O prólogo diz muito…
Na altura eu colaborava com a Sala de Imprensa dos encontros ecuménicos de católicos e evangélicos, da qual o padre Bergoglio [papa Francisco] era um dos organizadores. No estádio no qual se realizava o encontro a administração não permitia entrar com comida; por conseguinte, durante as pausas todos os presentes deviam comprar lá a comida. A escolha não era muito variada: haviam só empadas, os típicos bolinhos recheados com carne, e além disso eram poucos. Era um dia de festa nacional e no programa não estavam previstos outros eventos. Alguém perguntou a Bergoglio se preferia ir almoçar no bairro exclusivo de Puerto Madero, perto do estádio, no qual se encontram diversos restaurantes elegantes, mas ele respondeu que queria ficar para almoçar juntamente com todos os outros.
Quando nós, jornalistas, fizemos uma pausa para o almoço, já era muito tarde e não tinha ficado quase nada. Enquanto percorríamos a sala onde se servia o almoço, Bergoglio aproximou-se, saudou-nos um por um e agradeceu o nosso trabalho. Nós sentámo-nos na última mesa. A empregada trouxe-nos um prato com cinco empanadas, mas éramos oito. Um de nós tomou a iniciativa e começou a dividi-las. Compartilhar: este era o espírito do encontro. Contudo, não tínhamos outra escolha.
Da sua mesa, do outro lado da sala, Bergoglio viu os nossos movimentos e compreendeu. Levantou-se e perguntou aos outros clientes se tinham acabado de comer. Recuperou das mãos de pastores e sacerdotes as últimas empadas, reuniu-as num prato e deu-nas. Comovidos pelo seu gesto tão atencioso, sentimo-nos lisonjeados e surpreendidos. Ele tinha multiplicado a comida.
Aquele pequeno milagre ficou-nos gravado no coração. O homem de hoje que ocupa o sólio de Pedro tinha visto e preenchido uma necessidade, enquanto ninguém se tinha dado conta.
Este é o homem que, com setenta e seis anos, tem como objectivo mudar o mundo. Será que vai conseguir?»
Este é o epílogo do livro Francesco. Il Papa della gente. Dall'infanzia all'elezione papale, una vita al servizio degli altri (Francisco. O Papa do povo. Da infância à eleição papal, uma vida ao serviço dos outros), da Rizzoli, tradução italiana da biografia de Jorge Mario Bergoglio publicada pela editora argentina Aguilar, que a autora, vaticanista do "Nación" e amiga da família Bergoglio, doou há poucos dias ao papa.
A própria Evangelina Himitian, autora da obra, narrou este encontro no seu jornal, em artigo publicado a 2 de junho: uma breve audiência privada que, devido aos numerosos compromissos de Francisco, parecia destinada a ser cancelada. Ao contrário, ao tomar conhecimento da sua presença, o papa chamou-a.
«As regras do Vaticano para as audiências papais são muito rigorosas. Com um simples gesto Francisco muda-as todas. Apressa-se, oferece um abraço, um beijo. Chama-te pelo nome e sorri. Esforça-se por demonstrar o que é claro a todos logo que o vemos: que é o mesmo padre Jorge de sempre.»
L'Osservatore Romano a 7.6.2013
Sem comentários:
Enviar um comentário