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A diversidade na Igreja

"A casa do meu Pai tem muitas moradas", diz-nos Jesus no evangelho.

A unidade na diversidade não é sempre aparente na Igreja enquanto povo de Deus, mas é uma realidade em Deus e uma presença na fé cristã desde a sua origem. A Palavra de Deus não é partidária, elitista e exclusiva. O Reino de Deus é como uma árvore que estende os ramos para dar abrigo a todos os pássaros do céu. Cristo não morreu na cruz para salvar uma mão cheia de cristãos. Até o Deus Uno encerra em si o mistério de uma Trindade.

A Palavra de Deus é inequívoca e só pode levar à desinstalação, à abertura ao outro, e a recebê-lo e amá-lo enquanto irmão ou irmã. Ninguém fica de fora, nem mesmo - se tivessemos - os inimigos.

Muitos cristãos crêem nesta Igreja, nesta casa do Pai, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Mas como esquecer que muitos se sentem "de fora" por se verem rejeitados, amputados e anulados, e afastam-se por ninguém lhes ter mostrado que há um lugar para cada um, com a totalidade do seu ser?

Um blogue para cristãos homossexuais que não desistiram de ser Igreja

Porquê este blogue?

Este blogue é a partilha de uma vida de fé e é uma porta aberta para quem nela quiser entrar. É um convite para que não desistas: há homossexuais cristãos que não querem recusar nem a sua fé nem a sua sexualidade. É uma confirmação, por experiência vivida, que há um lugar para ti na Igreja. Aceita o desafio de o encontrares!

Este blogue também é teu, e de quem conheças que possa viver na carne sentimentos contraditórios de questões ligadas à fé e à orientação sexual. És benvindo se, mesmo não sendo o teu caso, conheces alguém que viva esta situação ou és um cristão que deseja uma Igreja mais acolhedora onde caiba a reflexão sobre esta e outras realidades.

Partilha, pergunta, propõe: este blogue existe para dar voz a quem normalmente está invisível ou mudo na Igreja, para quem se sente só, diferente e excluído. Este blogue não pretende mudar as mentalidades e as tradições com grande aparato, mas já não seria pouco se pudesse revelar um pouco do insondável Amor de Deus ou se ajudasse alguém a reconciliar-se consigo em Deus.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O tabu da morte

A morte é tabu cultural que tende para a abstração, neutralidade e interdito

A morte tornou-se um «tabu cultural», sobre o qual as convenções «interditam de conversar abertamente e de pensar mais de dois segundos», defende o P. Tolentino Mendonça no mais recente artigo de opinião publicado no semanário "Expresso".

«Torturamos a linguagem para que ela alcance um grau de abstração e arredondamento tais que a morte desliza para uma neutralidade anónima, sem direitos de reconhecimento nem de expressão», sublinha no texto intitulado "Funeral em vida".

Publicado na véspera da solenidade católica de Todos os Santos (1 de novembro) e da evocação dos "Fiéis Defuntos" (dia 2), o artigo lamenta o «interdito teleológico» que priva o ser humano da «consumação, isto é, da realização plena» do «mistério de vida e morte» inerente à humanidade.

A morte é hoje «tacitamente ocultada», à exceção da que a «vertigem mediática» elege como «espetáculo», estando a perder-se as «palavras, imagens ou sabedoria» para a viver «não apenas como um incomunicável evento privado, mas como um destino comum e partilhado».

«A tendência atual (e que é bem mais do que uma tendência comercial) é a de assumir uma remoção completa» da morte, sustenta Tolentino Mendonça ao questionar as agências funerárias que propõem preparar antecipadamente as exéquias de cada pessoa com um pacote de serviços, a que deram o nome de «funeral em vida».

A sociedade, prossegue o texto, afasta-se da prece de Rainer Maria Rilke: «Dá, Senhor, a cada um a sua própria morte,/ uma morte nascida da sua própria vida,/ que lhe deu amor, sentido e aflição».

«No dia em que o mandamento de «sepultar dignamente os mortos» for removido dos deveres dos filhos, dos companheiros, dos irmãos, dos amigos, e antecipado para as obrigações que cada um deve prever em relação a si mesmo, a nossa humanidade ficará irremediavelmente mais pobre», acentua.

Edição: Rui Jorge Martins publicado em SNPC

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Na oração quem fala é o amor

Oração em Teresa de Ávila
A oração de S. Teresa enquanto amizade é comunicação gratuita, excluindo a lógica do «custo-benefício». Tem a marca da amizade e da graça. De facto, «para aproveitar muito neste caminho [da oração]…, não se trata de pensar muito, mas de amar muito» (4M 1,7). (...)

A oração é vida diante de Deus. (...)

Na oração «quem fala é o amor» (Livro da Vida 34,8). (...)

A linguagem da oração, realizando uma ligação com Deus, desvelava a verdade da pessoa a si própria; por ela (...) «sabemos quem somos» (1M 1,2). Rezar a Deus é uma forma de ser humano, de se experimentar profundamente, de se perceber genuinamente e de se exprimir superiormente. (...)

excertos de texto de Armindo dos Santos Vaz publicado em SNPC

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Falando de família...

Excerto da homilia do Pe Tolentino no dia de abertura do Sínodo dos Bispos

(...)
Nós sabemos como este Sínodo é uma segunda etapa deste acontecimento que o Papa Francisco quis promover para aprofundar a teologia da família, o significado da família no mundo contemporâneo, e para pensar no interior da Igreja o que é a beleza da missão da própria família, ao mesmo tempo meditando sobre o modo como a Igreja há de exercer o seu ministério da misericórdia sobre as feridas, as vulnerabilidades, as fragilidades da própria família.

Ainda ontem o Santo Padre, na vigília na Praça de S. Pedro, dizia precisamente isso: “Este Sínodo é, por um lado, para todos termos mais claro a beleza da família. O que significa a família, a sua importância na história de cada um de nós, no futuro da Humanidade. A família é um laboratório do nosso futuro. Por isso a família tem de ser redescoberta, a família tem de ser celebrada na sua vocação e na sua missão. E ao mesmo tempo, termos uma atenção misericordiosa para com as fragilidades da família, as vulnerabilidades da família.”


(...) É preciso ir ao encontro das vidas feridas, é preciso ir ao encontro com misericórdia. Nós sabemos que hoje a realidade, o fenómeno, a experiência, a condição da homossexualidade feminina e masculina ganhou nas nossas sociedades uma visibilidade que nós não podemos ignorar. As pessoas têm de viver e temos de escutar a voz das pessoas, temos de escutar o que elas vivem e temos de aprender, temos de acolher e temos de aprender, fazer um caminho com as pessoas. Porque, no fundo, nós muitas vezes pomos o dedo: “Este é este, aquela é aquela.” E nós ignoramos tanto da vida dos outros, do sofrimento dos outros… A verdade é que muitas vezes impomos cargas aos ombros dos outros que nós nem com um dedo as levamos.

Nesse sentido, temos de fazer silêncio e escutar. A Igreja também precisa de escutar, também precisa de ouvir a voz daqueles que muitas vezes não têm voz no meio de nós, e encontrar formas de diálogo, de acompanhamento. Isso é tão importante.

Aqui, na nossa comunidade, há uma experiência de cristãos homossexuais que se reúnem para rezar uma vez por mês na nossa capela. É tão importante dar esse espaço para que as pessoas rezem as suas vidas, para que as pessoas se confrontem com a palavra de Deus de uma forma que não seja para as julgar, para as condenar à partida. Mas, pelo contrário, para dizer que os homossexuais são nossos filhos, são nossos irmãos, são nossos amigos, são nossos companheiros de trabalho, são cristãos como nós, estão na nossa comunidade. Nós temos de encontrar um modelo pastoral, porque também é disso que se trata. Temos de encontrar um modelo pastoral onde a integração seja uma realidade mais vivida, e este ministério da compaixão que Jesus Cristo confia à Igreja seja um ministério praticado por todos nós.

Vamos por isso rezar ao Senhor, é uma hora muito importante da vida da Igreja este mês de outubro, não é um mês qualquer, é um mês importante, jogam-se coisas decisivas. O Santo Padre pediu aos bispos para falarem com liberdade. A palavra grega é uma palavra que vem muito no Cristianismo, que é “parrésia”. “Falem com parrésia”, isto é, falem com desassombro, falem com abertura, falem com verdade, digam o que pensam. Foi isso que o Santo Padre pediu aos bispos, aqueles 270 que estão ali, e pede à Igreja. Falemos com esta abertura, com esta simplicidade, com esta verdade para encontrarmos um caminho comum que tem de ser o caminho da comunhão.

Pe José Tolentino Mendonça

Excerto da homilia do papa Francisco, missa de abertura do sínodo dos bispos 2015

Igreja: chamada a não apontar o dedo para julgar

O papa afirmou hoje, no Vaticano, que a Igreja é chamada a viver a sua missão na caridade que não aponta o dedo para julgar os outros, mas, fiel à sua natureza de mãe, sente-se no dever de procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia».

Na missa de inauguração do Sínodo dos Bispos, dedicado à família, que decorre no Vaticano até 25 de outubro, Francisco vincou que a Igreja deve ser «capaz de tirar da solidão, sem esquecer a sua missão de bom samaritano da humanidade ferida», e tendo sempre presente que «o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado».

Na homilia, perante os cardeais, bispos, padres e leigos que participarão no Sínodo, Francisco citou o papa S. João Paulo II, para quem «o erro e o mal devem sempre ser condenados e combatidos, mas o homem que cai ou que erra deve ser compreendido e amado».

