Jesus recolhe todas as lágrimas do mundo
Na manhã desta quarta-feira, quarto dia dos exercícios espirituais da Quaresma do papa Francisco e da Cúria Romana que desde domingo decorrem em Ariccia, próximo do Vaticano, a sexta meditação do P. Tolentino Mendonça centrou-se nas lágrimas das mulheres dos Evangelhos, que evocam a sede de Jesus.
Recorrendo a citações extraídas da Bíblia e de vários autores, o pregador português sublinhou que as lágrimas manifestam sede de vida e de relação.
Muitas são as mulheres presentes nos Evangelhos, diferentes nas suas condições existenciais, etárias, económicas. Aquilo que as une é seu estilo, em benefício da evangelização, caracterizado pelo serviço, mas sobretudo são as lágrimas, expressão de emoções, conflitos, alegrias e feridas.
«As lágrimas dizem que Deus incarna-se nas nossas vidas, nos nossos fracassos, nos nossos encontros. Nos Evangelhos inclusive Cristo chora. Jesus encarrega-se da nossa condição, faz-se um de nós, e por isso as nossas lágrimas são englobadas nas suas. Ele leva-as verdadeiramente consigo. Quando chora, recolhe e assume solidariamente todas as lágrimas do mundo» (...).
O desejo de vida
São precisamente as mulheres dos Evangelhos que concedem cidadania às lágrimas, mostrando a importância deste sinal, afirmou o sacerdote português, fazendo referência à psicanalista Julis Kristeva.
Esta não crente dizia que quando um paciente deprimido chegava ao ponto de chorar no divã, acontecia uma coisa muito importante: estava a começar a afastar-se da tentação do suicídio, porque as lágrimas não narram o desejo de morrer mas «a nossa sede de vida».
Deus conhece a dor do pranto
Desde crianças o pranto indica sede de relação. Muitos santos, como Inácio de Loyola, choravam copiosamente. E o filósofo Emil Cioran (1911-1995) afirmava que no juízo final serão pesadas apenas as lágrimas, que dão um sentido de eternidade ao nosso devir, e que o dom da religião é precisamente o de nos ensinar a chorar: as lágrimas são o que nos pode tornar santos depois de se ser humanos.
«A nossa biografia pode ser contada também através das lágrimas: de alegria, de festa, de comoção luminosa; e de noite escura, de laceração, de abandono, de arrependimento e de contrição.
Pensemos nas nossas lágrimas derramadas e naquelas que permaneceram um nó na garganta e cuja falta nos é pesada ou ainda nos pesa. A dor daquelas lágrimas que não foram choradas. Deus conhece-as todas e acolhe-as como uma oração. Portanto tenhamos confiança. Não as ocultemos dele.
Procura de relação
Para Gregório de Nazianzo as lágrimas são, em certo sentido, um quinto batismo. E Nelson Mandela, na prisão, teve os olhos tão atacados que perdeu a capacidade de derramar lágrimas, mas ainda assim não se extinguiu a sua sede de justiça.
Quando se chora, ainda que haja um esforço para não mostrar ao outro que se choram a verdade é que choramos sempre para que o outro veja. «É a sede do outro que nos faz chorar».
A concluir, o P. Tolentino Mendonça mencionou a mulher que chora e lava os pés de Jesus com as suas lágrimas. Muitas vezes toma-se uma distância crítica face à religiosidade popular, que se exprime com abundância de lágrimas. E por vezes é difícil, para os pastores, perceber a religião dos simples baseada não em ideias mas em gestos.
É precisamente a impressionante qualidade do que a mulher dá a Jesus que permite constatar que Simão, o chefe da casa, não disse nada. «É esta inédita hospitalidade que Jesus pretende exaltar», «esta sede, de que as lágrimas são sinal e que nos toca aprender».
Debora Donnini In Vatican News
Tradução e edição em SNPC
Ler 1ª meditação
Ler 2ª meditação
Ler 3ª meditação
Ler 4ª meditação
Ler 5ª meditação
Sem comentários:
Enviar um comentário