John Tavener (1944-2013)
As causas da morte não foram reveladas, mas era conhecida a sua saúde frágil. Sofria do síndrome de Marfan, um distúrbio genético que se manifesta pelos membros alongados e enfraquecimento do coração, e sofrera um ataque cardíaco em 2007 que muito o debilitara e que alterara a natureza da sua música.
A partir daí, a dimensão das suas obras (Veil of the Temple, de 2003, que considerava a sua obra-prima, tinha sete horas de duração) ganhou uma nova concisão, acompanhada, escrevia em obituário Tom Service, do "Guardian", pela «resposta instintiva» a música que anteriormente não o atraía, como a do Beethoven tardio e de Stockhausen, e à redescoberta daquela que primeiro o inspirou, a de Mozart e Stravinski.
Nascido a 28 de janeiro de 1944 em Wembley, Londres, filho de um organista da Igreja Presbiteriana, estudou na Royal Academic of Music e viu os seus trabalhos interpretados ainda na adolescência. Em 1970 surgiria pela primeira vez como nome reconhecido pelo grande público quando a Apple, editora fundada pelos Beatles, lançou no mercado The Whale, obra de 1968 ainda marcada pelo modernismo e serialismo («Não fiquei muito surpreendido pelo entusiasmo de John Lennon, mas fui surpreendido pelo de Ringo», afirmou com humor anos depois). A condição de celebridade pop da música clássica manteve-se daí em diante, enquanto a sua música se encaminhava para uma simplicidade nos antípodas do modernismo inicial, procurando exprimir uma demanda espiritual de que foi reflexo a conversão à Igreja Ortodoxa Russa, em 1977.
O seu estatuto enquanto figura pública tornar-se-ia ainda mais presente na consciência coletiva quando a sua Song For Athene foi interpretada no funeral da Princesa Diana. Era desde 2000 Sir John Tavener.
Manuel Pedro Ferreira, compositor e crítico de música do "Público", aponta que a importância de John Tavener reside principalmente «na abertura do campo de possibilidades de organização tonal para um repertório vocal que durante muitas décadas foi de alguma forma desprezado. Afirma-se através da música coral, conciliando uma necessidade de expressão contemporânea com uma ligação ao passado» – no caso de Tavener, fortemente ligado às tradições da Igreja Ortodoxa. Para Manuel Pedro Ferreira, há uma convergência entre Tavener e o compositor estónio Arvo Pärt. «Também Pärt tem uma tradição ortodoxa e ambos fizeram a ponte para uma sonoridade mais hierática, ligada às tradições do leste, numa espécie de nova simplicidade que teve bastante impacto sobretudo no tratamento da voz».
Sobre a sua música, disse Tavener: «Quis produzir música que fosse o som de Deus. Foi sempre isso que tentei fazer».
Mário Lopes
In Público a 13.11.2013
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