Uma atracção irresistível
Muitas pessoas têm dificuldade em compreender a nossa opção pela vida contemplativa – pela vida de clausura, portanto –, que é sem dúvida a mais radical. Mas uma das causas dessa incompreensão é o desconhecimento, que dá origem a ideias erradas.
Pensa-se que levamos uma vida melancólica e apagada, metidas numa casa sombria, entre grades, a rezar o dia todo... Quase que nos imaginam seres anormais.
É claro que dedicamos a nossa vida à oração, mas o dia tem muitos momentos: os da oração, os do trabalho, e até os de convívio e lazer...
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A ideia de que a nossa vida é inútil é das mais comuns. O meu padrinho, por exemplo, precisamente por estar convencido disso, ainda hoje se recusa a visitar-me no mosteiro e só consente em falar comigo por telefone. Diz o mesmo que o meu pai dizia: “Ainda se ajudasses crianças, velhinhos ou doentes, via-se bem o que fazias!”
De facto, humanamente falando, ser consagrado a Deus não faz sentido. Se se tem a Deus como um simples conceito, é um absurdo; se se tem a Deus como inexistente, é uma ingénua ilusão. Mas não é absurdo nem ilusão, é a resposta a um chamamento concreto de Deus. Responde-se com a entrega pessoal, por amor, e aceita-se a investidura de uma missão. Mas mesmo para quem acredita Deus é difícil entender a vida em clausura, o sentido da nossa entrega a Deus. Entende-se uma vida com atividades concretas de assistência prática a pessoas nas mais diferentes situações de necessidade. Mas uma vida dedicada à oração... (...)
A clausura
Só a palavra “clausura” já faz arrepiar muita gente. É uma palavra que assusta, talvez por evocar a ideia de uma prisão.
Mas a clausura monástica nada tem de prisão, de reclusão forçada, de contrário não seríamos tão felizes aqui dentro.
O silêncio dentro de um espaço delimitado, longe de ser acabrunhador, é uma dádiva que nos permite viver a nossa vida de oração e recolhimento. Não sair livremente, como qualquer pessoa sai de sua casa, impressiona muita gente. Mas para mim o contrário é que seria um suplício. E digo o mesmo a respeito do silêncio: se pudesse conversar á vontade durante o dia tirar-me-iam o que tenho de mais precioso, pois é no silêncio que Deus fala. O silêncio é que nos torna próximos de Deus.
Ir. Raquel Silva
In Uma Atracção Irresistível, ed. Tenacitas, 2009
Preço 12,00 €
ISBN 978-972-8758-64-6
publicado em SNPC
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