Rui Aleixo (detalhe de pintura colectiva no 30º aniversário do 25 de Abril de 1974) |
O Espírito da Democracia
O 25 de Abril de 74 constitui efectivamente um marco. Trouxe-nos o regime democrático e o que ele representa em termos de cidadania e de cultura; operou a descolonização, conseguindo uma saída pacífica e digna para conflitos que pareciam insolúveis; recolocou Portugal no desígnio europeu, ajudando a vencer um persistente isolacionismo. O 25 de Abril qualifica-nos assim com uma herança imensa. E, sem dúvida que, como sociedade e nação, precisamos de reencontrar-nos com essa memória, envolvendo nela as novas gerações.
Mas o que o 25 de Abril nos legou não é propriamente uma obra acabada, que nos cabe apenas conservar. Pensemos na democracia. Claro que a instauração do regime representa um extraordinário momento histórico. Mas a democracia não está feita. É em cada dia, em cada ciclo que ela se constrói e reinventa para poder cumprir-se. A democracia tem muitas ameaças, que mesmo não sendo ameaças ao sistema, são ofensas ao espírito da democracia: e elas provêm sobretudo da pobreza, do desemprego, da exclusão e da injustiça.
Cabe-nos a todos, mas de forma particular aos que democraticamente nos representam, zelar pela saúde da democracia. Quarenta anos depois da revolução de Abril, o pior que nos podia acontecer era contentarmo-nos por vivermos formalmente num estado democrático e abandonarmos as inquietações do espírito da democracia, que nos obriga a fazer festa, é verdade, mas também a arregaçar as mangas. Como dizia Sophia de Mello Breyner Andresen, o 25 de Abril é o «dia inicial».
José Tolentino Mendonça
In Agência Ecclesia / Com SNPC
© SNPC | 25.04.14
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