Paulo VI e Oscar Romero vão ser santos
O papa Francisco autorizou esta terça-feira a promulgação do decreto no qual sanciona os milagres atribuídos à intercessão dos beatos Paulo VI (1897-1978) e Oscar Romero (1917-1980), decisão que foi hoje publicamente revelada pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
Foi a 26 de outubro de 2017 que os peritos médicos da Congregação para a Causa dos Santos votaram por unanimidade o caso miraculoso de uma gravidez de alto risco que teve desfecho favorável com o nascimento de uma criança sã, atribuído ao papa italiano Montini, primeiro pontífice a visitar Portugal, mais precisamente Fátima.
E foi precisamente nesse dia que os mesmos especialistas decidiram, igualmente em absoluta concordância, a cura milagrosa de uma mulher em perigo de morte após um parto, atribuída à intercessão do bispo mártir salvadorenho.
Oscar Romero foi nomeado patrono da SIGNIS, Associação Católica Mundial para a Comunicação, representada em Portugal pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, pela sua «dedicação e coragem exemplares na defesa dos pobres e dos oprimidos», sendo «um exemplo para todos os comunicadores» e para qualquer pessoa que assuma «os valores que ele ensinou e prefira perder a vida mais do que permanecer em silêncio face à injustiça».
A 14 de dezembro o congresso de teólogos exprimiu o voto positivo para ambos os casos e a mesma resposta foi dada a 6 de fevereiro por parte da sessão de cardeais e bispos.
Reconhecidos os milagres, Paulo VI e o prelado morto por ódio à fé estarão novamente juntos no consistório previsto para a primeira quinzena de maio, no qual o papa, previsivelmente, anunciará a data da canonização.
Convergência e testemunho
A convergência entre os dois futuros santos não é recente. Em 1978, um jornalista perguntava a Oscar Romero se o seu pensamento teológico se apoiava na teologia da libertação.
O arcebispo de San Salvador respondeu que a sua conceção era «igual à de Paulo VI, definida na exortação apostólica “Evangelii nuntiandi” (1975), «sobre a evangelização no mundo contemporâneo».
Dez anos antes, o papa tinha participado na conferência geral dos bispos da América Latina, em Medellin, Colômbia, que reforçou a opção preferencial pelos pobres por parte da Igreja». Na sua encíclica "Populorum progressio" (1967), Paulo VI constatava que «os povos ricos gozam de um crescimento rápido, enquanto os pobres se desenvolvem lentamente».
A memória detalhada da última audiência de Romero com Montini, testemunha da fidelidade ao ensinamento da Igreja, pode ler-se no diário do prelado: «Paulo VI apertou-me a mão direita e teve-a entre as suas duas mãos durante bastante tempo, e eu também apertei com as minhas duas mãos a mão do papa».
«Compreendo o seu difícil trabalho, é um trabalho que pode ser incompreendido e precisa de muita paciência e fortaleza, (…) mas prossiga com coragem, com paciência, com força, com esperança», disse Paulo VI.
Que a proclamação litúrgica da santidade de ambos ocorra no contexto de uma concentração da Igreja sobre as novas gerações, quer aconteça em Roma, no decurso do sínodo dos bispos sobre a fé e a vocação dos jovens, marcado para outubro – como poderá suceder para Paulo VI –, quer se dê por ocasião da Jornada Mundial da Juventude no Panamá, próximo de El Salvador, em janeiro de 2019, como poderia ser para o caso de Romero, em alternativa ao Vaticano, ganha ressonâncias repletas de significados e perspetivas.
Um nexo e uma ligação marcados pelos sinais dos tempos, nos quais o indelével testemunho cristão conjunto do «papa do diálogo», que iniciou o cumprimento do concílio Vaticano II, e do bispo mártir, primeira grande testemunha da Igreja conciliar, ratifica uma trajetória da qual não se pode voltar a trás e que é, mais do que nunca, de premente atualidade.
Stefania Falasca
In Avvenire
Tradução e edição do SNPC , 7 de março de 2018
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