Eu e o estrangeiro
Tempo virá
em que, exultante,
te saudarás a ti mesmo chegado
à tua porta, no teu próprio espelho
e cada qual sorrirá ante a saudação do outro,
e dirá: Senta-te aqui. Come.
Amarás de novo o estrangeiro que era o teu Eu.
Dá vinho. Dá pão. Devolve o coração
a ele próprio, ao estrangeiro que te amou
toda a tua vida, que ignoraste.
Como sempre, a poesia, para ser apreciada, requer uma leitura serena: antigamente, cada leitura dos textos escritos exigia a pronúncia exterior, de modo que as palavras reverberassem, deixando em torno de si quase como que um halo, um eco interior. Citámos aqui versos da poesia “Amor após amor”, do grande poeta Derek Walcott, o cantor dos mestiços, nascido numa ilha das Caraíbas, Santa Lúcia, em 1939.
Como se intui, unem-se e sobrepõem-se duas fisionomias diversas, a minha e a do outro, o estrangeiro. Se ao espelho olhamos o nosso rosto, descobrimos nele os traços da humanidade, porque a ela todos pertencemos, para além das diferenças étnicas, culturais, religiosas.
«Amarás o estrangeiro que era o teu Eu», diz o poeta. «Amarás o teu próximo como a ti mesmo», diz a Bíblia. Neste paralelo há dois amores que se fundem, o espontâneo por si próprio e aquele que o é para os outros, muitas vezes conquistado com algum esforço mas que deverá ser, da mesma maneira, intenso.
Devemos tentar reconduzir o nosso coração «a si mesmo», isto é, à sua consciência profunda, e aí descobriremos que há o estrangeiro dentro de nós porque ele é semelhante a nós por causa do próprio Deus que o criou, do próprio Cristo que o redimiu, do próprio amor que foi deposto nele e em nós, e do próprio pecado que obscurece a nós e a ele.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
Presidente do Pontifício Conselho da Cultura In "Avvenire"
Tradução e adaptação de Rui Jorge Martins para SNPC
Como sempre, a poesia, para ser apreciada, requer uma leitura serena: antigamente, cada leitura dos textos escritos exigia a pronúncia exterior, de modo que as palavras reverberassem, deixando em torno de si quase como que um halo, um eco interior. Citámos aqui versos da poesia “Amor após amor”, do grande poeta Derek Walcott, o cantor dos mestiços, nascido numa ilha das Caraíbas, Santa Lúcia, em 1939.
Como se intui, unem-se e sobrepõem-se duas fisionomias diversas, a minha e a do outro, o estrangeiro. Se ao espelho olhamos o nosso rosto, descobrimos nele os traços da humanidade, porque a ela todos pertencemos, para além das diferenças étnicas, culturais, religiosas.
«Amarás o estrangeiro que era o teu Eu», diz o poeta. «Amarás o teu próximo como a ti mesmo», diz a Bíblia. Neste paralelo há dois amores que se fundem, o espontâneo por si próprio e aquele que o é para os outros, muitas vezes conquistado com algum esforço mas que deverá ser, da mesma maneira, intenso.
Devemos tentar reconduzir o nosso coração «a si mesmo», isto é, à sua consciência profunda, e aí descobriremos que há o estrangeiro dentro de nós porque ele é semelhante a nós por causa do próprio Deus que o criou, do próprio Cristo que o redimiu, do próprio amor que foi deposto nele e em nós, e do próprio pecado que obscurece a nós e a ele.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
Presidente do Pontifício Conselho da Cultura In "Avvenire"
Tradução e adaptação de Rui Jorge Martins para SNPC
Sem comentários:
Enviar um comentário