«Uma Igreja com as portas fechadas atraiçoa-se a si mesma e à sua missão e, em vez de ser ponte, torna-se uma barreira», assinalou Francisco.


por Rui Jorge Martins a 4 de Outubro de 2015 in SNPC

Tolerância: qualidade ou defeito?

Da tolerância ao respeito

«A tolerância deve ser uma fase transitória. Deve conduzir ao respeito. Tolerância é ofender.» (Johann W. Goethe). As "Máximas e reflexões" do grande poeta alemão Goethe são uma fonte rica e fecunda de inspiração para a reflexão, como é o caso deste dito, que introduz uma distinção significativa.

De um lado está a tolerância, atitude muito cara à cultura iluminista (famoso é o elogio que dela compôs Voltaire). É verdade que diante do racismo, da xenofobia, das reações hostis perante tudo o que é diferente, que venha a tolerância, que é indulgência e aceitação de quaisquer opções distintas, desde que se insiram no quadro de um comportamento humano, ético e social aceitável.

Todavia, tem razão o célebre autor do "Fausto" (1749-1832) quando exprime uma reserva sobre a tolerância pura e simples, convidando à passagem para uma outra atitude, a do respeito.

É certo que deve haver sempre uma fronteira a observar, definida pelas leis do Estado e de uma moral de base partilhada pela generalidade das pessoas. Dentro deste perímetro é positivo passar do mero suportar ao esforço de compreender, ao diálogo paciente com o outro, à longanimidade no julgar, precisamente ao respeito.

Usos e costumes, visões do mundo, experiências culturais e religiosas podem ser semelhantes a um espectro de cores: cada um de nós deve ter bem firme a conceção que escolheu conscientemente, deve praticá-la e testemunhá-la com coerência.

Mas, ao mesmo tempo, é necessário conhecer e respeitar as perspetivas que não fazem explodir esse arco-íris, mas que são capazes de coexistir e exprimir-se juntamente com as outras.

P. (Card.) Gianfranco Ravasi
Trad. / edição: SNPC

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Projecto Educação LGBT

Para partilhar e divulgar

A Rede Ex Aequo desenvolve um projecto Educação nas Escolas Portuguesas
Aceda AQUI ao vídeo




O padre que saiu do armário

Polaco, teólogo, padre e gay

Transcrevo uma notícia que não será novidade para alguns.

Um sacerdote polaco residente em Roma assumiu recentemente uma relação homossexual numa entrevista a um jornal italiano. O Padre Krzysztof Charamsa é um teólogo católico, até então professor na Pontifícia Universidade Gregoriana e no Pontifício Ateneu Regina Apostolorum e oficial da Congregação para a Doutrina na Fé, na qual era secretário-adjunto da Comissão Teológica Internacional.

No passado dia 2 de Outubro, Krzysztof Charamsa deu uma entrevista ao Corriere della Sera, na qual afirmou “quero que a Igreja e a minha comunidade saibam quem sou: um sacerdote homossexual, feliz e orgulhoso da própria identidade. Estou pronto para pagar as consequências, mas é o momento da Igreja abrir os olhos em relação aos crentes gays e perceba que a solução que propõe, de abstinência total da vida de amor, é desumana.” Quando questionado sobre as suas intenções, respondeu que a Igreja não conhecia a homossexualidade porque não conhece os homossexuais, pelo que pretende que a sua história possa servir como exemplo e ajudar a mudar consciências no interior da Igreja. Acrescentou ainda que ‘revelaria’ pessoalmente o que é ao Papa Francisco e que o comunicaria às universidades onde é docente.

Esta entrevista foi publicada no dia seguinte, coincidindo com a abertura da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se debruça sobre o tema da Família. A notícia, agravada pela coincidência propositada, foi rapidamente repercutida na comunicação social internacional, já de olhos postos no Vaticano por causa do início do sínodo. O director de imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, emitiu um comunicado pouco depois, registando que a decisão tinha sido “muito séria e irresponsável”, pois pretendia “sujeitar a assembleia do Sínodo à pressão dos media”, e que o visado não estaria certamente capacitado para continuar o exercício das duas funções. De facto, o Padre Charamsa foi dispensado das suas funções actuais, mas a decisão sobre se continuará ou não a ser padre cabe à sua diocese.

A controvérsia causada por esta situação surge também na sequência de diversos actos do Papa Francisco e da Igreja de aparente abertura à realidade LGBT, ao mesmo tempo que se aguarda o resultado final do Sínodo dos Bispos, que reúne até ao próximo dia 25.

Tiago Silva in dezanove

Austrália contra a Lgbtfobia

Um sinal de esperança: há Estados que se preocupam com a educação contra as "fobias"

Em 2012 o Ministro da Saúde lançou na televisão australiana dois vídeos para combater a homofobia.

Até aqui, apesar do reconhecimento da devida intervenção do estado, nada demais. A excepcional diferença, digna de registo, fica por conta do conteúdo:

Os vídeos denunciam a existência da prática velada de homofobia presente nas escolas, clubes desportivos, locais de trabalho e outros lugares públicos. A campanha centra-se na necessidade de haver uma resposta não só de quem sofre a homofobia como também daqueles que a testemunham.

Segundo o Ministro da Saúde, Maria Wooldridge, o desafio é que todos possam entender que têm responsabilidade de agir contra a discriminação motivada pela homofobia.

A página em http://www.notohomophobia.com.au informa o comum cidadão, ajuda-o a encontrar apoio e a agir, contendo toda a informação relevante, recursos e contactos num mesmo lugar.

A Porta-voz, Anna Brown, afirma: "Toda a gente concorda que não há lugar para o racismo ou para o sexismo na Austrália moderna. A homofobia, bifobia e a transfobia não são diferentes. O assédio homofóbico não é aceitável e é muitas vezes ilegal. Precisamos parar o assédio e os danos que causam aos nossos amigos, membros da nossa família e vizinhos."

Veja aqui o vídeo

adaptado por rioazur de carlosalexlima

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Uma via-sacra em fotografias




Novas igrejas de todos os tempos: Iconografia pascal na igreja de Herz Jesu - Via-sacra

A via-sacra da igreja de Herz Jesu (Sagrado Coração de Jesus), em Munique, distribui-se pelo deambulatório que envolve o seu corpo central.

É uma obra particularmente interpeladora, da autoria de Matthias Wähner, que apresenta no lugar das 14 estações outras tantas fotografias recentes da Via Dolorosa, em Jerusalém.

A primeira surpresa resulta da utilização de uma expressão artística ainda pouco acolhida pela Igreja, apesar das inúmeras imagens verdadeiramente litúrgicas que esta arte já produziu na sua curta, mas riquíssima história.

A segunda admiração surge quando constatamos a ausência, nestas estações, do rosto sofredor de Cristo, encontrando no seu lugar outros rostos, os dos homens e das mulheres pelos quais morreu. É o nosso rosto ali também?

O terceiro espanto surge, finalmente, quando nos percebemos transportados para este caminho histórico, que agora percorremos lado a lado com os que lá estão - lá em Jerusalém, como ali em Munique, em Espírito e Verdade.

Arq.º João Alves da Cunha
Grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
Publicado em SNPC

O elogio da Diferença

O espírito da diferença

A beleza da vida social depende principalmente do jogo e do entrelaçar das diferenças. A beleza da terra não se deve apenas à grande variedade de borboletas e flores. É muita a beleza que vem das diferenças, modos e formas de fazer economia, empresa, banca. Maior ainda é a beleza que nasce das diferenças entre pessoas, do encontro de talentos diversos, do diálogo entre motivações.

Muitas “obras de arte” civis que continuam a embelezar a nossa terra comum nasceram de motivações mais fortes que os incentivos económicos, de “porquês” mais profundos que os monetários. Se os fundadores tivessem obedecido à lei férrea dos "business plans", não teríamos hoje os tantos "Cottolengo" [designação de obras de assistência para pobres e deficientes profundos, extraída do nome do seu fundador, católico] que amaram os nossos filhos especiais, nem as milhares de cooperativas nascidas do desejo de vida e futuro dos nossos pais, mães e avós.

Estas obras que brotaram de ideais maiores resistiram ao tempo e às ideologias, atravessaram séculos e continuam a atravessá-los. Nascidas de motivações grandes souberam gerar grandes coisas, duradoiras e fecundas. A vida económica e civil, que é vida humana, tem necessidade extrema de todos os recursos de humanidade, incluindo as suas motivações mais profundas. Uma economia reduzida a pura economia perde-se e deixa de ser capaz de gerar vida; não gera sequer boa economia.

Uma das tendências mais radicais do "humanismo imunitário" do capitalismo contemporâneo é a necessidade de controlar, limitar, normalizar as motivações mais profundas dos seres humanos, sobretudo as motivações intrínsecas de onde nascem gratuidade e liberdade. Na verdade, quando ativamos as paixões, os ideais, o espírito, sucede que o nosso comportamento foge ao controle das organizações. As nossas ações tornam-se imprevisíveis, porque livres; por isso põem em crise os protocolos e a normalização dos procedimentos de trabalho. E principalmente põem em crise a gestão, cuja função e natureza é tornar controláveis e previsíveis os comportamentos na organização. Para poder gerir muitas pessoas diversas e orientá-las todas para os objetivos simples da empresa é preciso proceder a uma forte homologação e normalização dos comportamentos, que assim ficam incapazes de criatividade (que todos, nas palavras, afirmam desejar).

