Basílica da Sagrada Família, Barcelona, termina em 2026 mas nunca ficará concluída
Não estará terminada em 2026, centenário da morte do seu principal artífice, Antoni Gaudí. Ou melhor, explica Jordi Faulí, diretor da fábrica da igreja, «nessa data estará certamente completada a arquitetura da Sagrada Família», o templo expiatório de Barcelona, grande e magnífico como uma catedral.
Mas aquela imensa basílica é mais do que arquitetura: «É uma obra-prima artística e testemunha de fé. E, como acontece nas maiores catedrais, requererá um cuidado constante, um estaleiro que nunca se encerra».
Temia-se que não se conseguisse completar o projeto a tempo do centenário, devido às muitas dificuldades que se levantaram. Mas, passo a passo, foram resolvidas.
No início deste século colocou-se o problema do caminho-de-ferro de alta velocidade, que passa subterraneamente a poucos metros diante da fachada principal. Receava-se que as escavações e as vibrações causadas pela passagem dos comboios colocassem em perigo o imponente edifício, cuja torre principal chegará aos 172,5 metros, a cota mais alta da cidade.
«Houve uma mobilização de milhares de personalidades da cultura, em todo o mundo. E a companhia ferroviária instalou uma parede de contenção e proteção que desce mais de 30 metros sob o solo. Agora as composições passam no túnel mas não se sentem vibrações de qualquer tipo.»
Sobre a cobertura começam a erguer-se as seis torres principais, as mais altas, que completarão o perfil exterior do templo. Não causarão problemas ao sistema de pilares que está por baixo, construído há muito tempo?
Gaudí previa que o estaleiro viesse a adotar todas as soluções necessárias, ainda que não fossem conhecidas por ele. É o que os meus antecessores fizeram, e continuamos nesse caminho. Os projetos por eles deixados foram estudados e atualizados no plano tecnológico. Mas o suporte geométrico original permanece, dado que se revela capaz de sustentar no seu melhor a arrojada estrutura.
Completámos recentemente a sacristia ocidental, que em dimensão pequena tem uma forma semelhante à da torre maior, que será dedicada a Jesus: seja esta seja aquela são compostas por doze segmentos. A torre está a subir na intersecção da nave e dos transeptos, circundada pelas quatro torres dedicadas aos evangelistas. E sobre a abside está a ser construída a torre dedicada à Virgem Maria.
Como foi resolvida a dispersão dos modelos e desenhos de Gaudí devido à guerra civil de 1936-39?
Os seus modelos, que em dimensão reduzida, mas com extrema precisão, prefiguravam a nave e as fachadas, foram parcialmente destruídos; as suas notas e esboços foram queimadas. Mas, afortunadamente, os seus alunos tinham-nas já estudado e publicado. Os seus livros foram recuperados e servem de guia. Os modelos foram reproduzidos, também graças às impressoras a três dimensões, que permitem estudar como proceder.
Parece que nas partes mais recentes, como no volume da cúpula de 40 metros de altura da primeira das duas sacristias, há um problema cromático.
Ao tempo de Gaudí usava-se a pedra de Montjuic, um arenito compacto e sólido de cor ligeiramente amarelada. Mas a pedreira de onde era extraída acabou; por isso recorremos em parte à reutilização de pedras de edifícios em desuso, e portanto também a outras pedreiras cujas pedras têm tonalidades diferentes. Agora juntamos pedaços de várias cores que, no conjunto, a certa distância, apresentam um cromatismo próximo do original. Isso, no entanto, é em parte falseado pelo tempo: as partes mais antigas ressentem-se dos efeitos meteorológicos e da poluição atmosférica.
Será por isso já necessário restaurá-las?
Estamos a preparar-nos para limpar as superfícies e, eventualmente, consolidar partes da fachada da Natividade, a única completada por Gaudí. Quando terminar a construção das torres e fachadas de Gloria, concluir-se-á também o restauro desta primeira fachada restauração desta primeira fachada.
Depois teremos de inserir os campanários, mas isso acontecerá mais tarde e exigirá um grande investimento. As torres, no total, serão 18, têm fendas verticais onde estão dispostos blocos inclinados para que a água flua sem inundar o interior: a partir daí, as badaladas espalhar-se-ão.
A conclusão do trabalho arquitetónico em 2026 não implicará o encerramento do estaleiro. Teremos de que continuar a trabalhar para manter este extraordinário edifício.
Que, aliás, já foi dedicado.
A cripta, a parte mais antiga do edifício, serve como igreja paroquial. Na igreja grande, que foi consagrada pelo papa Bento XVI em 2010, celebra-se a liturgia eucarística todos os domingos e em várias línguas. Habitualmente metade dos participantes é estrangeira. Gaudí estava consciente de que este templo se dirigiria a todo o mundo, não só aos habitantes de Barcelona.
Leonardo Servadio In Avvenire
Publicado em SNPC a 2 de março de 2018
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