Quando é que começamos mesmo?
Quando estive em Lisboa da última vez, há semanas, avisaram-me que o país estava deprimido. Que isso se via na rua, nos rostos. Foi pouco depois da demissão de José Sócrates e pouco antes de se chegar ao facto de que Portugal terá que pedir emprestados cerca de 90 mil milhões de euros, um futuro que se adivinha mais negro que nunca. Vi, pois, aquilo de que me avisaram: gente a falar de Economia e a manobrar palavras com números como não me lembrava, conversas de café a começarem e acabarem no mesmo ponto, o aperto em que qualquer gesto quotidiano fora do colete de forças orçamental se transformou. E ouvi muita gente falar de uma espécie de política do medo que impera agora nas empresas, onde as chefias intermédias assustam os de baixo para obedecer aos de cima. Chamem-me cínica ou otimista, mas se estas chefias intermédias usassem a sua liderança para serem solidárias com quem precisa, algumas soluções para os problemas sociais, políticos e até mesmo económicos em Portugal poderiam estar mais perto. O problema é que quem chega ao poder não quer arriscar e isso em Portugal é ainda mais endogéneo. Sim, vi depressão mas vi também uma energia e uma vontade de mudança, com gente disposta a falar - mas que depois se cala e eu pergunto porquê? Ou essa energia é agarrada agora, pelas causas certas, ou o momentum passa e lá ficamos mais uma vez a pensar na mudança que nunca fizemos. Quando é que começamos mesmo?
Este texto integra a próxima edição (n.º 15) do "Observatório da Cultura", publicação semestral do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
Joana Gorjão Henriques
Jornalista
in SNPC
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