Os brinquedos
"Olhar para os brinquedos oferecidos no Natal debaixo da árvore, desembrulhá-los com excitação e brincar com eles é uma experiência encantadora para muitas crianças em todo o mundo. Mas raramente pensamos de onde é que os brinquedos vieram, quem os fez e sob que condições foram fabricados.
Uma organização norte americana de defesa dos direitos laborais e humanos (Institute for Global Labour and Human Rights, IGLHR) publicou o relatório “Dirty toys made in China” (“Brinquedos sujos feitos na China”) sobre as condições de trabalho existentes na fábrica Dongguan Zhenyang Wanju Limited.
A unidade, que produz brinquedos e bonecas para empresas como a “Disney”, “Hasbro” e “Mattel”, que os distribuem na Europa, EUA e Austrália, emprega mais de mil trabalhadores e 800 pessoas, temporárias e estudantes, muitas das quais não têm mais de 16 anos, em condições quase geladas, que recebem 1,36 dólares norte-americanos por hora.
Os trabalhadores estão proibidos de se afastarem das suas áreas de trabalho e nem sequer podem parar para beber água. E dado que os níveis de ruído são extremamente altos em algumas secções, alguns colaboradores há mais tempo na unidade sofreram perdas de audição.
O relatório refere também que os colaboradores estão em movimento acelerado constante para responder à pressão das quotas de produção. Há trabalhadores a relatarem que «ambas as mãos têm de estar constantemente em movimento».
A quota para uma equipa de 36 trabalhadores na produção de carrinhos de brinquedo é de 11 mil peças por dia, o que significa que cada empregado tem de fazer 306 unidades por turno. Uma operária afirmou que era obrigada a produzir 2 400 pernas para bonecas da “Disney”: «Não se pode afastar os olhos por um segundo».
Na secção de pintura e impressão, que estão cheias de fumos tóxicos, não é oferecida aos trabalhadores a possibilidade de usarem máscaras com filtro, o que em alguns causa náuseas e tonturas.
E depois de trabalhar pelo menos 12 horas nestas condições desumanas, os trabalhadores têm de dormir em estreitos beliches de madeira, dispostos em dormitórios a abarrotar.
De acordo com o organismo de proteção dos direitos laborais, os seus contactos no terreno relataram um aumento do número de ativistas presos, enquanto outros “desapareceram”.
Empresas «como a “Disney”, “Hasbro” e “Mattel” têm certamente o poder para negociar melhorias modestas para os 1800 trabalhadores em Zhenyahng. Já é mais que tempo que a “Disney, “Hasbro” e “Mattel” tomem medidas concretas para melhorar as condições dos seus trabalhadores chineses. Não é pedir muito», afirmou o diretor do IGLHR.
A organização disponibiliza na sua página a lista das sete empresas de brinquedos fornecidas pela fábrica, bem como uma carta, pré-escrita, em que se expressa a preocupação quanto às injustiças sofridas pelos trabalhadores. São precisos menos de cinco minutos para enviar uma mensagem a todas as companhias.
O Compêndio da Doutrina Social da Igreja sublinha que «o trabalho tem uma prioridade intrínseca em relação ao capital», pelo que as pessoas são mais importantes do que o dinheiro.
O documento cita a encíclica “Laborem exercens”, de S. João Paulo II, quando preconiza a «urgência de dar vida a sistemas económicos nos quais a antinomia entre trabalho e capital seja superada». Mas, ao contrário, «os progressos científicos e tecnológicos e a mundialização dos mercados, de per si fonte de desenvolvimento e de progresso, expõem os trabalhadores ao risco de ser explorados pelas engrenagens da economia e pela busca desenfreada de produtividade».
Uma maneira de começar a parar esta exploração laboral é responsabilizar as empresas pelos abusos cometidos, através dos quais obtêm lucros astronómicos à custa dos direitos dos trabalhadores. Para que o encantamento das crianças não aconteça sobre a desumanização de muitos."
por Tony Magliano in "National Catholic Reporter"
Tradução de Rui Martins para SNPC a 22 de dezembro de 2015
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