"Haverá pelo menos dez mil católicos a viver a fé em segredo"
Numa conversa com a Ajuda à Igreja que Sofre, fundação internacional que a ação pastoral em países onde os católicos são perseguidos ou têm falta de meios financeiros, o sacerdote descreveu as condições da população da Coreia do Norte e recordou as suas três viagens à capital, a última das quais em 2011. «De cada vez que estive em Pyongyang celebrei missa na igreja católica de Jangchung, a única reconhecida pelo regime. Havia sempre muitas pessoas sentadas nos bancos mas não posso dizer se eram católicos, dado que fui severamente proibido de me aproximar e falar com eles», referiu. A comunidade de Jangchung é orientada por um leigo que todos os domingos celebra a Liturgia da Palavra: «Não poderia ser de outra forma porque não me parece que haja algum sacerdote na Coreia do Norte».
O número de católicos no país asiático é praticamente impossível de determinar: «As autoridades falam de três mil fiéis, mas não sabemos se esse dado é credível nem como foi calculado». Os últimos números remontam a 1945, ano da divisão das duas Coreias, quando os católicos no Norte eram mais de 50 mil e Pyongyang era considerada a "Jerusalém do Oriente". «Nesse tempo a obra dos missionários era muito viva e até a mãe de Kim Il-sung, o imperador que morreu em 1994, pertencia a uma família protestante muito devota», assinala o padre Lee. Havia também muitas igrejas cristãs, quase todas destruídas durante a guerra de 1950-53 ou que a seguir ao conflito foram atribuídas pelo regime a outras finalidades.
A Coreia do Norte está hoje entre os países em que a liberdade religiosa é maioritariamente negada, mas apesar dos longos anos de perseguição religiosa o padre Lee acredita que pelo menos dez mil pessoas continuam ativamente ligadas ao catolicismo. Uma tese que parece encontrar confirmação em muitos dos testemunhos de refugiados norte-coreanos, que falam de mulheres idosas sentadas em círculo, passando grãos pela mão como se estivessem a rezar o terço.
«Quando se ultrapassa a "cortina de bambu" tem-se a impressão de voltar no tempo pelo menos 40 ou 50 anos. Além da grave falta de alimentos, a população não tem nada para se aquecer», afirmou o responsável. A enorme necessidade de lenha conduziu ao abate de muitas árvores, com o consequente aumento de deslizamentos de terra e inundações. «Em 2007 demos mais de 300 mil caixas de carvão. A nossa camioneta conseguiu chegar até Kaesong, a poucos quilómetros da fronteira, e apesar de ser severamente proibido, falámos com habitantes da localidade e ouvimos as suas dificuldades», disse.
Há três anos, em 2010, a Coreia do Sul interrompeu a ajuda humanitária ao vizinho do norte: «Todas as nossas atividades de ajuda foram suspensas. AGora esperamos uma mudança de política da parte do presidente Lee Myung-bak. Infelizmente conhecemos perfeitamente as muitas necessidades do lado de lá da fronteira». «Através da associação católica Joseon, a única reconhecida pelo regime de Kim Jong-un, continuam a chegar pedidos de ajuda à Comissão para a Reconciliação do Povo Coreano. E a igreja de Jangchung precisa de obras urgentes», assinalou.
Para o padre Lee, a retoma do diálogo entre os dois países é a única solução possível: «As tensões agravaram as condições da população norte-coreana. E mesmo a nossa economia ressentiu-se. Uma guerra causaria apenas feridas mais profundas. Os acordos e a cooperação são o único caminho de saída desta situação angustiante».
Vatican Insider
publicado in SNPC (trad.) a 07.06.13
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