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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Estágio remunerado

Selecção
Entrevistas individuais e/ou em grupo serão efectuadas do dia 20 a 25 de Julho. O anúncio será feito da decisão final será feito entre 26 e 30 de Julho. Depois da selecção a aprovação final dependerá da candidatura ao IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) que deverá seguir os trâmites próprios.

Estágio Remunerado no GAIA - Secretariado do Centro Social do GAIA na Mouraria
Trabalhar como secretário do Centro Social do GAIA na Mouraria (CSG) significa a oportunidade de aprender os processos burocráticos e técnicos para desenvolver e apoiar projectos de uma organização não governamental ambiental (ONGA). Ao trabalhar numa organização com decisão não hierárquica o estagiário tem a oportunidade de aprender como funciona o GAIA no seu todo, o que implica responsabilidade, motivação, dinâmica e capacidade de trabalhar em grupo.O estágio decorrerá na sede do núcleo de Lisboa do GAIA (no centro social da Mouraria). O estágio, co-financiado pelo IEFP, terá a duração de 12 meses.

O que faz um secretário?
O trabalho de um secretário no GAIA inclui tarefas várias:
* fazer a contabilidade simples das actividades do CSG;
* fazer os registos documentais de toda a actividade do GAIA, como actas de reuniões e relatórios;
* contactar as instituições com que o GAIA trabalha, como a Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente, Instituto Português da Juventude, Agência Nacional para o Serviço Voluntário Europeu, Finanças, Segurança Social, Instituto Nacional de Estatística, Instituto de Emprego e Formação Profissional, Associações Académicas e outros colectivos sociais;
* contactar Notário e Contabilistas;
* a concepção, ou apoio à concepção, de candidaturas de envio ou recepção no âmbito de Serviço Voluntário Europeu;
* auxiliar o coordenador na gestão corrente do CSG.Espera-se que o estagiário tenha boas capacidades de administração burocrática ou que esteja pronto para as adquirir durante o primeiro mês do estágio. Boas capacidades para o relacionamento com instituições são igualmente características desejadas.

Perfil do Candidato:
* Deverá identificar-se com os princípios do CSG (fazer ligação);
* Recém licenciad@ em Administração, Direito ou Gestão
* Boas capacidades de comunicação.
* Capacidade de trabalhar em grupo e gerir conflitos inter-pessoais.
* Elevada auto-iniciativa e sentido de responsabilidade;
* Capacidade de trabalhar sob pressão.
* Bons conhecimentos informáticos básicos: internet, openOffice;
* Boas capacidades de organização: planeamento, gestão de recursos, assiduidade, assertividade;
Mais-valias
* Experiência de trabalho em organizações sem fins lucrativos.
* Experiência de trabalho com burocracia.
* Conhecimento de informática na óptica do utilizador de Linux

Selecção
Entrevistas individuais e/ou em grupo serão efectuadas do dia 20 a 25 de Julho. O anúncio será feito da decisão final será feito entre 26 e 30 de Julho. Depois da selecção a aprovação final dependerá da candidatura ao IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) que deverá seguir os trâmites próprios.

Local de trabalho
O secretário trabalhará sobretudo no escritório do GAIA na Mouraria, em Lisboa.

Data de início e duração
O candidato deverá poder iniciar as suas funções em assim que o estágio for aprovado no IEFP. A duração do “estágio profissional” é de 12 meses.

O que oferecemos
Oferecemos uma oportunidade única a jovens de viverem um período de aprendizagem para desenvolver as competências que uma posição de secretário requer. Oferecemos esta posição num ambiente dinâmico com amplo espaço para criatividade e contribuição pessoal.

Ainda interessado/a ?
Envia-nos um CV em Português para lisboa [arroba] gaia [ponto] org [ponto] pt e uma carta explicando quais as tuas motivações para esta função até dia 15 de Julho (inclusivé).
Depois de lermos todas as cartas de motivação e Cvs, serão seleccionadas entre três a seis candidaturas que serão objecto de entrevista.Finalmente teremos um@ nov@ secretári@ do Centro Social do GAIA na Mouraria.
O que é o GAIA ?
O GAIA é uma associação que foca as temáticas ambientais integrando questões sociais e políticas. Com uma forte componente activista, utiliza frequentemente acções criativas de cariz directo e não violento como forma de sensibilizar e criar consciência sobre as raízes sociais dos problemas ambientais. O GAIA investe também fortemente na integração e influência de outros grupos sociais, transformando o trabalho de pressão e cooperação em pontos fortes do trabalho que realiza.
O GAIA foi fundado em 1996, como um núcleo universitário dedicado exclusivamente para assuntos ambientais. Após 3 anos de activismo, dentro e fora da Universidade, os seus membros tomaram consciência de que os assuntos que a associação defendia eram demasiado importantes para serem sujeitos às limitações de uma associação de estudantes.
Em 2000, o GAIA registou-se como Associação Juvenil, legalmente independente da Universidade. O facto de se tornar independente permitiu uma participação activa nos temas das Alterações Climáticas e Globalização ao nível das bases e com um nível de crítica social que raramente se encontra noutras Organizações Não Governamentais de Ambiente. Em 2004, o GAIA registou-se legalmente como Organização Não Governamental de Ambiente e iniciou o processo para se tornar ONG de Ambiente no Registo Nacional.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Concordo e aceito um homem que viva com um homem

por Rosa Ramos, Publicado em 26 de Junho de 2010 no I

No Natal, e apesar de "conhecer mal" os vizinhos, distribui postais pelas caixas de correio do prédio, no centro de Lisboa. Diz que é o único bispo "a morar num andar" e tranca-se a sete chaves em casa, mesmo de dia. "Fui assaltado, sabe? Mas só me levaram uma máquina fotográfica digital", conta, antes de nos fechar à chave dentro do apartamento. O bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Torgal Ferreira, é assim: nunca faz cerimónias e recusa-se a fazer fretes. Vive em Lisboa há 22 anos, mas jura que ainda tem o Porto no coração. Na sala, há um quadro gigantesco com um poema de Eugénio de Andrade e várias fotografias da mãe - "uma das primeiras mulheres a formar-se em Portugal". No escritório tem pilhas de livros até ao tecto. Devem ser uma dor de cabeça para a empregada que lhe limpa a casa duas vezes por semana. D. Januário reformou-se o ano passado da vida militar e deixou de ter gabinete no Ministério da Defesa, mas ainda faltam mais de três anos para acabar o "mandato" de bispo. Provavelmente, continuará a ser inconveniente e polémico até ao fim. Defende Saramago e os homossexuais, elogia as manifestações da CGTP, critica o mediatismo da sociedade. Mas depois fala do amor e do mundo com a ingenuidade e a emoção de uma criança. O bispo das Forças Armadas vai à praia de calções e diz que se irrita com "críticas gratuitas". Aos 72 anos, confessa que odeia autobiografias: "São detestáveis. Ontem já não era eu."

Costuma googlar o seu nome?
Uma ou outra vez. A primeira foi há mais de dez anos, no estrangeiro, por sugestão de um padre meu amigo. Na altura tinha seis páginas de resultados, fiquei muito admirado. Hoje devem ser mais de 30! É uma ferramenta interessante, porque permite medir as animosidades e as simpatias que vamos suscitando. De vez em quando, lá vou ver o que se escreveu de novo. E a informação nunca se perde, eterniza-se. Por exemplo, agora com a morte do Saramago, lembrei-me das críticas que recebi na altura em que ele recebeu o Nobel...

Por causa de o ter defendido?
Sim. Quando comecei a lê-lo tive dificuldade em entrar no estilo. Não foi daquelas pessoas com quem simpatizasse muito, no início, do ponto de vista literário. Mas acabei por ir descobrindo e compreendendo a sua obra que, de facto, é genial. E isto escandalizou muitas pessoas.

Não ficou chocado quando leu o "Evangelho segundo Jesus Cristo"?
Não. A mim o que me chocou foi perceber que muita gente o atacava só por ser comunista e por não ser católico. Isso não tem nada a ver com a qualidade da sua produção literária. Nessa altura, falava-se de como ele era demoníaco por ter escrito uma obra sobre Jesus Cristo, desumanizando-o e humanizando-o ao ponto de tudo aquilo ser uma ficção, uma mentira. Era uma negação, um Cristo grotesco. Eu pensei muitas vezes: "Este homem diz-se ateu e tem expressões terríveis sobre Deus, mas ao mesmo tempo tem conceitos extremamente humanizadores quanto à figura de Cristo." Saramago não era de Deus, mas passava a vida a falar de Deus. Ele, no fundo, tinha interesse por Deus! E deve merecer respeito pelo seu ponto de vista. A única coisa que me entristece e me distancia de certas leituras é a agressão gratuita, a calúnia, o banditismo mental, a inquisição ao contrário.

Na semana passada, o "Osservatore Romano" chamava Saramago de "populista e extremista". Revê-se nisto?
[Olha para o exemplar do jornal do Vaticano que tem em cima da mesa] Eu não! Eu pensei que esse extremismo já tivesse passado, esse radicalismo. Não ficava mal mostrar alguma sensatez - mantendo a verdade - diante de uma pessoa que já cá não está para se defender. É claro que discordo de muitas interpretações de Saramago e tenho pena que ele tenha demonstrado um conjunto de desconhecimentos em relação às estruturas bíblicas, mas dou-lhe o mérito de se ter interessado por Deus. Talvez ele não gostasse que eu dissesse isto, mas não sei se esse interesse não esconderia uma grande inquietação dele, uma grande procura de Deus. Só que o procurava ao contrário. Uma coisa é a interpretação estético-literária. Outra coisa é a interpretação exegética ou espiritual. Não separar as duas vertentes mostra uma crise de cultura.