As motivações intrínsecas são as mais poderosas, e por isso as mais desestabilizadoras. Libertam-nos do cálculo de custo-benefício, o que nos dá capacidade de fazer coisas apenas pela felicidade intrínseca da ação. Sem motivações intrínsecas não teríamos investigação científica, poesia, grande parte das expressões artísticas, espiritualidade verdadeira; como não teríamos muitas empresas, comunidades e organizações que nascem das paixões e dos ideais dos fundadores e se mantêm vivas porque e enquanto houver alguém que continue a trabalhar não apenas por dinheiro. Em toda a verdadeira criatividade são essenciais as motivações intrínsecas.

Como tragicamente todos os dias podemos constatar, porém, as motivações intrínsecas estão também na raiz dos piores comportamentos dos seres humanos. Por isso, o espírito moderno – o económico, de modo especial – receando os efeitos potencialmente desestabilizadores das grandes motivações humanas, optou por limitar-se às motivações instrumentais ou extrínsecas. A gestão do jogo público de diferenças e identidades foi deixada à democracia e expulsa das empresas. Deste modo, a cultura das organizações procura transformar em incentivos todas as várias motivações humanas, reduzir os muitos “porquês” a um único, simplicíssimo, “porquê”. Assim se reduziram as feridas (a vulnerabilidade) dentro das empresas; mas reduziram-se também as bênçãos (o bem-estar).

O incentivo tornou-se o grande instrumento para controlar e gerir pessoas “reduzidas” e despotencializadas nas suas múltiplas motivações, para assim ficarem alinhadas com os objetivos das organizações (o "incentivus" era o instrumento de sopro que servia para afinar os instrumentos da orquestra, a trompa que incitava a tropa para a batalha, a flauta do encantador de serpentes). A economia e as ciências de gestão acabaram por contentar-se com as motivações menos poderosas dos seres humanos – mesmo quando procuram instrumentalizá-las, prometendo aos recém-admitidos um paraíso que não podem nem querem dar. Também isto está no preço da modernidade.

A operação de nivelamento motivacional é sempre perigosa, porque “o homem a uma só dimensão” não funciona bem em lado nenhum; sobretudo não é feliz. Onde, porém, a expulsão de motivações mais profundas, criativas e livres é fatal, é nas organizações nascidas e alimentadas por ideais, carismas ou paixões – designadas OMI (Organizações de Motivação Ideal). São organizações “diferentes” que têm necessidade fundamental de uma parcela, ainda que pequena, de trabalhadores, dirigentes, fundadores com motivações intrínsecas, isto é, dotados de um “código genético” diferente do que foi concebido e implementado pela teoria de gestão dominante. Essas pessoas operam nas empresas sociais e civis, nas comunidades religiosas, em muitas ONG, em movimentos espirituais e culturais, nos mundos do ambientalismo, do consumo crítico, dos direitos humanos; mas também acontece, e com bastante frequência, encontrá-las fundando empresas familiares e em muita da economia “normal” realizada por artesãos, pequenos empresários, cooperativas, finança ética e territorial.

Essas organizações e comunidades não existiriam sem a presença de tais pessoas “fermento”, criativas, geradoras e muitas vezes desestabilizadoras da ordem constituída; são “movidas por dentro”, têm em si um “carisma” que as impele a agir obedecendo ao seu "daimon". Estes trabalhadores com motivações intrínsecas apresentam duas notas motivacionais dominantes. Por um lado são pouco motivados pelos incentivos económicos da teoria de gestão, respondem pouco ou nada ao som exterior da flauta encantatória; do que gostam mesmo é de ouvir outras melodias internas. Paralelamente, são muitíssimo sensíveis às dimensões ideais da organização que fundaram ou em que trabalham por motivos não apenas económicos: motivos ideais com os quais se identificam, ou para os quais se sentem vocacionados.

A gestão de pessoas com motivações intrínsecas é crucial quando estas organizações atravessam momentos de crise e conflito que podem surgir, por exemplo, quando há uma nova geração ou liderança, por morte e sucessão do fundador. Esses momentos – que em todas as organizações são delicados – são decisivos para as OMI; o erro mais típico e muito frequente é não se entender as instâncias e protestos provenientes precisamente dos membros mais motivados. Se quem gere ou, como consultor, acompanha essas OMI não reconhecer o valor das motivações mais profundas – e não se trata de incentivos – não só não alcança o objetivo esperado, mas ainda agrava mais a crise destas pessoas e da organização.

Durante as crises de qualidade ideal, os primeiros a protestar são os mais interessados na qualidade que se está a perder. Mas se dirigentes e responsáveis interpretam esse tipo de protesto simplesmente como um custo e o rejeitam, os primeiros a sair são precisamente os melhores (como tentei mostrar em alguns estudos realizados juntamente com Alessandra Smerilli). Sendo estas pessoas pouco sensíveis a incentivos e muitíssimo sensíveis às dimensões ideais e de valor, estão dispostas a dar tudo, muito para além do contrato, enquanto “valer a pena”, enquanto são vivos e reconhecidos os valores em que investiram muito. Mesmo nas empresas, há pessoas que atribuem um valor tão alto aos valores simbólicos e éticos inspiradores do seu trabalho, que por eles estão dispostas a fazer (quase) tudo. Mas logo que se dão conta de que a organização se está a tornar (ou se tornou) outra coisa, toda a recompensa intrínseca que extraíam do seu trabalho ou atividade reduz-se drasticamente; a ponto de, em certos casos, se anular (ou mesmo passar a ser negativa). Também isto exprime a antiga intuição (que remonta a pelo menos S. Francisco) segundo a qual a verdadeira gratuidade não tem preço zero (não é gratuita); tem um preço infinito.

A gestão de crises nas OMI é uma verdadeira arte; requer sobretudo nos responsáveis a capacidade de distinguir os tipos de mal-estar e de protesto, o saber identificar e valorizar o protesto que provém daqueles que protegem e são portadores dos valores ideais da organização. A nova ideologia de gestão, pelo contrário, cada vez mais aplanada num único registo motivacional, não possui categorias para compreender os diversos tipos de protesto; por isso não consegue reconhecer, por detrás de uma ameaça de abandono, um possível grito de amor.

As pessoas com motivações intrínsecas possuem também, de modo geral, uma grande resiliência, uma grande fortaleza nas adversidades. Conseguem aguentar longo tempo numa condição de protesto, preferindo ficar, embora protestando (Albert Hirschman define como leal quem protesta e não sai). A pessoa com forte motivação intrínseca sai e abandona apenas quando perde a esperança de que a organização poderá recuperar os ideais perdidos; por vezes a própria saída é a última mensagem, extrema, para suscitar uma mudança de rumo nos dirigentes. Compreende-se, portanto, que uma OMI é sábia quando consegue manter as pessoas leais, dando direitos de cidadania ao seu protesto, valorizando-o e não o considerando um custo ou empecilho.

A biodiversidade dentro das organizações está a diminuir drasticamente; o nivelamento motivacional produz desconforto e mal-estar crescente, mesmo no coração do capitalismo. Mas quem ama e vive em comunidades e organizações com motivação ideal precisa de defender e salvaguardar as motivações intrínsecas, hoje ameaçadas de extinção. Talvez seja possível resistir anos e anos dentro de uma multinacional sem dar espaço a motivações ideais; mas as OMI depressa morrem se reduzirmos todas as paixões ao triste incentivo.

Nas pessoas, em todas as pessoas, as motivações são muitas, ambivalentes e entrelaçadas umas nas outras. A cultura e os instrumentos da gestão podem favorecer o seu aparecimento e a sustentabilidade das motivações mais profundas e ideais; podem também aumentar o cinismo da organização, na qual cada um se contenta com os incentivos e deixa de pretender demasiado da organização. E assim cedo acaba por nada esperar dela.

Seremos melhores, passada esta grande transição, se criarmos organizações mais bio-diversificadas, menos niveladas nas motivações e onde haja espaço para a pessoa inteira; organizações habitadas por trabalhadores um pouco mais difíceis de controlar e de gerir, mas mais criativos, mais felizes, mais humanos.

Luigino Bruni
In "Avvenire"
Trad.: José Alberto Bacelar Ferreira, P. António Bacelar
Publicado em SNPC

Oração ecuménica pelo nosso planeta

Oração pela nossa terra

Deus Omnipotente,
que estais presente em todo o universo
e na mais pequenina das vossas criaturas,
Vós que envolveis com a vossa ternura
tudo o que existe,
derramai em nós a força do vosso amor
para cuidarmos da vida e da beleza.
Inundai-nos de paz,
para que vivamos como irmãos e irmãs
sem prejudicar ninguém.
Ó Deus dos pobres,
ajudai-nos a resgatar
os abandonados e esquecidos desta terra
que valem tanto aos vossos olhos.
Curai a nossa vida,
para que protejamos o mundo
e não o depredemos,
para que semeemos beleza
e não poluição nem destruição.
Tocai os corações
daqueles que buscam apenas benefícios
à custa dos pobres e da terra.
Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa,
a contemplar com encanto,
a reconhecer que estamos profundamente unidos
com todas as criaturas
no nosso caminho para a vossa luz infinita.
Obrigado porque estais connosco todos os dias.
Sustentai-nos, por favor, na nossa luta
pela justiça, o amor e a paz.

Papa Francisco

Sobre o cuidado da Casa Comum

A Encíclica Verde

Para ler o texto integrar da encíclica do Papa Francisco, clique AQUI

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Uma mãe que sabe sorrir: assim deve ser a Igreja

Mãe Igreja

O Papa vincou que «a Igreja é mãe», e não «uma associação rígida», durante a missa a que presidiu no Vaticano, celebração em que participou o grupo de nove cardeais instituído por Francisco para o ajudar no governo na Igreja e para estudar uma reforma da Cúria Romana.

