A tradução para português já se encontra disponível no site do Vaticano. Passo a citar os pontos referentes aos homossexuais:
Acolher as
pessoas homossexuais
50. As pessoas
homossexuais têm dotes e qualidades para oferecer à comunidade cristã: somos
capazes de acolher estas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade nas
nossas comunidades? Muitas vezes elas desejam encontrar uma Igreja que seja
casa acolhedora. As nossas comunidades são capazes de o ser, aceitando e
avaliando a sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica acerca
de família e matrimónio?
51. A questão
homossexual interpela-nos a uma séria reflexão acerca do modo como elaborar
caminhos realistas de crescimento afectivo e de maturidade humana e evangélica,
integrando a dimensão sexual: apresenta-se portanto como um desafio educativo
importante. No entanto, a Igreja afirma que as uniões entre pessoas do mesmo
sexo não podem ser equiparadas ao matrimónio entre homem e mulher. Nem sequer é
aceitável que se queiram exercer pressões sobre a atitude dos pastores ou que
organismos internacionais condicionem ajudas financeiras para a introdução de
normativas inspiradas na ideologia do gender.
52. Sem negar as
problemáticas morais ligadas às uniões homossexuais, tomamos consciência de que
há casos nos quais o apoio recíproco até ao sacrifício constitui um apoio
precioso para a vida dos parceiros. Além disso, a Igreja dedica atenção
especial às crianças que vivem com casais do mesmo sexo, reafirmando que devem
ser sempre postas em primeiro lugar as exigências e os direitos dos filhos.
(Ler na íntegra aqui)
Alguns comentários a estas conclusões
As conclusões preliminares referentes à primeira parte do Sínodo dos
bispos, realizado no Vaticano no passado mês de Outubro e a continuar no
próximo ano, trouxeram algumas novidades e abordagens diferentes em vários
temas relacionados com a sociedade e a família. Muitas dioceses em todo o mundo,
incluindo o patriarcado de Lisboa, vão realizar sínodos locais, onde estes mesmos
temas serão abordados, discutidos e aprofundados nas paróquias, movimentos e
grupos, para que os bispos locais se inteirem das reflexões dos fiéis (leigos e
consagrados) e possam, de alguma forma, serem seus porta-vozes no Sínodo a
realizar em Roma.
Parece-me que esta é uma oportunidade rara e histórica para a Igreja.
Desejo que esta possibilidade de escuta e de um maior conhecimento das
realidades tão plurais da Igreja não seja desperdiçada.
No que diz respeito aos homossexuais, o relatório contém um curto
capítulo, a que dá o nome de: Acolher as pessoas homossexuais. O número 50 é efectivamente
inesperado – nele encontramos alguns aspectos nunca antes referidos em nenhum
documento oficial da Igreja. Perante a afirmação “As pessoas homossexuais têm dotes e
qualidades para oferecer à comunidade cristã”, coloca-se a questão: “somos
capazes de acolher estas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade nas
nossas comunidades?” O documento
continua: “Muitas vezes elas desejam encontrar uma Igreja que seja casa
acolhedora. As nossas comunidades são capazes de o ser, aceitando e avaliando a
sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica acerca de família e
matrimónio?”
É realmente
espantoso ver esta nova abordagem que fala em aceitar a orientação sexual.
Acredito que a vontade do Papa Francisco seria em não haver tantos “Mas” e “Ses”,
no entanto, temo que haja ainda demasiados bispos ordenados por João Paulo II ou
por Bento XVI que não irão na mesma linha de pensamento. O meu receio prende-se
a pequenos aspectos que teimam em aparecer no texto, como se fossem almas
penadas: o que se entende por “avaliar a sua orientação sexual” e o que quer
dizer exactamente “sem comprometer a doutrina católica acerca de família e
matrimónio”?
O número
seguinte começa por outra afirmação surpreendente “A questão homossexual
interpela-nos a uma séria reflexão acerca do modo como elaborar caminhos
realistas de crescimento afectivo e de maturidade humana e evangélica,
integrando a dimensão sexual: apresenta-se portanto como um desafio educativo
importante”. E tão surpreendente é esta parte do parágrafo, quanto o contraste
absoluto com o que vem depois: “No entanto, a Igreja afirma que as uniões entre
pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimónio entre homem e
mulher.” Fica-me a questão: porque houve a necessidade de voltar ao velho
discurso, qual criança caprichosa que já não sabe porque teima?
Igualmente
incompreensível é a sequência de ideias que se segue, que parece não ter
qualquer cabimento na lógica do discurso e que, de tão abstracta, não é
inteligível qualquer ligação com o mundo real: “Nem sequer é aceitável que se
queiram exercer pressões sobre a atitude dos pastores ou que organismos
internacionais condicionem ajudas financeiras para a introdução de normativas
inspiradas na ideologia do gender.”
Será que é uma tentativa de denúncia do lobby-gay
no Vaticano? Mas, se for este o caso, o ataque teria de se dirigir ao ambiente
propício à homofobia, à misoginia e à omissão de qualquer acompanhamento sério psicológico
(não digo espiritual) vigente em muitos dos seminários diocesanos.
O último ponto
volta a começar por um tom mais positivo: “Sem negar as problemáticas morais
ligadas às uniões homossexuais, tomamos consciência de que há casos nos quais o
apoio recíproco até ao sacrifício constitui um apoio precioso para a vida dos
parceiros.” E continua: “Além disso, a Igreja dedica atenção especial às
crianças que vivem com casais do mesmo sexo, reafirmando que devem ser sempre
postas em primeiro lugar as exigências e os direitos dos filhos.” E é aqui que volta a minha desconfiança: é
verdade que a Igreja não soube, durante muito tempo, o que fazer com essas
crianças cujos pais “viviam em pecado”. Assim, por um lado, nota-se aqui uma
directiva que promove a integração das crianças na comunidade paroquial.
Mas necessitam estas crianças de uma atenção “especial”? Parece-me que
deviam receber a mesma atenção (chamemos-lhe especial) que qualquer ser humano
tem o direito de receber. E qualquer filho tem o direito de viver com os seus
pais, mães, pai e/ou mãe sem que outros lhe andem a chatear o juízo... E, já
agora, só faltava manipular e interferir nas exigências dos filhos? (que
exigências???)
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