Há um ano: escultura de Cristo nu cria polémica na Semana Santa da cidade espanhola de Medina del Campo
A imagem em madeira chamada Cristo nos braços da morte foi feita sob encomenda do município de Medina del Campo (centro-leste espanhol) e, muito antes de sair às ruas, já recebeu críticas e elogios de fiéis, políticos, artistas e religiosos. A peça que mede 2,45 metros de altura está a ser exibida ao público no Museu da Cidade, de onde sairá no próximo (dia 9 de Abril de 2011) em procissão.
O escultor espanhol Ricardo Flecha, autor da escultura, entende a polémica, mas afirma que a intenção foi apenas voltar a uma interpretação barroca da Via Cruxis.
“Entristece-me que o aspecto genital seja o mais importante aqui, porque frivoliza o meu trabalho”, disse o artista à BBC Brasil. “Tem muito mais valor o conceito de um Cristo entregue nos braços da morte que o facto de estar nu.”
Flecha explicou ainda que queria voltar ao passado com a obra. “No século XVI, tínhamos imagens realistas de Cristos que se rebelavam contra a morte e virgens que quase blasfemavam. No meu caso, a nudez só representa o desamparo e a fragilidade.”
Sensibilidade dos fiéis
Mas a proposta não parece ter convencido todos os fiéis que saem em procissão nas 12 confrarias da cidade.
Depois de receber críticas de religiosos e políticos locais, a Junta ainda não decidiu se a imagem será levada às ruas do jeito em que está ou se os genitais estarão cobertos por um tecido. Por via das dúvidas, o escultor já recebeu a encomenda de preparar uma peça de cobertura.
Um dos mais críticos é o vice-presidente da Junta Local de Semana Santa de Medina, David Muriel Alonso, que acha que a imagem fere a sensibilidade de fiéis e foge ao habitual decoro da celebração católica.
“É possível ser realista sem a necessidade de tanta exposição. Mostrar os genitais do Nosso Senhor é realmente imprescindível? Entendemos as procissões como momentos de recolhimento, de profunda sensibilidade. É tão difícil respeitar isso?”
Tentando encontrar uma solução salomónica, o vice-diretor do Museu Nacional de Escultura de Valladolid, um dos organizadores dos eventos da Semana Santa de Medina del Campo (a mais antiga da Espanha, com mais de 600 anos de existência), pede calma e consenso.
Manuel Arias disse que entende as posições antagónicas e espera que até as datas de celebração religiosa haja algum acordo.
“É verdade que há séculos os artistas já faziam obras de arte de figuras sacras nuas. Não há nada de errado nem de irreverente nisso. Acontece que o Concílio de Trento (1545-1563) provocou um forte puritanismo e as peças passaram a apresentar-se vestidas”, diz.
“Agora, o que uns vêem como escândalo e ferimento de sensibilidades outros vêem como continuação de uma escola académica determinada, uma obra de arte. Mas é preciso considerar todos os pontos de vista e chegar a um acordo. Se os fiéis se vão sentir mal pelo nudismo, cobriremos e ponto. Depois da procissão, tiramos o pano”, concluiu.
in http://aceveda.com.br/blog/?p=26853 em 29 de Março de 2011
Ler no blogue artigos sobre a nudez em Cristo, na iconografia e na arte:
http://moradasdedeus.blogspot.com/2011/04/o-novo-nu-em-cristo.html
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/09/o-santo-vai-nu.html
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/11/o-rei-belo.html
http://moradasdedeus.blogspot.com/2011/02/nudez-na-arte-do-pudor-ao-que-interessa.html
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