Anunciação, John Collier |
Paróquia reza com arte
A paróquia das Mercês, em Lisboa, propõe pelo segundo ano consecutivo uma noite de oração mensal a partir de obras de arte cristãs.
«O projeto consiste em escolher um tema por mês, a partir da pintura, escultura, arquitetura ou outras expressões de arte, propondo um percurso de oração», explicou ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura o pároco, padre António Pedro Boto de Oliveira.
A ideia surgiu da leitura do documento final da assembleia plenária de 2006 do Pontifício Conselho da Cultura, intitulado "Via pulchritudinis [via da beleza] - Caminho privilegiado de evangelização e diálogo".
Em cada sessão o responsável pelo Serviço de Património do Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa começa por exibir as peças escolhidas, deixa um minuto de silêncio para os participantes as contemplarem e depois apresenta-as, referindo os seus elementos principais, como o autor, a data, o motivo e o local onde se encontram, chamando ainda a atenção para detalhes que proporcionem «um olhar mais atento» sobre o conjunto.
«A partir desse momento sugiro uma reflexão, geralmente a partir da Sagrada Escritura, mas também incluo textos apócrifos, que por vezes estão na base da criação das obras», referiu, acrescentando que os participantes costumam fazer perguntas sobre elementos da peça que habitualmente passam desapercebidos.
O responsável sublinhou que «as reações têm sido muito positivas»: «Não se trata só de constatar o sucesso da iniciativa mas também de verificar que as pessoas começam a olhar para as obras de arte de forma mais atenta, percebendo como isso as pode ajudar a rezar - essa é, aliás, uma das principais funções da arte cristã, que além de catequética é celebrativa, litúrgica e orante».
As sessões não pretendem ser um espaço para apreciações sobre o estilo ou capacidade técnica do autor mas visam «proporcionar um encontro com a beleza»: «A propósito do Ano da Fé o papa fala da "Porta da Fé", que está sempre aberta para o encontro com a beleza de Deus».
«Pretende-se também proporcionar um contacto com a realidade da beleza, que é essencial à vivência da fé», salientou.
Em outubro foi escolhido o tema "Maria, mulher de fé", devido à abertura do Ano da Fé, que vai dominar os encontros de 2012-13. Foram apresentadas várias peças, desde pintura paleocristã à bizantina, passando pela criação contemporânea.
A sessão percorreu a vida de Maria ao longo de vários momentos evangélicos, como a Anunciação, o Calvário e a Assunção, explorando esses passos com peças nacionais e internacionais.
Para o encontro de novembro, que ocorreu na última semana, o padre António Pedro contava escolher um tema que o cativa, «embora possa não acontecer o mesmo aos participantes»: a santidade.
«Não pretendo explorar a iconografia dos santos, que é muito vasta, mas interessa-me especialmente a questão dos relicários, que por vezes é desvalorizada», explicou.
Os relicários aliam a vertente artística ao «contacto com a realidade humana que fez uma experiência de fé explícita», com qualidades que levaram a que a Igreja declarasse a sua santidade, mas também com fragilidades», realçou.
«O culto dos santos, através do culto das relíquias, repugna frequentemente as pessoas, porque acham que se trata de uma valorização excessiva do humano, mas ajuda a perceber que a fé se vive na humanidade concreta», assinalou.
Rui Jorge Martins
publicado em SNPC a 27.11.12
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