Normalmente a Igreja é um pouco inflexível nestas matérias...
O que eu acho, então, é que há uma soma de pessoas, e digo-o com respeito, que ficaram perfeitamente analfabetas, cheias de complexos, de maldade, de sensualidade, quase castradas. Quem conhece o mundo e o adora, olha-o de forma límpida e feliz. Eu dou graças à vida e aos educadores que tive, por olhar para o mundo de forma descomplexada e desinibida. É como quando me dizem: "Ah... você vai para a praia e para a piscina de calções." E então? Qual é o problema? Sou um cidadão como outro qualquer!

Mas já lhe disseram isso?
Directamente, não. Mas as pessoas encontram-me na praia. Vamos imaginar a seguinte situação: "Então você estava ali deitado, ao lado de uma rapariga a fazer topless?" E então? Que mal teria? Só um tarado é que vai para a praia pensar nessas coisas. Por vezes, a maldade está na forma como se pensa o mundo. E veja lá onde a conversa já foi parar... [risos]

Então vamos voltar ao Google. Sabe que os primeiros resultados que aparecem são coisas pouco simpáticas a seu respeito?
Não sei... hum...

Criticam-no por ser de esquerda, por exemplo...
Isso para mim até é muito simpático. Se as pessoas entenderem que ser de esquerda é falar dos problemas sociais, defender gente desempregada, demonstrar diante de sistemas governamentais a sua inutilidade, desvarios e erros... Tenho-me batido por isto e até dada altura parecia estar sozinho na luta. Fiquei contente quando ouvi, recentemente, o grande bispo do Porto, D. Manuel Clemente, falar sobre as Scut. É importante um bispo alertar para as condições sociais das populações. Foi o grito de um cidadão bom, inteligente, educado, que lança um alerta. Acho que o governo lhe devia agradecer.

Também se diz que é comunista...
Pronto. Ora aí está... As pessoas partidarizam tudo. Eu digo, realmente, que foi o Partido Comunista que devolveu a voz ao Alentejo...

Mas é?
Não. Toda a gente sabe que não tenho nenhum enquadramento partidário. Mas escolho, naturalmente, o meu voto no dia em que há eleições e sei em quem tenho votado. Ora mais à direita, ora mais à esquerda.
E ultimamente?
Nos últimos longos anos, mais à esquerda do que à direita. Mas já votei à direita. Eu não devo é entrar, publicamente, enquanto bispo, em atitudes partidárias. Já as tive, mas não como bispo. Toda a gente sabe que estive muito ligado, em tempos, a determinados aspectos da social-democracia. Dei-me muito bem com o Sá Carneiro. Mas, para mim, o espectro político não acaba aí. Desde que vim para Lisboa, comecei a ver e a descobrir os interesses, as podridões, as lutas pelo poder. Não entro em questões partidárias. Mas ponho uma tónica na doutrina social da Igreja. E hoje, mais do que nunca, fala-se do desemprego, do défice, das dificuldades e das desigualdades sociais.

Também existem essas lutas pelo poder dentro da Igreja?
Não, embora não diga que não haja diferenças dentro da Igreja. No entanto, eu às vezes até acho que somos demasiado afinados. Eu não quero a anarquia, mas...

Discute-se pouco, é isso?
Eu gostaria de ouvir outras vozes.

Recordo-me que há tempos, quando Obama esteve na China e falou dos direitos humanos, disse que um líder não pode ter medo. Considera que Cavaco Silva teve medo quando decidiu promulgar o casamento entre homossexuais?
Não o quero interpretar. Só posso interpretar o texto que ele publicou. A mim o que me impressionou negativamente nem foi o facto de ter promulgado o casamento, apesar de ser um casamento com o qual eu não concordo e que entendo como união. Fiquei, sim, muito admirado com a produção cultural insuficiente da argumentação usada: dizer que não veta por causa da situação crítica que estamos a atravessar? Mas há aqui alguma relação de causa e efeito? Vetar daria origem a manifestações gigantescas, descontentamento? Se ainda há dias houve uma manifestação espectacular, como todas as da CGTP, e Lisboa foi invadida por pessoas de todo o país, que quiseram protestar por estarem em causa o pão, os salários... Assumiram a defesa dos seus direitos... E houve alguma escaramuça? Qual mal-estar? Felizmente já demos vários passos na democracia!

O que é certo é que mesmo sendo vetada, a lei voltaria ao Parlamento e...
[Interrompe] Por isso mesmo! Ele sabia que o próprio ciclo da legalidade seria suficientemente rápido e teria um determinado efeito. Por isso, para que é que vem com uma explicação que é perfeitamente inadequada, inconveniente, injustificada e incoerente? A sério que não vejo como é que uma situação crítica do ponto de vista económico-financeiro pode ser agravada com a legalização de um homem casar com um homem ou de uma mulher com uma mulher.

Portanto, o que o aborreceu não foi a aprovação do casamento, mas sim a fraca argumentação de Cavaco Silva?
Há coisas que não se podem misturar e que eu não quero misturar. Cavaco Silva não precisava de invocar a sua posição católica a primeira vez, nem justificar se agora tem uma posição diversa, ou não. Eu faço uma análise independente das minhas convicções católicas. Não me parece que pegue, vindo de uma pessoa minimamente apetrechada do ponto de vista cultural, a explicação do senhor Presidente da República. Mas não me compete julgar. Nem analisar ou comentar.

Mas o assunto caiu mal na igreja. O cardeal-patriarca foi muito explícito nas críticas e a Igreja até estará à procura de um candidato alternativo...
Caiu mal, sim. Mas não acredito nisso de se procurarem candidatos. As pessoas sabem que, eventualmente, podendo haver um candidato à direita de Cavaco Silva... será difícil encontrar alguém capaz de o vencer. Mas isto são assuntos da política. A crítica a Cavaco Silva tem o seu fundamento. Para mim, independentemente do conteúdo - eu não concordo com a noção de casamento -, concordo e aceito um homem que viva com um homem e uma mulher que viva com uma mulher.

Isso não o choca?
É evidente que não. A atitude que tenho de ter é a respeitabilidade.

E há mesmo um guião de homilias contra Cavaco Silva?
É uma grande novidade, em absoluto, que me está a dar. Ignoro isso em absoluto.

Vai votar nele?
Vou votar naquele em que achar que devo votar.

Mas uma vez que o desiludiu...
O facto de ele ter dado uma má lição ou ter feito uma má redacção não quer dizer que eu não possa votar nele.

Como encara o movimento de gays católicos?
São pessoas que põem problemas. Eu acho que o drama de cada pessoa deve ser entendido. Nós julgamos e jogamos com generalidades. Eu despertei para este problema já há muitos, muitos anos, quando conheci um casal que já não era jovem e que me confessou, amargurado, que o filho era homossexual. E eles sofriam e diziam: "Não discriminamos o nosso filho, achamos que não é um crime." Nós podemos não aceitar nem entender que os nossos filhos sejam homossexuais, mas temos de os amar, não os podemos afugentar. E a Igreja só pode ter uma atitude: acolher, ouvir, tentar entender. Eu às vezes pergunto a colegas: "Você já alguma vez falou com um homossexual?" É que eu já e sabe o que é que vi? Uma pessoa que sofria loucamente, porque não era entendida, porque tinha uma orientação sexual que não é aceite socialmente. Alguém que se sentia só, escorraçado. Alguém que se escondia.

A Igreja acolhe os homossexuais, na verdade. Desde que não pratiquem a sua homossexualidade...
Com certeza que um casal homossexual não é um teórico, não é? E os afectos traduzem-se por essa prática, por essa fusão psíquico-afectiva da unidade misteriosa que é o ser humano.

A Igreja tem de entender isso?
Entender, sim. Sacralizar é que não - porque o amor, para a Igreja, é um sacramento, o matrimónio. Esta é uma matéria muito complexa, que tem de ser muito bem compreendida. E nenhuma instituição pode dizer se aceita ou não aceita. Cada caso é um caso.

Que opinião tem dos novos movimentos? Em Portugal, o Papa disse que são a nova Primavera da Igreja, mas depois recomendou algum cuidado aos bispos. Em que é que ficamos?
As duas coisas são compatíveis. Eu gosto dos novos movimentos. Há um ou outro mais exagerado, mas não vou mandar recados através do jornal. Na minha diocese não tenho esse problema. Mas se tivesse, chamá-los-ia e dialogaria. Há particularidades que podem chocar dentro da Igreja, por isso o mais importante deve ser criar um espírito de comunhão. E são uma Primavera, de facto. Admiro, por exemplo, os neocatecumenais, apesar das críticas, porque entregam, a partir de determinada altura, 10% do que ganham. Qual de nós é capaz de dar uma pequena parte do seu salário para os pobres e para uma obra de bem comum? Só que, de uma maneira geral, há muito o espírito de tribo e o que o Papa pediu foi que os bispos estejam atentos, no sentido de promoverem uma maior abertura.

De movimento para movimento, os ritos são muito diversificados. A longo prazo, isso não poderá pôr problemas à Igreja e causar rupturas?
Tem razão. Por isso mesmo é que o Papa pede diálogo, acompanhamento e proximidade. A convicção que tenho é que muitos movimentos estão em roda livre e alguns correm o perigo de serem uma igreja dentro da Igreja.

Tem criticado o centralismo do Vaticano. Porquê?
Julgo que deveríamos estar muito mais próximos - nós, Conferências Episcopais - e que o Vaticano nos deveria atender mais. Acho, por exemplo, que o presidente da Conferência Episcopal deveria ser uma espécie de núncio, o nosso representante muito próximo da Santa Sé.

