A polícia diz que cerca de 6000 pessoas tentaram impedir marcha REUTERS/Marko Djurika |
Violência em Belgrado contra parada de orgulho gay
Manifestantes homofóbicos vandalizaram a capital sérvia e as sedes dos partidos da coligação governamental
Belgrado tornou-se ontem um campo de batalha, quando a tentativa de realizar uma marcha de orgulho gay foi contrariada por cerca de 6000 pessoas, segundo a polícia, entre eles militantes de extrema-direita, que recorreram à violência para tentar impedi-la. Estiveram na rua cerca de 5000 polícias do corpo de intervenção e 124 ficaram feridos. Os manifestantes anti-homossexuais voltaram-se para outros alvos, como as sedes dos partidos da coligação governamental, que vandalizaram.
Os manifestantes gritaram palavras de ordem como "Começou a caça" e "Morte aos homossexuais" e investiram contra os agentes que formavam um cordão de segurança para isolar a área onde decorria o desfile. Os seus esforços para furar o bloqueio policial levaram-nos a arremessar tijolos, pedras, garrafas e explosivos de fabrico doméstico. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo.
Sem conseguir chegar ao local onde se concentravam os participantes na marcha do orgulho gay, os manifestantes - que a polícia disse estarem ligados a claques de futebol e a organizações ultranacionalistas e neonazis - provocaram a destruição pela cidade. Os prejuízos foram estimados em mais de um milhão de euros.
Partiram os vidros das montras de lojas, destruíram sinais de trânsito e deitaram fogo a caixotes do lixo. Entraram no edifício da televisão estatal, pegaram fogo à sede do Partido Democrático do Presidente Boris Tadic e atacaram também a do seu parceiro de coligação, o partido Socialista.
"Foi um dia muito triste para a Sérvia", disse o ministro da Defesa, Dragan Sutanovac. Tadic prometeu que os pessoas responsáveis por esta violência serão julgadas: "A Sérvia garantirá os direitos humanos a todos os cidadãos, independentemente da sua diversidade. Ninguém tolerará tentativas de os pôr em causa", assegurou o Presidente.
O secretário-geral do Conselho da Europa, Thorbjoern Jaglan, que manifestou preocupação com estes violentos incidentes, saudou "a determinação das autoridades sérvias em defender os direitos protegidos pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem". "Grupos minoritários como os gays ou lésbicas não devem viver no medo da violência, nem na Sérvia nem em parte nenhuma da Europa."
Esta marcha pelo orgulho gay era considerada como um teste à autoridade do Governo sérvio, envolvido numa série de reformas destinadas a garantir a adesão do país à União Europeia. Em 2001, um evento semelhante acabou em violência, e a iniciativa não voltou a ser repetida. No ano passado, tentaram fazer de novo uma Gay Pride Parade- mas acabou por ser desmarcada, devido a ameaças de violência como a que aconteceu este ano. Ficaram feridos 17 manifestantes.
E, como se percebe, hoje a homossexualidade continua a não ser aceite - de forma violenta - na Sérvia. No sábado, centenas de pessoas tinham encenado um protesto contra a realização da marcha, alegando que a homossexualidade é contrária aos valores familiares e religiosos da Sérvia. A Igreja ortodoxa sérvia condenara a iniciativa gay, mas apelara a uma oposição pacífica e sem violência.
A polícia fez 101 detenções, adiantava a agência Reuters ao fim do dia, e um responsável do Ministério da Justiça garantiu que pelo menos metade dos detidos seriam acusados por comportamento violento e poderiam enfrentar penas até oito anos de prisão.
C.B. e R.S.
in Público online
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