Em "nenhum momento" a GNR é homofóbica
Será que o recente casamento entre a capitã Patrícia Almeida, de 27 anos, e a cabo Maria Teresa Carvalho, de 39 anos, ambas da GNR, demonstra abertura da instituição à questão homossexual? O casal não quis até agora falar com a imprensa. O P2 pediu um comentário ao porta-voz da GNR, tenente-coronel Pedro Costa Lima, mas este recusou-se, alegando que a GNR "não comenta publicamente assuntos que sejam do foro privado dos seus militares". À pergunta sobre se as pessoas homossexuais ao serviço da GNR sofrem algum constrangimento profissional em função da orientação sexual, Pedro Costa Lima respondeu que não. "Em nenhum momento", garantiu.A GNR não é um ramo das Forças Armadas, mas uma força de segurança militar, com dupla tutela do Ministério da Defesa e Ministério da Administração Interna.
A associação ILGA-Portugal promoveu em Novembro do ano passado uma acção de formação sobre Crimes de Ódio Contra as Pessoas LGBT, em que os formandos, por via de protocolos institucionais, foram membros da GNR e de outras forças de segurança. "Houve muita participação e interesse", comenta Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA. "Há sinais de abertura e receptividade, embora o trabalho esteja ainda no seu início."
Cinema e literatura registam o tema
"No Exército, não há maricas", diz a personagem de um tenente-coronel no filme 20,13 Purgatório, de Joaquim Leitão (2006). Com prudência, e a espaços, o cinema e a literatura têm abordado a presença de militares homossexuais nas Forças Armadas. Quase sempre sob o signo da Guerra Colonial. São histórias que comprovam que a homossexualidade existe na instituição e até já teve uma expressão pública mais vincada. A ambiguidade de soldados e marinheiros em Moçambique é contada no romance autobiográfico A Sombra dos Dias (1982), de Guilherme de Melo. Um militar português esmagado pela hipocrisia da instituição aparece no livro de contos Persona (2001), de Eduardo Pitta. O filme Morrer Como um Homem (2009), de João Pedro Rodrigues, mostra uma cena de sexo entre dois soldados. E o livro de memórias Máscaras de Salazar (1997), do jornalista Fernando Dacosta, conta que os anos 60 lisboetas conheceram muita prostituição masculina de "mancebos mobilizados pela tropa".O poeta e pintor Mário Cesariny, no documentário Autografia (2004), de Miguel Gonçalves Mendes, dá uma noção do que se passava: "Diverti-me à brava com a Marinha portuguesa quase toda. Nada de oficiais, que já têm a cabeça cheia."
Eduardo Pitta, no ensaio literário Fractura (2003), grava a epígrafe: "A figura do magala é com certeza um fantasma português."
por Bruno Horta
in Público, Maio de 2011
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