Mas já temos um núncio...
Mas há muita gente que defende que os núncios deviam desaparecer e a ligação com Roma passar a ser feita de uma maneira muito mais próxima, através do presidente das Conferências Episcopais. Não sei se isto faz sentido ou não, mas que há centralismo, há. Roma fica longe. Devíamos estar mais perto e as nossas decisões deveriam ser mais ouvidas no Vaticano.

E existir maior liberdade para decidir?
Há um dirigismo muito grande. Por exemplo, decretou-se, no ano passado, o ano sacerdotal e decidiu-se que se iria falar sobre sacerdotes. Não poderíamos, dentro da Igreja em Portugal, decidir outra temática para cada diocese trabalhar? Às vezes, parece que vem tudo feito de Roma. Digo isto no sentido construtivo, claro. E no sentido de se aumentar a comunhão profunda com Roma.

É conhecido por dizer sempre tudo o que pensa. Diz mesmo?
Sim, sempre. Quer dizer... Agora estou a ir para velho e chega-se à conclusão de que não vale a pena gastar certas munições.

Então mas porquê? Já teve más experiências?
Não, não tive. Normalmente, digo o que penso.

Mas de certeza que já recebeu puxões de orelhas por falar de mais ou dizer coisas que não devia...
Já. De pessoas que discordam das minhas ideias. Recebo tantas cartas antipáticas! Um dia, hei-de publicá-las a todas! Não me importo, naturalmente, que existam posições diversas das minhas. Só me chateia que as pessoas deturpem o que defendo ou partam para o insulto e para a agressão gratuita.

E de dentro da Igreja?
Chamaram-me a atenção uma ou duas vezes.

A propósito de quê?
Planeamento familiar, por exemplo. Só que eu continuo a pensar o mesmo que pensava e a dizer o que dizia. O que vem provar que, da minha parte, não há a mínima hostilidade. Há uma grande comunhão e amor à Igreja e estou convicto, pela minha experiência pastoral, que aquilo que defendo será muito em breve uma realidade. Eu não aceito o dogmatismo dos métodos naturais. Por vezes, as pessoas não querem ser realistas. Mas o mais importante é que se continue sempre em grande diálogo, porque a verdade nunca se possui plenamente.

Teve um percurso académico longo, foi professor universitário, esteve muito ligado à filosofia e estudou muito. Nunca se sentiu tentado a pôr em causa alguns dogmas da Igreja?
Nunca. Pelo contrário. Quanto mais estudei, mais aumentei a minha fé e mais encontrei explicações racionais para a minha fé. Sabe qual é o grande mal no que toca à religião? Ninguém estuda nada, nem o primário. Mas toda a gente tem opiniões.

A fé cabe, então, no domínio da razão?
Fui sempre buscar à cultura filosófica razões e motivos para tornar mais lúcida a minha visão dos grandes problemas da fé. Há uma frase de Pasteur de que gosto muito: "Porque eu estudei muito, tenho a fé de um bretão. Mas se eu tivesse estudado mais, teria tido a fé de uma mulher da Bretanha" - porque a mulher é mais piedosa. Esta frase tem sido um dos grandes guias da minha vida.

domingo, 27 de junho de 2010

Ajudar as famílias a sair do armário

por Fernanda Câncio, 8 de Agosto 2009, in Diário de Notícias

"Estamos do lado do preconceito contra os nossos filhos ou do lado dos nossos filhos contra o preconceito?" A pergunta levou à criação da AMPLOS, Associação de Mães e Pais pela Liberdade da Orientação Sexual. Pelos filhos, pelos pais, "pelos valores mais fortes da família" - por amor

"Não reagimos da forma mais correcta possível. De certeza que fiz coisas erradas ou menos certas." Margarida Lima Faria, 51 anos, socióloga, casada há trinta, mãe de duas filhas, descobriu há cinco anos que uma delas, a mais nova, é homossexual. Descobriu é uma forma de dizer: foi informada pela própria. "Não foi uma conversa nada fácil, sobretudo para ela. Sinto orgulho por ela nos ter dito, por isso corresponder a uma relação de confiança e à noção que teria da nossa capacidade de a aceitar como ela é. E por corresponder a uma ética da verdade, algo que tentámos sempre construir na nossa família."

A hipótese, confessa, "nunca se tinha colocado". E a reacção foi "mais de confusão que de desilusão". Sorri. "Uma coisa que queria dizer aos outros pais é que no dia seguinte ao da revelação está tudo igual, o mundo não acabou - até está melhor, porque se tem um filho mais feliz." Mas nem toda a gente, é sabido, vê as coisas assim. "Tenho uma amiga médica que me contou que uns amigos lhe ligaram para falar do grande drama que acontecera à filha. E ele achou que era algo tão grave que perguntou 'Não me digam,é um cancro?'E eles responderam: 'Pior que isso' ."

No sossego da esplanada do Centro Cultural de Belém, local perto do seu emprego onde Margarida marcou o encontro, a brutalidade irredimível da frase suspende os gestos. "Aquilo que as pessoas são depende muito das relações primárias que se constroem no seio da família.

Se os pais não aceitam os filhos é um golpe terrível na sua auto-estima. E as pessoas que não gostam de si próprias não são bons cidadãos."

A fobia que leva pais a renegar filhos por causa da sua orientação sexual também se vira contra os pais que não os renegam. "É absurdo. Temos dificuldade de falar dos filhos homossexuais, pedem-nos que façamos de conta que não existem. Durante muito tempo quando me perguntavam pelas minhas filhas elidi a vida relacional de uma delas. Mas a partir de uma certa altura senti que devia começar a lidar com a coisa de forma completamente natural, porque de outra forma estava a discriminar uma filha em relação à outra. E as reacções começaram a ser muito estranhas. Quando dizia 'A minha filha tem uma namorada', havia quem me dissesse 'Estás a dizer isso para me provocar' e quem me falasse de doenças, a ponto de eu ficar numa tristeza..."

Foi em grande parte devido a essas reacções que começou a formar-se na cabeça de Margarida a ideia de uma associação. De fazer qualquer coisa mais estruturada, mais organizada, para mudar as coisas. De partilhar o que sentiu e decidiu e pensou durante os últimos cinco anos , desde que sucedeu aquilo que passou a ver "como uma boa oportunidade que a vida me deu".

Para Margarida, a AMPLOS não deve ser "só uma associação de pais de homossexuais" ,: deve ter lugar para toda a gente que ache esta luta importante. Também não quer que se diga "Ai, agora os pais têm de falar pelos filhos, defendê-los". "Não é nada disso, nem eu gostava que a minha filha estivesse nessa situação. Os nossos filhos são jovens adultos, sabem pensar pela sua cabeça e defender-se. A última vez que falei com uma professora da minha filha para a defender tinha ela dez anos. Não se trata disso... Mas estive com jovens que morriam de medo de contar aos pais. Fui a uma reunião da ILGA e quando lemos a primeira frase do manifesto, 'Somos um grupo de mães e pais', houve um jovem que disse 'Isto não está a acontecer'." Pára, como quem sustém qualquer coisa. "Havia pessoas com as lágrimas a correr pela cara abaixo." Lágrimas de felicidade, desta vez - ou de esperança. "Houve alguns que nos contaram que um dia a mãe ou o pai lhes perguntou 'És homossexual?', e eles responderam 'Não'. E a conversa acabou aí. As pessoas contentam-se com o que querem ouvir..." A esses pais, a todos os pais que acham que os filhos os desiludem com coisas como estas, Margarida gostaria de dizer isto: "Não é um problema, um grande problema. É uma contrariedade. A vida em sociedade faz-se de expectativas, das expectativas que acalentamos em relação aos outros. E se uma expectativa se gorar, há a capacidade de adaptação, em que é muito importante o amor e a inteligência. É tudo uma questão de amor, não é?"

A AMPLOS, nome de lugar grande, coisa que abarca, de abraço, nasceu sobretudo disso - "dos valores mais fortes da família". "Desde que pusemos a circular o nossomanifesto que recebemos imensos mails e contactos de encorajamento. As pessoas dizem 'Até que enfim', 'Força', 'Que bom'... Fiquei muito surpreendida com tantas reacções positivas. Um dos que mais me comoveu foi o da mãe de duas filhas de três e cinco anos que disse querer participar para que elas pudessem crescer num mundo melhor."
http://dn.sapo.pt/gente/interior.aspx?content_id=1328905

Uma associação para Mães e Pais contra discriminações relacionadas com a orientação sexual

Inspirado pelo post de um leitor, resolvi incluir uma mensagem sobre a associação AMPLOS

AMPLOS – Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual

Quem somos:
Somos um grupo de pais que se propõe lutar por uma sociedade mais justa, opondo-nos a todas as formas de discriminação. Pela forma como nos toca enquanto pais, concentrar-nos-emos preferencialmente no combate às formas de discriminação relacionadas com a orientação sexual.

O que sabemos e sentimos:
Sentimos que muito falta fazer para que os homossexuais sejam aceites, possam assumir abertamente a sua identidade, exprimir os seus afectos, casar, ter igualdade de tratamento jurídico; em suma serem pessoas de pleno direito, serem cidadãos de plena cidadania.

Sabemos que a aceitação da sua orientação pelos pais é um dos momentos mais marcantes, e fundamentais, na sua própria aceitação como pessoas. É um momento intenso para ambos. Na maioria das vezes sofrido, por ambos.

Sabemos que muitos pais reagem de forma brutal a essa situação pelas expectativas que criaram em relação aos filhos, pelos preconceitos que circulam, e abundam, na sociedade, pela falta de informação resultante dos tabus que se têm perpetuado em torno da discussão aberta do tema.

