Adaptação de mensagem publicada no blogue Direitos fundamentais LGBT
A explícita condenação de apedrejamento de homossexuais no Irão e as nossas próprias pedras de cada dia
Ontem foi publicado no Jornal O Globo a notícia que na próxima sexta-feira, dia 21, Ayub, de 20 anos, e Mosleh, de 21, que vivem na cidade de Piranshahr, serão executados em decorrência de uma sentença da Justiça do Irão que os condenou à morte por apedrejamento, acusados de homossexualidade.
Isso mesmo, dois gays serão barbaramente apedrejados até à morte no Irão. (...)
A organização Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irão (ICHR) tentou mobilizar entidades internacionais para tentar reverter o apedrejamento.
A presidente Dilma Rousseff pronunciou-se oficialmente contra o apedrejamento de uma mulher iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani, a qual foi poupada da pena de morte. O governo brasileiro agirá com a mesma sensibilidade e igualdade de tratamento em relação a estes dois homossexuais?
Não há sequer sinal que isto possa ocorrer.
Apesar da comparação figurativa, se pararmos para pensar, vamos constatar que aqui no Brasil os homossexuais e transgéneros não recebem tratamento tão diferente assim dos gays do Irão.
As pedras são outras
O Governo também não as atira, mas abstém-se e deixa que outro o faça.
As pedras que atingem aos LGBTs são desde a perda da vida, até agressões físicas e morais, com maltratos, humilhações e tratamento diferenciado dos demais cidadãos, sem reconhecimento de direitos civis iguais e da proteção legal contra a homofobia.
O Governo, por sua vez, faz moeda de troca com os nossos direitos na política, assiste o arquivamento de projectos de leis e não faz que a sua bancada actue pelo reconhecimento da igualdade.
As consequências são os números a cada ano maiores de assassinatos homofóbicos, lâmpadas na cara de homossexuais, discriminação crescente e a perda da dignidade do LGBT nacional. (...)
O Irão também é aqui!
É claro que fico perplexo com a barbárie praticada de forma descarada pelo governo iraniano e uno-me ao grito contra a total desumanidade.
A vida é o maior bem de um ser humano. Mas não se esqueçam que aqui também muitas se perdem.
Não se espantem se muitos que aqui ajudam a atirar “pedras” às bichas, sapatas, travestis e transexuais falem com indignação sobre as pedras de lá.
Sim, temos de exigir uma posição oficial do governo brasileiro contra essa barbaridade do Irão praticada contra os gays ou que tenha por alvo qualquer ser humano, mas não podemos deixar de cobrar dele que retire as inúmeras pedras das mãos dos que aqui nos atingem, a começar pela própria política do Estado.
Carlos Alexandre Neves Lima
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