A «maternidade» da Igreja, à imagem de uma mãe, cultiva a atitude de humildade, bondade e perdão e ternura, assinalou o papa, segundo a Rádio Vaticano, acrescentando que Francisco baseou a homilia no trecho do Evangelho em que Jesus, na cruz, se dirige ao apóstolo amado e a Maria dizendo: «Filho, eis a tua mãe».

Com estas palavras, frisou o papa, a maternidade de Maria «alarga-se na figura daquele novo filho, alarga-se a toda a Igreja e a toda a humanidade»: «Este é também o nosso orgulho: temos uma mãe, uma mãe que está connosco, que nos protege, que nos acompanha, que nos ajuda, mesmo nos tempos difíceis».

Os monges russos, prosseguiu Francisco, têm uma imagem de Maria que remete para o aconchego: «[Dizem que] nos momentos de turbulência espiritual, devemos andar debaixo do manto da Santa Mãe de Deus [e assim ela] nos acolhe e nos protege e toma conta de nós».

Da maternidade de Maria, nasce a «maternidade da Igreja»: «A Mãe Maria e a mãe Igreja sabem acariciar os seus filhos, dão ternura. Pensar a Igreja sem esta maternidade é pensar numa associação rígida, uma associação sem calor humano, órfã».

«A Igreja é mãe e recebe-nos a todos nós como mãe; Maria mãe, a Igreja mãe», maternidade que se «exprime nas atitudes de humildade, de acolhimento, de compreensão, de bondade, de perdão e de ternura», assinalou.

Para Francisco, «onde há maternidade e vida, há vida, há alegria, há paz, cresce-se em paz»; pelo contrário, quando falta a maternidade «apenas permanece a rigidez, a disciplina, e não se sabe sorrir. Uma das coisas mais belas e humanas é sorrir a uma criança e fazê-la sorrir».

por Rui Jorge Martins in SNPC

Carta de Pe Michele a um grupo LGBT

Deus quer que frutifiquemos com os dons que nos deu

Aqueles que desejam transformá-los em 'heterossexuais', por assim dizer, estarão forçando-os a agir contra a sua natureza e tornando-os psicopatas infelizes. Precisamos colocar em nossas cabeças que Deus, nosso Pai, quer que nós, suas crianças, sejamos felizes e frutifiquemos com os dons que Ele colocou em nossa natureza! (...) 

Vocês têm o direito de procurar um parceiro. E não se preocupem: onde existe o ágape, existe Deus. Vivam a sua vida com alegria. E com a nossa mãe Igreja precisamos ter paciência. A atitude da Igreja com os homossexuais mudará. Neste sentido, inúmeras iniciativas já foram empenhadas.

Ler mais AQUI

Deus não julga ninguém pelos seus impulsos sexuais

Pe Michele De Paolis fala sobre homossexualidade

Estou espantado com o facto de que muitos homens da Igreja (...) ignoram completamente o fenómeno da homossexualidade, que a ciência já esclareceu de modo inequívoco: a orientação homossexual não é escolhida livremente pela pessoa. O rapaz e a moça se descobrem dessa maneira: trata-se de uma abordagem profundamente enraizada na personalidade, que constitui um aspecto essencial da própria identidade: não é uma doença, não é uma perversão. O rapaz ou a moça homossexual podem dizer a Deus: "Você nos fez assim!".

Algumas pessoas de Igreja dizem: "Tudo bem ser homossexual, mas não deve ter relações sexuais, não podem amar uns aos outros!" Isso é a máxima hipocrisia. É como dizer a uma planta que cresce: "Você não deve florescer, não deve dar frutos!". Isso sim é contra a natureza.

Confesso que no começo eu também tinha meus preconceitos. Então, estudei e consegui. Sucessivamente tentei entrar na lógica do Evangelho; eu queria olhar para as coisas da parte de Deus. Entendo que o Pai não exclui do seu amor nenhum de seus filhos e não julga a pessoa com base em seus impulsos sexuais, que são atribuições da natureza e não de uma escolha voluntária.

Padre Michele De Paolis 

Nota biográfica

O Pe Michele De Paolis é salesiano, nascido a 9 de março de 1921 em Itália, um dos fundadores da Comunidade "Emmaus" (1978) e, segundo algumas fontes, co-fundador do grupo italiano AGEDO (associação de amigos, parentes e pais de pessoas homossexuais e transexuais, fundada em 1992 na cidade de Milão)

Ler mais em: retorno

domingo, 26 de abril de 2015

Perder tempo


Life appears to me too short to be spent in nursing animosity or registering wrongs. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Experiências pastorais de acolhimento de pessoas homossexuais

Encontros do Lumiar

No dia 14 de fevereiro, às 15h30, no Mosteiro de Santa Maria, no Lumiar (Monjas Dominicanas), terá lugar um painel de testemunhos sobre experiências pastorais de acolhimento de pessoas homossexuais, no âmbito da temática “E se o essencial estiver noutro lugar?” Será uma conversa entre a jornalista Lígia Silveira, José Leote e Rui Aleixo.

Monjas Dominicanas do Lumiar

sábado, 24 de janeiro de 2015

Homoafetividade e Igreja Católica: do confessionário ao banco da Igreja

Na próxima semana haverá uma conferência em Lisboa, com o tema "Homoafetividade e Igreja católica: do confessionário ao banco da Igreja" que será do interesse dos leitores deste blog. Quem estiver pela capital portuguesa, não perca esta oportunidade.

Quando e onde?

3ª feira dia 27 de Janeiro, às 21h, no convento das Monjas Dominicanas do Lumiar.



terça-feira, 4 de novembro de 2014

Padre jesuíta fala sobre pastoral homossexual

A "escandalosa tolerância" de Jesus

Jesus, o escandaloso!

Se nos atemos ao que contam os Evangelhos, nos surpreendemos com o fato de que Jesus foi escandalosamente tolerante com pessoas e grupos com os quais nenhum homem, reconhecido como observante e exemplar do ponto de vista religioso, podia ser tolerante. Ao mesmo tempo em que se mostrou extremamente crítico com aqueles que se viam a si mesmos como os mais fiéis e os mais exatos em sua religiosidade, Jesus foi tolerante com os publicamos e pecadores, com as mulheres e com os samaritanos, com os estrangeiros, com os endemoniados, com as multidões dos gentios (óchlos), uma palavra dura que designava a “plebe que não conhecia a Lei e era maldita”, no juízo dos sumos sacerdotes e dos fariseus observantes (Jo 7, 49; cf. 7, 45).

E é curioso, mas essa gente é a que aparece constantemente acompanhando a Jesus, escutando-o, buscando-o... Os relatos dos Evangelhos são eloquentes neste ponto concreto e repetem muitas vezes que o “gentio”, a “multidão”... buscava a Jesus, que o ouvia, que estava perto dele. E aquela mistura de Jesus com os “gentios” chegou a ser tão angustiosa, que até a família de Jesus chegou a pensar que ele havia perdido a cabeça (Mc 3, 21). Jesus compartilhava mesa e toalha com os pecadores, o que dava pé a murmurações por causa de semelhante conduta (Lc 15, 1s).

José María Castillo
in blog Teología sin Censura


Quem recebe a comunhão?

A comunhão não é prémio para os perfeitos, mas alimento para os crêem em Jesus e querem segui-lo.

James Alison fala da discussão da Igreja em torno da homossexualidade (parte 4)

O texto encontra-se na íntegra em Rumos da discussão

7. Saída do impasse

Graças a Deus, os nós do skandalon são desatáveis. Se os mecanismos do constante estreitamento dos nós (…) são potenciados pela acusação, aquilo que potencia o soltar os laços é o perdão. E de fato, no epicentro da fé cristã e católica entendemos muito bem que a chave para abrir a verdade que nos libera é o Espirito d’Aquele que estava disposto não a fugir do skandalon mas Ele mesmo entrar no seu interior, sendo Ele mesmo definido como escandaloso, e suportando o peso da violência, das falsas acusações, da vergonha, da desfiguração e da morte. E o fez tudo para que nós pudéssemos passar pelo espaço dos escândalos sem ficar escandalizados: “Feliz aquele que não se escandalizar em mim”.

E é isso mesmo: na medida em que achamos que nesta situação de vivência eclesial, não há nada para ser perdoado, é só insistir nas definições de sempre com maior rigor frente a um mundo perverso cada vez menos disposto a nos ouvir. Deste modo, só conseguimos atiçar o skandalon até o ponto onde a nossa perda de razão fica evidente para todo mundo menos para nós. Assim ficamos ainda mais escandalizados ao percebermos como os outros consideram tabu irracional aquilo que chega a ser para nós pedra de toque da nossa sacralidade. Por outro lado, na medida em que reconhecemos que tem algo para ser perdoado, quer dizer solto, permitido a fluir, e que somente na medida em que nos deixamos perdoar é que vamos perceber a realidade daquilo que é, assim veremos o skandalon se esfumar e vamos ficar livres.

Repito isto, porque é um dos segredos do cristianismo que a Igreja muitas vezes consegue esconder de si própria. O principio da realidade flui a partir da vítima que nos perdoa, e que nos dá o poder de segui-la sendo perdoados e espalhando o perdão, fazendo dos lugares escuros e aparentemente tóxicos da vergonha e do escândalo, lugares onde podemos morar pacificamente, e por isso, começar a detectar e descrever sem medo aquilo que realmente está acontecendo. Aquele que diz “Eu sou a verdade, o caminho e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim” soprou nos apóstolos o Espirito Criador mandando-os perdoar, e é aquele Espírito que nos leva a toda a verdade, e nos assegura que a verdade nos libertará.

