Como viver o Natal de outra maneira?
"Quando um nascimento acontece numa família, envia-se um sms a todos os amigos com uma fotografia do recém-nascido. Quer-se anunciar a novidade a toda a gente. No Evangelho é a mesma coisa. Os anjos querem anunciar o nascimento de Jesus ao mundo inteiro. O Natal é uma festa da alegria. O anjo é muito preciso: «Anuncio-vos uma grande alegria para todo o povo». Com efeito, a alegria não pode ser verdadeira enquanto houver quem não a possa viver.
Talvez seja por isso que os primeiros a quem a boa-nova é anunciada sejam os pastores. Estes homens pobres viviam à margem das cidades, eram muitas vezes mal vistos, suspeitos de serem ladrões de galinhas. É a eles que a novidade é revelada em primeiro lugar. Se assim não fosse, arriscar-se-iam a serem esquecidos, marginalizados. Como podemos então viver o Natal evitando que haja pessoas que fiquem sós, isoladas, esquecidas? Se assim acontecer, não haverá verdadeiramente Natal. A autêntica partilha do Natal situa-se, antes de tudo, na relação, e não na dimensão comercial e consumista. É o calor da relação com os outros que todos nós procuramos neste tempo. Os presentes não serão verdadeiros se não forem sinal dessa relação.
Há muitas possibilidades de entrar em relação no Natal: visitar detidos nas prisões, participar em refeições onde a mesa está aberta às pessoas sós, aproximar-se e participar na distribuição de alimentos a pessoas sem-abrigo. Pode organizar-se uma animação musical em locais de grande afluência, como estações de transportes, ou organizar boleias para levar à missa de Natal as pessoas afastadas que não se conseguem deslocar pelos próprios meios, quer por motivos de saúde, quer por não terem dinheiro, quer por não terem quem se lembre delas.
Há outras iniciativas simples. Em vez de enviar os mesmos votos de Natal a todo o meu livro de endereços, posso reservar tempo para escrever uma carta personalizada a algumas pessoas que eu sei que vão passar o Natal sozinhas, ou telefonar mais demoradamente a alguém. Trata-se de apurar o meu olhar e a minha escuta. Nos transportes públicos, em vez de ouvir a minha música ou ler o meu jornal, posso olhar para as pessoas, dar um sorriso com alguém que cruze o meu olhar, arriscar-me a cumprimentar alguém que não conheço.
É preciso também saber, e talvez isto seja o essencial, que no Natal todos desejam poder dar - «Há mais alegria no dar do que no receber», dizia Jesus (Atos dos Apóstolos 20,35). Muitas vezes as pessoas, mesmo as muito pobres, desejariam também elas dar um presente, como sinal do seu desejo de relação. Estarei eu aberto à reciprocidade na relação? Esta é a condição da verdadeira alegria. A alegria no Natal anunciada aos pastores."
P. Dominique Fontaine, Capelão do “Secours Catholique” In "Fêter Nöel"
Tradução de Rui Jorge Martins publicada pelo SNPC a 16 de dezembro de 2014
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