Sabemos que para os pais é difícil falar d@ seu filh@ homossexual; falar das suas relações amorosas, dos seus projectos de vida.

Sabemos como são forçados a usar diferentes “histórias” para os seus diferentes filhos e quão dura lhes é essa discriminação. Fazem-no pelas reacções que essa abertura provoca nos outros; fazem-no pelo respeito que os filhos merecem, deixando-os decidir quando e a quem o fazer, dando por vezes um empurrãozinho, na abertura da porta desse tal “armário”. Toda esta situação exige dos pais uma atenção especial, difícil, paciente, cuidadosa.

Também sabemos que os pais estão muito sozinhos, nem sempre sabem como agir da melhor forma. Andam eles próprios a aprender a ser pais, a como sair do seu “armário” de pais reprimindo o desejo de escancarar a porta toda, e celebrar todo o amor que sentem por esses filhos.

O que queremos:
Queremos ser um grupo de pais que se oiçam, esclareçam, acompanhem.

Queremos ser uma plataforma de informação e de apoios especializados dando resposta às diferentes necessidades (individuais ou sociais) dos pais.

Queremos constituir um grupo de acção cívica ao lado dos nossos filhos e de todas as organizações que defendem os seus direitos.

Como pensamos fazê-lo:
Procuraremos locais e momentos de encontro periódico, à medida da dimensão e situações que forem surgindo. Destes contactos se seguirão outras formas de acção dependendo das ideias que nascerem no interior do próprio grupo.

Procuraremos marcar de alguma forma presença em todas as formas de encontro que digam respeito a esta causa.

CONTACTOS
Contactem-nos preferencialmente por e-mail: amplos.bo@gmail.com
Sede: Rua Eça de Queirós nº13, 1º Lisboa 1059-050

AMPLOS-APOIOS:
918820063

Ajuda pelo Conhecimento

A campanha é organizada pelo Grupo Missão Mundo, das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, em parceria com a Caritas Diocesana de Lisboa e pretende equipar duas bibliotecas em Moçambique:
· biblioteca de Manjacaze (Província de Gaza)
· biblioteca de Nacuxa (Província de Nampula)

Pode apoiar de duas maneiras
1) enviando ou entregando directamente o(s) livro(s) nas instalações das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres:
R. Carlos Mardel, 25 (junto ao Metro de Arroios) 1900-117 Lisboa
2) fazendo um donativo às Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres - 0010000947468400380, para que o GMM possa comprar os livros e apoiar a construção da biblioteca de Manjacaze.

Quais os livros que as crianças, jovens e professores mais precisam?
· Livros de Cultura Geral
· Livros de história universal, de África e de Moçambique
· Livros Clássicos de literatura
· Livros infanto-juvenil (histórias, romances, ficção, banda desenhada)
· Dicionários de línguas e temáticos
· Enciclopédias
· Mapas e atlas
· Gramáticas de Língua Portuguesa
· Manuais Escolares do Ensino Básico e Secundário (português, matemática, ciências, inglês, física, química, biologia, ciências sociais, direito, economia)
· Manuais escolares com exercícios
· Manuais de acção educativa de apoio aos professores
· Livros técnicos: informática; planeamento e gestão; criação de negócios; análise financeira, estatística, arte; desporto; economia, produção agropecuária e silvicultura; gestão e produção agrícola, sistemas de agricultura sustentáveis, filosofia, psicologia, química, física, direito internacional, saúde, contabilidade e finanças, gestão de recursos humanos, entre outros.
· Livros didácticos (jogos, cursos, pinturas, puzzles)
· DVD com filmes, cursos e documentários em português ou legendados em português

Quando?
Até 31 de Agosto de 2010

Informações em: grupomissaomundo@gmail.com ou 965151011/918126523

Enquadramento da Campanha
A intervenção do Grupo Missão Mundo (GMM), em Moçambique, desde 2007, na comunidade de Manjacaze e, mais recentemente, no Instituto Técnico-profissional de agro-pecuária de Nacuxa (em Nacala) identificou, em conjunto, com os professores e alunos, as necessidades educativas, ao nível de um conjunto de livros e materiais didácticos de apoio às bibliotecas de Manjacaze e de Nacuxa. Estes suportes educativos concorrem para o desenvolvimento humano e do próprio país, na medida em que a educação, pelo acesso à informação e ao conhecimento, é uma importante forma de combate à pobreza.
A biblioteca da Comunidade de Manjacaze, foi uma necessidade manifestada pelo Município de Manjacaze, em Agosto de 2009, e prevista no quadro do projecto Juntos na Hi Funda, a desenvolver pelo GMM, em parceria com a Fundação Evangelização e Culturas. Assim, pretende apresentar-se como um espaço de alargamento da formação escolar e concorrer, desta forma, para um melhor aperfeiçoamento escolar das crianças e jovens daquela Comunidade, colocando à sua disposição uma oferta de livros e materiais didácticos que possam circular também pelas escolas, numa lógica de biblioteca itinerante e, abrangendo, assim, um leque mais vasto de crianças e jovens.
A missão do Mártir Cipriano, em Nacala, inclui o Instituto Agro-pecuário de Nacuxa, com capacidade para 500 técnicos, de nível secundário (12º ano), uma Escola Primária Completa para 1000 alunos e mais três Escolas Primárias Completas dispersas pelas cerca de 16 comunidades envolventes, inclui um espaço reduzido de biblioteca, cujas obras que disponibiliza estão longe de serem as suficientes para as necessidades educativas das crianças e jovens daquela região.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dicas para pais e mães

O meu filho é gay
A saída do armário dos filhos é recebida com choque, apreensão e, muitas vezes, com revolta por parte dos pais. O terapeuta familiar Pedro Frazão, 33 anos, é autor de um estudo sobre este tema. Saiba quais são as principais recomendações deste especialista.

por Clara Soares, in visão, 9 de Dezembro de 2009

Quando o seu filho lhe diz que é gay

O que não deve fazer:

Transmitir ao adolescente/jovem adulto de que se trata apenas de uma fase e que com o tempo vai voltar a ser heterossexual, desvalorizando todo o trabalho de preparação que o jovem fez para partilhar com os pais o que sentia

Criar um pacto de silêncio sobre as questões relacionadas com os afectos e sexualidade dos jovens

Criar um clima de confrontação e hostilidade que faça o adolescente/jovem adulto sentir-se ainda mais isolado do que já se sentia antes do coming out ("sair do armário")

Fazer ameaças de que ou o adolescente muda a sua orientação sexual ou é afastado da família ou expulso de casa

Proibir o adolescente ou jovem adulto de se encontrar com os seus amigos ou namorados(as) que muitas vezes são apontados pelos pais mais intolerantes como responsáveis pela situação

Fazer formulações culpabilizantes de que os filhos são gays ou lésbicas porque os pais falharam ou porque a orientação sexual dos filhos resulta de experiências infantis (ex: a mãe estava demasiado próxima e o pai era distante)

Fazer comentários homofóbicos e que ridicularizam pessoas gays ou lésbicas

Procurar psiquiatras e psicólogos com o objectivo de mudar a orientação sexual dos filhos

O que deve fazer:

Criar um contexto seguro para que o adolescente ou o jovem adulto fale abertamente sobre os seus sentimentos

Assumir que, à semelhança do que foi vivido pelos filhos, os pais também necessitam de tempo para se adaptar à nova realidade

Procurar informação especializada sobre questões relacionadas com a orientação sexual

Se necessário, procurar um profissional de saúde mental especializado em questões de sexualidade

Conhecer gays e lésbicas que lhe possam assegurar que uma orientação sexual minoritária não é um problema e que lhe mostrem que essas pessoas podem ter vidas completas como homens e mulheres a todos os níveis

Procurar outros pais que têm filhos gays e lésbicas e que viveram situações semelhantes

http://clix.visao.pt/o-meu-filho-e-gay=f539523

Sondagem

Abaixo das mensagens coloquei uma sondagem para que os nossos leitores possam atribuir alguns adjectivos ao blogue. Espero que encontrem adjectivos suficientes para o caracterizar. Se faltarem características que pareçam relevantes, podem escrevê-las para rioazur@gmail.com

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pedido de colaboração em estudo

O meu nome é Daniel Matias e estou a realizar entrevistas para um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Trata-se de um estudo sobre os homens na sociedade portuguesa em que procuramos conhecer as várias opiniões sobre as mudanças no papel do homem, tendo em conta a sua história de vida e a sua própria experiência enquanto homem. -se assistido, nos últimos anos, a uma mudança no que se considera ser o papel do homem a vários níveis: na sociedade, na família, no emprego, entre outros. É objectivo do estudo procurar saber mais sobre o significado destas mudanças.

Estamos, nomeadamente, à procura de homens homossexuais entre os 25 e os 50 anos, cujas narrativas consideramos de grande importância. Estamos actualmente a procurar realizar estas entrevistas na área metropolitana de Lisboa. Gostaríamos igualmente, caso exista a possibilidade, de entrevistar participantes em outros pontos do país; caso seja esse o seu caso, e se concordar, guardaremos o seu e-mail para contacto posterior.

Envio este e-mail no sentido de pedir, caso seja possível, uma divulgação ao nível dos vossos contactos para encontrar possíveis participantes. Gostaria de realçar que todos os dados pessoais não serão revelados ou registados, garantindo assim o anonimato e confidencialidade de todos os participantes.

Para maiores informações, eis os meus contactos:
por telefone para o 914516388
ou por e-mail para daniel.matias@ics.ul.pt ou danielfilipematias@gmail.com

quarta-feira, 23 de junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

As preces escondidas

Quando leio tenho o hábito de ter um lápis enfiado entre os dedos e vou marcando frases, parágrafos ou simplesmente palavras que me falam de um modo particular. Gosto de descobrir, em contextos diversificados, descrições, pensamentos, diálogos ou até orações que poderiam ser minhas - ou que eu gostaria que fossem.