Ou seja, o primeiro passo para sair do skandalon que é a atual vivência eclesial do assunto gay é se deixar perdoar. E o segundo passo, que flui automaticamente do primeiro é na medida em que começamos a nos descobrirmos perdoados, e por isso capazes de caminhar com maior leveza de espírito em meios perigosos, onde só o perdão nos dará a capacidade de não nos preocuparmos pela perda de reputação e assim por diante, a perdoar aqueles que ainda ficam escandalizados e por isso são pessoas violentas, ainda filhos da ira, que não entendem bem as forças cruéis do desejo escandalizado que as agitam. Os escandalizados não serão capazes de deixar de mentir, de atacar, de acusar, se pensando justos ao fazê-lo, e agindo até com maior ferocidade na medida em que perceberem a liberdade e a tranquilidade alheia. Com o escandalizado, nunca entrar em debate. Ao escandalizado se perdoa sem que ele o peça, pois não sabe o que faz, e porque, não o perdoando, ficamos com o risco de sermos contagiados pelo mesmo escândalo.

O terceiro passo, e é um grande privilégio da fé católica, é poder ver com aquela racionalidade tranquila de quem passou pela perda de tudo, e ainda se descobriu mantido em vida, como é que esta pequena abertura para uma antropologia mais verdadeira não é (…) uma ruptura da fé, ou uma brecha na bela totalidade da vivência católica, mas, ao contrário: é o seu desenvolvimento, a partir de dentro, mais orgânico. É uma daquelas coisas que do lado de fora parece um obstáculo, e por isso uma pedra a ser rejeitada, mas pelo lado de dentro, percebe-se o seu vínculo íntimo com a pedra angular. Ou seja, uma vez que a gente está além do escândalo, a gente olha para atrás e percebe que o pleno reconhecimento da humanidade das pessoas gays foi, e está sendo, o desenvolvimento mais íntegro da vivência cristã, seguindo muito exatamente aquilo que Jesus nos prometeu. Curiosamente, este desenvolvimento integralmente cristão tem sido liderado por pessoas que pouco sabiam o quanto eram cristãs a ousadia, a humildade e a perseverança delas, e tem sido obstruído por pessoas que pouco sabiam que a rigidez, o escândalo e a desonestidade delas nada de cristão tinham. Um fato assim deveria ser motivo de vergonha para nós que levamos o nome de cristão, porém só pode ser motivo de surpresa para quem não tiver dedicado o mínimo de tempo a ler os Evangelhos...

O quarto passo, descobrindo-nos, sem mérito nosso, por dentro da dinâmica orgânica do Evangelho é nos dar conta de que a fé católica sempre previa possibilidades deste tipo. O ensinamento católico com respeito a Fé e a Razão, a Graça e a Natureza, mantido nos conselhos de Trento, Vaticano I e II, e ensinado com particular lucidez pelo Bento XVI nos facilita muito a tarefa de sair dum escândalo que é muito mais forte para grupos que não tem este ensinamento. Pois, uma vez que é o ensinamento constante da Igreja que a razão humana, por débil que seja, não ficou totalmente danificada na queda, e por isso ainda é capaz de aprender a verdade, mesmo que por caminhos árduos e onde avançamos só em meio a muitos erros; e que a natureza humana, e junto com ela o desejo humano não é radicalmente depravado, mas em si uma coisa boa, mesmo que vivido por todos nós de uma forma distorcida e debilitada; uma vez lembradas estas coisas, então podemos entender que é absolutamente conforme à nossa fé o poder aprender, ao longo do tempo e de maneira árdua, que alguma coisa que parecia ser um defeito da natureza humana não o é e que aquilo que se pensava uma condição viciada ou patológica não o é. Devido justamente a esta compreensão, a fé católica entende que Deus, porque nos ama, não proíbe coisas de maneira caprichosa, só proíbe aquilo que nos faz mal. Quando se pensava que ser gay era um defeito numa natureza humana intrinsecamente heterossexual, então não se colocava em questão que a proibição fosse para o nosso bem. No momento em que se descobre que, antes, ser gay diz respeito a uma variante minoritária e não patológica na condição humana, então automaticamente fica claro que aquilo que se pensava ser uma proibição divina não é, e nunca foi, tal. É e foi um tabu humano, parte daquele mundo de ignorância e violência que ainda não tinha aprendido a respeitar a dignidade, a beleza, e a capacidade para o florescimento de diversos membros da raça humana. Mas que agora, e como parte integrante da Boa Nova, estamos descobrindo que ser humano é uma aventura maior e mais rica do que se pensava antes.

8. A catolicidade do caminho proposto 

Quero insistir nisto, porque significa que o descobrimento da condição não patológica do ser gay, um autêntico descobrimento de tipo antropológico, um autêntico ganho para a humanidade, não é um ataque frontal a uma doutrina da Igreja. Ao contrário, é parte de um mecanismo absolutamente normal, e interno à vida da Igreja, pelo qual chegamos a perceber um conflito entre duas doutrinas que antes não pareciam ter nenhum conflito entre elas: a doutrina acerca da fé, da razão, da natureza e da graça, por um lado, e a proibição absoluta de todo ato de amor entre pessoas do mesmo sexo, por outro. As duas doutrinas de fato têm um conflito, se aquilo que chegamos a perceber e apreciar ao seguir a primeira doutrina, que é, de toda evidência, central para a visão católica do mundo, nos leva muito obedientemente a relativizar e finalmente a rejeitar, como sendo expressão de um tabu, a segunda doutrina. A primeira doutrina nos teria ensinado que a segunda não pode ser de origem divina, sendo que é incompatível com a benevolência e a sabedoria do Criador ter querido frustrar por meio de uma proibição absoluta o desenvolvimento e crescimento normal de uma condição que ele mesmo teria se comprazido em introduzir na nossa experiência de filhas e filhos dele. A bondade ou ruindade dos atos de amor entre pessoas do mesmo sexo dependeria de seu uso, como é de fato a experiência das pessoas gays, e os critérios para isto deveriam ser aprendidos por nós, guiados por aquela inapagável tendência em nós para a verdade que a Igreja tanto preconiza e à qual tantas pessoas gays e lésbicas têm dado testemunho na face de tanta rejeição eclesiástica.

Acho que vale a pena lembrar disto: como o ensinamento da Igreja vem de Deus, quando descobrimos um erro, é evidente que aquilo não era, na verdade, o ensinamento da Igreja. E os que insistiam que era, resultaram ser os que foram na verdade pouco leais à Igreja, preferindo uma aparente continuidade tingida com erro a uma vivacidade sempre mais ricamente portadora da verdade. (Cf Marcos 7, 13

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

James Alison fala da discussão da Igreja em torno da homossexualidade (parte 3)

O texto encontra-se na íntegra em Rumos da discussão

5. O grande escândalo

Nos termos de Bateson é um double bind perfeito: se falar a verdade, você fica de fora (do grupo); e se não falar a verdade, fica de fora (do sentido para o qual existe o grupo). Então muitos integrantes da Igreja preferem ficar num espaço ambíguo, uma espécie de Don’t ask, Don’t tell onde tudo é cinzento. Mesmo sem falar da miséria psíquica que este ambiente produz, nem dos relacionamentos disfuncionais e inapropriados que nele abundam, isto é evidentemente o ambiente mais propício para todo o tipo de chantagem.

(…) A vivência eclesial desta questão merece mesmo o nome de escândalo, não no sentido jornalístico, mas no sentido estrito, de um mecanismo que é pedra de tropeço, algo que atrai e repele a seus integrantes ao mesmo tempo, atando-nos em ritmos de desejo insuportáveis de viver com e insuportáveis de viver sem. É um escândalo vivido na carne própria (…) e tende a se reproduzir como escândalo nos inocentes que são induzidos a formar parte deste mundo escandalizado. Este processo de ficar atado num “skandalon” leva à paralisia do coração, passo muito próximo à perda da alma. Mas é aqui onde me parece que entra no jogo aquele terceiro elemento da interpelação que mencionei ao começo, a da veracidade.

(…) Se estamos diante de um “skandalon” (…) que creio ser o do Evangelho, procurar (…) entalar as pessoas escandalizadas entre a “verdade” e a “honestidade” é mais uma maneira de nos deixarmos cozinhar pelo inexorável fogo baixo da acusação. Ora, a qualidade da acusação é que só atiça e estreita os nós do escândalo, mas não oferece nenhuma saída dos seus laços.

Por isto, gostaria de oferecer para vocês algumas observações sobre a dimensão da veracidade neste campo. A minha tarefa, como cristão, como padre, e como teólogo, não é atiçar os laços do escândalo, mas reconhecendo sem fingimento o skandalon por aquilo que é, procurar desatar aqueles nós, oferecendo caminhos pelos quais seja possível sair de tanta dor e autodestruição.

