Fazer a paz, reconciliar sempre
Contrariamente ao que se diga, todos somos insubstituíveis, e o que cada um não fizer, por fazer ficará, nesse modo e ocasião. Deixai-me pedir-vos (...): - Acolhei o que o Espírito vos pedir, no fundo da consciência e na interpelação da Igreja. Tem alguma razão o nosso povo, quando diz que “cada qual é para o que nasce”; mais razão há decerto para que o Espírito requeira de cada um de vós a coincidência da vida com uma vocação específica. Na vida laical ou na vida religiosa, no sacerdócio ou na missão, para cada um de vós o Espírito tem um segredo e um apelo. Escutai-O hoje, que para tal o recebereis de seguida. Aí encontrareis a felicidade, que só reside na vontade de Deus. Aí a encontrarão tantos outros, que esperam o vosso sim. O Espírito em vós, para a salvação do mundo. Nada menos do que isso e precisamente assim. Amen!»
11.5.2008
Responder às difíceis circunstâncias da sociedade
«E este mundo que nos toca, caríssimos irmãos, este mundo que hoje nos toca a todos, precisa tanto de ser recriado pelo Espírito de Deus! Amados irmãos, (...) percebei o que verdadeiramente se oferece neste Pentecostes do Espírito. Em Cristo, Deus reabilita a humanidade, esta mesma que cada um transporta e concretiza, tão magnífica de potencialidades e tão tragicamente desmentida por tantas contradições íntimas e sociais. Em Cristo, a nossa vida é vivida de forma novamente bela e finalmente refeita, segundo o desígnio de Deus.
Só por isso seremos plenamente cristãos. Reconhecemos em Cristo o que profundamente desejamos ser. Desde o batismo, o seu Espírito atesta em nós que tal é possível. E que nem conseguimos imaginar a totalidade cristã a que o Espírito nos levará… (cf. Ef 3, 20). (...) Prosseguirá através de vós a obra de Cristo no mundo, na força recriadora do Espírito divino. Precisamente assim é que a Igreja de Cristo responde atualmente à expectativa de todos, nas difíceis circunstâncias da sociedade que integramos e onde havemos ser “sal” de conservação e sabor, assim como “luz” de esclarecimento e ânimo (cf. Mt 5, 13-16).»
Sé do Porto, 12 de junho de 2011
Beija a tua cruz e ela há-de florir
E realmente não ficou assim. Este “realmente” refere-se à ressurreição de Jesus, hoje aqui connosco, como na alvorada primeira da Páscoa de que vivemos. Quando repetimos convictamente “Ele está no meio de nós!”, sabemos o que dizemos e experimentamos a vitória de Cristo sobre a morte; a dele e a nossa, como sucede e sucederá também. (...) Cinquenta dias depois da Páscoa (passadas 7 semanas de 7 dias, tempo pleno da colheita pascal), o Espírito que movia Jesus - por isso mesmo “Cristo”, ungido pelo Espírito de Deus - desceu sobre os discípulos para que nada se perdesse do que dissera e nada findasse do que fizera e o Evangelho continuasse, como continua agora, porque “nós também damos testemunho”.
Caros crismandos: Recebereis o Espírito para testemunhar a Cristo e ao seu Evangelho. Há tanta gente à vossa volta que espera de vós o testemunho de Cristo, mais ou menos conscientemente o espera. Não desiludais a esperança do mundo, agora porventura mais insistente ainda. Cada um de vós demonstrará que com Cristo é possível, porque a sua ressurreição é o indubitável futuro do mundo. Na escola e no trabalho – ou na recriação deste –, na família e na comunidade cristã, aqui ou onde for, um crismado é sinal vivo da vitória de Cristo, esperança fundada do futuro que será, certamente será.
Caríssimos irmãos, fragilizados por qualquer enfermidade ou circunstância: O Espírito reproduzirá em vós o sentimento e a fortaleza com que Cristo suportou a fragilidade humana, fazendo mesmo dela instrumento e meio da nossa redenção.
Ofereceram-me há dias uma cruz com esta inscrição: “Beija e tua cruz e ela há de florir”. Dum modo que dificilmente se explica, mas realmente se vive, há dois milénios que o Espírito nos ensina que é assim. A vida salva-se como é, tão magnífica como frágil, qual cálice do vidro mais perfeito. Esse mesmo cálice da nossa vida frágil bebeu-o Jesus, garantindo-nos a sua comunhão absoluta com o que somos e nele havemos de ser. Não temos propriamente um seguro de vida, mas em Cristo temos a vida segura em Deus. Isso nos segreda o seu Espírito e isso mesmo testemunhamos nós, na paz e na esperança. Oferecemos com Cristo o pouco que somos, ganhamos com Cristo o tudo de Deus.
Sé e Vila d’Este, 27 de maio de 2012
D. Manuel Clemente
In Diocese do Porto
publicado por SNPC
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