"Nós combatemos o apartheid em África, apoiados por pessoas de todo o mundo, porque nós negros eramos acusados e passávamos por um enorme sofrimento relacionado com algo que não podíamos alterar: a cor da nossa pele", escreveu este líder religioso. “Passa-se o mesmo com a orientação sexual. Esta é um dado adquirido”, acrescentou.
Desmond Tutu disse que não poderia ter lutado contra a discriminação imposta pelo apartheid sem lutar contra a discriminação sofrida pelos homossexuais. “Tenho orgulho que na África do Sul, quando tivemos finalmente a oportunidade de escrever a nossa própria constituição, os direitos humanos tenham ficado explicitamente inscritos nas nossas leis” disse, acrescentando que espera que em breve esse seja também o caso de outros países.
A África do Sul é até agora o único país do mundo em que a constituição garante direitos iguais independentemente da orientação sexual. Esta posição contrasta com a dos seus países vizinhos nos quais a homossexualidade é muitas vezes punida pelo código penal.
"No entanto, um pouco por todo o mundo, lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros são perseguidos" escreve o Arcebispo Tutu. “Tratamo-los como párias e empurramo-los para fora das nossas comunidades. Fazemos com que duvidem que também eles são filhos de Deus – e essa é a última das blasfémias. São acusados simplesmente por serem quem são” acrescenta.
"As Igrejas dizem que a expressão do amor numa relação heterossexual monogâmica – incluindo o lado físico, o tocar-se, abraçar-se, beijar-se, o acto genital – reflecte a totalidade do nosso amor assim manifestado, faz-nos crescer transformando-nos e aproximando-nos de Deus tornando-nos mais próximos do outro, mais solidários. Se é assim para os heterossexuais, porque razão não haverá de ser igual para os homossexuais?” pergunta Tutu.
Também no seio da Igreja Anglicana Sul Africana, a homossexualidade tem sido muito controversa a ponto de ter ameaçado a divisão da própria comunidade anglicana. O actual líder da Igreja Anglicana na África do Sul , Njongonkulu Ndungane, tem sido um grande defensor da inclusão dos homossexuais na comunidade da Igreja, em conflito com outros líderes de outras Igrejas Anglicanas.
Neste livro recém editado, a Aministia Internacional relata histórias de gays e lésbicas um pouco por todo o mundo. Estas incluem Poliyana Mangwiro que liderou o movimento de Gays e Lésbicas do Zimbabwe apesar do Presidente Robert Mugabe defender que a homosexualidade é contra “as tradições Africanas”.
O livro também inclui a história de Simon Nkoli, um Sul Africano activista do ANC que depois de ter passado quatro anos na prisão sob o regime do apartheid continuou a lutar pelos direitos dos gay na África do Sul. Refere ainda histórias de ódio, medo e perseguição que são relatadas a partir da Nigéria, Egipto e outros países, para além de testemunhos de estados em que a homossexualidade é punida com pena de morte; incluindo Sudão, Mauritania e alguns estados da Nigéria do Norte.
Para o Arcebispo Tutu, estas "forças destrutivas" feitas de "maldade e preconceito" são diabólicas. “Um pai que eduque um filho para ser racista estraga esse filho, estraga a comunidade em que ele vive, estraga os nossos desejos de um mundo melhor. Um pai que eduque um filho dizendo-lhe que só há uma orientação sexual e que qualquer outra está errada nega a nossa humanidade assim como a sua própria humanidade,” conclui Desmond Tutu.
Traduzido a partir de:afrol News, 7 Julho 2010 pela amplos
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