A Igreja e o Vaticano II: Um retrocesso (5ª e última parte)
conclusão do discurso de Kevin Dowling, bispo de Rustenburg (África do Sul)
A meu ver, deveríamos ter uma Igreja onde a liderança reconhecesse e incentivasse o acto de tomar decisões ao nível apropriado das Igrejas locais; onde a liderança local escutasse e discernisse em conjunto com o povo de Deus desse local o que “o Espírito diz à Igreja”, e então articulasse o resultado como um consenso da comunidade de fé, de oração e que isso servisse. Precisamos ter fé em Deus e confiança no povo de Deus para, como pode parecer a alguns (ou a muitos), correr um risco. A Igreja poderia enriquecer com o resultado de uma diversidade que integrasse verdadeiramente os valores socioculturais e a percepção de uma fé viva e em evolução, juntamente com o reconhecimento de como tal diversidade poderia promover unidade dentro da Igreja – sem exigir, portanto, uniformidade com vista a ser verdadeiramente autêntica.
A diversidade na vida e na prática, como uma expressão do princípio de subsidiariedade, tem sido retirada das igrejas locais em todo o mundo através da centralização da tomada de decisões pela parte do Vaticano. Além disso, a ortodoxia está cada vez mais identificada com as opiniões e os pontos de vista conservadores sobre o mundo, com a consideração de que tudo o que é rotulado de “liberal” tanto é suspeito como não ortodoxo e por isso, deve ser rejeitado como um perigo à fé do povo.
Há algum caminho que nos conduza em frente? Isto é uma luta minha, especialmente vendo a divisão aparente do propósito e da visão na Igreja. Como reconciliar tais visões ou modelos de Igreja tão diferentes? Eu não tenho resposta, apenas defendo que temos de encontrar uma atitude de respeito e reverência pela diferença e diversidade enquanto procuramos uma unidade viva na Igreja. Que as pessoas sejam autorizadas, e que lhes sejam dadas condições para encontrarem ou criarem o tipo de comunidade que expresse a sua fé e aspirações em relação às suas vidas cristãs e católicas, e ao compromisso da Igreja no mundo, (…) que haja um esforço para manter a tensão legítima e construtiva dentro das incertezas e ambiguidades que vierem, confiando na presença do Espírito Santo.
No cerne disto está a questão da consciência. Como católicos, temos de ser suficiente “sérios” para tomarmos decisões conscientes na nossa vida, no nosso testemunho, e nas nossas expressões de fé, espiritualidade, oração e interacção com o mundo – tendo uma consciência madura como base.
E, como convite para uma avaliação de consciência e decisões conscientes sobre as nossas vidas e participação no que é uma Igreja muito humana, concluo com a formulação ou o parecer dado por alguém como o teólogo Josef Ratzinger, actual Papa, quando era perito ou expert no Concílio Vaticano II:
“Acima do Papa, como expressão da reivindicação vinculativa da autoridade eclesiástica, encontra-se a própria consciência, que deve ser obedecida até mesmo, se necessário, contra a exigência da autoridade eclesiástica. Esta ênfase sobre o indivíduo, cuja consciência confronta um tribunal supremo e final, e aquele que, em última instância, está além da reivindicação de grupos sociais externos, mesmo a Igreja oficial, também estabelece um princípio em oposição ao crescente totalitarismo.” [1]
[1] Joseph Ratzinger in “Comentário sobre o Documento do Vaticano II”, Vol. V., pág. 134 (Ed) H. Vorgrimler, Nova Iorque, Herder and Herder, 1967).
Bispo Kevin Dowling C.Ss.R.
Cidade do Cabo, 1 de Junho de 2010
ver parte 1
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/10/o-vaticano-ii-em-aguas-de-bacalhau.html
ver parte 2
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/10/igreja-deveria-partir-do-principio-que.html
ver parte 3
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/10/seguir-os-principios-da-doutrina-social.html
ver parte 4
http://moradasdedeus.blogspot.com/2010/10/colegialidade-nas-decisoes-e.html
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34406
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