Papa Francisco revoluciona a geografia: Terceiro Mundo passou a ser o Primeiro
Aquele que, com efeito, é comummente designado "Terceiro Mundo" é o primeiro nas suas atenções. E aquilo que para os outros é "periferia", encontra-se na realidade no centro do seu interesse pastoral, político (no sentido nobre da palavra) e humano.
Esta revolução geográfica é patente quer nas escolhas relativas ao Colégio Cardinalício, quer nas situações evidenciadas diante dos embaixadores de todo o mundo acreditados no Vaticano.
Assim, mesmo através destes atos que poderiam manifestar-se como institucionais, Francisco fala a linguagem que lhes é mais própria. Coloca diante dos olhos do mundo as situações mais frágeis e mais dolorosas, para que quem pode e deve ocupar-se delas, o faça verdadeiramente a todos os níveis.
Num certo sentido podemos dizer que o papa - ele que, como João Paulo II e Bento XVI, é profundamente mariano - recitou o seu pessoalíssimo Magnificat, especialmente no verso que diz «[Deus] exaltou os humildes».
Só assim se compreende a escolha de bispos de dioceses do Terceiro Mundo que nos seus países (como o Haiti e as Filipinas, por exemplo) nem sequer são aquelas consideradas mais importantes.
E só assim se compreende também o acento colocado, no discurso ao Corpo Diplomático, em temas basilares do magistério de Bergolgio, como a recusa da cultura do descartável, a defesa das crianças de pragas como o aborto, o tráfico ou o alistamento à força, ou a atenção sobre a necessário contribuição no interior da sociedade por parte dos jovens e idosos.
Dos discursos desta segunda-feira podemos igualmente extrair uma espécie de regra de ouro do pensamento do papa Francisco. Uma regra que vale tanto nas relações interpessoais como entre os Estados, e que o próprio pontífice formula nestes termos: a geografia do primeiro papa latino-americano da história é precisamente a geografia de quem não cessa de caminhar em direção ao outro, sobretudo se habita na periferia.
Quer seja a periferia de uma grande cidade, de uma nação ou de um continente (vejam-se, a este propósito, as análises dos focos de guerra e de miséria sobretudo em África, contidas no discurso aos embaixadores), isso para o papa não faz diferença.
O que Francisco leva mais a peito é que em toda à parte, graças à cultura do encontro, regresse a paz, da Síria à Coreia, do Egito aos Grandes Lagos. Paz não só como ausência de guerra, mas como autêntica fraternidade no interior da grande família humana. O único elemento verdadeiramente indispensável para repensar o cenário do mundo.
In Avvenire | Com SNPC
© SNPC (trad.) | 13.01.14
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