6. A veracidade 

(…) Falo do processo pelo qual o grupo humano e os seus integrantes chegam a adquirir uma disposição estável de se deixar ajustar àquilo que realmente é, e poder falar a respeito. (…)

(…) Gostaria de sublinhar que sair de um escândalo não é um processo puramente intelectual. De fato, funciona muito mais ao nível do desejo que nos estrutura do que naquele nível relativamente secundário que é o do raciocínio. Dou-lhes um exemplo. Recentemente um Bispo amigo meu foi chamado pelo Vaticano para responder por uma pastoral gay na diocese dele. Os acusadores tinham outros motivos para incomodar o Bispo, mas acusar um bispo de demasiado liberal no assunto gay é sempre uma boa arma no campo minado do amor cristão. O Bispo me consultou a respeito, e eu disse para ele aquilo que digo para vocês: que, havendo seguido os estudos durante anos, a meu ver, trata-se de uma variante minoritária não patológica e que ocorre regularmente na condição humana, com as consequências normais que disto decorrem. O Bispo, muito inteligentemente, e não querendo depender numa questão de evidência científica da opinião de um mero teólogo que é também um homem pessoalmente envolvido no assunto, procurou os principais médicos, psicólogos e cientistas da diocese dele, um por um, e perguntou qual era o parecer deles na matéria. E todos, sem exceção, disseram para ele a mesma coisa. Então, durante a entrevista dele no Vaticano, ele levantou esta questão, sugerindo que estamos diante de um fato já aceito pacificamente no universo científico. Os seus interlocutores romanos informaram ele que não era para ele ser enganado deste jeito, e que a pretendida cientificidade deste fato é simplesmente o resultado de um lobby gay muito poderoso e influente.

Agora, espero que vocês vejam a diferença entre as duas maneiras de proceder. Por um lado tem alguém que está disposto a perder a reputação dele no grupo que o sustenta, ao reconhecer a possibilidade, mas não a certeza, de que a realidade talvez seja diferente do que pensava. Por isto ele se dá o trabalho de estudar o assunto, confiante de que, seja qual for o resultado da pesquisa, a verdade é aquilo que nos faz bem, e que é muito exatamente uma parte do exercício do dom da Fé confiar em que Deus nos mostrará aquilo que é realmente bom para nós se estivermos dispostos a correr o risco de nos percebermos errados. Ou seja, por um lado alguém se encontrou com suficiente liberdade no meio do grupo dele como para se permitir o exercício da virtude da studiositas como parte do caminho para se ajustar à verdade das coisas.

Por outro lado, temos uma pessoa ou grupo de pessoas de tal modo escandalizadas pela possibilidade de que a verdade objetiva não esteja conforme aquilo que deve ser, segundo o entendimento deles do ensino da Igreja, que resolvem o problema por meio de uma teoria de conspiração. “Só os médicos e psicólogos que estão de acordo conosco são aceitáveis. Se existem muitas pessoas alegando que estamos diante de uma verdade de tipo científico discordante do nosso ensinamento, mas que agora é pacificamente aceita pela imensa maioria dos estudiosos, então a explicação é que um poderoso grupo de malfeitores teria adulterado a ciência a favor do autoengano deles.” Espero que dê para perceber que uma teoria da conspiração deste tipo é o equivalente intelectual da premissa da bruxaria causadora da tempestade, e é um empecilho perfeito à possibilidade da veracidade. Quem se aferra a uma causalidade social acusadora desta maneira nunca vai ter acesso à possibilidade do conhecimento científico, (…) nem das ciências modernas que estão nos permitindo entender a orientação sexual. Ou seja, o pensamento escandalizado é justamente o oposto do caminho da veracidade. Nos mantém longe da possibilidade de nos ajustar àquilo que realmente é e menos ainda de poder falar a partir de dentro daquele processo de ajuste.

James Alison fala da discussão da Igreja em torno da homossexualidade (parte 2)

O texto encontra-se na íntegra em Rumos da discussão


3. Tudo vem do ponto de partida

(…) São Tomás nos oferece uma bela frase para descrever as graves consequências de não ter acertado o primeiro passo: Error parvus in principio, magnus est in fine. Mesmo que um erro seja só aparentemente pequeno no começo, se não for corrigido, termina levando o caminhante muito longe mesmo do caminho certo. Aqui poderíamos dizer que a diferença entre a analogia do canhoto e a analogia do anoréxico não é, aparentemente, muito grande. Porém, as consequências para a vida da Igreja, das famílias e das pessoas, de partir da falsa e não da verdadeira analogia, vão muito longe mesmo.

(…) Na segunda década do século XXI, a evidência da razão está se mostrando contundentemente pelo lado de uma destas duas caracterizações: não há evidência alguma de tipo genético, neurobiológico, químico, endocrinológico, hormonal, nem de psicologia infantil ou adulta para indicar que ser gay é uma desordem objetiva. Ao contrário, toda a evidência atualmente disponível, e ainda estamos nos primórdios de muitos campos novos de estudo, leva a pensar que não há patologia alguma que seja intrínseca ao ser gay, mas que as pessoas gays têm as mesmas tendências à saúde e à patologia que as pessoas heterossexuais. Ou seja, ser gay é mesmo uma variante minoritária e não patológica que ocorre regularmente dentro da condição humana. (…) E estas evidências de tipo científico estão recebendo uma confirmação de tipo popular cada vez mais forte a cada dia, na medida em que, por todo o planeta, a começar pelos países de ocidente, as pessoas gays vão perdendo o medo de viver de maneira transparente, e por isso a gama das nossas características, em toda a sua variedade, chega a ser cada vez mais visível. Com a visibilidade some o mistério, e percebe-se que não somos nem mais nem menos generosos, irresponsáveis, ignorantes, ciumentos, paranoicos, inteligentes, honestos, preguiçosos, violentos ou confiáveis que os outros. Antes, somos banalmente muito parecidos.

Vale a pena insistir nisto ante este público já que alguns de vocês dependem para o vosso sustento de um meio eclesiástico onde ainda há um abismo entre a primeira categoria de evidência, aquilo que se conhece formalmente de tipo científico, e a segunda categoria de evidência, a sua confirmação cotidiana em meio ao povo pelo conhecimento de parentes e amigos que vivem isto de maneira transparente e sem distúrbios. No meio eclesiástico, não dá para perceber tal vivência transparente e sem distúrbios. De fato, qualquer pessoa hétero morando num seminário, ou comunidade religiosa, e que não tinha antes muito conhecimento de pessoas gays talvez vá se dando conta que tem uma desproporção muito grande de pessoas gays no meio religioso (…). Não seria de se surpreender que (…) chegasse a deduzir, a partir da evidência que tem diante do nariz, que existe um elo intrínseco entre a homossexualidade e a desonestidade. Para que tal pessoa chegue a suspeitar que talvez a desonestidade que detecta à sua volta seja uma dimensão estruturante da vivência eclesiástica atual - que impõe como premissa uma caracterização falsa da psique de boa parte dos seus integrantes clericais -, e não um elemento intrínseco às pessoas gays, será ainda necessário caminhar muito.

4. Recusa do binômio “verdade objetiva e honestidade” 

(…) É demasiado fácil saltar do elemento “verdade objetiva” para o elemento “honestidade” como se o mundo e a nossa vivência real fossem divididos entre verdades conhecidas objetivamente, por um lado, e por subjetividades mais o menos desonestas, por outro. E que por algum mandamento moral, ou força de vontade, teriam de se adequar estas subjetividades à verdade objetiva. A meu ver, uma grande parte da dificuldade que a Igreja tem para lidar com esta questão é justamente neste ponto: fora alguns redutos rigoristas, mais ou menos todo mundo minimamente informado sabe que aquela premissa básica que é a caracterização da desordem objetiva é falsa. E mais ou menos todo o mundo quer ser honesto. Por outro lado, todo mundo sabe que reconhecer a falsidade da premissa equivale a dizer que a Igreja está ensinando um erro. E mesmo que seja só um erro antropológico, e não sobre uma questão de revelação divina, dá muito medo no nosso meio assumir esta posição. (…) Se retirar este naipe da desordem objetiva das pessoas gays do castelo de cartas da antropologia sexual católica oficial, então deixa de ser possível manter que todos os atos entre pessoas do mesmo sexo seriam intrinsecamente ruins. E basta que um ato sexual entre pessoas do mesmo sexo não seja ruim, no qual por razões evidentes a função unitiva está sem ligação com qualquer função procriativa, e o castelo de cartas desaba. Deixa de ser possível insistir que é somente bom o ato heterossexual onde as funções unitiva e procriativa não são deliberadamente separadas. Pois, seria um absurdo manter um maior rigor para as pessoas heterossexuais do que para os gays.

Porém, não quero saltar do assunto da verdade objetiva para o assunto da honestidade subjetiva das pessoas individuais na Igreja. Mesmo que seja este binômio, entre verdade e desonestidade, ou entre verdade de fachada e vida dupla, que nos faz, como católicos, tão suscetíveis à acusação de hipocrisia. De fato, qualquer acusador nosso, seja do lado secularizante – por exemplo, um ativista gay que vê na Igreja só um inimigo da felicidade –, seja do lado sacralizante – no caso de um paladino da tradição que vê nos gays só inimigos da fé e dos valores familiares –  se assemelham no seguinte: os dois lados têm em nós um alvo demasiado fácil. Nos pegam de mãos atadas. Os dois lados estão com raiva do estado atual das coisas na Igreja, e com justa razão. Entendendo as coisas por um lado, a Igreja deve simplesmente reconhecer a verdade científica, e os seus integrantes simplesmente deveriam aprender a ser honestos. E entendendo as mesmas coisas pelo outro lado, todos os integrantes eclesiásticos devem reconhecer honestamente a verdade do atual ensinamento, e os que são gay deveriam reconhecer a sua inadequação para o ministério e se retirar, ou não se propor para qualquer ministério público na Igreja.

