Os vossos filhos são um presente de Deus criador a vós e à humanidade, assim como a vida de todo o ser humano. E vocês são para eles um instrumento da Providência divina, para que tenham vida, afecto, educação e valores.
Chamamos Deus de ‘Pai’, conforme a nossa tradição judaico-cristã. Usamos a nossa linguagem e experiência humanas para nos dirigirmos a alguém que ultrapassa os limites do mundo e da nossa vivência. Também reconhecemos nele os traços da ternura materna. A experiência do amor incondicional, que os pais proporcionam, é fundamental para o despertar da fé e para uma sadia relação com Deus.
Ter filhos homossexuais remete-vos para a complexa realidade da diversidade sexual. Ao longo da história e em diferentes culturas, esta questão foi tratada de vários modos.
A nossa tradição de séculos longínquos e recentes já considerou a relação entre pessoas do mesmo sexo uma abominação e uma séria doença, impondo um pesado fardo a gays e lésbicas. No entanto, há mudanças que não podem ser negligenciadas, como a evolução dos direitos humanos, a superação da leitura à letra da Bíblia e, nos anos 90 do século passado, a supressão da homossexualidade da lista de doenças da Organização Mundial de Saúde. Trata-se de uma condição, e não de uma opção, que alguns carregam por toda a vida.
A sociedade e as famílias necessitam aprender uma nova maneira de lidar com a homoafectividade; a Igreja Católica, que é parte da sociedade, também. Ao se falar da Igreja, frequentemente pensa-se em proibições e condenações. Este não é um ponto de partida adequado.
A Igreja ensina que ninguém é um mero homo ou heterossexual, mas antes de tudo um ser humano, criatura de Deus e, pela graça divina, filho Seu e destinado à vida eterna. E acrescenta que os homossexuais devem ser tratados com respeito e delicadeza. Deve-se evitar para com eles toda a forma de discriminação injusta.
No nível local, há mudanças importantes acontecendo na Igreja. Em 1997, os bispos católicos norte-americanos escreveram uma bela carta pastoral aos pais dos homossexuais. O título é: Always our children (Sempre Os Nossos Filhos). Segundo eles, Deus não ama menos uma pessoa por ela ser gay ou lésbica. A SIDA não é um castigo divino. Deus é muito mais poderoso, mais compassivo e, se for preciso, mais capaz de perdoar do que qualquer pessoa neste mundo. Os bispos exortam os pais a amarem-se a si mesmos e a não se culparem pela orientação sexual dos filhos, nem pelas suas escolhas. Os pais de homossexuais não são obrigados a encaminhar os seus filhos para terapias de reversão para torná-los heteros. Os pais são encorajados, sim, a demonstrar-lhes amor incondicional. E dependendo da situação dos filhos, observam os bispos, o apoio da família é ainda mais necessário.
Prezados pais, os vossos filhos serão sempre vossos filhos. Vocês não fracassaram e nem erraram por causa da sua orientação sexual. O estigma de infâmia e de doença ligado à homossexualidade precisa ser vencido. A aceitação da condição de vossos filhos torna a vida de ambos muito melhor e mais feliz. Esta tarefa não é fácil, mas também não é impossível. A prova disso é o depoimento de tantos pais que já o conseguiram, ainda que tenham levado alguns anos.
A confiança no bom Deus, fonte de todo o bem e do amor incondicional, há de tornar este caminho mais suave e com êxito.
Cordialmente,
Pe. Luís Corrêa Lima, S.J
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