Foi assim que, ao ler o poema Dona do Dom (cantado pela Maria Bethânia), descobri este pedido:

Mesmo que às vezes eu não queira
Me faz sempre ser o que sou e fui

Vaticano com a forma de um romance

Alguém sob o pseudónimo de Monsenhor Pietro de Paoli, reflectiu sobre questões e problemas fulcrais da Igreja, e escreveu um romance a que deu o nome Vaticano 2035.

Em Portugal foi editado pela Asa. O livro fala-nos da história de um cardeal que é eleito Papa, passando antes pela experiência de um casamento, paternidade e viuvez. Este é o Papa Tomé I, laureado com o Nobel da Paz, político hábil, diplomata temível, homem prático e de imensa consciência cristã, que elege três mulheres como cardeais e introdu-las no Vaticano como suas assessoras. Outras personagens vão habitando a narrativa, desde as suas duas filhas, que não são boas a cumprir as regras, até um cardeal homossexual.


Não li o livro mas parece ser um ponto de partida possível para uma reflexão sobre uma Igreja no futuro.

A igreja católica no labirinto do sexo

Há largos meses foi-me dado a ler um artigo do Anselmo Borges, padre e professor de teologia, sobre a forma como a Igreja lida com a sexualidade. No mesmo artigo Borges sugere alguns pontos de referência para uma relação. Parece-me um texto que vai ao encontro de princípios éticos e morais - e não moralistas - que também se adequam à nossa realidade homossexual. Partilho citações do mesmo artigo e, como já não o encontro na íntegra no diário em que saiu, envio o link de um blogue em que o poderão ler na íntegra.

... «A Bíblia contém, dentro da literatura mundial, um dos mais belos hinos ao amor erótico: leia-se o Cântico dos Cânticos. Desde o início, no Génesis, se diz que a sexualidade é dom de Deus. Segundo a Bíblia, o ser humano não está dividido em corpo e alma, pois forma uma unidade. Na perspectiva cristã, o corpo não é desprezível, pois o próprio Deus assumiu a humanidade corpórea.»
...

«Começaria por relembrar o sentido profundo da sexualidade: "o primeiro bem do casamento é o amor." A sexualidade pode e deve ser um lugar privilegiado de humanização e de aprendizagem da unidade do ser humano enquanto corpo e espírito. "É pelos nossos enlaces, união íntima do corpo e do espírito, que compreendemos, talvez da maneira mais próxima, o que significa o amor encarnado."»
...

«"Os seres humanos não se reproduzem, fazem amor." É importante perguntar de que modo o exercício da sexualidade tem de facto o amor como fruto e de que modo dá fruto; "é certamente um critério de julgamento".»
...

«O meu corpo não é uma coisa, o corpo do outro não é um objecto. O exercício da sexualidade pressupõe "o respeito mútuo, a confiança e o consentimento de cada um. A sexualidade realmente humana não pode exercer-se no âmbito do constrangimento, da chantagem ou de uma relação tarifada. O exercício da sexualidade humana é feito de permuta de gestos e de intimidade revelada, "mas pressupõe antes uma troca de palavras.»
...

«Violar a palavra dada, quebrar um compromisso, ser infiel são faltas graves.»

Carta a um jovem católico gay

Uma carta de James Alison publicada na Concilium, uma revista internacional de teologia católica, em Janeiro de 2008. Abaixo o link da versão original (inglês) e da versão brasileira de Gentil Avelino Titton. Devido à extensão do texto limito-me a citar pequenos trechos:

«Quantas vezes dirigiram-se a você com a palavra “você” numa publicação católica? (...) Normalmente, sempre que há uma discussão sobre questões gay em publicações católicas, o estilo torna-se rapidamente duro e aparece um misterioso “eles”.»
...

«E se me oferece a oportunidade de falar a você, não em caráter oficial, mas como irmão, um irmão com um pouco de história de vida que inclui ser um homem abertamente gay. É-me dada a oportunidade de dirigir-me a você partindo do mesmo nível em que você está, como alguém que não sabe melhor que você a respeito de quem você é, e mesmo não sabe muito a respeito de quem eu sou. No entanto aconteceu algo novo. Tornou-se possível, numa publicação católica da tendência dominante, que a palavra “você” seja pronunciada de forma aberta e sem restrições, de uma forma que espero ressoe criativamente no seu íntimo, por um “eu” em cujo timbre de voz são evidentes as inflexões daquela tensão amorosa que é a seqüela de viver como um homem abertamente gay no seio da Igreja católica.»
...

«“... Mas o Deus que nos é revelado em Jesus não poderia de maneira alguma tratar essa pequena porção da humanidade que é gay e lésbica com dois pesos e duas medidas, da maneira como a Igreja chegou a fazê-lo”. Ele não poderia de maneira alguma dizer: “Eu amo você, mas só se você se tornar outra coisa”; ou: “Ame seu próximo, mas, em seu caso, não como a você mesmo e sim como se você fosse um outro”; ou: “O amor de você é por demais perigoso e destrutivo, encontre algo diferente para fazer”.»
...

«Não! Não quero pretender que ser um católico abertamente gay é algo fácil ou óbvio. Não é. Para começar, o simples fato de você querer ler uma carta como esta é um sinal de quantos obstáculos você já deve ter superado. É bem possível que você já tenha enfrentado ódio e discriminação em seu país, por parte de membros da sua família, na escola, nas mãos de legisladores ávidos de votos fáceis, através de manchetes gritantes de jornais que lhe queimam a alma, e diante das quais você fica sem palavras para se defender. E você provavelmente notou que, no melhor dos casos, a Igreja que se diz – e é – sua Santa Mãe manteve-se calada a respeito do ódio e do medo. Enquanto muitíssimas vezes seus porta-vozes ter-se-ão rebaixado ao nível dos políticos de segunda classe, vociferando ódio enquanto afirmam apoiar o amor. O simples fato de você, através e em meio e apesar de todas estas vozes odiosas, ter ouvido a voz do Pastor chamando você a fazer parte de seu rebanho já é um milagre muito maior do que você imagina, que prepara você para uma obra mais sutil e mais delicada do que aquelas vozes poderiam conceber.»
...

«Você compartilhará todo o desprezo que o mundo moderno tem pela Igreja católica pelo fato de você apegar-se firmemente à fé que recebeu – pensarão que você terá pouca coisa de valor a oferecer. E, pelo fato de ser um católico, você estará sempre a ponto de ser considerado uma espécie de traidor de qualquer projeto que seus contemporâneos procuram construir. Nenhuma surpresa nisto: isso faz parte do jogo. Mas você enfrentará alguma coisa a mais, porque será considerado uma espécie de traidor também no seio da Igreja. “Não é bem um dos nossos”. E certamente não alguém que possa representar publicamente a Igreja, ser uma parte visível do sinal que leva à salvação.»
...

«Porque, evidentemente, eu posso ter perdido o chão embaixo dos pés e caído no espaço onde não há nenhum olhar por ter-me tornado hermético em meu próprio orgulho e auto-ilusão. Neste caso, nunca encontrarei um olhar, mas irei dançar ao ritmo dessa auto-decepção, imaginando-me santo e especial enquanto a morte não chega. Ou, se estou sendo levado pelo Espírito de Deus, o lugar onde não existe nenhum olhar pode transformar-se no espaço onde sou encontrado pela atenção de Deus. E isto será experimentado por mim como um “nada” ao meu redor, e só os outros podem perceber que existe um “eu” sendo chamado ao ser por Alguém cujos olhos não posso ver, mas Ele pode ver-me, um sopro que não posso sentir e no qual no entanto estou sendo sustentado. E, evidentemente, os outros não entenderão necessariamente mais do que eu o que eles vêem vindo ao ser.»
...

«"¡Esto va para largo…!" ["Isto vai levar muito tempo!"] – era o sábio conselho que me dava um dos meus formadores, um dos meus treinadores, que além de ser gay é historiador. Ele me dizia, como eu estou dizendo a você, que o processo de ajustamento à verdade nesta esfera vai levar muito, muito tempo. E só acontecerá se pessoas como você e eu estiverem preparadas para amar o projeto (...) Aquele que por primeiro deu vida ao projeto para nós, irá infundir-nos coragem e força e esperança»
...

«Será, meu amigo, que esta oportunidade de comunicação irá se repetir? Será que é apenas um ruído no ar, será que os bloqueadores das ondas de rádio católicas conseguirão impedir ainda mais um intercâmbio aberto entre um “eu” católico e um “você” católico, que por acaso são ambos gays? Ou será que não há algum degelo no permafrost eclesiástico e a conversa se tornará muito, muito mais fácil? Seja como for, permita-me dizer a você o que descobri em meus anos de clandestinidade em território inimigo: você não está sozinho, e as promessas d’Ele são verdadeiras.»
http://www.jamesalison.co.uk/texts/eng52.html
http://www.diversidadecatolica.com.br/bibliografia_detalhes.php?id=44

Homossexualidade habitada pelo Espírito

Christian Albini, professor universitário de Ciências religiosas, católico e heterossexual, publicou o artigo "Homossexualidade: por uma antropologia inclusiva" na revista Mosaico di Pace, de maio de 2009, do qual cito uma parte. A tradução é de Benno Dischinger, em português do Brasil.