James Alison fala da discussão da Igreja em torno da homossexualidade (parte 1)

O texto encontra-se na íntegra em Rumos da discussão

Nas próximas mensagens procederei a uma selecção das ideias expostas no texto de James Alison para o XXXVII Congresso de Teologia Moral, São Paulo, Setembro de 2013


Um pequeno erro no começo torna-se muito maior no final: 
rumos da discussão eclesial sobre a questão gay

1. Introdução 

(…) Tenho-me dedicado nos últimos anos à elaboração de um novo paradigma para a evangelização, tendo criado um curso de introdução à fé cristã para adultos. Meu envolvimento, então, com a matéria sobre a qual vocês pedem a minha intervenção tem sido eclesial, espiritual e pessoal: uma questão que incide na vivência de um cristianismo básico no mundo de hoje antes do que uma discussão moral. (…)

Proponho deixar de lado aquela nuvem de sentido, e de disfarce de sentido, que vem com a frase “diversidade sexual” por considerar que abrange demasiados temas para que seja útil num tempo limitado como este – temas onde tanto as realidades biológicas, químicas e neurológicas, quanto as possíveis consequências espirituais e morais delas decorrentes são suficientemente diferentes para que seja realmente uma curiosidade querer falar delas como se de uma categoria única se tratasse.

Em vez disso, vou me limitar (…) à parte LG da sigla LGBTQQ, ou à parte GL da sigla GLS. Ou seja, aquelas pessoas, homens e mulheres, que se sentem principalmente atraídos por pessoas do mesmo sexo. E vou falar disto sendo eu mesmo uma de tais pessoas. Se há uma primeira interpelação eclesial aqui, seria que, a meu ver, o uso correto da primeira pessoa, singular e plural, é muito importante. Uma das coisas que passa por apenas uma mentirinha nos meios eclesiásticos, mas que esconde na verdade algo muito mais grave é o uso de “eles” ou “vocês” em ocasiões quando “eu” ou “nós” seria mais certeiro. Pessoalmente creio que se não sou capaz de honestidade num assunto relativamente pouco importante, como este, então, por quê vou merecer credibilidade quando falo sobre coisas bem mais importantes, como o amor de Deus, a ressurreição dos mortos, ou a presença de Jesus nos sacramentos?

Gostaria, então, de desenvolver para vocês uma meditação sobre três dimensões daquilo que é, na minha opinião, a principal interpelação que faz a questão gay à vida eclesial (…). As três dimensões da mesma interpelação são estas: verdade, veracidade e honestidade. (…)


2. A verdade 

(…) Será que existem mesmo pessoas gays? Ou é mais verdadeiro dizer que no universo dos humanos, todos os quais são intrinsecamente heterossexuais, existem alguns que sofrem de uma desordem objetiva que poderia ser chamada de “inclinação homossexual”, ou num falar um pouco mais moderno, “atração pelo mesmo sexo”? Dito de outro modo: será que ser gay se trata de uma variante minoritária não patológica que ocorre regularmente dentro da condição humana, ou será antes que se trata de uma desordem objetiva? Se for o primeiro, uma analogia poderia ser o ser canhoto, onde os atos típicos decorrentes da variante minoritária seriam bons ou ruins conforme as circunstâncias. Se for o segundo, então uma analogia talvez possa ser a anorexia. Todos entenderíamos a anorexia como sendo uma desordem objetiva, uma patologia do desejo cujos comportamentos típicos, se não forem corrigidos, controlados e superados, levam à autodestruição da pessoa.

Bom, sobre este assunto, como vocês sabem muito bem, existe uma clara manifestação das Congregações Romanas, um ensinamento de terceira ordem na hierarquia das verdades, mas que se impõe em toda discussão oficial sobre o assunto. Este ensinamento, que foi acunhado em 1986, reza assim: “é necessário precisar que a particular inclinação da pessoa homossexual, embora não seja em si mesma um pecado, constitui, no entanto, uma tendência, mais ou menos acentuada, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral. Por este motivo, a própria inclinação deve ser considerada como objetivamente desordenada”. Ou seja, o ensino comum das Congregações Romanas é clara: “a inclinação homossexual ... deve ser considerada objetivamente desordenada”.

(…) [Os autores de Homosexualitis problema] vinculam indissoluvelmente a intrínseca ruindade dos atos a uma desordem objetiva. E nisso, são pessoas muito mais finas do que aqueles lobos em pele de ovelha que tem abundado no meio de nós nos últimos anos. Tais lobos querem dizer algo assim: “Nós amamos todos os seres humanos, todos são filhos e filhas de Deus. Não temos nada contra as pessoas gays em si, só dizemos que devem se abster dos atos homossexuais. O nosso ensinamento é sobre os atos, e não sobre o ser”. Bom, a pele de ovelha está em “nós amamos todos” e os dentes do lobo se escondem sob “é só se abster para sempre dos atos”, como se fosse possível que os atos pudessem ser desligados da inclinação de uma maneira simples. Graças a Deus, as Congregações Romanas, neste ensinamento, são mais honestas, sendo ou todo ovelha, ou todo lobo, mas nada de híbrido disfarçado. (…) [Elas] sabem muito bem que é um absurdo moral, espiritual e de doutrina católica imaginar que a partir de uma condição neutra ou positiva, podem fluir atos típicos que seriam intrinsecamente ruins. Se aquilo que chamam de “inclinação homossexual” for uma coisa neutra ou positiva, os atos daí decorrentes não poderiam ser intrinsecamente ruins, mas bons ou ruins segundo o uso. As Congregações Romanas são claras: se queremos chamar os atos de intrinsecamente maus, não há como evitar categorizar a condição em si como uma desordem objetiva.

(…) Será que é verdade que ser gay é uma desordem objetiva? Ou será que é antes verdade que é uma variante minoritária e não patológica que ocorre regularmente dentro da condição humana? (…)

Ou ser gay é uma desordem objetiva, ou não é. No caso afirmativo, todos os avanços científicos no mundo da genética, dos neurônios, da química cerebral, da endocrinologia, dos hormônios intrauterinos, da psicologia infantil e assim por diante, tenderão a demonstrar o fato. E todas as evidências de vida testemunhadas pelas pessoas afetadas vão ser sinais da sua verdade: que as pessoas que são gay só levam uma vida sadia, só tendem a florescer, na medida em que tratam esta característica delas como sendo algum tipo de defeito a ser controlado ou superado. Por outro lado, pela evidencia da vida das pessoas que tratam esta sua característica como uma coisa normal, e se empenham em procurar um florescimento por meio de desenvolver esta característica como se fosse uma simples variante minoritária e não patológica, vai ficar cada vez mais público e notório que estas pessoas não são capazes de um florescimento humano e que a suposta autoaceitação delas não é na verdade senão uma forma de autodestruição. Nem todo o autoengano deste mundo vai conseguir abafar a verdade objetiva: (…) aquilo que é termina se impondo, se nos faz presente e resplandece em nosso meio, porque o Criador de todas as coisas está por detrás dele.

E, é claro, as consequências decorrem com exatamente o mesmo rigor no sentido contrário se a verdade não for aquela da desordem objetiva, mas da variante minoritária não patológica. (…) Todos os avanços nos diversos campos científicos acima citados tenderão a mostrar que se trata de uma variante minoritária, não patológica, na condição humana, e que ocorre regularmente. E todas as evidências da vida das pessoas também tornarão público e notório que quem aceitar esta característica dele como algo normal vai florescer na medida desta aceitação de que seu crescimento passa pelo desenvolvimento normal deste elemento da vida. E por outro lado, quem vive no engano, ou autoengano, de imaginar que o seu florescimento só pode se dar apesar desta característica e não com a contribuição da mesma, que deve ser então escondida, abafada, ou até “curada”, esta pessoa se diminui e colabora para a sua autodestruição.

Estamos falando então de uma questão de verdade objetiva. E uma das coisas boas da verdade objetiva é que não depende de nós. Não depende de quem seja melhor no debate, ou mais poderoso, ou mais rico, ou sequer mais inteligente, nem muito menos de qualquer autoridade religiosa. Simplesmente é. Se ser gay é uma desordem objetiva, então todos os supostos lobbies gays no mundo não vão fazer uma mínima diferença em alterar esta realidade, por mais estragos que possam causar antes de reconhecê-lo. E por outro lado, se for o caso que ser gay é uma variante minoritária não patológica dentro da condição humana, então nem os cientistas do exército americano, ou soviético, dos anos 1950, nem os propulsores da chamada terapia reparativa em suas várias versões, os doutores Nicolosi, Van Aardweg, Polaino e Anatrella, nem os exorcismos dos pastores Malafaia ou Feliciano, por exemplo, vão fazer a mínima diferença em alterar a realidade, por mais estragos que possam causar antes de reconhecê-lo. Como seus antecessores aprenderam no caso Galileu, nem o Papa tem o poder de alterar uma realidade objetiva deste tipo.

A monja radical e o Ministério secreto

A freira que pediu perdão à comunidade Trans

Nos Estados Unidos há uma comunidade de irmãs onde vive uma pequena freira que é uma grande mulher. No seu dia-a-dia, entre a vida de oração e em comunidade, encontra tempo para dedicar uma atenção especial à comunidade transgender, sendo uma autêntica mãe para uma "pastoral trans". Para isso, com simplicidade e coragem, coloca os valores do Evangelho em prática e as palavras em acções.

Abaixo segue o link de uma reportagem sobre esta história, em inglês: ler O Ministério em Segredo

O pecado do gay


Afirmações católicas sobre o casamento civil entre homossexuais

Nem tanto ao mar nem tanto à terra?

