Festival Terras Sem Sombra revela Feldman e Liszt na Basílica Real de Castro Verde
Famosa por aliar o esplendor artístico a uma acústica extraordinária, a Basílica Real de Castro Verde recebe a 30 de abril, pelas 21h30, um dos momentos culminantes da 7.ª edição do Festival Terras sem Sombra de Música Sacra, organizado pela diocese de Beja.
O concerto “Para lá do Tempo” abrange duas obras fundamentais da modernidade e do Romantismo: “Rothko Chapel” para viola, celesta, percussão e coro, do compositor norte-americano Morton Feldman (1926-1987), e “Via Crucis” para coro e piano, do húngaro Franz Liszt (1811-1886).
As obras serão interpretadas pelo Coro da Arena de Verona (Itália), dirigido pelo maestro titular, Giovanni Andreoli, e acompanhado por três instrumentistas notáveis: Kodo Yamagishi (piano e celesta), Alexandre Delgado (viola) e Rui Gomes (percussão).
“Rothko Chapel” foi escrita em homenagem a Mark Rothko, pintor de origem russa, responsável pela conceção da capela que tem o seu nome, construída em Houston, EUA. O espaço octogonal, que o artista pretendia ser aberto aos diferentes credos e religiões, é composto por 14 telas, tantas quantos os passos da Via Sacra.
Franz Liszt foi ordenado a 31 de julho seguinte de 1865. Parece paradoxal que o mais célebre pianista de então, com uma carreira e reconhecimento inigualáveis, habituado à fama, rico e viajado, e defendendo, sobretudo como compositor, ideais progressistas e revolucionários a respeito do papel da música e das técnicas de composição, decidisse a dado momento terminar a sua carreira de intérprete e renunciar a tudo, em favor da espiritualidade e do recolhimento.
Liszt começou a escrever «Via Crucis» em 1866, sobre textos escolhidos pela princesa Wittgenstein, e doze anos depois, no verão de 1878, a obra estava concluída. A sua publicação foi inicialmente rejeitada (segundo o editor, por se tratar de uma obra demasiado inovadora e sem perspetivas de venda) e o compositor nunca chegou a assistir à estreia, que só aconteceu em Budapeste, na Sexta-Feira da Paixão de 1929.
Sem perder de vista as origens e a essência da música religiosa, ela oferece ao mesmo tempo um pensamento verdadeiramente inovador e a abertura de caminhos de grande valor e interesse para o futuro da composição. Descontente com o uso da música nas cerimónias litúrgicas ao longo da primeira metade do século, Liszt terá confidenciado ao cardeal Hohenlohe que pretendia renovar a música religiosa.
O Coro da Arena de Verona nasceu com os espetáculos líricos no anfiteatro romano desta cidade, em 1913. Entre as suas grandes produções históricas incluem-se «La forza del destino», «Otello», «Il trovatore», «Carmen», «Turandot», «La Gioconda», «Norma», «Mefistofele», «Samson et Dalila» e «Boris Godunov».
Além do seu contributo para as óperas, o Coro tem realizado concertos como a «Messa da Requiem», de Verdi, a «Nona Sinfonia», de Beethoven, «La damnation de Faust», de Berlioz, e «La Resurrezione di Cristo», de Perosi.
A defesa da biodiversidade é uma causa apadrinhada pelo Festival Terras sem Sombra, que pretende estabelecer a triangulação entre património cultural, música e natureza, fazendo justiça ao facto de que muitas igrejas do Baixo Alentejo, com os seus campanários e adros, serem santuários da vida selvagem.
O Coro da Arena de Verona, incluindo o seu maestro, vai colaborar a 1 de maio em ações de salvaguarda da avifauna. Uma das iniciativas, com o apoio da Liga para a Proteção da Natureza, será a instalação de caixas-ninho para peneireiros-das-torres na Basílica de Castro Verde. As atividades de âmbito ecológico estão abertas à participação de voluntários mediante inscrição no site do Departamento do Património Histórico e Artístico da diocese de Beja.
O concerto de 30 de abril, de acesso livre até se completar a lotação da Basílica Real, vai ser gravado e retransmitido na íntegra pela RTP. A organização aconselha a reserva (gratuita) de lugares, até 29 de abril.
publicado in SNPC
Ouvir Rothko Chapel no Youtube
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