Números preocupantes para a população homossexual portuguesa
Por Andrea Cunha Freitas
Estudo francês reforça receios sobre os comportamentos de risco entre homens que têm sexo com outros homens.
Estudo francês reforça receios sobre os comportamentos de risco entre homens que têm sexo com outros homens.
Os jovens casais de homossexuais vão constituir um capítulo "fundamental" do próximo Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infecção pelo VIH/sida. O coordenador nacional, Henrique Barros, considera que o aumento de casos de VIH registado nos últimos anos em Portugal é "preocupante" e merece ser encarado como uma prioridade. Os dados mais recentes mostram que o número de casos diagnosticados nesta população praticamente duplicou desde 2005.
O alerta surge na sequência de um estudo francês, divulgado no final da semana passada, que concluiu que o alastrar da epidemia da sida está "fora de controlo" entre os homossexuais franceses, revelando que cerca de metade dos infectados neste país em 2008 pertence a este grupo, o que mostra uma incidência 200 vezes superior à encontrada na população heterossexual.
A tendência de aumento dos casos de HIV entre os jovens casais de homossexuais, contrariando a queda nos números de outros grupos afectados, já foi antes motivo de alerta em vários países europeus. Portugal não foi excepção. Porém, um trabalho de investigadores do Instituto Nacional de Vigilância de Saúde Pública francês, divulgado no The Lancet Infectious Diseases, veio reacender a inquietação com esta realidade. "Não é nada que eu já não tenha dito", reage Henrique Barros, notando que este "fenómeno aparentemente cultural" já se registou na Holanda, na Alemanha, está a notar-se em Espanha. No Reino Unido, por exemplo, os dados dos novos sistemas para a detecção de infecções pelo VIH no país mostraram no mês passado que, um em cada seis homens homossexuais foram infectados nos últimos meses, enquanto entre os heterossexuais foram só um em cada 16.
"Estamos a assistir a uma coisa que se chama fadiga da prevenção. As pessoas estão cansadas de ouvir falar nisto e ouvem que a sida se está a tornar uma doença crónica. Por isso, estão a baixar as guardas", justifica Henrique Barros.
Lembrando que não existem grupos de risco, mas apenas comportamentos de risco, o epidemiologista confirma que os números mostram que os "jovens rapazes" estão a assumir mais riscos e que também existe aqui mais probabilidade de contágio. O que fazer? Reforçar a rede para detectar as pessoas infectadas, manter a pressão do uso do preservativo, fazer prevenção activa, e também intervir nas escolas. "Os adolescentes não são todos iguais. Alguns estão mais desarmados e precisam de ajuda."
Os dados divulgados pela Comissão de Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida mostram a curva ascendente deste grupo nos gráficos sobre os casos tanto em estádios de sida, como em portadores sintomáticos não-sida ou portadores assintomáticos.
No que se refere ao número total de casos notificados durante 2009, os homossexuais são 19,7 por cento do total, com os heterossexuais a registar 61,2 por cento e os toxicodependentes 14,8 por cento. Mas o que mais é motivo para apreensão é a leitura dos dados relativos à tendência temporal que coloca a nu esta tendência no grupo dos homossexuais. Entre 2005 e 2009, os casos diagnosticados nesta população aumentaram de 7,9 por cento para 13,1 por cento. Em portadores assintomáticos a transmissão sexual homossexual aumentou de 14,2 por cento em 2005 para 21,2 por cento em 2009 (em 2000 eram 7,5 por cento).
Os números oficiais relativos a Portugal que preocupam Henrique Barros foram divulgados no final de 2009. Depois disso, a comissão lançou apenas duas campanhas nos media para promover o uso do preservativo. As duas tinham como alvo os homens que têm sexo com homens, em relações estáveis ou ocasionais. Não foi por acaso.
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