"O ponto emergente é mostrar que as homossexualidades entram nesta história da liberdade habitada pelo Espírito como possíveis variantes e não como desvios, porém como modos de exprimir a comunhão trinitária. Trata-se de narrar o vivido homossexual não enquanto uso “de-gênere” do corpo, como um ato separável da pessoa, como elemento estranho e acidental, mas enquanto entrelaçamento de corporeidade, de significados simbólicos, de dinamismos afetivos e espirituais. “Em toda reflexão teológica sobre a identidade humana é necessário manter conectados o biológico, o simbólico e o social como interpretativos do historicamente colocado. Mas, esta primeira tese não pode ser desligada da segunda tese, inevitável para uma reflexão que queira ser teológica: a relação com Deus confirma nossa identidade e vice-versa” (Stella Morra). As homossexualidades podem ser vistas, assim, como manifestações da interioridade autêntica que, numa experiência cristã, se dispõe a ser habitada pelo Espírito."
ler na íntegra em:

James Alison, teólogo católico e padre

Um amigo do blogue partilhou o nome de um teólogo que escreve sobre a homossexualidade. Tenho andado a pesquisar um pouco sobre ele e pareceu-me oportuno partilhá-lo neste blogue. Na net é possível encontrar muitos dos seus livros, estudos, conferências e palestras.

Passo a citar a entrevista de José Frota e Paulo Paixão do semanário Expresso de 29 de Março de 2008

"Ser 'gay' é como ser canhoto"
Padre e autor de diversas obras, como a recentemente publicada "Carta a um Jovem Católico 'Gay'", o britânico James Alison participou no retiro, há uma semana, promovido por católicos homossexuais.

James Alison nasceu em 1959. Tem publicadas várias obras sobre cristianismo, entre as quais estudos sobre a questão "gay" (parte delas estão disponíveis, em várias línguas, no site de James Alison, no final do texto). Alison doutorou-se na Faculdade de Teologia de Belo Horizonte, no Brasil. Pertenceu aos dominicanos entre 1981 e 1995. No sábado participou no encontro promovido pelo Riacho. Na quarta-feira, por telefone, respondeu a questões do Expresso.

Esteve recentemente em Lisboa. Com que impressão ficou das aspirações dos homossexuais católicos portugueses?
Conheci muito poucos. Foi uma visita relâmpago, num fim-de-semana de Páscoa, complicado para a agenda de muitas pessoas. Mas as aspirações parecem-me muito parecidas às de outros "gays" noutras partes do mundo. Em Portugal percebi que existe aquela situação muito típica dos países mediterrânicos: a convivência "gay" é muito tranquila. Não há muitas figuras públicas (da televisão, políticos ou médicos, por exemplo) assumidas, algo que acontece cada vez mais noutros estados. Já quanto à Igreja portuguesa, creio que existe um silêncio total.

No panorama internacional (Europa e Américas, sobretudo), as reivindicações dos movimentos portugueses são um caso isolado ou inserem-se num fenómeno emergente?
Neste momento, trata-se de uma tendência universal. Em Espanha, por exemplo, já há matrimónio civil. A Igreja espanhola gritou alto contra a situação, mas o assunto tornou-se pacífico. Quando a sociedade aceita realidades assim, o protesto eclesiástico encontra ouvidos surdos. O fenómeno dissemina-se rapidamente, sobretudo em países sul-americanos, como Brasil, México ou Colômbia. Hoje em dia, a geração que pessoas com menos de 30 anos não entende o porquê das resistências da Igreja. E sente uma angústia por causa dessa incompreensão. A reivindicação do direito de cada um dizer honestamente quem é (pois é disso que se trata) tem-se espalhado muito rapidamente.

Que mecanismos ou razões permitem aos homossexuais serem mais tolerados dentro da Igreja Católica ou melhor tratados dentro de um determinada sociedade?
A Igreja Católica não pode afastar-se da lei civil. É muito difícil na Inglaterra, por exemplo, um cardeal falar em tons de ódio contra os "gays", porque há uma legislação contra um discurso que incite ao ódio. Assim, existe uma pressão das leis civis: estas condicionam uma maior abertura ou maior repressão da Igreja Católica. O triste desta questão é que, normalmente, a Igreja Católica resiste sempre às mudanças. Em Itália, por exemplo, a situação é ligeiramente diferente...

De que forma?
Há movimentos de homossexuais muito bem estruturados, que mantêm boas relações com a Igreja local. Mesmo com bispos. É o caso do movimento "La Fonte", protegido pela diocese de Milão. De um modo geral, a não ser que um determinado bispo tenha uma grande carga ideológica na sua actuação, o que a generalidade da estrutura eclesiástica deseja é que não se faça muito barulho com o assunto. Em todos os pontos, os grupos começam a reunir-se, sejam em terreno neutro, seja em espaços de uma paróquia, autorizados por um padre mais sensível à questão. As coisas desenvolvem-se a partir daí. A cumplicidade que se gera não é meramente nos vários níveis da estrutura da Igreja; é também na sociedade. Quando as situações já são dados adquiridos, claro que há bispos que podem gritar que é heresia! Mas há outros que dizem o contrário, pois o mais importante é que as pessoas se sintam bem dentro da Igreja

Há igrejas cristãs com maior abertura e tolerância face aos homossexuais?
Nos EUA há igrejas praticamente assentes na população "gay", como a Metropolitana ou Episcopaliana. Esta (a versão norte-americana da Igreja Anglicana) tem recorrentemente grandes problemas com os anglicanos. Os episcopalianos são "gay friendly" e têm mesmo um bispo que assume a sua homossexualidade. Já nas grandes igrejas protestantes há uma dupla realidade, que mostra divergências, entre uma ala "gay friendly" e outra homofóbica. Uma igreja muito mais intolerante do que a Católica é a Ortodoxa (sobretudo nos países eslavos). Nas paradas "gay" em Moscovo, por exemplo, elementos da Igreja Ortodoxa estão ao lado de neonazis e de "skinheads", ameaçando os manifestantes. No mundo ortodoxo é importante acompanhar a evolução da Igreja grega, um país da União Europeia, a caminhar para um sentido mais "gay friendly".

Como vê a posição doutrinária da Igreja Católica nesta questão?
A doutrina, na verdade, depende totalmente da avaliação de um dado objectivo. Ou ser-se "gay" é uma patologia (um desvio da natureza); ou então é uma anomalia natural, não patológica. Até recentemente a homossexualidade era considerada um desvio, um vício, um defeito de saúde (mental ou psíquica). Só que é cada vez mais difícil sustentar esta posição. Neste quadro, os "gays" não são mais nem menos perturbadas do que outras pessoas com determinada especificidade. É como ser canhoto, por exemplo.

Mas a doutrina prevalece?
Em boa verdade, a doutrina já mudou, mesmo sem as autoridades eclesiásticas quererem, ou o reconhecerem. Perante os factos - é hoje perfeitamente claro aquilo que um homossexual é -, há muito pouco para dizer. A Igreja não pode considerar intrinsecamente perversos os actos que procedem da natureza de cada pessoa. Ora, assim os actos não podem ser descritos como objectivamente desordenados. Ao fim ao cabo, prevalece uma doutrina formal. E mesmo os porta-vozes evitam justificar os seus argumentos com as teorias oficiais.

Tem uma produção bibliográfica sobre esta questão. Na apresentação da sessão proferida em Lisboa, o Riacho escreveu: "A ideia é procurar caminhos para a construção de uma vivência católica partilhada sem entrar em rivalidade com, ou ressentimento contra, o "statu quo" eclesiástico". Concorda com esta leitura muito prudente? O pragmatismo é a única via?
Não é uma questão de cautela: é de princípio. O grande problema de muitos "gays" é ficarem com um forte ressentimento, por razões todavia compreensíveis. O ponto-chave é não se deixarem arrastar, pois é fácil encontrar nas instâncias eclesiásticas um inimigo útil. A solução passa, com efeito, pela afirmação de uma sanidade mental e psíquica. Não podemos permitir que um mal que nos é infligido domine a nossa inteligência.

sábado, 19 de junho de 2010

Conceitos à luz da homossexualidade e do desafio de ser cristão

Motivado pela criação do movimento "Mulheres XXI" (cem mulheres católicas que não se revêm no Prof. Cavaco Silva enquanto candidato de direita, face às suas "posições" relativamente a valores que consideram fundamentais - leia-se casamento homossexual), venho partilhar alguns conceitos da psicologia e sociologia que me parecem pertinentes, baseando-me em trabalhos da Prof. Doutora Gabriela Moita:

Homofobia - Embora tenha sido Kenneth Smith (1971) quem, pela primeira vez, usou o termo homofobia, é habitualmente atribuída a George Weinberg (1972) a responsabilidade pela sua popularização. Weinberg definia, então, homofobia, como o pavor em estar em espaços fechados com homossexuais. Mais tarde, em 1976, Gregory Lehne redefine o termo, passando homofobia a significar um medo irracional ou intolerância relativamente à homossexualidade. Recentemente, Colleen Logan propõe, em alternativa, a expressão "preconceito homossexual (homoprejudice)" baseando-se na definição de preconceito de Aronson, segundo o qual se trata de uma "atitude ngativa ou hostil para com um grupo distinto de pessoas, baseado em generalizações resultantes de informação correcta ou incorrecta" (Logan, 1996)

Heterossexismo - termo proposto por Stephen Morin em 1977, significando as crenças e atitudes que não atribuem o mesmo valor aos estilos de vida entre pessoas do mesmo sexo e entre pessoas de sexos diferentes. De uma forma geral, o termo é utilizado para referenciar o sistema ideológico que nega, denigre e estigmatiza qualquer forma de comportamento, identidade, relacionamento ou comunidade não heterossexual. É, ainda, usado para caracterizar os preconceitos heterossexuais contra homossexuais bem como os comportamentos baseados nestes preconceitos - surge o paralelismo entre o sentimento anti-gay e outras formas de preconceito como o racismo, o antisemitismo ou o sexismo. Um dos efeitos pragmáticos de heterossexismo é a necessidade de indivíduos homossexuais poassarem por heterossexuais. (Herek, 1996)

A estes conceitos, gostaria de contrapôr outros dois, face ao cunho católico deste blog, e aos meus desafios pessoais enquanto tal:

Caridade - É a mais nobre de todas as virtudes teologais, é ela que informa todas as outras virtudes e mede o grau de santidade. Consiste no amor sobrenatural a Deus e a todos os que Deus ama, estejam ainda neste mundo ou já tenham dele partido, sejam amigos ou inimigos. Implica o dom de si mesmo, levando a uma certa identificação com o próprio Deus. A bem-aventurança resultante deste exercício é a dos "obreiros da paz, que serão chamados filhos de Deus", e os frutos do Espírito Santo dele resultantes são o estado de caridade, a alegria e a paz.

