O discurso de D. Kevin Dowling foi publicado no site National Catholic Reporter no dia 8 de Julho de 2010.
A Igreja e o Vaticano II: Um retrocesso (parte 1)
[devido à extensão do texto, será publicado em diferentes mensagens]
Dowling começou a palestra lendo uma nota do correspondente do National Catholic Reporter em Washington, Jerry Filteau, sobre uma Missa Latina celebrada em Abril passado na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição nesta cidade. Edward Slattery, bispo de Tulsa, celebrou a missa envergando a cappa magna [1], um “adereço” litúrgico vermelho brilhante com quase 20 metros, um dos símbolos do renascimento da missa tridentina.“The Southern Cross (jornal católico semanal da África do Sul) (…) publicou uma fotografia do bispo Slattery com sua cappa magna. Para mim, tal demonstração, que representa o triunfalismo, numa Igreja despedaçada por escândalos de abusos sexuais, é muito infeliz. O que aí aconteceu reproduziu as marcas de uma corte real medieval, não a liderança humilde e servidora demonstrada por Jesus. Mas parece-me que isto é também um símbolo do que tem ocorrido na Igreja (…) – e isto é (…) o desmantelamento cuidadosamente planeado da teologia, da eclesiologia, da visão pastoral, (…) da “abertura das janelas” do Concílio Vaticano II –, (…) [restaurando-se] um modelo de Igreja anterior, mais controlável através de uma estrutura de poder cada vez mais centralizada. Estrutura essa que agora controla tudo na vida da Igreja através de uma rede de congregações do Vaticano, lideradas por cardeais que asseguram a estrita observância do que por eles é considerado “ortodoxo”. Aqueles que não obedecem arcam com censura e punição. Por exemplo, os teólogos que são proibidos de leccionar em faculdades católicas.
Assim, que não deixemos de destacar (…) este facto importante: o Vaticano II foi um concílio ecuménico, ou seja, um exercício solene do Magistério da Igreja, ou ainda, o colégio de bispos reunidos com o bispo de Roma exercitando uma função de ensino para toda a Igreja. Por outras palavras, a sua visão, os seus princípios e directivas, devem ser seguidos e implementados por todos, do Papa ao camponês lavrador nas Honduras.
Desde o concílio Vaticano II, não houve tal exercício de autoridade de ensino do magistério. Em vez disso, uma série de decretos, declarações e decisões, (…) mas na realidade são simplesmente as interpretações ou opiniões teológicas ou pastorais dos que têm poder no centro da Igreja. Eles não foram definidos solenemente como pertencentes ao “depositário da Fé” para serem (…) seguidos por todos os católicos, como outros dogmas solenemente proclamados.
Quando trabalhei internacionalmente, a partir da minha base congregacional religiosa em Roma, de 1985 a 1990 - Dowling é Redentorista [Congregação do Santíssimo Redentor] -, (…) uma das minhas responsabilidades era a construção da Pastoral de Jovens em conjunto com as nossas comunidades nos países europeus, onde tantos jovens estavam longe da Igreja. Desenvolvi relações com muitas centenas de jovens católicos que procuravam de forma sincera, bem abertos a questões de injustiça, pobreza e miséria no mundo, conscientes da injustiça estrutural nos sistemas políticos e económicos que dominam o mundo. Eles sentiam cada vez mais que a Igreja “oficial” não estava apenas a perder a noção da realidade, mas a dar mau testemunho às aspirações de católicos pensadores e conscientes, que procuram uma experiência diferente de Igreja.
Por outras palavras, procuravam uma experiência que os deixasse acreditar que a Igreja a que pertenciam possuia algo de relevante para dizer e testemunhar neste mundo desafiante em que vivemos. Muitos, mas mesmo muitos destes jovens, desde então, deixaram a Igreja definitivamente.
[1] a fotografia desta capa encontra-se na mensagem abaixo: Será que a Igreja reconhece Jesus Cristo?
... (continua)
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34406
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