Uma amiga partilhou há uns tempos um ensaio sobre as opiniões que se tecem na Igreja católica sobre o casamento homossexual. O artigo é extenso e em inglês. No final desta mensagem segue o link para o artigo na integra. No corpo da mensagem cito apenas 2 parágrafos:

The goods of marriage are many and varied, but, except for the category of possible reproduction with one’s spouse, same-sex couples are able to participate in them equally with straight couples. Moreover, given what we know about sexual orientation, a ban on marriage for gay and lesbian people would seem, according to Church teaching, to abridge a fundamental human right, and so constitute an attack on their human dignity. Beyond that, many gay and lesbian couples calling for the right to marry are recalling to our culture the social and cultural importance of marriage. Rather than living quietly in a legally unrecognized state, gay and lesbian couples asking for marriage affirm the dignity of the institution. Finally, to reject the most intimate relationships of LGBT people as dangerous to the civil polity stokes savage homophobia, which the Church opposes.

As Christians, we are called by Jesus to one fundamental task in life—to love God and others as well as we can. For most of us, the call to love is answered principally, though not exclusively, in the context of our most intimate relationships, those uniting spouses and those of parents and children. As Catholic Christians, we embrace a moral tradition that addresses social policy in light of the common good, a reasoned assessment of the rights and duties incumbent upon us in order that we may participate in the flourishing of society. Marriage is a key institution, with an array of social goods that include, but are not limited to, procreation. We can all share in those wider, socially critical benefits of marriage, gay and straight, parents and the childless alike. Why would Christians deny to any of our brothers and sisters, at least in the realm of our civil life together, the opportunity for the blending and sharing of life toward, we hope, the “mutual perfection” that Pius XI said was the wider purpose of marriage? Love requires no less than our support of love.

Comissão Justiça e Paz na marcha LGBT

A Comissão Justiça e Paz, um organismo católico internacional, continua a dar cartas e a ousar seguir os desafios do concílio Vaticano II. Aqui segue uma declaração da mesma por ocasião da LGBT Pride:

Conclusões preliminares do Sínodo dos bispos sobre a Família (parte 2)

A tradução para português já se encontra disponível no site do Vaticano. Passo a citar os pontos referentes aos homossexuais:

Acolher as pessoas homossexuais

50. As pessoas homossexuais têm dotes e qualidades para oferecer à comunidade cristã: somos capazes de acolher estas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade nas nossas comunidades? Muitas vezes elas desejam encontrar uma Igreja que seja casa acolhedora. As nossas comunidades são capazes de o ser, aceitando e avaliando a sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica acerca de família e matrimónio?

51. A questão homossexual interpela-nos a uma séria reflexão acerca do modo como elaborar caminhos realistas de crescimento afectivo e de maturidade humana e evangélica, integrando a dimensão sexual: apresenta-se portanto como um desafio educativo importante. No entanto, a Igreja afirma que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimónio entre homem e mulher. Nem sequer é aceitável que se queiram exercer pressões sobre a atitude dos pastores ou que organismos internacionais condicionem ajudas financeiras para a introdução de normativas inspiradas na ideologia do gender.


52. Sem negar as problemáticas morais ligadas às uniões homossexuais, tomamos consciência de que há casos nos quais o apoio recíproco até ao sacrifício constitui um apoio precioso para a vida dos parceiros. Além disso, a Igreja dedica atenção especial às crianças que vivem com casais do mesmo sexo, reafirmando que devem ser sempre postas em primeiro lugar as exigências e os direitos dos filhos.

(Ler na íntegra aqui)


Alguns comentários a estas conclusões

As conclusões preliminares referentes à primeira parte do Sínodo dos bispos, realizado no Vaticano no passado mês de Outubro e a continuar no próximo ano, trouxeram algumas novidades e abordagens diferentes em vários temas relacionados com a sociedade e a família. Muitas dioceses em todo o mundo, incluindo o patriarcado de Lisboa, vão realizar sínodos locais, onde estes mesmos temas serão abordados, discutidos e aprofundados nas paróquias, movimentos e grupos, para que os bispos locais se inteirem das reflexões dos fiéis (leigos e consagrados) e possam, de alguma forma, serem seus porta-vozes no Sínodo a realizar em Roma.

Parece-me que esta é uma oportunidade rara e histórica para a Igreja. Desejo que esta possibilidade de escuta e de um maior conhecimento das realidades tão plurais da Igreja não seja desperdiçada.

No que diz respeito aos homossexuais, o relatório contém um curto capítulo, a que dá o nome de: Acolher as pessoas homossexuais. O número 50 é efectivamente inesperado – nele encontramos alguns aspectos nunca antes referidos em nenhum documento oficial da Igreja. Perante a afirmação “As pessoas homossexuais têm dotes e qualidades para oferecer à comunidade cristã”, coloca-se a questão: “somos capazes de acolher estas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade nas nossas comunidades?”  O documento continua: “Muitas vezes elas desejam encontrar uma Igreja que seja casa acolhedora. As nossas comunidades são capazes de o ser, aceitando e avaliando a sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica acerca de família e matrimónio?”

É realmente espantoso ver esta nova abordagem que fala em aceitar a orientação sexual. Acredito que a vontade do Papa Francisco seria em não haver tantos “Mas” e “Ses”, no entanto, temo que haja ainda demasiados bispos ordenados por João Paulo II ou por Bento XVI que não irão na mesma linha de pensamento. O meu receio prende-se a pequenos aspectos que teimam em aparecer no texto, como se fossem almas penadas: o que se entende por “avaliar a sua orientação sexual” e o que quer dizer exactamente “sem comprometer a doutrina católica acerca de família e matrimónio”?

O número seguinte começa por outra afirmação surpreendente “A questão homossexual interpela-nos a uma séria reflexão acerca do modo como elaborar caminhos realistas de crescimento afectivo e de maturidade humana e evangélica, integrando a dimensão sexual: apresenta-se portanto como um desafio educativo importante”. E tão surpreendente é esta parte do parágrafo, quanto o contraste absoluto com o que vem depois: “No entanto, a Igreja afirma que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimónio entre homem e mulher.” Fica-me a questão: porque houve a necessidade de voltar ao velho discurso, qual criança caprichosa que já não sabe porque teima?

Igualmente incompreensível é a sequência de ideias que se segue, que parece não ter qualquer cabimento na lógica do discurso e que, de tão abstracta, não é inteligível qualquer ligação com o mundo real: “Nem sequer é aceitável que se queiram exercer pressões sobre a atitude dos pastores ou que organismos internacionais condicionem ajudas financeiras para a introdução de normativas inspiradas na ideologia do gender.” Será que é uma tentativa de denúncia do lobby-gay no Vaticano? Mas, se for este o caso, o ataque teria de se dirigir ao ambiente propício à homofobia, à misoginia e à omissão de qualquer acompanhamento sério psicológico (não digo espiritual) vigente em muitos dos seminários diocesanos.

O último ponto volta a começar por um tom mais positivo: “Sem negar as problemáticas morais ligadas às uniões homossexuais, tomamos consciência de que há casos nos quais o apoio recíproco até ao sacrifício constitui um apoio precioso para a vida dos parceiros.” E continua: “Além disso, a Igreja dedica atenção especial às crianças que vivem com casais do mesmo sexo, reafirmando que devem ser sempre postas em primeiro lugar as exigências e os direitos dos filhos.” E é aqui que volta a minha desconfiança: é verdade que a Igreja não soube, durante muito tempo, o que fazer com essas crianças cujos pais “viviam em pecado”. Assim, por um lado, nota-se aqui uma directiva que promove a integração das crianças na comunidade paroquial.

Mas necessitam estas crianças de uma atenção “especial”? Parece-me que deviam receber a mesma atenção (chamemos-lhe especial) que qualquer ser humano tem o direito de receber. E qualquer filho tem o direito de viver com os seus pais, mães, pai e/ou mãe sem que outros lhe andem a chatear o juízo... E, já agora, só faltava manipular e interferir nas exigências dos filhos? (que exigências???)

Porque estou aqui

Sinto-me privilegiado por ter encontrado na Igreja um lugar vazio, feito à minha medida. É certo que tê-lo encontrado (ou encontrá-lo renovadamente, pois não é dado adquirido) foi também mérito da minha sede, do meu empenho, de não baixar os braços e achar, passivamente, que não seria possível. Passo a contextualizar: a comunidade onde vou à missa é pequena e acolhedora, e podia bem não o ser. Ao mesmo tempo, sentia um desejo grande de reflexão de vida cristã e encontrei um casal (heterosexual) que tinha a mesma vontade. Começámo-nos a reunir semanalmente numa pequena comunidade de oração e reflexão que, apesar de crítica, nos tem ajudado a sermos Igreja e a nela nos revermos. Paralelamente, face ao contínuo desencanto em relação a algumas posturas e pontos de vista de uma Igreja mais institucional e hierárquica, tive a graça de encontrar um grupo de cristãos homossexuais, que se reuniam com um padre regularmente, sem terem de se esconder ou de ocultar parte de si.

Sei que muitos cristãos homossexuais nunca pensaram sequer na eventualidade de existirem grupos cristãos em que se pudessem apresentar inteiros, quanto mais pensarem poder tomar parte e pôr em comum fé, questões, procuras, afectos e vidas.

Por tudo isto me sinto grato a Deus e me sinto responsável para tentar chegar a quem não teve, até agora, uma experiência tão feliz como a minha.

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