Apesar de não me identificar plenamente com a postura de Eliseo, transcrevo a sua carta ao Papa, por poder aproximar-se à sensibilidade de alguns leitores. Adaptei a tradução para português de Portugal:
Carta de um gay ao Papa Francisco
É preciso ir às periferias do mundo gay
"Quando o Papa Francisco falou no avião sobre o lobby gay, suas palavras foram acolhidas com polêmica por alguns e com alegria por outros. Mas nesse coro de vozes faltava uma voz... a dos homossexuais. Encontramos no blog italiano “Eliseo do deserto” esta voz, que oferecemos traduzida para português (…).
Queridíssimo Papa Francisco,
Chamo-me Eliseo e escrevo-lhe para dizer quanto o aprecio! Devo admitir que até ao momento da sua chegada, o meu coração continuava ligado a João Paulo II: a sua história falava à minha história. Quando o via e escutava, algo se movia dentro de mim. A sua mensagem em Roma no ano 2000 aos jovens ainda ressoa forte no meu peito. Porque é verdade! A nossa sede de amor, de beleza, de verdade... É a Ele a quem buscamos!
Papa Francisco, com a sua simpatia, roubou-nos o coração. Estava debaixo do balcão (da Basílica de São Pedro) no momento da sua eleição, vivemos o Pentecostes nessa noite, no silêncio, nas orações que recitámos juntos, em cada palavra sua.
Eu sou um jovem, mas um homem adulto, e sofro impulsos homossexuais. Estou surpreendido porque nas notícias dos jornais falam apenas do que falou ou não sobre os gays, esquecendo as belíssimas palavras pronunciadas por si no Rio.
Mas eu quero recordá-las! Impulsionou os jovens a ir! Também às periferias da existência, ali onde frequentemente enviou os sacerdotes, convidando-os a ter o cheiro das ovelhas. Falou desses jovens que pressionam para ser protagonistas da mudança e citou a Madre Teresa, que dizia para começar por mim e por ti a mudar o mundo.
Papa Francisco, quero falar-lhe das periferias da homossexualidade; eu descobri três.
A primeira é a de quem se descobre homossexual. É a periferia da solidão. Recordo que quando me reconheci homossexual, por um momento a minha vista escureceu. Perguntei-me porque estava isso a acontecer comigo, recordo que na altura estava a ir à missa diariamente. O jovem que admite ser homossexual sente-se um monstro e não sabe com quem falar sobre isso. Os pais? Para quê dar-lhes um sofrimento tão grande? Os amigos? Gozariam comigo. Os padres? Diriam que é pecado. Quando falei com Deus, encontrei na Bíblia estas palavras: “Mas aqueles que contam com o Senhor renovam as suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar”. É Isaías. Na imagem da força eu li uma promessa. Porque eu pensava que não era homem porque não era forte como os da minha idade. Depois encontrei a coragem para falar disso com um padre e, com o tempo, a amigos de confiança.
A segunda periferia é a homossexualidade de quem é crente. Sim, há também muitos homossexuais que crêem em Jesus, mas que não aceitam o que a Igreja diz sobre a homossexualidade e sobre a sexualidade em geral. Não penso neles, mas sim naqueles que, em contrapartida, amam a Igreja e gostariam de seguir os seus ensinamentos. A homossexualidade tem um problema fundamental, que leva frequentemente a viver uma sexualidade desordenada e excessiva: as pessoas homossexuais sentem pulsões compulsivas fortíssimas dentro de si, além disso, às vezes podem nascer inclusive sentimentos reais. A proposta da castidade ou do celibato pode parecer um acto de heroísmo, um martírio que só poucos podem enfrentar. Estes homens cada vez são menos, porque o conceito de castidade é cada vez menos compreensível na nossa sociedade, também no contexto católico. E se não bastasse isso, há também os ataques da própria militância gay, porque os considerarem uma espécie de traidores.
A terceira periferia são os infernos da homossexualidade. Onde o homossexual perde a dignidade de pessoa humana. São os websites de contatos, uma espécie de escape onde exibir pedaços do próprio corpo para encontrar quem te compre, ainda que seja barato. Não se trata sempre de dinheiro, mas do preço da própria dignidade. São as ruas onde de noite se procuram encontros com outros homens que possam preencher os próprios vazios. São os sítios gay, como as discotecas ou ainda esses novos bordéis que se ocultam como círculos culturais, onde se pratica todo tipo de depravação. São as manifestações em que se pede dignidade para a própria condição e, em contrapartida, perde-se.
Pede-nos para ir às periferias e que o façamos juntos. Eu ainda sou muito frágil, mas peço-lhe que reze para ter força. Quero estar junto de quem está sozinho, para dizer-lhe que não perca a esperança em Deus, e acredite que é precioso aos seus olhos.
A mudança começa por mim e por ti, dizia Madre Teresa. Papa Francisco, tenho esta imagem sua descendo também a essas periferias tão incómodas da existência. Agradeço pela delicadeza com que sempre enfrentou a questão. Você nunca levantou o dedo para dividir a humanidade segundo os seus instintos sexuais. Você sabe que o ser humano é algo de muito mais complexo e rico.
Reze por mim e por todos aqueles que talvez lendo esta carta decidam cruzar o umbral dessas periferias para levar a Boa Nova de Jesus.
Eu rezarei por si, como filho.
Um abraço."
in Aleteia
Sem comentários:
Enviar um comentário