Compaixão - Compaixão (do latim compassione) pode ser descrito como uma compreensão do estado emocional de outrem; não deve ser confundida com empatia. A compaixão frequentemente combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro ser senciente, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem. A compaixão pode levar alguém a sentir empatia pelo outro. A compaixão é frequentemente caracterizada através de acções, na qual uma pessoa, agindo com espírito de compaixão, busca ajudar aqueles pelos quais se compadece. A compaixão diferencia-se de outras formas de comportamento prestativo humano no sentido de que seu foco primário é o alívio da dor e sofrimento alheios. Actos de caridade que busquem principalmente conceder benefícios em vez de aliviar a dor e o sofrimento existentes, são mais correctamente classificados como actos de altruísmo, embora, neste sentido, a compaixão possa ser vista como um subconjunto do altruísmo, sendo definida como o tipo de comportamento que busca beneficiar os outros minorando o sofrimento deles.

Quer o "Mulheres XXI", quer nós, homens e mulheres católicos e homossexuais do século XXI, temos grandes desafios a cumprir...

Morreu o nosso Nobel da literatura

Venerado por uns, mal amado por outros, figura controversa mas ímpar na literatura portuguesa.

Partilho duas palavras dele:

"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa."

«As misérias do mundo estão aí, e só há dois modos de reagir diante delas: ou entender que não se tem a culpa e, portanto, encolher os ombros e dizer que não está nas suas mãos remediá-lo — e isto é certo —, ou, melhor, assumir que, ainda quando não está nas nossas mãos resolvê-lo, devemos comportar-nos como se assim fosse.»

Curta metragem de animação, baseada num texto do Saramago e narrada pelo mesmo. Talvez ajude a conhecer outra faceta deste escritor, um lado mais humano e interessado nas coisas simples da vida:
Algumas notas a propósito:
Igreja expressa pesar pela morte de José Saramago
José Saramago: da redução da Bíblia até à última fronteira
Saramago: o mais bíblico e antibíblico dos autores contemporâneos
Obra de José Saramago espelhou "condição humana", diz Igreja Católica

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O novo sagrado da arte contemporânea

Os artistas fazem novas leituras de temas de sempre. Os caminhos divergem. Introduzem-se visões críticas sociais ou políticas. Age-se directamente no conteúdo actualizando-o ou recontextualizando-o. O medium ou a forma são alterados. Escolhem-se detalhes ou aspectos da mesma forma, sublimando uma atitude mais contemplativa, selectiva, subtil ou recolectora.

Uma coisa é certa: há espaço para o Sagrado na arte.

Partilho convosco algumas pietá de artistas contemporâneos (Elisabeth Olson Wallin, Ellen Stagg).

Andy Wharol católico

Quem diria que o excêntrico Andy Wharol era católico?

É sabido que o Sagrado habita desde sempre o mundo da arte, e que não é necessário que um artista tenha fé para lidar com temas da religião. Também é sabido que Andy Wharol, o mais célebre artista da Arte Pop americana, era homossexual. O que eu desconhecia era a sua prática religiosa...

ver mais em
http://www.snpcultura.org/vol_andy_warhol.html

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A libertação sexual não foi tomada a sério pela Igreja

Entrevista Antonio Autiero
Por António Marujo
Público, 16 de Junho de 2010

O celibato deve ser discutido, a Igreja não levou a sério a revolução sexual dos anos 60 e nas questões da homossexualidade "há vivências dramáticas" e "discriminações" às quais a Igreja deve atender. Opiniões de Antonio Autiero, referência da teologia moral católica, que diz ser legítimo que, no caso dos abusos sexuais, se exija mais da Igreja.

Professor de Teologia Moral, o italiano Antonio Autiero, 62 anos, dá aulas na Universidade de Münster (está há 28 anos na Alemanha), a mesma onde o actual Papa Bento XVI ensinou entre 1963 e 66, quando era ainda o padre Joseph Ratzinger. De passagem por Lisboa, Autiero falou com o P2 sobre as questões polémicas que atravessam a Igreja Católica.

Perante os abusos sexuais de membros do clero, que deve fazer a Igreja?

Antes de mais, deve tomar consciência de que é um momento muito delicado. Nas últimas décadas, a pedofilia estendeu-se dos Estados Unidos para a Europa - a Europa germânica foi particularmente atingida. O que é novo é a vastidão do fenómeno.
Podemos ser levados a pensar que o fenómeno está tão difundido que não há sistemas educativos eclesiásticos que não estejam tocados. Isso seria também uma reacção exagerada, não documentada e não justificada. As Igrejas - começa-se a falar também de situações na Igreja Evangélica na Alemanha - têm uma rede muito difundida de instituições educativas. Apesar destes casos, o grosso do sistema ainda é portador de valores e métodos positivos.

Há 20 anos, apareceram os primeiros casos no Canadá e os bispos publicaram um documento para resolver a situação. Nos outros países não se levou a sério o problema e talvez não se tenha feito o suficiente...

Estou de acordo: o compromisso inicial da Igreja norte-americana devia produzir um efeito maior, para romper a conspiração do silêncio. Não devemos fechar os olhos à responsabilidade que a Igreja teve nas décadas passadas, por amor de outros valores e para salvaguarda de outros princípios. Mas, como instituição, a Igreja não acelerou o processo de ruptura. Antes, mesmo por inexperiência, mas sobretudo por medo e falta de capacidade profética, tornou-se cúmplice desta difusão do silêncio.

O que está em causa nesta questão? O celibato, a educação, a revolução sexual?

A revolução sexual dos anos 60 foi uma causa apontada por um bispo da Alemanha. Não tem justificação. Se quisermos ser exactos, direi até o contrário: este é o sinal de que a parte verdadeiramente positiva e sã da libertação sexual não foi tomada a sério pela Igreja.
No aspecto antropológico, a libertação sexual pertencia à cultura emancipadora dos anos 60. Tinha, na sua sã intenção, a finalidade de levar o indivíduo a dar maior importância à responsabilidade pessoal e interpessoal. Não só na própria sexualidade mas também na relação com o outro. Se tivesse sido tomada a sério, a revolução sexual teria o efeito contrário: a pedofilia é uma conduta que não toma a sério a relação, parte de um sujeito e reduz o outro a um objecto.

Há 30 ou 40 anos não havia uma consciência tão forte contra a pedofilia.

Sim, se hoje temos esta evidência, é porque quem foi vítima agora pode falar. E há também uma consciência colectiva que cresceu e que não estigmatiza a vítima. O primeiro sujeito que deve ser responsabilizado é o agressor.

O jornalista italiano Luigi Accattoli disse que, desde 1995, foram detectados mais de cinco mil casos e, desses, pouco mais de 100 são vítimas de padres. A Igreja Católica é a única sob acusação ou isto é uma desculpa para a Igreja?

Na Alemanha, em escolas de elite, também há casos deste género. Isto coloca o fenómeno num contexto mais vasto: como sociedade, devemos, antes de fazer de uma instituição o bode expiatório, compreender a vastidão da problemática. Isto não retira à Igreja a sua responsabilidade, seja numericamente, seja porque a Igreja tem de dar testemunho. É legítimo que se peça mais à Igreja.

Hans Küng escreveu que está em questão o celibato obrigatório, defendendo que há um sistema que se autoprotege. Está de acordo?

Küng distingue que nem todos os celibatários são pedófilos, nem todos os pedófilos são celibatários. Há pedofilia em contextos muito amplos, como na Internet. Aproximo-me dele na valorização dos desafios do sistema do celibato obrigatório, dos quais a Igreja está consciente: como desenvolver processos e itinerários educativos dos futuros sacerdotes, de modo a que a maturidade sexual possa ser verdadeiramente conseguida. O celibato é o contexto, não é a causa.

O cardeal Cristoph Schönborn [arcebispo de Viena] dizia que se pode debater tudo, incluindo o celibato. O arcebispo de Salzburgo repetiu a ideia, mas o Papa disse que o celibato tem características sagradas. O que fazer?

Esta contraposição não é nova, nem de hoje. Não discutir não é uma solução original, nova e actual do problema.

Então, devemos discuti-lo?

Sim.

O Vaticano II falou da consciência como o santuário íntimo de encontro do homem com Deus. Mas o discurso dominante insiste na obrigação de cumprir normas e não tanto no valor da consciência.

Isso é verdade, se tivermos em conta que a autoridade do magistério diz respeito à objectividade e à generalidade do comportamento. Mas a responsabilidade moral assume-a o sujeito perante a própria consciência, Deus e a comunidade, determinando a resposta oportuna e correcta à indicação do magistério.
Se são normas que dizem respeito à esfera individual e levam o indivíduo, de forma responsável, a dar uma resposta diferente do magistério, é uma coisa. Mas se há valores e interesses de terceiros, já não é só uma relação entre magistério e sujeito: há também uma terceira pessoa, em geral débil e desprotegida, em relação à qual o magistério joga um factor advocatório.

