes cívicas que um soberano deveria saber.
Já um homem adulto e viril, Pélope apaixonou-se pela bela Hipodâmia, filha de Enômano, rei de Pisa. Mas o soberano, temendo uma profecia de que um genro o iria assassinar, impunha uma perversa prova aos pretendes da filha. Propunha uma corrida de carros, em que o vencido era morto e o crânio pendurado na porta do palácio. Os cavalos do carro de Enômano eram presentes do deus Ares, por isto invencíveis. Pélope aceitou o desafio, pedindo ajuda a Poseidon, seu antigo amante, em nome dos tempos felizes que viveram juntos. Poseidon deu ao ex-amante um carro de asas douradas e invisíveis. Mesmo com o presente, Pélope temia a vitória de Enômano. Decidiu subornar Mírtilo, servo do rei, que também era apaixonado por Hipodâmia. Convenceu-o a retirar os pregos que seguravam as rodas do carro do rei, em troca dar-lhe-ia metade do reino e uma noite com a bela Hipodâmia. Assim foi feito, e durante a corrida, Enômano perdeu o equilíbrio e caiu numa queda mortal. Morto o rei, Pélope casou-se com Hipodâmia. Ao reclamar a noite de amor com a princesa, Mírtilo recebeu o escárnio de Pélope, que o atirou ao mar.
Pélope tornou-se um monarca poderoso, reinando por diversas terras, que passaram a ser chamadas de Peloponeso. Deu origem aos Pelópidas, sempre sobre a proteção de Poseidon. A lenda define bem o caminho do homem grego, a sua iniciação com um homem mais velho, neste caso um deus, e o seguimento do curso comum e heterossexual, levando-o ao casamento e à procriação.
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