Um velho rabino atravessava a praça da aldeia, todas as manhãs, a caminho do templo para orar. Uma manhã, um cossaco abordou-o e disse-lhe: «Ó rabino, onde vais?» E o velho rabino respondeu: «Não sei.» O cossaco ficou furioso. «Não te armes em esperto comigo – gritou. – Há vinte e cinco anos que todas as manhãs atravessas esta praça para ir ao templo rezar! Sabes muito bem para onde vais!» Então, o cossaco agarrou no ancião pelo casaco e arrastou-o para a cadeia. Quando estava a ponto de o atirar para uma cela, o rabino virou-se para ele e disse: «Estás a ver? Eu não sabia para onde ia.» (Joseph Goldstein)
É quando começamos a tomar a vida por garantida que mais necessitamos de aprender a rezar.
A verdade é que, durante todo o tempo em que estamos a fazer planos para o que vamos fazer a seguir e como havemos de o fazer, a vida vai acontecendo. As ações caem na Bolsa, perde-se o emprego, o avião não parte a tempo, o projeto falha. Tudo o que planeámos para as nossas vidas, para o nosso futuro, para o momento, dá para o torto.
Então, o deus-problema levanta a sua cabeça feia. Porque é que Deus me fez isto? Que fiz eu para merecer isto? Porque é que Deus não dá um jeito a isto? Como é possível que Deus ignore a nossa oração? Como escreveu George Bernard Shaw: «A maior parte das pessoas não reza; só pede.» Mas, a dada altura, se é que queremos desenvolver-nos espiritualmente, a noção de que a oração serve para tornar a vida naquilo que queremos que ela seja, dissolve-se. Obviamente, não funciona.
A depressão instala-se. Paramos completamente de rezar. Deixamos de ir à igreja. Começa a comprazer-nos a ideia de que todo este tema da oração tenha sido uma espécie de embuste. Teremos dito as orações erradas? Teremos descuidado alguma parte do ritual que teria, certamente, assegurado o nosso sucesso? Será que Deus não nos ama?
Nestes estádios iniciais de oração, o problema é a própria oração. Pior: também colocamos Deus em questão. Então, o que é que nos está a falhar?
A oração é o processo de integrarmos tudo em Deus. Como dizem os místicos, começamos a aprender que só Deus basta.
A verdade é que nenhum de nós sabe, realmente, para onde vai, nem sequer podemos nunca tomar por garantido que vamos a algum lado. Podemos planear as nossas vidas mas não podemos garanti-las.
Quando as nossas orações não são atendidas só uma coisa é certa: nessa altura, o desafio da vida é vivê-la de modo diferente. E é através da oração que descobriremos como proceder. Ao ver Jesus ser levado para fora da cidade, compreendemos que não podemos esperar mais para nós. Ao ver Jesus deprimido no Jardim das Oliveiras, compreendemos que a depressão não é uma perda de fé, é o momento da fé. Ao ver Jesus perder o favor das autoridades, aprendemos que as autoridades não são a medida final das nossas vidas.
Por isso, vamos para a oração livres dos desejos que nos amarram, livres para viver a vida em Deus, livres para escolher a confiança acima da certeza – o que significa, realmente, livres para escolher Deus, acima de nós próprios.
Mantra
Leitura bíblica
Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, como um laço; pois atingirá todos os que habitam a terra inteira. Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem. (Lucas 21, 34-36)
Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
publicado por snpc
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