Quando sabemos que para redigir a encíclica Humanae Vitae [que desaconselhou os anticoncepcionais] se confrontaram dois grupos, podemos pensar que hoje a doutrina poderia ser outra.

Não o podemos negar. Isso faz perceber também o valor histórico das respostas do magistério, que não está fora da realidade e de um contexto [histórico]. Não se sabe o que aconteceria se o Papa Paulo VI tivesse dado mais espaço à opinião da maioria na Humanae Vitae.
Quer dizer que, se muda o contexto, devo perguntar se a resposta é ainda válida. Há uma continuidade da doutrina que acaba por não ter em consideração [o que as pessoas pensam], que já não está a chegar às pessoas.

A oposição da Igreja ao aborto terá sido um dos factores que levaram outros sectores a defenderem leis mais liberais. Se a Igreja admitisse que as pessoas decidissem em dadas situações, essa posição não seria mais aceite pela sociedade do que estando sempre contra?

O problema é que, retendo o princípio fundamental de que o respeito pela vida é imutável e considerando que a missão da Igreja é "proclamar a verdade dos princípios" seja qual for o efeito, a Igreja não tem em conta as situações concretas e não leva a sério a verdade e autenticidade das pessoas e comunidades que sofrem determinadas situações. Há um afastamento entre os princípios - que não fazem mal a ninguém, mas não fazem bem à comunidade - e as pessoas, que não se reconhecem na palavra da Igreja.

E o resultado?

O efeito último é que, do ponto de vista estratégico, para querer "salvar tudo", acaba-se por não recuperar sequer a parte possível da criação de consenso e de mobilização da responsabilidade.
A Igreja e a sociedade civil (através de expressões de consenso democrático, como o Parlamento) confrontam-se sobre temas como este. Mas as finalidades são diferentes: a Igreja fala para promover uma "mensagem moral". O Estado não deve falar para promover uma mensagem moral. De outro modo, cairíamos numa concepção do Estado como fonte de moralidade.

Então, à luz da teologia moral, é legítima uma lei diferente da posição da Igreja?

Eu diria algo intermédio: nem tudo o que é ético deve passar no condensado de uma formulação jurídica. A finalidade desta, e do Estado que faz leis, está em sintonia, mas não coincide com a finalidade da Igreja. Isto vale para as duas partes: o Estado não pode ser fonte de moralidade, a Igreja não pode ser fonte de legislação civil. Se não, teríamos o Estado ético, que leva às ditaduras, ou a teocracia, que também sabemos a que conduz.
O Estado tem a finalidade da paz social, a Igreja tem a finalidade da salvação. Numa situação de pluralismo de visões religiosas, culturais e éticas, o Estado deve encontrar, de preferência com sabedoria, a visão que, na feitura das leis, tenha em conta essa pluralidade.

Diria o mesmo sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo ou da investigação genética?

No caso das uniões de pessoas do mesmo sexo, há vivências dramáticas. Tem de se ter em conta a história de discriminações. Uma cultura cujo único modelo é o matrimónio heterossexual exclui do gozo de outros direitos pessoas que poderiam ser incluídas, mesmo sem colocar em perigo o instituto do matrimónio.
Isto vale também para a pesquisa genética ou as células estaminais: deve ter-se em consideração as expectativas da comunidade e as situações dolorosas ou as expectativas de terapia que, de outro modo, não seriam tratadas.
Devemos ter o critério geral de uma maior atenção - da ética, da teologia, do magistério, da comunidade - perante as pessoas em estado de debilidade e fragilidade. Isto é típico da mensagem cristã. A história que a caridade cristã escreveu passa hoje por curvar-se [perante as pessoas] de forma não ideológica nem arrogante, mas de escuta real.

Faz falta essa atitude?

Penso que sim, não tanto na Igreja. A cultura em geral sofre desta falta, perante as situações dolorosas. Penso em governos que estão contra a imigração de cidadãos que provêm de outras partes. Há tantos sinais... Gostaria que a Igreja tivesse um grito profético e se colocasse ao lado dos que vivem verdadeiramente o drama e querem que apareça uma palavra clara e pública.

http://jornal.publico.pt/noticia/16-06-2010/a-libertacao-sexual-nao-foi-tomada-a-serio-pela-igreja-19522928.htm

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O rinoceronte e o contratenor

Vasco Araújo e Javier Telles, um português o outro venezuelano, dois nomes da arte contemporânea. Uma exposição que ocupa vários espaços da Fundação Gulbenkian em Lisboa. Chamo a atenção sobre dois trabalhos no edifício sede da Gulbenkian

far de Donna é um vídeo de Vasco Araújo.
"Fazer de Mulher, é baseado na história de um rapaz que descobre a sua voz de contra-tenor no dia em que a sua mãe perdeu a sua própria voz. A peça é então sobre as relaçóes edipianas entre mães e filhos, que em grande parte dos casos ninguém morre mas algo fica efectado no ser interno de cada um."
in Vasco Araujo website
É um trabalho em que é impossível ignorar a força dos contrastes e ambiguidades - voz/mudez, som/gesto, corpo/timbre, recolhimento/exposição, casa/palco - e em que a música e a narrativa se entrelaçam numa cumplicidade bem urdida.

O rinoceronte de Dürer é um filme digital de Javier Telles, encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian - CAM. É a viagem de um rinoceronte embalsamado pelo panóptico do hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, um espaço arquitectónico ímpar outrora ala de segurança máxima. E são as vivências dos habitantes das celas - note-se o contributo extraordinário do grupo de artistas/pacientes do Hospital Psiquiátrico Júlio de Matos com quem Javier trabalhou. Como ponto de partida temos o desenho técnico de Dürer a partir da descrição de um rinoceronte, sem nunca ter visto um "exemplar". Este rinoceronte terá sido oferecido pelo rei português D. Manuel ao Papa.
"O meu objectivo é fazer com que as pessoas questionem a noção de normalidade. Como artista quero também dar visibilidade àqueles que estão condenados pela sociedade à invisibilidade"

É imperativo assistir ao filme inteiro para poder nele entrar. Aconselho a visita em dias com pouca afluência, para uma experiência mais íntima com este trabalho. A dimensão psicológica e a beleza de cada homem e de cada mulher marcam este filme cadenciado. É um objecto de uma beleza rara.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

No início...a benção original

Apesar de alguns sinais de mudança na sociedade e na nossa Igreja, as vozes dissonantes (na sociedade e na nossa Igreja) muitas vezes conseguem convencer-nos de que a nossa identidade sexual é errada, uma perversão, uma maldição que temos de "carregar" o resto dos nossos dias...a forma como olhamos a nossa identidade sexual (benção ou pecado, perversão ou graça) influenciará a forma como me aceito, me relaciono com os outros, com o mundo que me rodeia e com Deus... gostava de vos trazer esta perspectiva (profundamente também psicológica, pois conduz à aceitação e à abertura) do teólogo Pierre Stutz:



"No início
não foi o pecado original
mas a benção original
pois é decisivo
se é um mais ou um menos
o que deu origem à minha vida.
No início
é-te prometido
que és abençoado
na tua identidade
na tua força de relação
na tua fragilidade
na tua ligação à criação.
No início
Deus deixa as suas cores de vida em ti
para que a vida seja colorida
para que a corrente da vida flua
para que a tua transparência se mantenha
para que as janelas do céu se abram."

"No início" de Pierre Stutz (baseado em Gen, 24b-25)

terça-feira, 8 de junho de 2010

A coragem de aceitar ser aceite

Uma das maiores necessidades do coração humano é a de ser aceite. Podemos dizer que todo o ser humano quer ser amado. Mas isso é ambíguo. Há tantas variedade de amor quantas espécies de flores. Para alguns o amor é apaixonado, para outros, romântico, e ainda para outros, simplesmente sexual. Há, no entanto, um amor mais profundo, o amor de aceitação. Todo o ser humano deseja ardentemente ser aceite, ser aceite tal como é. Nada na vida tem um efeito tão durável e tão devastador como a experiência de não ser completamente aceite.


Só quando sou amado, no sentido profundo da aceitação total, é que eu posso vir a ser eu mesmo. O amor e a aceitação dos outros fazem de mim a pessoa única que eu estou destinada a ser. Aceitar uma pessoa não significa negar os seus defeitos, antes pelo contrário. Somente quando aceito alguém é que passo verdadeiramente a admitir os seus defeitos.

Deus aceita-me tal como sou – e não como deveria ser. Disseram-nos a importância de amar a Deus. É verdade. Mas é bem mais importante o facto de que Deus nos ama. O nosso amor por Deus é secundário. O amor de Deus por nós vem primeiro: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos Deus, foi ele que nos amou.” (1 Jo, 4, 10)

Na noite que precedeu a Sua morte, Jesus reza ao pai pelos seus. “Tu os amaste como me amaste a mim (…) Eu te peço que o amor com me amaste esteja neles (Jo 17, 23-26). Parece inacreditável que Deus nos ame tanto quanto ama o seu filho, Jesus Cristo. É o que diz a Escritura.

Nós estamos divididos no nosso amor. Deus não pode amar senão totalmente (a 100%). Nós experimentamos o amor, mas Deus é amor.

A fé fundamental é o “amor que Deus tem por todos e cada um de nós”. Assim, a aceitação de si próprio é também um acto de fé, é aceitar ser incondicionalmente aceite por Deus.


Piet van Breemen, SJ

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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