A Igreja e o Vaticano II: Um retrocesso (parte 4)
continuação do discurso de Kevin Dowling, bispo de Rustenburg (África do Sul)
Entretanto, penso que actualmente temos uma liderança que, na verdade, questiona exactamente a noção de subsidiariedade; os mínimos detalhes da vida e prática da Igreja “ao nível mais baixo” estão sujeitos à análise e autenticação da parte de um “nível mais alto”, (…) por exemplo, a autorização de linguagem e textos litúrgicos. Um dos princípios chave do concílio Vaticano II, a colegialidade nas tomadas de decisões, é virtualmente inexistente. O eminente emérito Arcebispo de Viena, Cardeal Franz König, em 1999 – quase 35 anos depois do Concílio Vaticano II – escreveu o seguinte: “(…) Intencionalmente ou não, as autoridades curiais que trabalham em conjunto com o Papa apropriaram-se da tarefa do Colégio Episcopal. (…)” (in "A minha visão da Igreja do Futuro", The Tablet, 27 de Março de 1999, p. 434).
O que leva a isto é, para mim, a mística que tem envolvido crescentemente a pessoa do Papa nos últimos 30 anos, de forma a que qualquer crítica ou questionamento às suas políticas, à sua forma de pensar, ao seu exercício de autoridade, são considerados como traição. (…) Quando a autoridade do Papa é estendida intencionalmente à cúria do Vaticano, existe a real possibilidade de que a inquestionável obediência às decisões humanas tomadas pelos departamentos curiais e cardeais sobre uma gama de questões, tornam-se na marca da fidelidade como católico, e tudo fora disso é interpretado como sendo desleal ao Papa (...).
Por isso, tornou-se cada vez mais difícil ao longo dos anos, para todo o Colégio de Bispos, ou numa dada região em particular, pôr em prática a liderança teologicamente baseada no serviço, discernir respostas apropriadas em relação à realidade e às necessidades socioeconómicas, culturais, litúrgicas, espirituais e pastorais; e ainda mais discordar ou procurar alternativas a políticas e decisões tomadas em Roma. E parece que cada vez mais a política de designar bispos “seguros”, inquestionáveis ortodoxos, e até muito conservadores para preencher dioceses vagas nos últimos 30 anos, faz com que cada vez menos o Colégio de Bispos – mesmo em conferências poderosas como nos Estados Unidos – questionem o que sai de Roma, e se o fazem, certamente não o farão publicamente.
Pelo contrário, há todo um esforço para tentar encontrar uma sintonia com os que estão no poder, o que significa que a posição romana acabará sempre por prevalecer. E, consequentemente, quando um bispo disser algo contrário, especialmente em público, a impressão ou julgamento dos restantes bispos será sempre de que estará “a desrespeitar a hierarquia”, e isto apenas confundiria os fiéis leigos – dizem – pois pareceria que os bispos não possuem unidade em relação aos ensinamentos e ao seu papel de líderes. A pressão, portanto, é no sentido da igualização.
... (continua)
ver parte 1http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/10/o-vaticano-ii-em-aguas-de-bacalhau.html
ver parte 2
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/10/igreja-deveria-partir-do-principio-que.html
ver parte 3
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/10/seguir-os-principios-da-doutrina-social.html
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34406
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