continuação do discurso de Kevin Dowling, bispo de Rustenburg (África do Sul)
Há que reconhecer que para um número significativo de jovens católicos, católicos adultos, padres e religiosos em todo o mundo, o modelo “restaurador” de Igreja que tem sido implementado nos últimos 30/40 anos é procurado e valorizado. Vai de encontro a uma necessidade que têm, dá-lhes uma sensação de pertencerem a algo com claros parâmetros e directrizes para a vida. Traz-lhes um sentido de segurança e clareza sobre o que é verdade e o que moralmente é certo ou errado, pois há uma estrutura de autoridade clara e forte (…) em que confiam absolutamente como sendo de origem divina.
O crescimento de grupos e organizações conservadores na Igreja nos últimos 40 anos ou mais, que atraem um grande número de adeptos, levou a um fenómeno que eu considero difícil de lidar. Uma igreja com um olhar “para dentro”, atemorizante, ou até antagónico, em relação a um mundo secular com o “perigo” concomitante do relativismo, especialmente em relação à verdade e à moralidade – frequentemente referido pelo papa Bento XVI. Uma igreja que dá uma impressão de “sair pela retaguarda”, e que confia numa autoridade forte centralizada para garantir a unidade através da uniformidade do credo e da prática perante semelhantes perigos. Há medo de, caso fosse autorizada qualquer liberdade de decisão sem supervisão e controlo, mesmo em questões menos importantes, se poder abrir a porta para a divisão e para o colapso da unidade da Igreja.
Isto acontece por uma “visão” fundamentalmente diferente na Igreja e da Igreja. Onde é que actualmente podemos encontrar os grandes líderes teológicos e pensadores do passado, como o Cardeal Frings de Colónia (Alemanha) e Alfrink de Utrecht (Holanda), e os grandes bispos profetas dos quais as vozes e testemunhos foram uma chamada de trombeta pela justiça, direitos humanos e uma comunidade global de distribuição justa – o testemunho do Arcebispo Romero de El Salvador, as vozes dos cardeais Arns e Lorscheider, e os bispos D. Hélder Câmara e Casadaliga do Brasil? Novamente, quem no mundo de hoje, “por ai”, ainda dá ouvidos, ou pelo menos aprecia ou permite ser desafiado pela liderança da Igreja na actualidade? Penso que a autoridade moral da liderança da Igreja nunca esteve tão fraca. É, portanto, importante, no meu ponto de vista, que a liderança da Igreja, ao invés de dar uma impressão do seu poder, privilégio e prestígio, deveria ser experimentada como ministério humilde, em busca conjunta com as pessoas, para discernir a resposta mais apropriada ou viável que poderia servir para complexificar as questões éticas e morais – uma liderança, portanto, que não presume ter constantemente todas as respostas.
... (continua)
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